quinta-feira, 27 de outubro de 2022

O efeito do bolsopetismo selvagem

 




Por Amauri Nolasco Sanches Júnior

 



Quando você abre redes sociais como o LinkedIn – rede empresarial que visa o engajamento profissional e financeiro – vimos uma hipervalorização da visão da autoajuda corporativa. Parece, sem sombra de dúvida, que há um momento de valorização da promessa de sucesso enquanto a maioria sofre das desigualdades dentro de uma sociedade desigual – e sempre gostou da valorização da religiosidade e do aparato metafisico da prosperidade – onde o LinkedIn, só é mais uma promessa de sucesso. O termo “sucesso” – como forma de carimbar afirmações – sempre foi nosso caminho para a felicidade e igual a liberdade, depende muito das questões econômicas e socioculturais de cada sociedade.

As redes sociais se tornaram simulacros de ideologias que prometem resoluções para vários problemas muito complexos, para discursos simplistas populistas que só querem captar o grande público. Mais o chamado “Efeito LinkedIn” só é um sintoma dentro de uma problematização ideológica dentro de promessas vazias – promessas essas de sucesso e felicidade – que ainda, captam pessoas a idealizarem seus “sonhos” e suas vidas. Mas, com crescente uso das ferramentas virtuais, essas promessas são mais evidentes e que tem uma difusão muito maior. Mas, promessas não são concretizadas com frases de efeito e vídeos motivacionais, e sim, com a concretização do aprendizado – graças aos dados que se transformam em informações – com a teoria e a prática.

É notório tipos de postagens que ao invés de compartilharem o link da notícia compartilham ou a foto da manchete – com a desculpa de não abrir o link para não dar audiência para certos canais jornalísticos – ou vídeos com comentários cômicos ou que reforcem sua crença ideológica. Informações como estas tendem sempre a reforçarem a não leitura do artigo em questão, sempre reforçando uma conduta de procurar um modo rápido e fácil de mostrar que suas convicções ideológicas estão certas. O Efeito LinkedIn não se trata apenas de uma conduta motivacional corporativa, mas, que tudo se resolve através de empregos de faixada, o fetichismo do sucesso como algo efetivo e o motivo claro de ter uma vida útil. A efetivação daquilo que é considerado útil ou inútil.

Aquilo que é útil ou inútil pode ser classificado como aceito e não aceito. A efetivação do emprego sempre foi por empregos de cunho concreto (ou assim considerados), pois, se antigamente ser atriz era coisa de “prostituta” e ator era coisa de “vagabundo”, hoje a intelectualidade tem um viés da mesma proporção. Esse movimento contra a intelectualidade – onde os especialistas são hostilizados – apenas é um reflexo do pensamento que temos em colocar o modo intelectualizado como inútil, aquilo que deve ter serventia e não está acima das formas de trabalho braçais ou que tenham, ao ver da maioria, uma serventia concreta. O conhecimento não pode ser adquirido só por curiosidade, ele tem que ter uma serventia dentro da lógica cultural onde a serventia molda aquilo que devemos e aquilo que não devemos ter como vide. A vida – pelo menos a intelectual – tem que servir o propósito da utilidade.

Se no tempo dos grupos como do Yahoo ou os primórdios das redes sociais como os do Fórum Now ou Orkut, o link representava a confirmação daquilo que a pessoa está dizendo, hoje, com o avanço da hostilidade da intelectualidade, o link se torna um muro entre a confirmação ou não das suas crenças ideológicas. Assim, não muito, podemos dizer – sem medo de nenhum erro – que o link de sites ou blogs com textos de opinião ou notícias, tendem a ser bastante demorados e não representam nada melhor do que a verdade sobre um fato. Ali é a quebra de um preconceito ou a conceitualização da verdade – sendo a verdade como sinônimo de realidade – onde a notícia não tem uma verdade que se queira. A verdade é chamada de mentira porque não afaga o ego do leitor, que na maioria das vezes, só leem o título.

Por outro lado, com o crescimento da internet, sites com promessas de remuneração por escritas por visualização, iludem a grande massa que vão ganhar várias quantias sendo não verdade. Com a pós-verdade e com as notícias falsas (fake news), vários mecanismos têm sido criados para barrarem artigos que distorcem a verdade para agradar certos setores políticos ou vertentes ideológicas. A esquerda petista (vinculadas ao Partido dos Trabalhadores), começam com essa modalidade para difamarem adversários políticos e difamarem adversários ideológicos. Do mesmo modo, a direita reacionária bolsonarista (vinculada ao presidente Jair Bolsonaro), vem com a mesma arma e difama do mesmo modo os adversários políticos. Os sites que prometem aos escritores autônomos a ganharem dinheiro com textos, com esse mecanismo da pós-verdade, começam restringir termos e não aceitar nomes dos artigos chamativos. Se em um blog particular haveria 32 a 70 leitores, em um site de notícia haverá de 2 ou 3 leitores ao máximo 20 leitores.

O que podemos tirar disto? Uma desvalorização da notícia enquanto afago ideológico? Isso não pode fazer sentido. A meu ver, houve uma hipervalorização do estudo enquanto didática da serventia ideológica ou, indo mais além, uma pós-verdade que justifique aquilo que apoiamos. Se acredita que a filosofia em si – como trabalho intelectual – tende a ter uma serventia concreta, mas, a crítica filosofia em si, tende a não ser serva de nada. A crítica filosófica – como ponto de partida de uma análise muito mais profunda do problema – não pode ter nenhuma definição, nem religiosa e nem ideológica. E no mais, o pensamento filosófico desvincula o que as pessoas acreditam e colocam a realidade no lugar.
 
O link se esvazia como forma de não ser aquilo que não se encaixa com a preferência ideológica e religiosa. A pergunta que fica é: qual o critério de uma notícia viralizar e o porquê ela viraliza? Qual o interesse dessas notícias viralizarem? Aliás, essa propagação e esse comparação com epidemias virais – como que tivemos com o COVID-19 – não é a toa, porque como um vírus, a notícia se alastra como uma curiosidade. Mas, será que é mesmo?

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