Um político divide os seres humanos em duas classes: instrumentos e inimigos.
Um amigo meu – virtual de longa data – sempre me diz que os anarquistas são narcisistas em não votar, pois, ele acha que devemos votar para tirar o atual governo. Além disso, ele acha que quem não vota, depois não vai ter o direito de cobrar. Tenho uma outra visão – como anarquista e como amante da liberdade – que por estamos bem no auto da montanha e observar mais de longe. A meu ver, acho que as pessoas ficaram muito adolescentes em achar que estar em engajamento político se deve escolher um lado, mas, não se deve escolher ideologias e sim, políticas que vão ajudar a sociedade. Um lado está o Bolsonaro com as políticas de sempre e que traz um monte de tiozão reacionário – que idealiza um passado subjetivo que só aconteceu para eles – que acha que a música “Forever Yang” é verdade. Do outro lado, estas pessoas revolucionarias de Iphone que acha que o Lula as deixou viajarem, comerem carne, comprarem gás e os esquemas de corrupção nunca existiram. Então, quem vamos votar?
A democracia pressupõe liberdade. A dúvida é: será que temos liberdade? só estou escrevendo esse texto porque alguém fornece energia elétrica, tenho um notebook, aprendi a escrever e tenho facilidade em escrever textos. Mas, não tenho total liberdade de sair da rua graças a minha condição – deficiência física – e porque as vias não são adaptadas, o transporte não é adaptado e porque não tenho o porquê sair. A minha liberdade depende de vários fatores que fazem ela acharem obstáculos para acontecer, mas, eu posso escolher sair mesmo assim e correr o risco de ficar na rua ou, alguém me ajudar. As escolhas dependem, também, de vários fatores socioculturais dentro de uma linguagem que pode ser verdadeira ou não, porém, ela vai determinar meu julgamento das escolhas que eu faço. Posso não poder estar com a minha noiva por vários motivos – que não vem ao caso – que foram construídas envolta de narrativas de controle (que se chama de cultura) que alimenta uma verdade que pode ou não existir. Então, a liberdade depende do modo que as pessoas constroem uma linguagem?
Daí caímos na frase de Nietzsche. O filósofo não errou em dizer isso, porque, como filólogo, sabia que tudo não passa de mera linguagem. Construções narrativas são importantes dentro da política, pois, precisa de uma grande maioria (apoio popular) ou para consolidar o poder, ou convencer seus eleitores para votarem nele (ai a instrumentação do povo). Mas, como em sã consciência, isso seria feito? Fazendo dos seus opositores inimigos a serem combatidos ou, fazendo de ideologias e pessoas, como destruidores da linguagem social construídas de valores artificiais que nada mais servem, como narrativas para dominarem os mais ignorantes ou pela própria educação. Então, Nietzsche sabia que toda a cultura grega – como uma cultura de instintos naturais – foi adestrada por outra cultura ressentida daqueles que não conseguiram ser superiores. A grandeza de ser você mesmo foi transformada em pecado do orgulho, ser rico e bem-sucedido trouxe uma aberração daqueles que não conseguiam ser. O certo era todo mundo ser ensinado a ser bem-sucedido, que, talvez, teria um outro problema (de produção).
A questão da linguagem é uma questão central da filosofia num modo geral, pois, desde quando foi fundada a filosofia analítica (que também é chamada de filosofia logica), passamos a observar o modo de linguagem de cada discursos e a maneira logica que esse discurso é construído. Isso pode facilitar entendimento de alguns discursos e alguns modos de obter esse discurso – mesmo aqueles que achamos ser verdadeiros – mas, não caímos no fanatismo de alguns pensamentos filosóficos. A lógica como base linguística não pode ser ampliada, pois existem fatores morais (dentro da construção de um discurso convincente dentro da cultura) e fatores de intenção (vontade e escolha). Ai chegamos na vontade, porque a cultura – principalmente a cristã depois da era medieval – começou a dizer que nem tudo que temos vontade é aquilo que devemos ter como mote (direção) para ter o objeto desejado. Muitas músicas do cancioneiro brasileiro – que chamamos de brega – são musicas dos bardos medievais, aqui os caboclos, que cantavam os amores que nunca vingavam porque eram proibidos. Ou, traições de reis e nobres, porque a maioria era casamentos arranjados.
Portanto, a liberdade pós-moderna que temos (ou pensamos ter) foi construída para ter outras traves para nós temos mecanismos que acharmos que as escolhas devem ser binarias, e aquilo que é certo é moralmente aceito e aquilo que é errado é moralmente errado. Não passa de lacunas linguísticas que o poder sempre quer impor dentro do seu discurso, que não passa de uma simples mentira. Daí vem a dúvida: temos mesmo liberdade?
Amauri Nolasco Sanches Júnior
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