domingo, 8 de maio de 2022

Fascismo acadêmico




Ruínas da Academia de Platão (387 aC a 521 dC). O Academos floresceu por mais de 900 anos foi e ainda é, a universidade mais antiga existente no mundo. Foi fechado pelo imperador Chirstian Justiniano, que alegou que era pagão. (A Enciclopédia Internet de Filosofia)


Ser-se livre não é fazermos aquilo que queremos, mas querer-se aquilo que se pode.

Jean-Paul Sartre


Uma das coisas que eu não gosto do intelectualismo brasileiro é achar que filosofia só é filosofia dentro da academia (vide universidades e faculdades). Talvez, por isso mesmo, as pessoas rejeitam a filosofia. Nesses últimos dias, num grupo de PDFs de filosofia, tive uma prova cabal sobre isso. Um rapaz pediu o livro do Olavo de Carvalho sobre Aristóteles e teve uma discussão muito grande sobre o Olavo ser ou não acadêmico. Não gosto do Olavo de Carvalho, não por ele não ser acadêmico – ter diploma – mas, não gosto pelo fato da sua escrita não me agradar e algumas opiniões que acho, muito exageradas e não cabe mais no mundo de hoje. Mas, como amante da liberdade, acho que as pessoas deveriam ler o que quisessem e tirar suas próprias conclusões (particularmente, detesto aqueles livros de filosofia que tem de 30 a 50 páginas de introdução ensinando como ler o autor).

Democracia pressupõe diversidade de opiniões e gostos – que sempre foi muito normal dentro da história humana – onde as pessoas devem sempre acharem aquilo que te faz feliz. Felicidade e liberdade andam juntos. Mas, o que esperar de um povo onde você é expulso de um grupo anarquista por causa de divergência de opiniões? Mesmo o porquê – uma característica da nossa cultura – existem fatos que não se comprovam, como o anarquismo contemporâneo ter vindo do socialismo científico de Marx. Muitas das ideias que Marx usou, são ideias de Proudhon e de Bakunin (isso está devidamente documentado). Estranhamente, nosso povo tem alguma necessidade de fazer de ideais ou qualquer coisa como religiões, como ser vegano, como ser de direita ou de esquerda, ser a favor ou contra o capitalismo etc. isso me faz crer, de algum modo, se tem a necessidade de construir ídolos para impor pensamentos ou, esses ídolos endossarem aquilo que elas acreditam. Como quando éramos criança e dizíamos: “está vendo? Eu tenho razão”. Essa “infantilização” da nossa cultura tem origens bem da raiz medievalistas da nossa cultura – mesmo achando, também, que há um ressentimento forte e muito bem enraizado – pois, sem o soberano não se é nada (soberano nesse caso, tem a ver com a questão do Estado também).

A “infantilização” do nosso povo se agrava quando entra na nossa cultura o positivismo-marxismo, que tudo tem um porquê e uma utilidade. No positivismo comtiano (Auguste Comte), tudo não passa se não for cientificamente, que na filosofia é uma situação quase ditatorial. A filosofia é feita de conceitos (dar forma) e não pode estar amarrada em termos e pensamentos científicos, porque isso tira a liberdade de inventar conceitos do filósofo. Claro, podemos usar e não podemos negar as teorias já comprovadas e pesquisadas, mas, existem coisas que não podem amarrar a filosofia. Já o marxismo, graças a uma famosa frase de Marx, acha que o filósofo tem que mudar o mundo, negando a parte mais racional e enfatizando a parte pratica. Ora, a teoria marxista – que é bem mais vasta do que a obra marxiana – não mudou o mundo e colocou o mundo político de uma forma binaria que prejudicou ainda mais o debate político. Sua teoria levou ditaduras e mortes desnecessárias – por discordar – de uma teoria que, em tese, é uma teoria que foi ampliada com o tempo. O pensamento positivista-marxista não tem mais o porquê ser seguido, mas, foi devidamente enraizado dentro das academias como rastro de filosofias que não existem mais.

Algumas universidades – como a universidade onde eu estudo – já não tem bibliografias (conjuntos de livros) engessados em “verdades” acadêmicas como se aquilo fosse importante. Não dá (só) para ler autores de cunho acadêmico do século dezenove – sendo que muita coisa foi encontrada no século 20 – tem que se ampliar, se pensar em algum modo melhorar o modo de pensar em forma de crítica. A filosofia não pode se tornar um dogma – aliás, desde os seus primórdios, a filosofia tem quebrado certos dogmas - e sim, um modo de criticar até mesmo a crítica. Desconstruindo discursos prontos. Destruindo alicerce morais e dogmáticos. Destruindo, até mesmo, ideologias massificadas como verdade prontas.

Fascismo quer dizer um feixe unido num bastão – ou numa machadinha – que mostrava o quanto aquilo simbolizava o poder. Talvez, os acadêmicos se esqueceram das suas origens, daquilo que deveriam preservar e nem acredito que foi, totalmente, culpa da igreja católica. Mas, a ânsia de desvincular a filosofia e a própria academia das influências católicas começaram a achar que isso era através de estudos científicos (empíricos) sistemáticos. Nesse momento – por razões da opressão religiosa da época e da era medieval – se começou a achar que é superior a imagem do estudo acadêmico. Ora, a academia como tal, não começa com estudos céticos e poucos populares e sim, com o que Platão tinha em sua época. Até mesmo o nome academia, vem do deus Academus onde Platão construiu sua escola (os jardins de Academus). Então, se na tradição a academia vem de uma coisa popular (senso comum), será mesmo que deveríamos (como acadêmicos) rejeitar essas coisas e não facilitar a linguagem para abranger tais camadas?

Amauri Nolasco Sanches Júnior 

@amaurinolascos.ju #cadeirantenotiktok #invasao #tiktok #filosofos #reflexao #filosofico ♬ O Homem É o Lobo do Homem - Ronaldo Lima

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