sábado, 1 de outubro de 2022

O Padre de Festa Junina e a senadora fantasma

 




“A democracia muitas vezes significa o poder nas mãos de uma maioria incompetente.”

George Bernard Shaw


Por Amauri Nolasco Sanches Júnior 


Quando a democracia aparece em Atenas, uma das características que governou a cidade-estado (polis) era a escolha de seus representantes. Mas, apenas alguns poderiam exercer esse direito de escolha, pois, se deveria ser os homens livres. O que acontece que esse tipo de governo acabou em colapso por causa de discursos demagogos e retoricas que levaram Atenas a derrota e, não menos importante, a condenação do seu maior sábio Sócrates. A grande maioria perdeu a confiança na classe política por causa de condenações e resoluções que não beneficiava a grande maioria – inclusive, todos que condenaram Sócrates foram condenados por crimes contra a polis – e isso os gregos não admitiam. 

Estou lendo Portões de Fogo de Steven Pressfield que, entre outras coisas, conta em forma romanceada a história da invasão persa e a luta dos 300 espartanos para segurar os persas e deixar a Grécia se preparar. Eles foram mortos depois de cinco a sete dias e matou milhares do exército persa, mesmo que, eles eram a grande maioria. Pressfield fez uma pesquisa muito grande para escrever, uma delas é que os gregos se identificavam com sua polis e os deuses dessas polis e se um grego fosse expulso, era como se não fosse ninguém. Os atenienses não fugiam a regra, mas, os atenienses tinham o ETHOS que era como o espírito deles. A democracia só era um meio de escolha dentro de seu “espírito”, o erro – por ignorância da época – os iluministas traduzirem democracia como “governo do povo. O que acontece é que esse “demo” não era povo e sim, bairros. Assim, democracia era um sistema de governo onde representantes dos bairros dos homens livres, decidiam o destino da polis. 

 A democracia mudou? Dizem os primeiros pensadores que defenderam a democracia que seria um governo do povo e como tal, o povo poderia decidir tudo que aconteceria em sua nação. Mas será que a “demo” poderia ser só um bairro, hoje em dia? Não. As polis (cidades-estados) eram separadas e os gregos não tinham um governo central, porque eram cidades autônomas. Depois de uns dois mil anos, o mundo mudou e as nações e a humanidade aumentou. Um país como o Brasil, com milhões de habitantes, não se poderia ter um governo de bairros e que cidadãos pudessem escolher tudo. Existem diferenças significativas entre se ter liberdade – que para os gregos antigos eram só autonomia – e decidir o destino onde você nasceu e vive. As escolhas são um destino entre a economia (como forma de trabalho e sustento) e a política (como o bem-estar). 

No fundo sabemos que numa forma retorica, a grande elite sempre vai eleger quem eles quiserem. A democracia só funcionaria – em uma questão precisa – se houvesse uma escolarização de qualidade (não quantidade) e que ensinasse nossa cultura e tudo que foi em 500 anos de verdade. Coisa que não foram feitas e sou cético o bastante em achar que vão demorar ou nunca vai ser feito, porque nossa elite age como senhores feudais. Querem mão de obra reserva e um povo ignorante. A questão sempre foi a escravização e trabalho barato num capitalismo atrasado – anos 20 – de uma economia keynesiana onde o ESTADO sempre vai interferir nas formas de produção. Os empresários querem ganhar, mas, não querem investir e o capitalismo de verdade – como demanda de serviços e produção de produtos – requer uma economia liberal e sem interferência nenhuma. Ou seja, as empresas têm sempre de ter um caixa de giro para investimento. Num modo político, nossa tradição é liberal progressista por causa da nossa adesão ao positivismo de progresso dentro da ciência e liberal, por causa da nossa aproximação do iluminismo. Mas, temos uma cultura escolástica-feudal. 

Uma cultura escolástica-feudal e uma economia e tradição política, liberal progressista, o que daria? Daria famílias que sempre querem estar na liderança ou no poder, assim, muitos Estados sempre têm famílias que mandam ali. Seja da forma política – principalmente – seja de forma da mídia local, mas, existem essas famílias que são senhores daquilo. Não podem ser contrariados. Hoje, as maiores lideranças tomaram conta dos partidos e estão poucos preocupados com política, isso tem a ver com nossa cultura ainda medieval. Mas, também tem a ver com a não modernização do Brasil e a escolaridade precária que sempre foi. Além disso, com certeza, sabemos que houve a sistematização da santidade do padre e a figura caracterizada de uma nação católica. Sabemos que o Padre Kelmon não existe, é um personagem construído dentro da política do espetáculo. 

Nós poderíamos dizer que a cultura da política do espetáculo sempre teve público por causa do “cobertor quentinho” que as ideologias nos davam, não só aqui, mas, no mundo inteiro. Nos últimos tempos, as pessoas puderam ver que não existem ideologias políticas que sobrevivem na gana de obter muito mais poder, do políticas para melhorarem o mundo. Ai a crise política. As velhas práticas estão sendo questionadas, o senso de responsabilidade recaiu em outras pautas e isso tem que ser entregue. A política do espetáculo se dará sempre respondendo velhas questões que não tem a menor validade mais – como que existem pessoas que não pensam mais frente e só tem conceitos antigos – e que são “burladas” com essas atitudes. Pessoalmente, não perco tempo em debates. 


Nenhum comentário:

Postar um comentário