Givaldo ganhou uma tatuagem em sua homenagem — Foto: Reprodução/TV e Facebook |
Segundo seu discípulo, Epicteto teria dito: "não são acontecimentos que perturbam as pessoas, são seus julgamentos a respeito deles". Ou seja, o julgamento moral que se faz de um acontecimento pode te atormentar muito mais, do que o acontecimento em si mesmo. O tatuador de Mogi das Cruzes, tatuou na sua perna o rosto do morador de rua – mendigo pegador para outros – Givaldo Alves, por ele ser pego no carro com a esposa do personal treinner. A questão que se levanta é: por que não se fala da mulher que, com seus transtornos psicológicos – que claro, especialistas de redes sociais não acreditam – está sendo exposta com essa história toda? A questão que o Givaldo errou em expor ela, expor a situação e o tatuar incentiva uma coisa errada ser a certa. Muitas vezes, acho que a “chave” moral do Brasil é invertido ou temos um povo ressentido, onde não se pode estudar e nem ser algo na vida e ficam achando representações da classe pobre num suposto poder.
Acredito que o termo “representação” resume muito a questão que
vamos avaliar. Porque, numa ideia de se sentir representado, muitos membros das
minorias, acabam caindo na armadilha do populismo achando que estão sendo
representadas. Será mesmo que estão? A frase: “uma mão no volante e outra no
carinho” conota uma forma poética num ato cafajeste da forma que o carro tem
uma conotação de poder, pois, uma “mão no volante” tem a denotação de direção,
de saber o caminho e como mudar a direção. Mas, que direção? Direção que
conseguiu ter uma mulher que nunca conseguiria? Daí vamos numa outra consideração,
porque a imagem do morador de rua, transando com uma mulher bonita e mulher de
um sujeito que é a imagem majoritária do homem desejado. Aí cai a pergunta:
desejado por quem? Por homossexuais? Porque, pelo que eu estudei – não sei se
os estudos batem – mas, as mulheres não têm nenhuma conotação visual. A mulher
tem que ser convencida e não vai no modo visual, no modo que os homens vão.
Isso me fez lembrar de um filósofo da escola cínica – além de
Epicteto o estoico – o Diógenes de Sinope (ou O Cão), que ficava nas ruas
gregas morando num vaso grande (que alguns chamam de barril). Ele se masturbava
na rua (seu mestre transava com a mulher
na rua), ele cuspia na cara dos ricos, adorava ficar refutando Platão, e até
mesmo, pediu para Alexandre Magno sair da frente do seu sol. Diógenes tinha uma
filosofia peculiar que era o cinismo (que se definiu como um dos braços da
filosofia socrática), que via as coisas mundanas como problemas e viviam na rua.
Há uma diferença – falando do mundo contemporâneo – entre mendigo e morador de
rua, porque morador de rua tem a escolha, mendigo não. Diógenes morava nas ruas
porque sua filosofia assim dizia – muito parecida com os brâmanes hindus ou os cristãos
primitivos – e assim, poderia dizer que não poderia se apegar a nada. Hoje,
temos o estoicismo moderno onde o desapego tem uma outra conotação – mais ou
menos, de não ficar ansioso – e nada tem a ver com o desapego.
Muito se especula se tais filosofias não vieram do oriente, já
que a Grécia mantinha bastante comercio de produtos do oriente e muito filósofos
– dizem ate Platão – foram até o oriente. Porque suas doutrinas parecem muito
com a noção do budismo indiano e o taoismo chines, que temos que desapegar das
coisas materiais e se ligar nas coisas do próprio ser. Afinal, não haveria nenhuma
separação entre mim e a realidade onde estou, assim, cada coisa nessa realidade só
é um simbolismo para definirmos o que seria aquilo. Não há, para os taoístas, diferença
entre mim e uma maçã, porque ela só é um símbolo para definir aquilo que estou comendo.
Assim, como, não há diferença se Deus existe ou não, porque não vou conseguir
provar e ao mesmo tempo, ele pode ser tudo ou nada. O nada não existe, pois, tudo
está contido em tudo.
Essas noções fazem sentido? Não sabemos. Mas, o caminho da
felicidade e da verdade sempre foi o caminho da preponderância e equilíbrio,
porque tudo que é demais faz sempre mal. A natureza consiste em equilíbrio,
como pétalas certas para uma flor, asas certas para o inseto, patas certas para
um cachorro e temos capacidade de perceber isso. Quando foi que o ser humano
perdeu isso? Me parece que o mundo pós-moderno perdeu a noção ética em nome do
dinheiro, em nome de se construir um nome e um ser que não existe. a existência
se limitou na racionalidade cartesiana, mas, a consciência vai muito mais além do
que a racionalidade. Somos um conjunto de sentimentos, desejos etc., que nos
fazem tomar decisões. O grande problema, me parece, é a ilusão moral e realista
de uma realidade que não existe. Como no filme Matrix.
Amauri Nolasco Sanches Júnior
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