terça-feira, 3 de maio de 2022

Skylab e o roqueiro dos anos oitenta


“O filósofo

Você sabe demais sobre absolutamente nada”

(banda Death)

 

Vendo o Skylab no Flow semana passada - quarta-feira (27/04) – dizer que aquele papo estava careta demais, me fez pensar que Skylab é um roqueiro dos anos 80 que sustenta o estereotipo do roqueiro de esquerda, falando um monte de asneira. Claro, o rock como um movimento de contracultura, influenciou e influência várias gerações. Porém, uma das características das muitas vertentes dentro do rock é, exatamente, ir contra o sistema vigente. Se o sistema é de direita o rock começa a tender a criticar a moralidade exagerada, quando é de esquerda idem. Mas, ao que parece, a maioria dos roqueiros desse tempo, tem um sério problema de ver uma pluralidade democrática dentro de uma conjuntura só. É difícil entender – principalmente, o povo daqui – que há um contexto histórico e se você não respeitar esse contexto, você não estará no tempo em que você está. Filósofos budistas dizem que isso é impermanência.

Por que roqueiros devem ser de algum lado? A meu ver, roqueiros são filósofos musicais porque eles usam a estética musical para questionar aquilo, isso faz deles algo como fez a filosofia nos seus primórdios. E outra coisa, se nós (como roqueiros) acreditamos na liberdade, temos que respeitar a liberdade do outro de ser e de pensar como quiser. Não dá para construir ou seguir alguma coisa até a segunda página, como dizem. Ou você segue, ou você não segue, mas, seguir é você acreditar que aquilo te faz feliz. Mas, ao chamar o roqueiro de filósofo – claro, nossa sociedade platônica kantiana vai discordar – eu estou dizendo que o roqueiro tem um viés de questionamento e ate mesmo, questionar o próprio filósofo como acontece com a banda de death metal, Death com a música Philosopher. A questão não é criticar os “papos caretas”, o problema é achar que roqueiros tem que ter um padrão e achar o que você acha.

A musica tem a frase do refrão: “O filósofo/Você sabe demais sobre absolutamente nada” e é verdade, a crítica dentro da crítica. Uma frase socrática? Não. Sócrates lança o desafio de conhecer você mesmo, porque o conhecimento vai te levar a verdade filosófica. Mas, é uma frase nietzschiana de tirar esse limite de não crítica da própria filosofia. A estética enquanto movimento, pelo menos nos séculos vinte, ficou na mão dos especialistas. Mas, intelectual são papagaios literários que só repetem o que leram e nunca refletem sobre o assunto e fazem uma análise. Talvez, o “você sabe demais sobre absolutamente nada” é uma crítica dos filósofos das sombras, o filósofo que tem uma ideologia e se amarra a essa ideologia. Por outro lado, a análise se não houver a crítica da crítica não adianta de nada. Mesmo Skylab tem suas limitações ideológicas de não entender que o Lula errou sim e que fez um esquema de corrupção – como a maioria dos políticos.

Daí a pergunta: qual a necessidade de se ter um ídolo qualquer? Um cobertor quentinho para ficar ali confortável acreditando em promessas que no fundo sabe que é guerras de narrativas? O ser humano é o único animal que gosta de ser enjaulado, sendo em jaulas ideológicas, jaulas religiosas, jaulas de todo tipo. Mas, como disse o próprio Platão, são meras sombras de objetos e pessoas que não existem porque são projetadas graças a idealização do mundo. E o porquê elas não viram para trás e vê que existem pessoas fazendo essas sombras? Porque virar dará um trabalho grande, um esforço que a grande maioria não quer fazer. Virar quer dizer ver a verdade e a verdade tem viés de espanto e esse espanto vai gerar um nada, um despertar de um outro mundo que a grande maioria, não vai aguentar.

Mesmo Skylab não quer ver essa verdade porque isso destrói sua imagem do PT enfrentador de ditadura militar, um estereotipo do roqueiro que tem que seguir um viés de ignorante, que não pode ser culto e que diz que o punk é atitude. Ter atitude não quer dizer que não tem estética – mesmo o porquê, o punk tem uma estética única – e sim, atitudes estéticas também são reconhecidas dentro da música. O mundo da arte está cheio de exemplo, e o rock como estética da contracultura – que o brasileiro moralizou nem sei o porquê – e a crítica da crítica. O rock nacional ficou obsoleto? Não, mas influenciaram até mesmo cantores que não cantam rock. E concordo – mesmo não gostando – que o funk pancadão é o nosso punk.

Amauri Nolasco Sanches Júnior 





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