sábado, 14 de maio de 2022

Cultura da Vantagem – explorando necessidades e fazendo o caos

 




Não há nenhuma dúvida que nós, pessoas com deficiência, somos explorados até o fim. Na compra da cadeira de rodas – ou outros aparelhos – isso não é novidade. Como precisamos desses aparelhos para se locomover, ou para fazer nossas tarefas diárias, acabam tendo preços exorbitantes. Se uma bicicleta básica custa entre quinhentos a oitocentos reais, cadeiras de rodas custam entre mil reais a sessenta mil reais – são as tops do mercado – que é um preço de um carro popular. Mas, o que se deve a esses preços abusivos dentro desse nicho? A necessidade. Não é só as cadeiras de rodas, no começo da pandemia de covid, os comerciantes começaram a elevar o preço do álcool em gel por causa da necessidade das pessoas em comprar esse tipo de produto. Que nos faz focar nosso olhar no conceito da “vantagem”.

Vantagem é uma posição ou uma condição de superioridade ou adiantamento de algo ou alguém com relação ao outro ou a si mesmo em momento anterior. Também, podemos dizer, que é um fator ou circunstância que beneficia ou privilegia seu possuidor, seria um privilégio. Ter vantagem em algo é ter o poder de comandar ou ser mais do que outra pessoa, ou seja, quando se está com certas necessidades as pessoas que vendem ou dão, estão com certa vantagem com as outras. Na história do Brasil – até mesmo, outras nações – isso é comum, pois, lhe dar certo poder de vender o preço que se queira e não o preço justo. Um pneu de uma cadeira de rodas – que tem o mesmo tamanho de um pneu de bicicleta – custa em torno de quatrocentos reais, um de bicicleta não passa de cem reais.

Segundo vários estudiosos do capitalismo – até mesmo nosso capitalismo é diferente – há o conceito de preço do produto e o preço da produção do produto. Mas, no Brasil, as pessoas não querem ter lucros daqui um tempo e isso é uma característica do capitalismo dos anos 1920, ou seja, o capitalismo selvagem, da vantagem, de ter o poder de usar a necessidade para se ter lucro. Talvez, as empresas não enxergaram que quanto mais barato vendem, mais vendem, mais tendem a serem procuradas. As empresas de cadeira de rodas – e órteses e próteses – esqueceram uma lição básica do marketing (aliás, muitas pessoas que não têm qualificação na área administrativa abrem empresas e não sabem administrar), porque atende necessidades e não desejos. Tenho necessidade de uma cadeira de rodas, mas, posso ter um desejo de ter uma cadeira melhor, porém, desisto ao saber do preço. No Brasil, a grande maioria, prefere não vender a vender mais barato. O capitalismo brasileiro, podemos dizer, é um capitalismo de muito atraso e misto. As empresas sempre querem incentivos do governo e acabam sendo financiadas por dinheiro público, como acontece, no socialismo.

A questão é: num país como o nosso é justo ter empresas que exploram as necessidades desses nichos? Acredito – num modo bastante seguro – que essas empresas, e muitas outras, não sabem nem o que estão fazendo. Isso piora quando falamos da lei de cotas de empresas – que sempre querem diminuir por causa da burrice de não saber procurar pessoas com deficiência por, exatamente, não terem curso de administração – porque não querem entender, que o importante não é a aparência das pessoas, mas, a qualificação. Qual o problema de contratar pessoas com deficiência? Se pensava que era ignorância no começo, mas, logo se viu que não é ignorância, o empresário brasileiro ainda idealiza uma empresa com a imagem de pessoas belas (como as empresas hollywoodianas) e que as outras pessoas tenham uma boa impressão dela só pela imagem. Mas, e a eficiência? E as qualificações dentro das especificações necessárias?

Um RH (recursos humanos) sabe hoje, que o importante de preencher cargos são as qualificações das pessoas e não como ela é. Por outro lado, ainda se tem que ter o aval do gerente e nisso, está a idealização da normalidade da aparência. O belo – muito cara em nossa cultura por causa do catolicismo platônico – é um ingrediente para uma empresa. Mas, o que deveria ser o belo? O que as pessoas entendem como estética? Aliás, as pessoas não deveriam se preocupar com a estética e sim, com a ergonomia que a empresa pode dar aos seus funcionários não terem problemas futuros. Mas, vivemos num atraso e não há como convencer uma cultura derivada – e não quer evoluir – da cultura portuguesa medieval, onde as pessoas só querem defender seu feudo e não vê que o mundo mudou e não há como isso voltar o que era.

Mudar paradigmas é preciso!

 

 

Amauri Nolasco Sanches Júnior




 

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