domingo, 29 de maio de 2022

Gustavo Lima e a farra do dinheiro publico

 







“Todo homem que tem o poder é tentando a abusar dele (…). É preciso que, pela disposição das coisas, o poder freie o poder.”

MONTESQUIEU

 

Talvez, uns dos grandes problemas da nossa república democrática seja a ideia da ética. Já trouxe essa discussão ética em um dos textos desse blog – não lembro quais – onde trouxe a questão do ETHOS grego dentro da sociedade da polis daquela época. Também, trouxe que entre os gregos e o mundo moderno está o império romano – de alguma forma, continuou em um âmbito católico durante a era medieval – que produziu uma outra coisa, o MOS ou no plural, MORES. O mundo pós-moderno colocou a ética dentro de uma ciência que estuda a moral, mas, na sua essência, ética tem a ver com o caráter dentro da problemática social onde a moral vai dar as regras de um bom viver. Se a ética tem a ver com os valores aprendidos dentro da nossa educação (familiar) que de certa forma, dá um redirecionamento para a moral. A questão poderia ser discutida dentro do que Aristóteles dizia sobre a ética (ethika) ou o que Kant diria da moral (mores), mas, o ponto é que viemos de uma cultura medievalista, somos herdeiros diretos da escolástica. Talvez, o ponto é: temos a ética frágil porque somos uma cultura burocrática e que prezamos nossos costumes até onde não atrapalhe nossa meta.

A questão nem seria o valor pago do Gustavo Lima – que a mídia noticiou como R$ 1,2 milhões de reais – mas, a questão da não melhoria das cidades que esse dinheiro poderia ser usado. E, o porquê o cantor concordou já que sabia que o dinheiro faria falta para os cofres da cidade? Daí entramos em Kant e a intensão do show e o porquê tem pagado tanto – as prefeituras – por shows não culturais e que não iriam trazer nada para ninguém na cidade. Mesmo o porquê, o que achamos bom e gostosos, outras pessoas podem não achar bom e gostoso e não querer pagar esse tipo de show. Por isso mesmo – pegando o gancho de Sócrates e Platão e o problema da democracia – deveríamos repensar essa questão da maioria, porque existem questões, que a grande maioria pode impor e impondo vai obrigar a grande minoria a ser submetida a esse tipo de situação. Por outro lado, quem garante que a grande maioria sabe o que a cidade ou uma comunidade quer realmente? Os marxistas resolveram essa questão – que Marx expos dentro da sua obra – dizendo que a grande maioria, na verdade, estão alienados e escolhem o que dizem para escolher. Será mesmo? Será que a grande maioria é ignorante o bastante, que um show é menos importante do que uma rua asfaltada ou um hospital construído? Se essas coisas tivessem sido construídas, não teria problema nenhum em contratar cantores, mas, não é a realidade da maioria dos casos.

E Sérgio Reis solta essa: “é dinheiro para o público, não é dinheiro público”. Ora, se o dinheiro da prefeitura não é público, então, de onde esse dinheiro vem? Daí entramos no mundo encantado da opinião do nosso povo, pois, se eu não concordo, por exemplo, está errado e deve ser proibido, se eu gosto, está tudo bem. Desde muito jovem venho observando velhos sinais de favorecimento daqueles que “puxam o saco” ou que de alguma maneira, tragam “benefícios” para si próprio. Esse favorecimento não era qualquer favorecimento, tinha que ser um favorecimento que traria poder e a sensação de ser superior. Era um ressentimento que caia – de alguma maneira, ainda cai – nos que achavam ser inferiores e isso fica muito claro, nas minorias como nós (pessoas com deficiência). Mas, o porquê disso? Por que as pessoas tendem a acharem que tudo deve trazer “vantagem”? De onde vem a ideia da vantagem?

Talvez, a questão da vantagem seja uma questão de sermos colonizados por bandeirantes que queriam achar riquezas e voltar para a metrópoles (como chamavam Portugal). Para chegarem as suas metas – enriquecer e serem poderosos, pois, a grande maioria era nobres endividados (inclusive, Pedro Alvares Cabral) – tinham que conseguir comprando os indígenas, escondendo a maior parte em locais não acessíveis ao reino e esconder o que estavam fazendo. Só que a maioria, nunca voltou ou ficou rico poderoso. Na verdade, Portugal e seu rei, fizeram como um feudo para produzir aqui o que eles não tinham lá. Os bandeirantes, por outro lado, começaram a casar e ter filhos com as índias e assim, ficaram e tinham o que precisavam. Até o reino de Portugal achar “imoral” e mandar órfãos para os homens nobres se casarem aqui, não queriam que eles voltassem. Na essência, somos uma nação feudalista que ainda acha que o agronegócio dará frutos para o Brasil, por isso mesmo, o Brasil nunca pode se modernizar, nunca pode tratar e melhorar os interiores dos Estados e fazer uma grande modernização. Não que o agronegócio é errado, mas, no Brasil, só isso não vai trazer emprego e progresso.

Nossa cultura feudalista-sertaneja sempre levou o Brasil para o atraso, para a idolatria da ignorância e da incapacidade de pensar e trazer uma coisa cultural mais útil. Mesmo assim, sabemos por que existem isso e o porque da idolatria da ignorância. Por que não coisas que façam pensar? Aliás, por que coisas que façam sofrer?

 

Amauri Nolasco Sanches Júnior – 46 anos, técnico de informática, publicitário, filósofo da educação e futuro bacharel em filosofia.

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