domingo, 22 de maio de 2022

Com uma educação vagabunda, Brasil quer homeschooling?

 





Segundo o portal de notícia da G1 – na qual as pessoas printaram só a chamada – a Unicef (O Fundo das Nações Unidas para a Infância) criticou com a frase: "crianças e adolescentes são sujeitos de direito – e não objetos de propriedade dos pais". A meu ver, a crítica está errada e a coisa tomou proporções binarias políticas e não estão pensando em um modo escolar e a escolarização das crianças. Educação veio do latim <educare> que por sua vez, veio do grego <paideia>. Os antigos tinham, muito bem, definido a escolarização educacional que queriam. O termo <paideia> remonta uma construção de valores de uma sociedade – que os gregos chamavam de ETHOS – e os gregos sabiam o que ensinar. Basicamente, a sociedade grega ensinava: Gramática, Retórica, Música, Matemática, Geografia, História Natural e Filosofia. A sociedade grega, antes de criar trabalhadores, criavam cidadãos (politikon) e assim, nações – até o advento do império de Alexandre e Roma – os gregos conseguiram proteger todo seu legado. Até hoje, temos e herdamos ele.

Já o termo latino <educare> dos romanos – que quer dizer “conduzir para fora” com ex (fora) e ducare (conduzir ou levar) – tem a ver em levar as pessoas viver ao mundo e em uma sociedade, ou seja, conduzir elas para fora de si mesmas, mostrando as diferenças que existem no mundo. Porém, é interessante notar que o termo educação em português tem uma conotação não encontrada no termo em inglês <edication>. Enquanto o termo em português pode ser associado de boas maneiras, principalmente no adjetivo educado, no caso do inglês se refere unicamente ao grau de instrução formal. Assim, temos uma distância enorme com a cultura anglo-saxônica e muito mais a ver, com a cultura latina ou latino-americana.  Somos latinos e não tem nada de errado nisso, os franceses são também e são o que são.

Agora, escola tinha uma conotação bem especifica no mundo antigo. Ora, os gregos tinham como escola (scholé) uma forma de recreação, um ócio que não era uma obrigação. Nesse ócio, se aprendia o básico para ser cidadão. A origem do termo, os gregos tinham como <scholé> que significa descanso, repouso, lazer, tempo livre, estudo, ocupação de um homem com o ócio, livre do trabalho servil, que exerce uma profissão liberal. Ou seja, são ocupações voluntarias de quem, por ser livre, não tem nenhuma obrigação de exercer nada. Em um ponto de vista semântico, escola seria um lugar de estudo, para comentários. Passou para o latim onde é encontrado como “schôla, scholae”, que significa “lugar nos banhos onde cada um espera sua vez; ocupação literária, assunto, matéria, escola, colégio, aula; divertimento, recreio”.

Mas, a escola pública – porque mesmo na antiguidade, as escolas eram destinadas só por uma elite eleita como digna de aprendizado – só aconteceu logo depois da revolução francesa de 1789. No mesmo ano a França instituiu a primeira escola pública com a gestão do Estado, para os cidadãos franceses. Muito embora – sejamos honestos – mesmo de forma catequizante, as escolas brasileiras jesuítas já tinham planos de ensinar índios e crianças da elite dominante. Mesmo de forma precária. Mas, claro, as escolas contemporâneas têm muito mais das francesas do que as escolas jesuítas dos primeiros séculos graças ao Marques de Pombal. Ou seja, nosso modelo educacional é francês e isso é muito evidente, o professor na frente e as mesas enfileiradas.

Acontece que, como um povo que não gosta de ler, não gosta de saber outras coisas a não ser aquilo que acreditam podem dar uma aula na sua casa? O grande problema é que nossa educação escolar ou não, não supre uma ética de cidadão e nem uma moral social. Quantas pessoas não agridem outras pessoas e ate sua esposa ou esposo, porque aprendeu em sua casa ser assim? Claro, isso não quer dizer que uma pessoa não possa agir de uma forma diferente do seu pai – que mostra, que valores podem sim, serem subjetivos – mas, acima da questão da educação esta ainda, uma idolatria familiar que vem do fato de sermos uma sociedade com valores medievos ainda. Qual o problema? O lema da nossa bandeira é “ordem e progresso” e ela veio de uma frase do filósofo francês positivista Augusto Comte que dizia: “O amor por princípio e a ordem por base. O progresso por fim”. Cadê o “progresso por fim”? Vamos ainda achar que lemos o bastante para ensinar por conta própria os filhos?

Como querem ensinar as crianças se nem a notícia do G1 leram e printaram a manchete da matéria?

 

 

Amauri Nolasco Sanches Júnior – 46 anos, técnico de informática, publicitário, filósofo da educação e futuro bacharel em filosofia.

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