quarta-feira, 30 de março de 2022

Magalu e Aristóteles – Onde está nossa ética?

 




Ética tem a ver com empatia, mas, ao que parece, não somos uma cultura que gostamos de ética. Para os gregos na antiguidade, a ética (ethos) tinha uma áurea de alma social do povo grego e sua cultura única, tanto é, que quando se criou a filosofia (em cima dos mitos homéricos que eram a identidade do povo grego), era um termo de amizade, ser amigo da sabedoria e ser amigos nesses tempos, era ser amante também. Ou seja, se era amante e amigo do saber, do descobrir a realidade e viver dentro da sociedade – que era um corpo só – dentro do orgulho de ser um grego, mesmo, que esse grego vivesse numa parte pobre. Portanto, ser ético e estar embutido dentro do lado espiritual do povo grego, estar em sintonia dentro de cada polis (cidade-estado) e assim, se for preciso, defender aquilo que é certo. Por que por muitos séculos, esse tipo de sociedade – sem um governo central – eram unidos quando era a questão de defender seu território? Será que encontramos uma ética comum?

O curioso é que depois de Sócrates de Atenas – que também foi soldado – ter se tornado um grande amante da sabedoria, e, combativo dentro da racionalidade de saber a verdade. A verdade é uma escavação daquilo que se chama realidade. A imagem da realidade que temos, são objetos concretos e percepções das forças da natureza que agem no nosso corpo. Sócrates percebeu, talvez, que percebendo a nossa consciência e percebendo a nossa ignorância diante ao mundo e a realidade, vamos conhecer essa realidade e perceber a nossa consciência perceptiva de uma realidade além. Então, para os gregos, ser amigo da sabedoria é ser amante de conhecer a realidade e aquilo que nos une como sociedade, a ética (ethos). Talvez, Aristóteles tenha compreendido isso muito mais do que seu mestre, Platão. A sociedade grega poderia brigar entre si – com as guerras entre as polis – mas, uma coisa poderia unir toda ela em uma só ressonância e isso se chamava phronesis. O termo grego é traduzido como prudência, porém, não se tem um termo em português exato. Deixaram como prudência.

Parece que podemos dizer, que o mundo moderno esquece dessa ética em nome de uma liberdade e conhecimento, num modo geral, que ainda não temos na nossa totalidade. Mesmo com a internet, o conhecimento e a liberdade foram levados para um lado antiético, para um lado que desune muito mais do que une. Aliás, todo o processo de desmonte tanto da essência do ethos como da própria filosofia, começa no império romano. O imperador para manter uma união, tem ou não, de manter a ignorância? O poder em essência, gosta de questionamentos? Talvez, alimentando a individualidade – que começa com os soldados – se tenha uma desunião para melhor governar. Governos alimentados com a ideia do pão e circo, são melhores de manipular, são melhores de enganar. E quando precisou da união para combater as tribos germânicas invasoras, não se teve.

Porém, o estrago já tinha sido feito. A idade média vai ser construída por uma individualidade para receber a graça de Deus, bem parecido com práticas nórdicas que o “pai de todos” – Odin – escolhe cada um conforme sua batalha. Mas, o porquê os antigos sabiam disso e nós perdemos isso? Porque, esquecemos que somos parte de um todo e os antigos sabiam disso, pois, os antigos sabiam que você vende algo e o seu nome estará mais confiante de vender uma outra coisa. Trazendo para hoje, podemos notar que os 300 espartanos não foram lá em Termópilas para se aparecerem ou para terem curtidas – ganharem mais e serem reconhecidos – eles foram porque tiverem que defender a Grécia do rei persa, Xerxes, que queria vingar o pai e conquistar os mares gregos. O rei Leônidas poderia se vender, poderia ser o senhor grego e dominar Atenas, mas, escolheu aquilo que acreditava, que mesmo em rivalidade, a liberdade era mais importante. A honra era mais do que uma individualidade, era a união daquilo que poderia ser com que não poderia ser. Os gregos tinham a sua ética a defender, seu nome a zelar e a confiança de ser o que eram, um povo, uma iniciativa quase voluntaria de defesa.

O que vimos hoje é um mundo desunido e obcecado por um reconhecimento de si, todo mundo quer levar “vantagem” em cima do outro. Pior ainda, usa o nome de outro e o outro mesmo sabendo, não toma providência porque é mais fácil dizer que foi vítima. Golpes tem no mundo inteiro, mas, só no Brasil temos um capitalismo acomodado, um capitalismo que se vitimiza e não toma nenhuma providência. Talvez, foi bom olhar o ser humano como um indivíduo, o problema, que quando nos individualizamos esquecemos que somos uma sociedade humana e isso nada tem a ver nem com ideologias (liberalismo) e nem com o capitalismo, tem a ver com a moral vigente. Nos esquecemos da ética grega graças aos romanos – que queriam sustentar seu império – e assim, esquecer da união intrínseca de um povo e seu ethos. A alma social, a ligação do eu com a realidade. Eu sou o cacto, o cacto é eu. Se eu errei em deixar as pessoas usarem meu nome, é eu que devo me responsabilizar das coisas que deixei acontecer. Estou prejudicando a sociedade, assim, estou prejudicando a minha própria realidade. Como dizem, uma hora “a água vai bater na nossa bunda”. Ou seja, o problema vai vir para nós, e nós vamos ter que resolver, como todo mundo.

Causa e efeito.

Amauri Nolasco Sanches Júnior




 

Nenhum comentário:

Postar um comentário