segunda-feira, 24 de outubro de 2022

Censura, tiros e granada

 


Por Amauri Nolasco Sanches Júnior
 

Dentro da nossa história, poderíamos afirmar que a democracia nunca foi tratada com seriedade. Sempre nossa cultura – porque nossa escolarização sempre foi não levada a sério por sermos um país escravocrata – lidou com a democracia como um regime de liberdade para os mesmos e nunca para todos. A população não pode escolher porque não sabe, mas, a classe aristocrática – assim pensam – pode cuidar desse povo que não sabe escolher. Essa aristocracia (que hoje são chamados de elite) sempre infantilizou a grande população, porque era e é de interesse do sistema brasileiro infantilizar a grande maioria. Isso nada tem a ver com ideologias como comunismo – embora a cultura latina sempre gostar das ideologias coletivistas – e sim, são rastros de uma cultura anterior luso-hispânica (herdadas de Roma).

A trágica constatação é que, até mesmo nossa elite, é ignorante. A questão é que em todo mundo – pelo menos, no mundo moderno – as elites sempre financiaram e gostaram de alto cultura, porque com a alta cultura as pessoas se tornariam mais “civilizadas”. Indo muito mais além do conceito desse “civilizada”, podemos afirmar que logo após a Revolução francesa – que muitos vão taxar de revolução burguesa – a burguesia que toma o poder tem como meta escolarizar e moldar a grande maioria para uma evolução humano em torno do conhecimento seguindo a meta iluminista. A elite emergente portuguesa sempre foi religiosa, sempre se achou a “escolhida” por Deus para cuidar daqueles seres humanos “pecadores” e achavam que o conhecimento era o “pecado” do orgulho. Satanás – encarnado em Lúcifer, o querubim mais belo de Deus – com o conhecimento, desafiou Deus e não confiou em seu designo. Herdamos essa elite.

Já no século dezenove, os franceses diziam que a nossa elite era “rastaquera”. Ou seja, mostravam muita riqueza e pouca cultura. Realmente, quem vive nas “entranhas” da sociedade brasileira sabe que a grande maioria – e a elite está incluída – é avessa a cultura de qualidade, não gosta de ler e não gosta de estudar. Podemos dizer que sempre a finalidade do estudo não é seguir uma vocação, mas, ganhar dinheiro e quem sabe, sair daqui, porque é um país sem cultura. Mas, essa “sem cultura” sempre é, de fato, um descuidado de uma escolarização por colocar como útil e inútil.

Sempre o Brasil não gostou da teoria, a intelectualidade sempre foi tratada como uma coisa inútil. Somos educados que ler um livro só se tiver uma serventia, ou se por trás daquela leitura, as pessoas conquistem várias coisas. Não a toa, sem medo de errar, as leituras de autoajuda fazem tanto sucesso aqui por prometer algo. Indo muito mais além, as teologias da prosperidade que foram popularizadas como uma promessa de “vitória” ou de ganhar sempre bens materiais em nome ao culto de Deus. Mas, o estudo como forma de ganho, faz do conhecimento mais um objeto mercadológico e colocando o estudo como algo a ser feito por um outro fim. Não ao seu desenvolvimento e a sua evolução. Porque, concordando com o filósofo Platão, não existe bem e mal e sim, ignorância e o conhecimento.

Duas figuras que hoje – e teremos que escolher para presidente no segundo turno – acenam nos cenários político, são frutos dessa falta de conhecimento e mergulhou nosso povo na ignorância. Porque, para entender nosso cenário político, temos que entender nosso processo histórico que nos levou a esse momento. A exploração do Brasil (grandes potencias sempre dominaram nosso país), sempre foi um entrave para o progresso, pois, colocava a ordem em xeque. Fizeram nosso povo não gostar do seu país, fazendo com que ideologias políticas relativizassem valores caros. Todos nossos hinos tem liberdade e por causa da liberdade – como uma pedra preciosa não encontrada – estamos lutando com fantasmas. De um lado um reacionarismo que vê um passado que o Brasil nunca teve, por outro lado, revolucionários que enxergam um Brasil que nunca será. Falta um equilíbrio que só pessoas céticas, politicamente, poderão ter.

Pessoas como Roberto Jefferson são pessoas sem ideologias, eles apoiam aquilo que lhe interessam e aquilo que trarão benefícios políticos. Assim como outros e, não longe, a mídia com toda sua gama de poder de persuasão. Se um político tem o dom da retorica, podemos dizer – na melhor das hipóteses – que a mídia potencializa ao máximo essa retorica ou por um lado ou por outro. Isso já estava sendo visto da – então chamada – Escola de Frankfurt e outro pensadores. Se, assim podemos dizer, os mitos tinham a “missão” de educar as crianças gregas a serem gregos dentro das suas tradições, a mídia tem a “missão” educadora do mundo moderno liberal capitalista. Onde o útil e o inútil dependem de onde se encontrem dentro da sociedade, onde o individuo tem que enriquecer o outro e esquecer de si mesmo.

Por outro lado, a esquerda com sua pauta hereditária – sendo pautas irrelevantes na nossa cultura – tendem a serem mais propicia a censura. O socialismo em si – no modelo que foi implementado na Rússia no começo do século passado – é uma ditadura que pressupõe que o ser humano não pode fazer suas próprias escolhas e, não muito, ser solidário. Ideologias políticas e religiosas tendem só a alimentar uma magoa que cada ser humano tem de ser aquilo que o outro é, mas, que se esquece que cada indivíduo tem uma natureza. Karl Marx – como um bom materialista – tende a entender o mundo a partir da perspectiva materialista e esquece que na sociedade, o ser humano tende a outras coisas. Nem tudo é fisiológico, tem a parte espiritual (no sentido filosófico mesmo) onde o ser humano também se constrói.

Numa revolução seria permitido matar, mesmo que essa pessoa, é da classe trabalhadora? Um soldado ou um policial, não é uma classe trabalhadora como outra? Daí cairmos, novamente, na questão da ética e da moral. Matar seria ético no caso de defesa, mas, no caso de defender uma opinião não seria nada disso. Lembrando, caindo na biologia, que os sistemas que evoluíram aprenderam as melhores circunstâncias para serem adaptados em certos ambientes. Ou seja, conhecer faz organismos a serem melhor adaptados e sobreviverem e os que não aprendem, inevitavelmente, são eliminados do ambiente.

Portanto, como dizem, deixa a natureza fazer seu serviço. 

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