Vendo um vídeo do Nando Moura – sim, vejo alguns vídeos dele – ele disse algumas verdades do gosto musical do brasileiro e do mundo. Claro, algumas posições dele sou contra – achar que só a estética antiga é um modo de arte, é uma delas – o que sou a favor, é a questão que se diz respeito ao gosto musical. Venho notando muito – desde o final dos anos 80 – que o gosto musical brasileiro vem sendo de músicas fáceis e ninguém quer discutir a letras das músicas. Lembro nos anos 90, que eu e meus amigos ficavam discutindo as letras da Legião Urbana sempre (e de outras bandas). Mas, a grande maioria não questiona, a grande maioria não fica perguntando: por que estou ouvindo essa merda?
Nando Moura comentou do pianista Nelson Freire – que faleceu
recentemente – que desde os anos 40, toca músicas clássicas e mostrou que
brasileiro não é feito de bundas e carnaval. As bandas Angra, Sepultura, Sarcófago,
Ratos de Porão, e outras, também mostraram e mostram que o brasileiro nada
tem a ver, só, com bundas e carnaval. Eu vou além – mesmo o porquê, não sou conservador
a esse ponto – porque, desde o surgimento da lambada, o brasileiro vem emplacando
sucessos fáceis e temporários que as pessoas não precisam analisar. A questão é:
o porquê? Por que que as pessoas pararam de gostar de coisas belas e que tocam
o coração e passaram a gostar de coisas de traição, de cafajestagem ou de
putaria, sem ao menos, questionar se isso traz alguma coisa para a sua vida? Porque
as pessoas vendem a ideia de que a prática é muito melhor do que a teoria, mas a
tragedia é que nem sempre a prática tem que ser praticada sem ao menos, tiver
um planejamento. Muito lindo esse discurso, porém, as melhores letras de música,
são as letras trabalhadas e harmonizadas com a melodia.
Não que só ouça rock – muitas vezes, eu ouça também de
Gloria Groove a Lana Del Rey – mas, se tem que ter bom senso de questionar
alguns gostos que, muitas vezes, são introjetados dentro da cultura por questões
financeiras de gravadoras, empresário e essa coisa toda. Daí inventaram que
gostos são subjetivos, relativizando certas coisas. Mas, se gostos são subjetivos,
então, o porquê tantas pessoas passam a gostar daquele tipo de música ou daquele
tipo de coisa? gostos são subjetivos, dizem. Eu desconfio de pessoas que tem o
mesmo gosto, gostam das mesmas músicas e dançam em micaretas porque gostam
daquilo, me dá um ar de falsidade do mesmo modo de quem vai para a balada. Isso
me lembra o seriado Família Dinossauro – eu passei a minha adolescência assistindo
– onde existia a dança do acasalamento e ninguém questionava o porquê existia aquilo.
Micaretas e baladas são danças do acasalamento que ninguém questionam, porque você
passa a ser o chato, aquele que se esconde.
Gosto de festa, mesmo o porquê, festa não é balada que você mexe
a bunda sem parar. Festa você conversa, você ri, você abraça, vê e conhece
pessoas como são, conhecidas ou passam a conhecer (muitas vezes, seu parente traz
um amigo). Diálogos de Platão não aconteciam em micaretas ou baladas – muito menos
em pancadões de funk – aconteciam em banquetes (simpósios), onde as pessoas
conversavam. Não somos pavões ou animais irracionais que precisamos de danças,
no máximo, colocamos adornos para nos sentimos mais bonitos. Nos exercitamos –
os filósofos gregos antigos eram famosos pelos seus corpos atléticos – para cuidar
do corpo, queimar as gorduras a mais. Por outro lado, por que não, não fazer
nada? O ócio era muito valorizado pelos gregos e pelas escolas gregas (a lição de
casa foi inventada como um castigo por um professor italiano na era moderna).
A questão sempre envolveu o sexo. O sexo é o impulso da sobrevivência
e da reprodução, já que, o ser humano faz as coisas a partir das vantagens e
desvantagens sexuais. Nada tem a ver com o instinto animal da copula – não menos
importante – e sim, com o impulso de um passarinho fazer o ninho, os betas
fazerem a espuminha nas águas do aquário, os cavalos marinhos carregarem os
filhotes. E esse impulso vem sendo controlado a milênios para o trabalho, para o
poderio militar, para as outras coisas que o Estado acha mais importante. Até mesmo
a liberação sexual foi sempre usada por empresas e corporações que ganham com
isso – as empresas de preservativo sempre são as que mais ganham, mas, logico,
usem se forem transar – e sempre se acha um meio para isso. Por exemplo, não se
podia fazer amor em dia santo na era medieval, e quase todo dia era dia Santo. Porque
não se podia ter tantos filhos nas aldeias medievais.
O ser humano sempre quis achar meios para terem força e
dominar outros seres humanos para terem poder e dinheiro. Existem milhares de
teorias que dizem que quem descobriu que existia medos, existia necessidade de proteção
e que existia a necessidade de controlar aquelas aldeias (como botar ordem), tenha
descoberto o poder. Mas, será mesmo vantajoso para a sociedade viver em jaulas institucionais?
Será mesmo que o ser humano inventou uma coisa boa para a sociedade? Pelo menos
os estados modernos me mostram que não, não foi uma vantagem para nossa espécie
ter inventado uma instituição burocrática que nos diz o que fazer, inventam culturas
para melhor governar e se recusam dar para nós, o básico para viver. Ou acham
mesmo que esse besteirol todo nas mídias não tem nada a ver com os governos? Esse
besteirol na indústria cultural não é do governo americano? Se temos bundas e
carnaval, os yanques tem tiros e bombas. E assim, os pianistas como Nelson Freire
e outros artistas de verdade, são ofuscados.
Amauri Nolasco Sanches Júnior
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