sexta-feira, 8 de abril de 2022

Marcos Mion e a Síndrome da Mãe Especial

 




No último sábado (2/4), se comemorou o dia do espectro autista e houve várias postagens sobre. Num site de notícia, noticiou que o apresentador Marcos Mion, bloqueou uma autista porque não concordou com os dizeres dele sobre o autismo. E, segundo quem segue seu grupo sobre o tema e quem segue ele, não é o primeiro bloqueio que sofrem. Várias pessoas com autismo têm relatado que só discordar dele, começam ser bloqueados e isso me faz lembrar, que já levantei várias vezes o tema sobre a Síndrome da Mãe Especial. O que seria isso? Por vários anos – isso venho vendo desde quando eu era jovenzinho – muitas mães demonstraram quase uma coisa neurótica de proteção que beira a esquizofrenia. Talvez, proteger seja uma coisa, achar que seu filho é uma coisa sua e que você sabe o que é melhor – ninguém sabe, nem nós mesmos – para ele, mas, não sabe não. Muitas vezes, para ele não sofrer – como se o sofrimento fosse uma coisa fora da realidade – mas, o sofrimento faz parte do amadurecimento de cada um.

Inúmeras vezes eu escrevi e disse em vídeo – até mesmo, tenho um livro a respeito – que isso começa com o médico, com um ambiente de velório (bem do naipe de um poema do Edgar Allan Poe), que o filho vai depender deles o resto da vida. Deve ter a matéria “bola de cristal” no curso de medicina, mesmo o porquê, a ciência não funcionam assim. Não tem que prever nada, só dar o diagnóstico. Muito pior que a Síndrome da Mãe Especial é a Síndrome do Coitado, morreu virou “Santo”, nasceu com deficiência virou coitado, perdeu os movimentos virou coitado, e por aí vai. E muitos gostam, porque somos esquecidos em todo tempo, e a vaidade bate em nossa porta o tempo todo quando, por um momento, somos reconhecidos. Mion não é um deus do Olimpo, tem seus defeitos, tem suas inseguranças e tem que lhe dar com essas inseguranças a todo tempo. Mas, se esconde da realidade e da diversidade não só do autismo, mas de toda deficiência (na minha, paralisia cerebral, existe vários graus).

Por outro lado, Mion tem que ir além do grau de autismo do seu filho e entender que as opiniões não são unanimes e que na diversidade do mundo PCD, não há lugar para heroísmo e sim, para sermos tratados como pessoas. Por isso mesmo, colocaram PESSOAS com deficiência. Mais do que isso, somos seres humanos como qualquer ser humano – temos todos os atributos genéticos da espécie homo sapiens – então, a questão da deficiência não vai fazer que sejamos diferentes geneticamente, só com características diferentes. Mesmo com as síndromes como a síndrome de down (dois cromossomos 23) e outras síndromes, não faz deles outra espécie de hominídeo ou símio. A questão é: esse tipo de visão é uma visão biológica (como enxergar aquele ser como um diferente da espécie) ou é uma visão construída dentro da cultura humana? Um pré-conceito sempre é construído através de medos de coisas diferentes daquilo que estamos acostumados – como se encontrarmos ou mantermos contato com outros seres inteligentes, daí o medo de invasões – e se coloca como uma rejeição legitima. Como já acontece e isso a séculos.  

Estamos vivendo em círculos e não estamos evoluindo enquanto cultura, porque ficamos acomodados em uma era que pensamos ter liberdade. Chamarei de Era da Bunda ou o Bundalismo selvagem, onde se começa a glorificar o que é banal em nome da ostentação daquilo que não é e aquilo que não tem. Penamos para tirar o monopólio da informação das grandes mídias, mas, transformaram a internet numa grande televisão anos 80 ou 90. Uma grande banheira do Gugu ou um grande Programa do Ratinho, onde as pessoas fazem de tudo para terem likes e para adorar os mesmos ídolos que sempre alertamos que são só imagens daquilo que não são. Mion não é um ser espiritual ou um deus, como já disse, ele mostrou que ele é pai de uma pessoa com deficiência como todo pai, quer proteger ele, quer que ele não veja o que ele não vai poder fazer. Não quer que ele sofra, mas, inevitavelmente, ele vai sofrer. Como toda pessoa com deficiência sofre e ainda, sofre mais com a superproteção exagerada e quase psicopata da família das pessoas com deficiência.

Amauri Nolasco Sanches Júnior



 

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