Concordo com Deleuze – filósofo francês do século passado – dizia que não existe nenhum governo de esquerda, porque não há nenhum governo dentro da esquerda. A esquerda é uma oposição daquilo que está vigente – isso é histórico – e se for governo, ou vira uma ditadura quebrando o estado de direito democrático, ou começa a ser situação. O problema do conceito de direita e de esquerda, é colocar como uma coisa institucional numa solução da assembleia da revolução francesa. Lá teria que ser assim, mas, será que deveríamos adotar como padrão de governo? Será que deveríamos adotar filosofias como soluções? Mas, não é só isso que eu concordo com Deleuze, eu concordo na questão de conceitos e eu gosto dessa definição.
Para ele, conceito é um contorno daquilo que queiramos definir,
seja na realidade imanente (objetiva) ou objetos transcendentes (fenômenos da
consciência imaginativa), que defina uma explicação da realidade que percebemos
e analisamos. Mas, o contorno não seria para dar um destaque a forma? Parece
muito a questão platônica – de Platão – de transforma o termo “idea” – que
queria dizer contorno – e transforma como uma percepção das formas dos seres. Ou
seja, a questão conceitual sempre será uma questão de contornar um objeto para
saber se a análise do problema que ele traz. Uma vaca sagrada é um ser chamado
de vaca – fêmea do touro ou boi – que pode ser considerada sagrada (coisa
santa) por algumas culturas. A demarcação do objeto sagrado é uma demarcação de
conceito sagrado, daquilo que é considerado divino. Assim, podemos dizer, que sagrado
seria um conceito porque contorna aquilo que se chama vaca é um ser sagrada em
determinada cultura.
O conceito esquerda e direita só seria uma demarcação da
questão de ser contra aquele sistema ou ser a favor daquele sistema, que no
geral, não é uma demarcação definitiva. Então, tantos outros conceitos que se
colocam em adversários políticos – que não são inimigos, pois, na democracia
todos deveriam dialogar com todos em debate – que, somente, são contornos para
dar forma aquilo que queremos dizer. Não há em nenhum momento, uma fronteira
que possamos dar por definitivo, que algumas definições de Karl Marx sejam
totalmente erradas ou totalmente certas. Mesmo o porquê, quem estuda filosofia
sabe, que filosofias não são manuais de conduta que deveriam seguir a risca
aquilo ou assado. São análises de uma realidade que pode acontecer
(virtualização), e não pode acontecer. Ou, até mesmo, aquilo pode ser um
desvaneio filosófico. O grande problema – talvez, o maior deles – foi dizer que
tudo tem uma utilidade pratica, que na filosofia, não pode ser uma rotina.
Seria ético modificar a genética de um cavalo só para produzir um unicórnio?
Seria ético trazer de volta a eugenia e produzir o ser humano perfeito, como
queria os nazistas?
A direita sempre me passou uma imagem de pessoas hipócritas
que queriam ser éticas e morais, mas, por outro lado, tinham conceitos errados
sobre as coisas e moralizavam aquilo que não seguiam (traições e putarias
rolavam solto). Por outro lado, a esquerda trata os seres humanos de uma forma
infantil que eles somente, podem livrar a grande maioria do grande mal
capitalista. Porém, eles também consomem e fazem igual a direita faz no
governo. Por isso mesmo, não existe um governo de esquerda e tão pouco,
governos de direita. No Brasil, pelo menos, o sistema corrompe os dois porque
não faz diferença nenhuma. Para o sistema, o importante é o governo alimentar ele
e sempre seguir o algoritmo da pobreza, ignorância e corrupção, pois, um dos
maiores males da nossa cultura foi engendrar a ideia da “vantagem” dentro da
nossa cultura. Eu sei muito bem que o caro leitor não vai gostar – porque nosso
povo não gosta da verdade – mas, não há como mudar se não rompermos muitas
coisas que ora jogamos em um lado, ora jogamos em um outro lado.
Banalizaram tanto o termo comunista (sabem o que é?) quanto
o termo fascista (sabem?). Fora que anarquistas – como João Gordo e afins –
colocaram todo mundo no mesmo patamar dos nazistas, como se todo mundo que
fosse militar (trabalha ou é soldado do exército) fosse nazista ou fascista,
mas, não é verdade. Conheço um monte de pessoas que foram soldados – como o
marido da minha prima – que não me parece que ele seja um nazista ou fascista.
Ai entra o nosso aprendizado histórico mostrando que mesmo os professores de
esquerda, não aprenderam muito sobre o materialismo histórico. Se generais
erraram em achar que fazendo uma intervenção militar, isso não significa, que
todos concordam. Isso se chama generalização de gente mimada e ressentida.
Pessoas que estão bem e procuram informações sabem, que discussões de verdade e
dentro do jogo democrático não se fazem com “apelidinhos” como adolescentes do
ginásio na quinta seria (sim, eu sei que agora é o fundamental).
Como Deleuze disse, não há conceitos fáceis e não há um eu
sem suas circunstâncias, como disse Gasset. Somos a circunstância que nos
cercam, porque somos parte da realidade que nos cerca, sem amarras de outras
coisas. Não somos as outras coisas, somos as circunstâncias que nos cercam. Circunstância
é uma situação, condição ou estado de alguém ou algo em um dado momento,
conjunto de fatos, elementos, qualidades que tem ou se pode ter efeito sobre
uma ação ou o pensamento de alguém. Assim, somos os fatos que acontecem, porque
eles acontecem a partir das nossas ações deliberadas. No fundo concordo ao
mesmo tempo com Gasset e Camus, somos circunstâncias absurdas porque a
realidade são eventos únicos que só nós somos capazes de perceber.
Por que temos que aceitar conceitos de outras pessoas? Por que
temos que ter um lado dentro de tudo? Nem sempre o mundo é feito dos dois lados.
Amauri Nolasco Sanches Júnior
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