sábado, 28 de maio de 2022

Meu amigo bêbado nem conhece Sócrates

 



A tradição filosófica – desde Tales de Mileto – diz que o exercício filosófico é o encontro da sabedoria enquanto verdade. Mas, não é uma verdade qualquer, é o porquê que existe algo e não o nada. Na nossa mente – isso desde muito tempo – existe sistemas lógicos que tentam entender a realidade enquanto tal. A vaca tem uma origem, assim como nossa espécie deve ter, assim como a arvore deve ter e ai, chegamos a uma origem. A origem tem sido um dos objetos mais discutidos dentro da filosofia nos últimos 3 mil anos e já é uma tradição, mesmo que a irmã dela, a ciência, tenha se empenhado em achar essa origem, os filósofos já debateram muito. Mas, indo bastante além da origem de tudo, o que será que esta por trás da verdade e a realidade? Pois, verdade vem de aletheia e esse termo grego era designado para a realidade de todas as coisas, aquilo que está bem além daquilo que entendemos. Pois, tudo que vive, tem autonomia e isso era a liberdade (eleutheros) – os gregos tinham uma outra visão de liberdade – hoje, a liberdade tem uma outra conotação.

Mas, voltando a verdade, os gregos tinham uma ideia de realidade muito além do que temos. Aliás, verdade e realidade tem uma única definição, pois, tudo que existe dentro da realidade é verdade para nós. Porém, será mesmo que esta verdade é verdadeira? Não se sabe. O mundo contemporâneo – porque não a filosofia pós-moderna – pegou a realidade e a verdade e colocou no mesmo escopo da subjetividade e inventaram a desconstrução de verdades que são – em essência – verdades dentro do que acreditamos como verdades. Claro, existem verdades que são verdades que aceitamos como reais, mas, a subjetividade é muito além daquilo que o senso comum pensa. A subjetividade é a capitação daquilo que sentimos graças a nossas percepções e nisso, existem pessoas que entendem esse fenômeno e interpretam como os fenômenos em essência e existem outras, que não entendem esses fenômenos e julgam conforme seu entendimento. Ou seja, nada tem a ver com verdades dogmáticas. Os dogmas é uma outra coisa. Não são as verdades que Nietzsche disse que não são absolutas – essas são dogmáticas – por exemplo, que ele pegou do fragmento de Heráclito. Tudo flui e muda conforme o tempo.

Na verdade, a filosofia que é ensinada no Brasil é cheia de buracos que não são preenchidos. A desconstrução de Foucault também não é essa – do mesmo modo não entenderam várias filosofias – pois, seguindo a filosofia nietzschiana – ele queria desconstruir com dogmas e ensinamentos que já não fazem tanto sentido. Por que haveria de ter um ser mais perfeito do que o outro? Por que pessoas tidas loucas, estão fora da realidade? Sabemos o que é ou não realidade? Se não sabemos o que é a realidade, como podemos saber se aquilo é real ou não? Como disse, a realidade não pode ser colocada em uma simples explicação, pois, realidade depende dos fenômenos das coisas que estão em nossa volta. Uma garrafinha de água é um objeto, todo mundo que ver essa garrafinha vai constatar que é o mesmo objeto que eu constato que é real. Não tem nenhuma “interpretação” nisso. A garrafinha é ela em essência. Como podemos achar que ao olharmos o céu, vemos um ponto vermelho (Marte) e dizer que aquilo é uma estrela só porque desconhece que podemos – em períodos do ano – ver o planeta Marte a noite a olho nu (sem telescópio). Então, desconstruir uma verdade dogmática (ou moral) não é o mesmo de desconstruir verdades objetivas, ou seja, o sol vai existir independente daquilo que acreditamos.

Como disse, estamos na era do meme e dos “carimbos de pensamento”. O carimbo da vez é a questão do amigo bêbado ser mais filósofo do que os filósofos consagrados como clássicos, numa tentativa de desconstruir a verdade da inteligência só neles. Acontece, que esse amigo bêbado – numa analise bem profunda – foge da realidade com o álcool, não tem nenhum amor a sua vida, acha que o mundo é uma merda e todo mundo quer prejudicar ele. Ele se vitimiza se embriagando e dizendo que o mundo não presta como se o mundo tinha que fazer o que ele quer. Ele não desconstrói nada, ele só não sabe o que diz. Não há nenhuma verdade em um bêbado – nem de nenhuma droga – porque estão fugindo de uma realidade que eles não podem controlar. Ou seja, não conhecem a si mesmos, não analisam os problemas do mundo, só enxergam sombras das suas próprias ideias. Nem o cara da kombi – o nome esqueci – acho ser um homem inteligente cheio de filosofia. mas, claro, sei muito bem que vão perguntar: mas, Sócrates não poderia ficar bêbado nos banquetes (simpósio)? Uma coisa é ficar alto, outra coisa que ficar sem rumo na vida. Por outro lado, como querem desconstruir discursos e verdades dogmáticas, se fazem o que uma grande parcela da massa faz? Que desconstrução é essa fazendo o que a grande maioria faz?

A meu ver, uma desconstrução filosófica acontece quando não fazemos o que a maioria faz, não ouvimos o que a maioria ouve, não diz o que a maioria fala. Ficar bêbado é o que a maioria faz – porque não consegue achar saída para sua angústia – e se é para agir como a maioria, não precisa estudar. O conhecimento te dará sempre a questão da escolha em progredir ou ficar estagnado na sua realidade, porque você descobre que está sendo enganado e que a bebida só é um analgésico daquilo que não consegue mudar.

 

Amauri Nolasco Sanches Júnior – 46 anos, técnico de informática, publicitário, filósofo da educação e futuro bacharel em filosofia.

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