A questão de ser influencer – segundo nossa imprensa – não há
problema. O problema é o tipo de discurso que se opera e se quer compartilhar –
no sentido de passar alguma coisa – que, em resumo, se limita em fofoca, desgraça
alheia e bundas e peitos (além de ostentação de coisas que, talvez, nem seja
deles). Acabo, nesse momento, de gravar uma barata morta no meu quarto – que de
dia se transforma em meu escritório – e disse que aquilo não era uma barata e
sim, um dinossauro. Será que viraliza? Claro que não. Se um youtuber do naipe
do Felipe Neto fizesse, iria bombar e no outro dia a imprensa diria: “Felipe Neto
reclama da barata em sua casa” ou, “barata invade casa de Felipe Neto, entenda!”.
A questão não é o que falam, mas, quem está falando e como está falando. A minha
barata não tem valor nenhum, por outro lado, a barata de alguém famoso tem.
Esse experimento – que adoro fazer – mostra que as pessoas gostam
de ostentar até mesmo quem elas assistem. Temos uma cultura que adora ter uma
turminha e pertencer de algum lado da história e isso, percebo desde quando me conheço
como gente. Desde muito novinho as pessoas diziam que nós com deficiência
deveríamos casar-nos com pessoas como nós – existem famílias que não aceitam
nem isso – pois, cada aparência tem que combinar com aquilo que aparenta alguém.
Amigos meus se casaram com pessoas sem deficiência, com deficiência e se
divorciaram e nem por isso, deixaram de ser pessoas subjetivas e individuais. Aí
eu tenho uma dúvida que não me sai da cabeça a muito tempo: o porquê se tem
tanta necessidade de pertencer a uma turminha? O porquê a necessidade de
pertencer a uma ideologia ou religião, ou, até mesmo, uma posição? Eu não sou
de esquerda ou de direita porque entendo a política como uma contradição de
interesses, devido ao fato das exigências sociais do momento. E religião –
mesmo lendo e respeitando o espiritismo, budismo ou o yoga – não tenho nenhuma,
pois, acho que há uma diferença enorme entre religião e espiritualidade (que a
grande maioria não enxerga).
Na verdade, a questão do mendigo pop, sempre foi por causa da
nossa cultura católica. Sempre ter “pena” daqueles mais pobres, mas, pobreza ou
não, nunca foi medida de caráter. Como deficiência e tal, pois a questão
do caráter sempre foi uma questão além das aparências e sim, está nas atitudes
e nas intenções. As intenções – sendo kantiano ou não – são a medida perfeita
para medir o caráter das pessoas, que, talvez, tenham intenções além daquilo
que dizem. Mas, por outro lado, tem a ver com os valores que recebeu. Isso se
chama educação e a educação – não a escolarização – vem da nossa cultura. Ou os
políticos vieram de Marte? Ou a grande elite veio de outras culturas?
A grande bobagem que fizeram é fazerem aquela propaganda que
o jogador enfatizava a vantagem, pois, crescemos com uma cultura que até mesmo pertencer
em determinado grupo, se ostenta. No século dezenove a nossa elite que fazia
isso, era chamada de rastaquera pelos franceses, porque ostentava o luxo,
pensavam que eram europeus e nem sabiam falar (como até hoje). Por outro lado,
o trágico-cômico dessa história que não estamos falando da elite e sim, pessoas
que ostentam aquilo que não são ou não tem. Quem tem dinheiro para viajar toda
hora? Quem tem dinheiro para se encher de bugigangas que nem vão usar? Não vi
nenhum desses influencers lerem um livro ou dizendo coisas importantes para
alertar de verdade ou jovens e sim, só a gana de ficarem famosos e não serem
diferentes daqueles mesmos artistas que tanto criticam. Reinaldo Gianechini não
errou em dizer que o pessoal não gosta de estudar, porque não gostam, não leem,
não fazem nada para aumentarem seu conhecimento. Também culpa da nossa cultura,
culpa da nossa educação que não incentiva a leitura. Incentiva ao povo serem medíocres
e quererem coisas que não serve para nada, não pensar, não fazer uma reflexão de
verdade no seu próprio mundo.
Amauri Nolasco Sanches Júnior
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