domingo, 3 de abril de 2022

Givaldo Alves o morador de rua tatuado

 

Givaldo ganhou uma tatuagem em sua homenagem — Foto: Reprodução/TV e Facebook



Segundo seu discípulo, Epicteto teria dito: "não são acontecimentos que perturbam as pessoas, são seus julgamentos a respeito deles". Ou seja, o julgamento moral que se faz de um acontecimento pode te atormentar muito mais, do que o acontecimento em si mesmo. O tatuador de Mogi das Cruzes, tatuou na sua perna o rosto do morador de rua – mendigo pegador para outros – Givaldo Alves, por ele ser pego no carro com a esposa do personal treinner. A questão que se levanta é: por que não se fala da mulher que, com seus transtornos psicológicos – que claro, especialistas de redes sociais não acreditam – está sendo exposta com essa história toda? A questão que o Givaldo errou em expor ela, expor a situação e o tatuar incentiva uma coisa errada ser a certa. Muitas vezes, acho que a “chave” moral do Brasil é invertido ou temos um povo ressentido, onde não se pode estudar e nem ser algo na vida e ficam achando representações da classe pobre num suposto poder.

Acredito que o termo “representação” resume muito a questão que vamos avaliar. Porque, numa ideia de se sentir representado, muitos membros das minorias, acabam caindo na armadilha do populismo achando que estão sendo representadas. Será mesmo que estão? A frase: “uma mão no volante e outra no carinho” conota uma forma poética num ato cafajeste da forma que o carro tem uma conotação de poder, pois, uma “mão no volante” tem a denotação de direção, de saber o caminho e como mudar a direção. Mas, que direção? Direção que conseguiu ter uma mulher que nunca conseguiria? Daí vamos numa outra consideração, porque a imagem do morador de rua, transando com uma mulher bonita e mulher de um sujeito que é a imagem majoritária do homem desejado. Aí cai a pergunta: desejado por quem? Por homossexuais? Porque, pelo que eu estudei – não sei se os estudos batem – mas, as mulheres não têm nenhuma conotação visual. A mulher tem que ser convencida e não vai no modo visual, no modo que os homens vão.

Isso me fez lembrar de um filósofo da escola cínica – além de Epicteto o estoico – o Diógenes de Sinope (ou O Cão), que ficava nas ruas gregas morando num vaso grande (que alguns chamam de barril). Ele se masturbava na  rua (seu mestre transava com a mulher na rua), ele cuspia na cara dos ricos, adorava ficar refutando Platão, e até mesmo, pediu para Alexandre Magno sair da frente do seu sol. Diógenes tinha uma filosofia peculiar que era o cinismo (que se definiu como um dos braços da filosofia socrática), que via as coisas mundanas como problemas e viviam na rua. Há uma diferença – falando do mundo contemporâneo – entre mendigo e morador de rua, porque morador de rua tem a escolha, mendigo não. Diógenes morava nas ruas porque sua filosofia assim dizia – muito parecida com os brâmanes hindus ou os cristãos primitivos – e assim, poderia dizer que não poderia se apegar a nada. Hoje, temos o estoicismo moderno onde o desapego tem uma outra conotação – mais ou menos, de não ficar ansioso – e nada tem a ver com o desapego.

Muito se especula se tais filosofias não vieram do oriente, já que a Grécia mantinha bastante comercio de produtos do oriente e muito filósofos – dizem ate Platão – foram até o oriente. Porque suas doutrinas parecem muito com a noção do budismo indiano e o taoismo chines, que temos que desapegar das coisas materiais e se ligar nas coisas do próprio ser. Afinal, não haveria nenhuma separação entre mim e a realidade onde estou, assim, cada coisa nessa realidade só é um simbolismo para definirmos o que seria aquilo. Não há, para os taoístas, diferença entre mim e uma maçã, porque ela só é um símbolo para definir aquilo que estou comendo. Assim, como, não há diferença se Deus existe ou não, porque não vou conseguir provar e ao mesmo tempo, ele pode ser tudo ou nada. O nada não existe, pois, tudo está contido em tudo.

Essas noções fazem sentido? Não sabemos. Mas, o caminho da felicidade e da verdade sempre foi o caminho da preponderância e equilíbrio, porque tudo que é demais faz sempre mal. A natureza consiste em equilíbrio, como pétalas certas para uma flor, asas certas para o inseto, patas certas para um cachorro e temos capacidade de perceber isso. Quando foi que o ser humano perdeu isso? Me parece que o mundo pós-moderno perdeu a noção ética em nome do dinheiro, em nome de se construir um nome e um ser que não existe. a existência se limitou na racionalidade cartesiana, mas, a consciência vai muito mais além do que a racionalidade. Somos um conjunto de sentimentos, desejos etc., que nos fazem tomar decisões. O grande problema, me parece, é a ilusão moral e realista de uma realidade que não existe. Como no filme Matrix.

 

Amauri Nolasco Sanches Júnior



 

Nenhum comentário:

Postar um comentário