Não há nenhuma dúvida que nós, pessoas com deficiência, somos explorados até o fim. Na compra da cadeira de rodas – ou outros aparelhos – isso não é novidade. Como precisamos desses aparelhos para se locomover, ou para fazer nossas tarefas diárias, acabam tendo preços exorbitantes. Se uma bicicleta básica custa entre quinhentos a oitocentos reais, cadeiras de rodas custam entre mil reais a sessenta mil reais – são as tops do mercado – que é um preço de um carro popular. Mas, o que se deve a esses preços abusivos dentro desse nicho? A necessidade. Não é só as cadeiras de rodas, no começo da pandemia de covid, os comerciantes começaram a elevar o preço do álcool em gel por causa da necessidade das pessoas em comprar esse tipo de produto. Que nos faz focar nosso olhar no conceito da “vantagem”.
Vantagem é uma posição ou uma condição de superioridade ou
adiantamento de algo ou alguém com relação ao outro ou a si mesmo em momento
anterior. Também, podemos dizer, que é um fator ou circunstância que beneficia
ou privilegia seu possuidor, seria um privilégio. Ter vantagem em algo é ter o
poder de comandar ou ser mais do que outra pessoa, ou seja, quando se está com
certas necessidades as pessoas que vendem ou dão, estão com certa vantagem com
as outras. Na história do Brasil – até mesmo, outras nações – isso é comum,
pois, lhe dar certo poder de vender o preço que se queira e não o preço justo. Um
pneu de uma cadeira de rodas – que tem o mesmo tamanho de um pneu de bicicleta –
custa em torno de quatrocentos reais, um de bicicleta não passa de cem reais.
Segundo vários estudiosos
do capitalismo – até mesmo nosso capitalismo é diferente – há o conceito de
preço do produto e o preço da produção do produto. Mas, no Brasil, as pessoas não
querem ter lucros daqui um tempo e isso é uma característica do capitalismo dos
anos 1920, ou seja, o capitalismo selvagem, da vantagem, de ter o poder de usar
a necessidade para se ter lucro. Talvez, as empresas não enxergaram que quanto
mais barato vendem, mais vendem, mais tendem a serem procuradas. As empresas de
cadeira de rodas – e órteses e próteses – esqueceram uma lição básica do
marketing (aliás, muitas pessoas que não têm qualificação na área administrativa
abrem empresas e não sabem administrar), porque atende necessidades e não desejos.
Tenho necessidade de uma cadeira de rodas, mas, posso ter um desejo de ter uma
cadeira melhor, porém, desisto ao saber do preço. No Brasil, a grande maioria,
prefere não vender a vender mais barato. O capitalismo brasileiro, podemos dizer,
é um capitalismo de muito atraso e misto. As empresas sempre querem incentivos
do governo e acabam sendo financiadas por dinheiro público, como acontece, no
socialismo.
A questão é: num país como o nosso é justo ter empresas que
exploram as necessidades desses nichos? Acredito – num modo bastante seguro –
que essas empresas, e muitas outras, não sabem nem o que estão fazendo. Isso piora
quando falamos da lei de cotas de empresas – que sempre querem diminuir por
causa da burrice de não saber procurar pessoas com deficiência por, exatamente,
não terem curso de administração – porque não querem entender, que o importante
não é a aparência das pessoas, mas, a qualificação. Qual o problema de contratar
pessoas com deficiência? Se pensava que era ignorância no começo, mas, logo se
viu que não é ignorância, o empresário brasileiro ainda idealiza uma empresa
com a imagem de pessoas belas (como as empresas hollywoodianas) e que as outras
pessoas tenham uma boa impressão dela só pela imagem. Mas, e a eficiência? E as
qualificações dentro das especificações necessárias?
Um RH (recursos humanos) sabe hoje, que o importante de
preencher cargos são as qualificações das pessoas e não como ela é. Por outro
lado, ainda se tem que ter o aval do gerente e nisso, está a idealização da
normalidade da aparência. O belo – muito cara em nossa cultura por causa do
catolicismo platônico – é um ingrediente para uma empresa. Mas, o que deveria
ser o belo? O que as pessoas entendem como estética? Aliás, as pessoas não deveriam
se preocupar com a estética e sim, com a ergonomia que a empresa pode dar aos
seus funcionários não terem problemas futuros. Mas, vivemos num atraso e não há
como convencer uma cultura derivada – e não quer evoluir – da cultura
portuguesa medieval, onde as pessoas só querem defender seu feudo e não vê que o
mundo mudou e não há como isso voltar o que era.
Mudar paradigmas é preciso!
Amauri Nolasco Sanches Júnior
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