segunda-feira, 18 de abril de 2022

‘Todes’ com Anitta

 





Quando se fala de música, se fala de estética e quem começou com a análise da arte foi Aristóteles. Mas, indo mais afundo dentro da nossa cultura e da nossa própria arte – construída por elementos vindo da colonização e vindo das outras migrações – podemos dizer que temos uma arte eclética no sentido de caber elementos mundiais. Como o samba e afins terem vindo com os africanos, a viola e o sertanejo ter vindo com a cultura dos trovadores medievais portugueses. A América, num modo geral, tem elementos de outras culturas por causa de sua colonização – como tem uma cultura própria com os indígenas que aqui se encontravam, e muito, se mesclaram com nossa própria cultura – e assim, nasce as músicas, a literatura e outros modos de se expressar dentro de um povo. Mas o Brasil sempre foi uma cultura a parte, ou por ter um território quase continental, ora por ter vários povos dentro de uma nação só. Isso ajudou a ter elementos diversos e de caráter único dentro de uma cultura – como, também, aconteceu com o império romano na Europa ou nas invasões germânicas.

Mas, como disse, elementos começaram germinar uma outra coisa dentro da cultura brasileira. Anos 70 com a liberação sexual – que, parcialmente, chegou no Brasil de um jeito escondido – deu ao mundo muito mais liberdade dentro da arte e da música. Dentro do rock – uma mistura de folk e blues com pitadas de jazz – as batidas começam a ter mais agressividade e a questão das letras são muito mais de quebrar alguns tabus. Outras formas musicais vão surgindo como a discoteca, como o eletrônico e como o funk. Só que esse funk não é o funk que temos – como nos foi apresentado – o funk norte-americano, talvez, tenha sido uma outra vertente criada pelos negros americanos para reagirem ao rock ou é um derivado dele. Hoje – ironicamente – o rock tem cara de burguês e de tiozinho reaça da piada do pavê, segundo os jovens de hoje do “todes”.  Por outro lado, não é uma crítica dentro do espectro só dos jovens – sendo o João Gordo muito mais velho ou muito amigos meus roqueiros e metaleiros – também é uma crítica aos roqueiros que tem como base, a essência crítica e libertadora do rock dentro do cenário musical. Sobre isso temos que fazer uma análise.

O rock foi inventado dentro das comunidades pobres negras do subúrbio das grandes cidades dos Estados Unidos e eram músicas que questionavam o sistema, seja ele qual for. Portanto, não interessa o sistema que esteja vigorando, ele vai ser contra e questionador e se for de esquerda e não estiver como pauta ajudar e melhorar o povo, ele vai questionar. Essa coisa de “tiozinho reaça” ou “tiozinho revoluça” é besteira, porque na essência, o rock nasce antissistema na origem e é anarquista. Ponto. Mesmo que alguns não sejam em suas vidas pessoais, no palco é uma outra coisa acontece, uma catarse de expressar a revolta contra o sistema. Qual o sistema vigente? O politicamente correto. O falso moralismo. A falta de ética e moral.

Aí está a fronteira entre a crítica e a banalização. A crítica não tem como apelação o modo visual ou palavras de cunho pejorativo explicito, outra coisa, a crítica nunca vem do que o povo (a grande maioria) acredita. Ou seja, uma Pitty colocar “o homem é o lobo do homem” numa música é diferente da outra mocinha colocar “minha periquita”. Qual está criticando a questão hipócrita humana? Talvez, há e havia trovas e poesias que fossem de duplo sentido, ou que faziam duras críticas do poder, mas, hoje houve uma banalização e uma comercialização da crítica social. Músicas fáceis para dar um ar de felicidade, um ar de facilidade num mundo que não admite coisas difíceis ou coisas complexas, não faz mais. Dentro da filosofia chamamos isso de desconstrução – que são filósofos que desconstroem conceitos filosóficos e culturais para analisá-los – porque existem coisas que não fazem sentido dentro da própria cultura inserida ali. Desconstruir um conceito para construir outro. Ai que esta, conceitos são construídos a partir de outras coisas além das críticas e além das visões da realidade.

Qual relevância tem uma Anitta, por exemplo, dentro da nossa cultura? Muitos vão dizer que música é para divertir, até concordo em certo momento, mas, devemos nos divertir o tempo todo? Não tem um momento de reflexão onde você começa questionar certas posições dentro da conduta sua dentro da sociedade? Não é a toa que muitas músicas são criticadas não só por causa de posições morais reacionárias (como se o rock não amasse a liberdade sexual), mas que ali não há nenhuma crítica dentro da realidade da grande maioria. Muitos da esquerda marxistas e dele no geral, vai chamar esse elemento da arte de arte burguesa. Arte burguesa, segundo eles, é uma arte feita para alienar a grande classe trabalhadora e começar a ditar visões da realidade. Eu chamo de “bundalismo”. Mas, o que seria o bundalismo? A meu ver, bundalismo é uma banalização da verdadeira arte de persuadir e fazer a grande maioria pensar, debater e trazer o conhecimento de uma realidade muito além daquilo que a música se propõem. Transcendemos o sexo. Por outro lado, o sexo sempre foi um tabu a ser quebrado, e se tabus devem ser quebrados, a grande maioria tem sérios problemas de prazer. O funk pancadão mostra como o prazer desmedido pode trazer a banalidade da arte.

Sim, Freud explica.

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Amauri Nolasco Sanches Júnior 

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