quinta-feira, 12 de maio de 2022

Anitta, a universitária

  




Todo o conhecimento humano começou com intuições, passou daí aos conceitos e terminou com ideias.

Immanuel Kant

 

 

Ficamos surpresos quando a cantora (vide funkeira) Anitta para fazer curso numa universidade de marketing. A questão é: Anitta é uma professora qualificada para dar esse tipo de aula? Claro, dentro da história universitária mundial, devemos olhar que várias pessoas não universitárias (não tendo diploma), ministraram cursos. E – Que é muito bem documentado – não havia qualificação universitária dos professores medievais, que nos faz pensar, que qualificações universitárias são coisas bastante modernas (uma exigência capitalista). Mas, o problema não teria sido esse e sim, segundo seus críticos, tem a ver com o engajamento político da cantora dentro de um viés político e quer chamar, cada vez mais, jovens. De algum modo, é muito utilizado – principalmente pela esquerda – essa aproximação da juventude, ou por causa do idealismo em querer sempre mudar o mundo, ou porque há um conceito de renovação social. Ora, sem dúvida nenhuma, há uma renovação social e seus valores caros. Antigamente, as mulheres não podiam votar, hoje podem. Antigamente, a educação era feita do modo de dor e repreendimento, hoje, na maioria das vezes, não é mais. A renovação vai se fazendo sempre.

Mas há um fator na nossa cultura: ela confunde conservar instituições com conservar tradições. O conservadorismo não é o mesmo de tradicionalismo. Por outro lado, as tradições brasileiras na sua grande maioria, foram herdadas de outras culturas. A única tradição, realmente, que é genuína brasileira é a indígena.  Assim mesmo, as questões levantadas dentro da crítica da própria maneira de criticar essa tradição, também é estrangeira. Não desenvolveram nem mesmo uma crítica brasileira – como o brasileiro constrói um conceito – dentro da ótica da nossa visão de mundo. Por exemplo, sem demagogia, gostamos de bagunça, festas, até mesmo, putaria. Somos um povo que nunca nos importamos com que imagem nos enxergam lá fora, portanto, quando se faz uma crítica dizendo que as mulheres são vistas como prostitutas ou como sexo fácil, algumas pessoas que fazem as críticas, sempre constroem esse tipo de argumento dentro da sua subjetividade. Se nossa cultura confunde tradicionalismo com conservadorismo, também confunde subjetividade com objetividade.

Subjetividade é como se vê a realidade a partir das suas impressões dentro dos seus valores, enquanto a objetividade é o objeto da sua impressão dentro da realidade irrefutável. Um copo não pode ser subjetivado e sim, objetivado. Visões políticas e religiosas são subjetivas. O grande problema nisso tudo é que, somos herdeiros de uma universalidade de algumas visões sociorreligiosas que a igreja católica sempre colocou – usando a filosofia de Platão – e se ficou com algumas verdades universais. Será que as realidades não se convergem? Mesmo que sim, não são a mesma verdade para duas pessoas.  Aí se entra na linguagem, porque a imagem de uma mesa (significado) não é o mesmo de escrever mesa (significante). A imagem da mesa (semiótica) não será a mesma para duas pessoas, então, não se tem um absoluto dentro da verdade da mesa. Ainda tem um outro aspecto, não tão menos importante, existem formas de mesas e materiais diversos que são feitas. Então, a verdade da mesa fica a critério de quem descreve a mesa em si mesma.

A imagem da mulher imaculada – visão católica – é bem a imagem idealizada de uma visão sociorreligiosa medieval, onde as mulheres eram culpadas do pecado original. Será que a mulher não é um ser humano? Não pode fazer escolhas? Podemos ver que a questão não é se a cantora tem diploma, mas, a imagem que ela passa como uma cantora que mostra o corpo (vide: a bunda). Mesmo não gostando da sua música, a questão é sobre liberdade. Se a esquerda tem um discurso de ser democrática (na maioria das vezes, não é), a direita tem um discurso de ter liberdade (também não são). Então, o que nos faz pensar que, o fanatismo de extremismos dominou todo um discurso mundial. Temos, nesse momento, ter muito cuidado de fazer críticas pontuais de algo ou de alguém. Claro, o cancelamento iria me divertir.

Amauri Nolasco Sanches Júnior




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