domingo, 27 de março de 2022

Meu amigo Freud e o gado virtual






 Freud foi meu primeiro autor de não ficção que eu li a muito tempo atras – eu tinha uns 10 ou 11 anos de idade, não me lembro – onde eu peguei os livros do meu pai e a minha mãe e comecei a ler (teve um que eu não pude ler na época). Li Tarzan, li um de ficção cientifica (que nunca lembro do nome) e li um do Dr Sigmund Freud, que era do meu pai (diz minha mãe, que ele tinha aquele livro por anos). Depois de muito tempo – e de muita humidade – ele se perdeu por ter mofado junto com outros livros que marcaram minha infância e foi o começo de uma questão que descobri desde muito cedo: eu queria ser escritor, escrever era o que eu gostava e gosto bastante. Com a internet e a filosofia, me descobri um escritor de vidas cotidianas e vidas reflexivas que torna muito mais difícil, porque nossa cultura é avessa a reflexão e um pensamento próprio. A grande maioria gosta de seguir os outros, pensar igual os outros, ser igual os outros e fazer o que os outros gostam. Acho que é porque – isso me intriga desde muito novinho – a grande maioria não é notado, são anônimos o tempo inteiro e quando tem chance de serem notados, começam a gostar disso e fazem de tudo por essa – suposta – notação. A famosa curtida (like).

Freud no seu livro “O mal-estar da civilização” tenta responder a famosa frase “o homem é o lobo do homem”, aonde ele vai até o estabelecimento das leis morais até mesmo, como as formações sociais e familiares, moldaram essas determinações morais. Claro, com o que se tinha na época. Mas, a explicação psicanalista dele é muito interessante e até faz um certo sentido, porque é o que percebemos dentro da sociedade, até hoje. A única diferença são coisas morais que houve mudanças e essas mudanças fizeram as pessoas terem uma outra visão, do casamento, dos filhos etc. por outro lado, a liberdade de dizer e fazer o que quiser não deixou o ser humano de hoje, mais feliz. Aliás, desconfio das pessoas que dizem ser felizes. Isso quer dizer que os iluministas estavam errados? Que não podemos ser felizes só com o conhecimento? É possível, que só o conhecimento, não seja um atrativo dentro da felicidade humana. Porque nem todo conhecimento, pode e é, verdadeiro. Ou seja, caímos de novo na questão grega – leia-se, filósofos gregos – sobre a verdade da realidade e não só o conhecimento. Conhecer é um exercício de olhar para si como uma consciência que percebe e depois olhar para os objetos.

Os objetos – junto com a realidade – são termos que dissemos em todo momento. Uma caneca só é uma caneca porque as características particulares dela, se ligam dentro daquilo que chamamos de caneca, pois, nas várias culturas e os nossos antepassados, deram o nome desse objeto de caneca. Poderia ser outro nome, mas, de uma forma – que não sabemos o porquê – aquilo com uma alça e tem um recipiente acoplado com ela ter chamado de caneca. Mas, poderíamos perguntar: e os objetos que não estão no mundo imanente? Esse texto, por exemplo, são signos (letras) que querem transcrever aquilo que eu penso da realidade, mas, no mundo ele não existe. Podemos dizer que ele é uma virtualização de um texto e uma virtualização do meu pensamento, porém, ele não descreve todo o meu pensamento. As coisas parecem verdadeiras, mas, elas são uma parte dessa verdade imanente dentro do tempo e no espaço. Do mesmo modo, codificações descrevem regras morais para melhor controle da sociedade.

Não é diferente da teoria das sombras de Platão e nem mesmo – porque teve uma base da caverna platônica – o que mostra o filme The Matrix, onde pessoas para manter as máquinas, tem que sonhar por toda sua vida. Só que essa realidade não existe, pois, é uma realidade fabricada para o ser humano viver e gerar energia que as máquinas tanto precisam. A analogia tem um fundo de verdade, porque cada imagem tem uma codificação e codificação é uma linguagem, tudo é uma linguagem, mesmo dentro da evolução da natureza. Não a toa, o apostolo João vai usar “verbo” para dizer que no princípio era o verbo e o verbo era Deus. Tudo é linguagem e tudo é informação. Recebemos milhões de bits de informações do universo (realidade), e nem ao menos, percebemos. Por quê? Uma das explicações é que se acostumamos com as imagens que vimos e convivemos, outra é que recebemos a toda hora e assim, não temos como perceber.

Isso nos faz refletir sobre o papel de tudo isso dentro de uma vida, ainda que, as coisas não são como gostaríamos. A evolução adapta aquilo que é melhor para o organismo, as coisas vão mudando e as culturas e regras morais mudam, mas, sempre o ser humano buscara a felicidade e não vai achar. Porque a felicidade tem a ver consigo, o encontro da verdade é em primeiro lugar, com você mesmo. Então, nossa consciência é a “porta” para vivemos a realidade que nos rodeia? Será que entendendo a nós mesmos, poderemos entender a realidade? Os platônicos – assim como os matemáticos – achavam que o universo é construído dentro de códigos matemáticos. Ou seja, podemos dizer que o mundo virtual não tem muito de diferente de uma realidade imanente, portanto, se no computador existe o negativo (0) e o positivo (1) o universo também tem. Claro, se fomos bastante longe, podemos dizer que sim, há uma codificação em tudo. E mais, nessa codificação existem as proporções certas e proporções exatas matemáticas. Estamos lhe dando com linguagem o tempo todo.

Você pode perguntar: o que isto tem a ver com a felicidade? Exato, não tem a ver até você descobri que nada importa, o universo vai emitir informações, vai se adaptar para seus elementos existirem e os objetos serão adaptados com ou sem o ser humano estarem no planeta Terra. O universo não importa com sistemas religiosos – não disse espirituais, que é diferente – sistemas morais, sistemas sociais, sistemas científicos etc. Porque o ser humano criou a cultura para entender a realidade e viver no mundo – num ser imanente dentro dessa realidade – mas, isso tornou ele muito escravo desse mesmo sistema. Não soube lhe dar com mudanças, com os outros seres do planeta, do ambiente e tal. A infelicidade é a frustração de não dominação dessa natureza. De não poder entender tudo e de não ter tudo. O “tu deves” dominar e escraviza e esquecemos o “quem sou”, aquilo que somos e queremos. Escondemos nossos impulsos por causa dos códigos morais, escondemos quem somos para agradar os outros. As máscaras nos sufocam.

Amauri Nolasco Sanches Júnior 





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