sexta-feira, 29 de dezembro de 2023

Tribunal da Internet: quem matou PC Siqueira?





“Só existe um problema filosófico realmente sério: é o suicídio. Julgar se a vida vale ou não vale a pena ser vivida é responder à questão fundamental da filosofia”. (CAMUS, 1989, p. 7).

Amauri Nolasco Sanches Junior 




Camus em o Mito de Sísifo diz que o único problema de verdade dentro da filosofia é o suicidio. Por que? Segundo ele, a questão de quem decide que a vida não vale a pena ser vivida deve ser analisada. Indo muito mais a fundo dentro do espectro filosófico, um exemplo temos dentro da filosofia: Sócrates. O grande filósofo ateniense, teria se suicidado? Pois, o Estado ateniense deu a sentença, mas, além dele mesmo tomar a taça de cicuta, ele não lutou pela sua vida. Então, mesmo que se virasse uma espécie de mártir, Sócrates poderia ser chamado muito facilmente de suicida e de achar que morrendo existe uma outra vida. 

Talvez, quando Camus diz “Julgar se a vida vale ou não vale a pena ser vivida é responder à questão fundamental da filosofia”, ele queria dizer as falas de Sócrates que disse: “a vida não examinada não vale a pena ser vivida”. Mas, o que seria uma vida não examinada? Será que devemos examinar todas as vezes que fazemos uma reflexão? Temos um mito que reflexões são feitas quando estamos parados com “cara de paisagem” dentro de um silêncio - nem sempre é assim - mas, ao digitar esse texto, eu estou refletindo aquilo que eu vou escrever. O assunto está sendo refletido. Daí - dentro da filosofia do absurdo de Camus - entramos no mito de Sísifo (um Titã que foi condenado a rolar uma rocha eternamente) onde diz: “É preciso imaginar Sísifo feliz”.

A meu ver, influencers digitais (e famosos, de um modo geral) são um pouco de Sísifo, condenados a ficarem rolando uma rocha por toda a eternidade por serem o que são. Lá no fim da montanha a rocha sempre será lançada para baixo. A rocha é a aparência, é aquilo que se quer passar como virtude - muitas vezes, é só uma imagem inventada - do outro lado, ela fica rolando por toda a eternidade. Aquele que é relevante por um tempo não é mais, mas, há uma outra definição para os influencers: “alpinistas sociais”. 

Mesmo que alunos da USP (Universidade de São Paulo) desconsiderem textos como esse como filosófico, eu considero que é isso não importa. Mais ainda, considerando a virtude como o cerne do problema do youtuber PC Siqueira por ter tantas acusações contra ele - vinda de um suposto vídeo do instagram dele - ainda sim, não poderemos de forma nenhuma, julgar sem que a justiça dê o veredito. Mas, dentro de uma proposta mais profunda, a questão entre Camus e a existência (como forma do absurdo) deve ser olhada. De uma forma geral - transcendendo qualquer ideologia que predomine as discussões de hoje - todas as formas de virtudes e toda as festas e feriados são construções sociais, mas, foram enraizadas dentro da nossa consciência que quem não tem atitudes como essa sao estranhos. Então, pessoas sensíveis vão se achar solitárias por causa disso, por ainda viver essa ilusão. 

O absurdo é dar valor a uma vida que não tem valor nenhum, ela é vivida. Toda bugiganga virtual que chamam de conteúdo, nos mostra o que a publicidade sempre nos mostrou: se você não tiver aquilo, você é um nada. Se você não é como eu, você não é nada. Se você não tiver um iate, você não é nada. E a lista de “virtudes” e sonhos são apenas ilusões - e essas ilusões conquistam porque se forma uma lista de ídolos - e o ídolo , de uma forma geral, são várias conceitualizações que o homem moderno colocou no lugar da religião. O absurdo da existência é você sustentar uma imagem que você não tem. E, não vai ter nunca, porque quem tem já sabia como ter e tem meios como ter. 

Somos um nada dentro do universo que não muito, temos a capacidade de ver a realidade com a nossa consciência - consciente e inconsciente - e nascemos sozinhos e vamos morrer sozinhos. Os teóricos ficam discutindo se o problema é socializar ou individualizar, mas, a meu ver, temos que entender que a evolução biológica e espiritual, é nossa e só nós temos o poder da escolha. O resto é papo de inteligentinho.


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segunda-feira, 25 de dezembro de 2023

A METAFÍSICA DOS INFLUENCERS

 








Amauri Nolasco Sanches Junior 



Em uma ida ao shopping, poderemos ver várias filas em vários estabelecimentos que nos fazem questionar: o porque as pessoas aceitam uma fila? Claro, em um modo muito mais técnico, digamos assim, é o modo de organização de um local para o atendimento. Mas, e se esse local - como quiosques do Méqui - tiver bastante? Por que não optar por outros quiosques com sorvetes diferentes? Muitas marcas poderosas - com inúmeras propagandas - condicionam a vontade (ou de pessoas acríticas ou crianças) da grande massa. Ou seja, as pessoas estão dentro do “efeito manada” onde influenciadores e páginas transvestidas de fofocas atuam. 

Sou filósofo, mas tenho diploma de publicidade e sei a questão do efeito manada como algo parecido dentro de uma boa propaganda. Porque, indo muito mais a fundo, uma propaganda é uma imagem e um roteiro. Nada diferente dentro do jornalismo que vemos. Acontece que perfis do tipo da Choquei - que se envolveu um suicidio de uma moça por causa de notícia falsa - tem a ver com isso de divulgação de imagem de artistas (por encomenda, como sempre teve na mídia)  e com o “asssassinato de reputação”. O famoso cancelamento. Poderíamos colocar como uma “coisa orquestrada”, mas, além do que todo mundo está dizendo - afinal, se eu quisesse pensar ou agir como todo mundo, não teria feito nem o ensino médio - temos que olhar no prisma da filosofia. 

No caso da propaganda do “Méqui”, ha um estimulo de se consumir aquele sorvete, aquela “casquinha”. Mas, se a pessoa tiver um pouco de discernimento  vai escolher a casquinha do “muuu” que não é conhecida, porque eu gosto de sorvete e não ligo para marcas. Posso tomar um milkshake da Cacau Show - que dizem que financia esse tipo de página - ao invés de tomar do “Méqui”, porque gosto mais. Por que isso acontece? Porque eu sei dos meus gostos e sei das minhas vontades, eu controlo elas ao meu bel prazer porque eu tenho conhecimento delas. A meses não como no “méqui”, assim como não faço o que a maioria faz. A questão de eu ler e estudar - assimilar, o que não acontece com a maioria - tem a ver em ver o mundo além daquilo que nos condicionam. 

Eu gosto da filosofia budista no que consiste em rever conceitos, pois, dentro de qualquer filosofia, tem-se em mente que o filósofo pode rever um conceito ou construir outros. A algum tempo eu discuti com um rapaz que não entendeu a questão da cena da colher no filme Matrix e meteu Kant no meio. A questão da colher é uma questão de imagem condicionada de algo concreto, pois, a colher é um objeto transitório entre os seres que sabemos que existem e o meu conceito da colher. Se a colher passar por um processo de reciclagem, ela vai se tornar algo diferente. Ou, a colher poderia ser outra coisa. 

Daí entramos nos influenciadores. Há uma diferença entre os influenciadores (uma espécie de novo publicitário) e criador de conteúdo. Eu, por exemplo, sou criador de conteúdo por escrever em um blog e, às vezes, gravar alguns vídeos no Kwai. Mas não mudo os comportamentos de ninguém ou influencia ninguém a comprar nada (a não ser meus livros). O influenciador tem a ver de influenciar a opinião ou o comportamento por causa de um interesse de determinada corporação. Agencias como a Mind8, agenciam muitas paginas de fofoca e pessoas famosas para “gatilhar” essas pessoas famosas, mas existem influenciadores menores ganhando com jogos de azar ou sorteios de apartamentos sem verificações de onde é esse apartamento. 

Ai cairmos no exemplo do sorvete do “méqui” de novo. Assim como existem outros sorvetes que podemos comprar, existem pessoas muito mais relevantes que podem agregar muito mais a nossa vida. Por que vou querer saber da vida dos outros ou que tal influenciador está na Disney? Pior ainda, por que eu vou querer seguir pessoas que mostram ir em baladas? Metafisicamente - no que se diz respeito a Teoria da Realidade - tem a ver com nossas emoções de querer algo que só vai olhar. A maioria das moças que têm Onlyfans, por exemplo, nunca vão chegar a ganhar “fortunas” por causa do site, assim como existem influencers menores que nunca vão entrar na Mind8 (da Preta Gil). A maioria dos homens seguem mulheres que não existem - tudo não passa de fantasias e uma falta dentro de si - assim como, ir hatear alguém pode dar visualização para uma vida medíocre. O ídolo também passa por esse processo. 

O que é um ídolo? Um ídolo é aquele que é eleito por nós como uma imagem, representação ou pessoa que é adorada como se fosse tratada como uma divindade. Quando as pessoas olham um quiosque do “méqui” elas não estão vendo a instituição McDonald 'se sim uma representação (poderemos chamar de  méqui) daquilo que muitas décadas vem sendo feito, como páginas (digamos assim) tuitando fofocas (nada agrega). Na verdade, essa representação não existe, comer um lanche ou um sorvete, só vai mostrar um pseudo-status de representação de importância. Mas, que importância? Qual seria a importância subliminar comer no Méqui? 

Talvez, o que chamo de Paradoxo da Fila, tenha a ver com a representação daquilo que temos que esperar, mas, se torna um paradoxo porque várias formas desse mesmo estabelecimento esta no mesmo espaço. 


sexta-feira, 22 de dezembro de 2023

O PRECONCEITO E A FILOSOFIA





Amauri Nolasco Sanches Junior


A realidade (como verdade) tem duas posições: uma verdade tem o aspecto de ser imanente (existe independente da nossa consciência) e a verdade subjetiva (as nossas crenças). Nitidamente podemos ver que atos de preconceito tem a ver com as verdades subjetivas - contendo crenças - não só crenças religiosas, mas crenças dentro das visões fanáticas. O influencer Renato Cariani não esta sendo julgado porque é ou não envolvido com vendas ilegais, mas porque tem uma foto com o ex -presidente Jair Bolsonaro (PL). Assim como Jojo Toddynho - vítima de racismo porque não aceitou um presente - não vai se defendida pelo movimento negro porque disseram que ela é bolsonarista.

Assim como outras celebridades não vão ser defendidas - e não sao - porque sao lulopetistas ou votaram no presidente Luiz Inacio Lula da Silva (PT) com os dizeres: “faz o L”. As pessoas não sabem, mas, essas atitudes são de preconceito. E o filósofo Michel Foucault (1926 - 1984) disse - em um livro que não li - que o racismo (preconceito em um modo geral) tem a ver com a dominação coletiva. Quando a Jojo ouviu “esses negros são arrogantes!”  foi uma frase de cunho racista de trezentos anos de escravidão e um discurso para “normalizar” cada ato, e não enteressa se apoia A ou B, continua sendo racismo. 

Mas e o capacitismo? O capacitismo é uma visão de normalidade do corpo excluindo pessoas deficientes dentro da sociedade, pois, não está dentro da normalidade. Daí entra a verdade imanente e a subjetiva, porque a verdade imanente vai se impor com a existência do corpo deficiente independente daquilo que você acha ou não. A incapacidade dele são crenças dentro de um discurso de normalidade que antigamente, talvez, fizesse até sentido de um modo prático, mas, hoje não faz nenhum sentido. Com a tecnologia transcendendo o corpo - como capaz e incapaz - o momento de quebra de paradigma é agora. 

Muitas pessoas colocam o capacitismo como ignorância - como a esquerda gosta de ser didática e adotou esse discurso - mas, pelo que eu vejo, não é muito a verdade. Li uma notícia que alunos com transtornos do espectro autistas do curso de psicologia da Universidade Federal de Pernambuco (UFPE) foram vítimas de capacitismo no Centro de Filosofia de Ciências Humanas (CFCH), onde o curso é dado. Ora, na teoria - principalmente no que se refere a Immanuel Kant (1724-1804) - o preconceito seria como uma opinião ou concepção pré-formada sobre algo ou alguém, geralmente baseada em estereótipos e generalizações. Ou melhor, o que vimos no exemplo acima, mas no exemplo capacitista tem a ver da ideia medicalista (vide positivista do especialista) que o autista é um paciente, não pode ser um deles. 

Kant argumenta, que o preconceito é uma forma de ignorância e deve ser combatido através da busca do conhecimento e da formação do senso crítico. Segundo o filósofo, a educação é fundamental para a construção de uma sociedade mais justa e igualitária. Será mesmo? Possivelmente. Mas, há uma pergunta muito importante: porque o brasileiro, mesmo com o “conhecimento”, não muda de comportamento? Quando entramos em uma universidade - como eu já entrei presencialmente - os alunos gostam das mesmas músicas como todo mundo, gostam dos mesmos programas, os rapazes discutem mulheres e carros etc. Por isso mesmo eu coloquei conhecimento entre aspas, pois, a educação brasileira não tem conhecimento de informação. 

Não à toa, nos vários banheiros femininos foram vandalizados com várias frases que são contra o direito das pessoas com autismo estudarem e exercerem psicologia. Frases como: “Autista Psicólogo é ridículo!”, “Autista nesse curso é ridículo”, “fora autista” e “Ninguém quer ser atendido por um autista” (sic), são contra até mesmo, dentro do que se diz sobre a ética. Na filosofia, ética (ETHOS) tem a ver com o estudo de assuntos morais ou modo de ser e de agir dos seres humanos. A ética na filosofia quer descobrir o que faz motivar cada um a agir em determinada maneira, se diferencia também o que significa o bom e o mau, e o mal e o bem. A meu ver, a questão ética vai muito mais além de meros estudos sobre a moral - que a grande maioria brasileira sempre relativiza - mas, um ponto a seguir dentro da prática cotidiana. Ou seja, os cursos dão o técnico, mas não dão a ética. 

Além do mais, se é para pensar como todo mundo pensa, a meu ver, nem eu faria o ensino médio.


sexta-feira, 15 de dezembro de 2023

A senhora Bolsonaro e o comunista do STF




 Amauri Nolasco Sanches Junior 


Como uma boa evangélica - a maior parte de quem apoiou o golpe militar de 64 era evangélico - a ex-primeira-dama, Michelle Bolsonaro mostra seu lado político (claro, defendendo seu marido). As criticas que fez nessa quarta-feira (13), reabrem uma discussão desde muito tempo quando seu marido, Jair Bolsonaro (PL), estava na presidência da república. Segundo a mídia escrita, Michelle fez essas criticas (e outras para Flavio Dino) para o senador Sergio Moro (União-PR) por demonstrar momentos de ternura com o então - agora ele é ministro do Supremo - candidato a cadeira do STF, Dino. A mulher em seu momento de fúria disse que Moro teria sido covarde em aprovar o nome de Dino para ser ministro do STF. 

Michelle demonstra muito mais cacoete político do que Bolsonaro, mas, existem muitas nuances que podem colocar essa “veia política” em xeque. Em uma outra publicação no Instagram, a ex-primeira-dama comenta uma conversa que aconteceu no WhatsApp entre Moro e um contato com o codinome “Mestrão” em que aparece imagens que não deveriam revelar o voto em Dino.  Mas, quem será esse “mestrão”? O filósofo Aristóteles disse no livro Ética a Nicômaco, que a ética (etika) tem que ser praticada e não teorizada apenas. Na política brasileira, a ética não passa de interesses e que o Brasil (que tem muito dinheiro) tende sempre a corromper todos de Brasília. 

O tal do ‘Mestrão” disse que se o Moro revelasse o voto ele sofreria muitas represálias. Ou seja, se irmos muito mais a fundo dentro da discussão, tanto faz se o Moro dissesse seu voto ou não, ele seria criticado do mesmo modo. Depois, no X, Moro explicou que tem legítimo direito de não declarar seu voto por questões políticas (que existem) e por questões do próprio PCC. A questão tanto da crítica da senhora Bolsonaro, quanto a explicação “vagabunda” de Moro, reabre uma discussão ideológica entre a extrema-direita reacionária evangélica e os social-democratas. Ou melhor, vamos ver uma reprise dos velhos tempos entre ARENA e MDB (com devidas proporções). 

O Senador até chegou a falar na sua vez de falar na sabatina na dura crítica que chamou de “celeuma” (estou com preguiça de ver no dicionário) nas redes sociais por causa do seu “abraço afetuoso”.  Moro, como sempre, deu uma explicação fajuta e disse que o “abraço” não iria afetar seu voto. Para o desespero dos Bolsonaristas, Dino ganhou. Anarquistas e libertários como eu, só acham graça porque o sistema é um só e tem dono (muitas vezes, o neoliberalismo que volto a dizer nada tem a ver com liberalismo).  Daí eu concordo com o humorista Danilo Gentilli: 


<<Muito carinho. Muito sorriso. Muitos abraços. E no fim, você, meu caro OTÁRIO, que compra as narrativas e serve de peão é jogado aos leões e punido. Quando isso acontece você está sozinho, na prisão, no tribunal e trabalhando a vida toda para sustentá-los. Eles estão lá na cordialidade e você aí terminando amizades por causa deles.>>


Ainda Michelle coloca o seguinte comentário: “Não há nada escondido que não venha a ser descoberto, ou oculto que não venha a ser conhecido. Quem seria o ‘Mestrão?’”. A primeira frase - como uma boa evangélica - mostra um conhecido versículo bíblico que é tirado de Lucas 12:2: “Pois não existe nada escondido que não venha a ser revelado, ou oculto que não venha a ser conhecido.” (eu retirei na Bíblia do Rei James). Em um contexto mais amplo esta:

<<Enquanto isso, uma multidão de milhares de pessoas, aglomerava-se, a ponto de pisotearem uma às outras. Foi quando Jesus começou a ensinar primeiramente aos discípulos, prevenindo-os: “Acautelai-vos com o fermento dos fariseus, que é a hipocrisia. 2Pois não existe nada escondido que não venha a ser revelado, ou oculto que não venha a ser conhecido. 3Porque tudo o que dissestes nas trevas será ouvido em plena luz, e o que sussurrastes ao pé do ouvido, no interior de quartos fechados, será proclamado do alto das casas. Jesus ensina o temor do Senhor>>


Jesus, claramente, fala do coração do homem (ou ser humano como um todo) onde muitas coisas estão escondidas e nas sombras. Hermeneuticamente - que muitos evangélicos não gostam - esse “nas trevas será ouvido na luz” não a verdade em si mesma, mas, que um dia a hipocrisia será descoberta. Indo muito além, sabemos que a bíblia em si foi escrita em grego e o significado de verdade (aletheia) tem a ver com “algo oculto”, algo que deve ser desvelado. Mas, será que era o mesmo que Jesus quis dizer? Será que não era a hipocrisia dos fariseus? Nesse caso, esses “fariseus” depende daquilo que julgamos ser o bem e o mau, a meu ver, ignorância e conhecimento. Talvez, exatamente isso, Jesus tenha dito: quando não somos capazes de falar a verdade, logo a mentira vai ser descoberta porque você não sustenta o personagem por muito tempo. 

Michelle Bolsonaro tende a colocar muitas coisas bíblicas para atrair opiniões o que chamam de conservadores (o conceito de conservador aqui no Brasil se distorce, como tudo)  e nada melhor do que um texto como esse. Por outro lado, a pergunta “Quem é o “mestrão”?” É legítimo saber quem está por trás daquilo que não pode ser “desvelado”. E assim, a política nos revela o lado obscuro de conversas nos “porões” de Brasília e mais uma vez, o Estado revela o lado de ser ele a verdade Matrix. 

Além disso, Michelle ainda publica uma entrevista muito antiga em que o senador Moro teria se arrependido de ter sido ele o responsável pela condenação do Lula (PT). Talvez, Moro tenha percebido que o tal sistema tenha prendido quando interessou (e isso fica claro depois dos atos de 2013) e quando interessou soltou todo mundo. Lula está aí novamente, graças a propaganda bolsonarista (cagada de medo) e graças ao fim da operação lava jato, ou até mesmo, nunca teve uma operação. Talvez, foi uma grande peça de teatro que colocou todo mundo na cadeia para “acalmar os ânimos”, acalmou porque a cultura brasileira nunca teve senso crítico. 

 

Meu pai - decepcionadíssimo com o “mito” - concordaria o que vou escrever aqui: tendo o marido perdido e mal-educado, escrever “Com vocês, Sergio Morno. Morno mesmo”, não faz muito sentido. Porque o senhor Bolsonaro esqueceu da educação (sendo presidente da república), esqueceu em dar assistência a uma pandemia mundial que atacou seu povo e que deixou de prestar um bom governo. Repito o que eu disse: a bastante tempo que não temos um presidente de verdade. Não um presidente ideológico - esses em sua maioria, não prestam - mas presidente que governa e sabe os verdadeiros problemas do seu país. Não interessa se ele é ateu, maconheiro, e sei lá mais o que e sim que faça. Se o senado é covarde ( e o é), o marido da dona Michelle foi covarde, tendo medo de um partido que estava se esfacelando e graças a esse medo, se recuperou.

“Comunista não”


Agora vamos falar do nosso ministro “comunista” e que, a senhora Bolsonaro, escreveu “comunista não”. Claro, sendo Eduardo Bolsonaro (vulgo Dudu Bananinha) um aluno do Olavo de Carvalho, contaminou todo o bolsonarismo dessa coisa de guerra fria, globalismo etc. A meu ver, não há nenhum problema do Olavo ter tido ou não um diploma de filósofo, mesmo porque, a maioria dos pensadores brasileiros ( tirando Rogério Skylab e Antônio Abujamra) não tiveram diploma de filosofia e foram bastante felizes em suas teses. Mario Ferreira dos Santos tinha diploma e a academia o “moeu” porque não tinha uma escrita “adequada”. O que seria essa “escrita adequada”?

A questão do Olavo é chamar atenção por polêmicas (que dava certo prestígio para ele) e com isso, dava ênfase em muitas teorias da conspiração. O globalismo que dominara um mundo, a maior parte da teoria veio das “catacumbas” da direita esquizofrênica norte-americana durante a guerra fria. Assim como os romanos, os americanos tendem a assimilar coisas alheias e dar um outro conceito, pois, a “internacional” comunista, se torna globalismo hoje. Outro aspecto do Olavo é não querer entender a filosofia contemporânea e sinceramente, se você não aceita um pensamento do seu tempo, você acaba se perdendo. 

E mais um erro do Olavo foi chamar o PT (Partido dos Trabalhadores) de comunista, porque o PT historicamente é trabalhista. De onde vem essa rivalidade deles com o PDT (Partido Democrático Trabalhista) de Brizola? Por que quando o Brizola estava no seu auge, eis que de repente aparece Lula e seu partido? Claro que, existem alas radicais que logo se separaram e começaram criar seus próprios partidos, mas, na essência, o petismo nunca foi comunista e nunca existiu um governo comunista. Mais uma vez, os americanos simplificam tudo por serem pragmáticos (aí está o ruim disso. na filosofia) e Olavo exportou toda essa “porcaria”. 

Dito tudo isso, temos que dizer que o Lulopetismo teve uma chance de ouro de fazer um governo bom (no primeiro do Lula) e mostrar etica e arrumar o país. O nordeste, por exemplo, continua pobre e temos ainda muito pobres no país, mesmo tendo o dinheiro que temos e isso é um reflexo da nossa cultura. o lulopetismo não arrumou nada, não modernizou o país e não deu condições dele prosperar, institucionalizou a corrupção. A geração bommers (reacionários como todo brasileiro, em sua maioria), estava órfão desde quando o Maluf chegou no fim de carreira.  O povo evangélico que gostam de prosperar - como voltaram ao cristãos primitivos, logo são uma incidência dos judeus - e não via nenhuma ética e eram contra o comunismo por causa do ateísmo de Karl Marx. De não entender a frase “a religião é o ópio do povo”. 

A “merda” estava feita. Quando Michelle Bolsonaro se posiciona e deixa muito claro sobre o posicionamento contrário sobre Flávio Dino fazendo uma postagem “comunista não”, mostra o estrago que se fez não em 2013, mas em 2014 quando o PSDB (petistas de gravata) negaram o resultado das urnas e se começou um processo de polarização de se criar um inimigo. Ninguém sabe o que é comunismo em sua essência - isso demanda anos de estudo - o que se sabe é que o lulopetismo é incompetente, corrupto e inexpressivo dentro dessa camada e vai ser assim por um bom tempo. 

Agora, gostei do Dino no Supremo? Claro que não. 


Referencias: 




Michelle Bolsonaro ironiza abraço de Sergio Moro em Dino: 'Quanta cumplicidade' <oglobo.globo.com/blogs/sonar-a-escuta-das-redes/post/2023/12/michelle-bolsonaro-ironiza-abraco-de-sergio-moro-em-dino-quanta-cumplicidade.ghtml>


Bíblia em português: <https://bibliaportugues.com/luke/12-2.htm>


quinta-feira, 14 de dezembro de 2023

Qual o papel do influenciador na sociedade?

 



Amauri Nolasco Sanches Junior 



Li na rede do Elon Musk - nunca sei se é Twitter ou X - que “influencers são alpinistas sociais” e, inevitavelmente, faz a gente pensar qual o papel que um influenciador tem na nossa sociedade. Do mesmo modo - mesmo sendo publicitário - sempre me perguntei qual o papel social que tem um publicitário dentro de uma sociedade e acabei vendo uma estatística muito evidente (acontece do mesmo modo no meio dos influencers): muito poucos publicitários conseguem ter prestígio e fama. A grande maioria, na verdade, nem entra no mercado e por causa disso, as agências parecem fábricas sofisticadas de pessoas que vão mentir para você. Do mesmo modo do influencer que vai querer vender seu produto. 

Vamos lá na explicação do conceito de ídolo que as pessoas não tem noção (vou usar o conceito de Nietzsche). Nietzsche foi um filósofo alemão do século dezenove e abordou com muita propriedade - quase como uma profecia - a ideia de ídolo em duas obras: uma foi “Assim falou Zaratustra” e a outra foi a “Genealogia da Moral”. Para o filósofo, o ídolo seria uma construção social que reflete os valores e as crenças predominantes de uma determinada cultura ou época. A crítica de Nietzsche é envolta a tendência das pessoas de venerar ídolos, porque isso leva a submissão, uma limitação do pensamento crítico e a perda da individualidade. Não seria o que acontece com muitas pessoas?  Nossa cultura neoliberal - com seu capitalismo selvagem - tende a tratar pessoas como produto e principalmente quando se trata de mídias sociais.

Segundo Nietzsche, ídolos podem ser indivíduos (como influencers), ideias, instituições ou mesmo conceitos abstratos que são elevados em um patamar bem mais elevado do que são.  Ou seja, não muitas vezes são seguidos de um modo bem irrefletido. Nietzsche defendia a necessidade de questionar e desafiar certos ídolos, a fim de promover o desenvolvimento de uma consciência crítica e a busca por valores verdadeiros.  Assim, diante dessa crítica e reflexão, Nietzsche defende que a sociedade deveria buscar a superação desses ídolos, a fim de alcançar uma maior liberdade e autenticidade. 

Nietzsche não foge a regra de um bom filósofo - mesmo que muitos lhe coloquem como um literario ou poeta - em procurar a liberdade (como modo de sermos felizes) e a autenticidade. A autenticidade tem a ver com algo original, ser autêntico tem a ver em ser você mesmo e ser mais cético com algumas coisas e essas coisas sao os influenciadores. Lembrei de Nietzsche - pode se dizer que sou um meio nietzschiano - pois, um clássico exemplo do que ele disse, se concretiza. Muitos influenciadores não conseguem muito dizendo coisas inteligentes de livros (ou são machistas escritos a milhares de anos, como dizem “chovens espertos”), mas, mostrando suas vidas superficiais de baladas, viagens e coisas fúteis que tem a ver muito com nosso momento. São ídolos contemporâneos niilistas. Niilismo aqui se refere ao nada, pois se as pessoas compram rifas (de carro ou apartamento) milionárias, se as pessoas têm a necessidade de seguir pessoas que mostram só coisas fúteis (fútil aqui é aquilo que não deveria interessar para ninguém, porque eu não tiro nem foto de eu e minha noiva comendo), alguma coisa esta errada. 

Dai tenho uma explicação - que eu dei no meu instagram usando uma cantora da nova geração (aqui) - que essa geração acha ser rebelde, mas o ato de rebeldia tem muito a ver com o ato de romper com o sistema. Existe um sistema onde há um discurso predominante - não o que bolsonarismo diz - que faz aparecer inúmeros preconceitos que dividem uma sociedade. O neoliberalismo não é liberalismo nem um pouco. E esses rebeldes de mídias sociais cansam de ser influencers rebels. Mais profundamente, essa geração é o próprio algoritmo da Matrix quando tira fotos (ou faz vídeo) em atos rebeldes, mas com roupas de grife. A questão sempre foi a metamorfose do capitalismo como forma de engolir os rebeldes, porque antigamente atos de rebeldia eram vistos como uma quebra do sistema (digamos, sair da Matrix) 

O rock (e seus derivados) era seu maior expoente e a regra fica bastante clara dentro de um prognóstico que se traduz em não mais sair da Matrix. Poderemos dizer ainda que, assim como essa cantora (entre outras que fazem sucesso e até mesmo, os influenciadores) são “Cyphers” e querem ainda voltar para a Matrix mesmo sabendo que é uma mentira (ou má-fé). Sartre - filósofo francês existencialista - dizia (e é mesmo na concepção dele que eu disse da má-fé), que dizer que a má-fé é um impulso do inconsciente seria negar a razão de ser plena consciência. Por exemplo, ao roubar um livro, o ladrão é a sua vontade de tê-lo. desejo  toma forma e ele (o desejo) pode ou não se concretizar. Mas, o ladrão é plenamente consciente do seu ato. 

Será que, como diziam antigamente, os influenciadores não são os mesmos ídolos que outrora povoaram as TVs?


sexta-feira, 1 de dezembro de 2023

Os Golfinhos e Paradoxo de Epicuro

 



Amauri Nolasco Sanches Junior

O filósofo Luiz Felipe Pondé escreveu um dia que até um golfinho seria ateu, e as pessoas não entenderam o que ele queria dizer com isso. Ora, como um bom nietzschiano - como base de sair do pensamento comum - as pessoas não chegam a refletir tanto na crença de acreditar em alguma divindade ou não. A meu ver, o ateísmo - mais especificamente, o ateísmo militante - não passa de uma crença de não existência em Deus e que considera que o mundo e toda a realidade se veio do nada. Duas coisas - antes de comentar o Paradoxo de Epicuro - o que seria realidade e o nada.

Umas das perguntas mais importantes da filosofia, hoje em dia é: por que o ser e não o nada? Pois, na filosofia há uma relação entre a realidade e o nada como um tema importante, por ser um assunto complexo e muito debatido ao longo da história. Mesmo o porque, o nada é um conceito que está presente na intersecção da ciência, da filosofia e na linguagem (como meio de dar forma aquilo que pensamos). Alguns filósofos, argumentam que que o nada não passa de um termo, não tem significado algum dentro de qualquer linguagem e não é um ser (algo real). Eles argumentam, que o nada não pode existir, pois a própria ideia (forma) que damos a nada implica a algo, mesmo que seja a ausência de algo. Um exemplo muito claro é quando pensamos em nada, estamos pensando em algo, mesmo que seja a ausência de qualquer coisa. É somente uma construção mental.

Mesmo como construção mental - como a idea de uma conotação mais na essência do termo grego - o nada passa a ser um conceito de coisa nenhuma, algo que na concepção de alguns passa a ser o vazio. Ora, nem mesmo na matemática o nada ou o vazio pode representar um vácuo (que seria a ausência de tudo). Mas, será mesmo que existe essa ausência de tudo? Existem filósofos, por exemplo, que fazem uma defesa de que a existência do nada é um conceito válido. Pois, o nada seria uma parte muito fundamental dentro da realidade e faz o filósofo compreender muito o mundo. Isso é muito importante dentro da ontologia e da metafísica, explorando a natureza do ser e da existência.

A relação entre a realidade e o nada também pode ser concebida em termos de criação e destruição (como o deus hindu Shiva que pode criar e pode destruir). Alguns filósofos argumentam que a realidade é criada a partir do nada - muitos cientistas ateus também - enquanto outros pensadores defendem que a realidade é a negação do nada. Ora, essas perspectivas podem refletir várias interpretações sobre a origem e a natureza da realidade. Sem essas explicações não seria possível responder o “suposto” Paradoxo de Epicuro.

Apareceu essa versão do Paradoxo em um grupo:


*DEUS está disposto de prevenir o mal,mas não é capaz?

Então ele não é onipotente.

*Ele é capaz mas não está disposto?

Então ele é malévolo.

*Ele é capaz e está disposto?

Então de onde veio o mal?

Ele não é capaz nem está disposto?

Então porque lhe chamamos de Deus?



Segundo a Wikipedia, existem dois problemas: uma que muitos historiadores dizem que na verdade, foi Carnéades (filósofo cético) que tenha dito tal paradoxo. Segundo o estudioso alemão Reinhold F. Glei. estaria claro que o argumento teodiceico é de uma fonte acadêmica não epicurista, mas até talvez anti-epicurista. Uma versão muito bem preservada deste trilema aparece nos escritos do cético Sexto Empírico. Ainda no mesmo artigo da Wikipédia, Charles Bray, em seu livro A Filosofia da Necessidade de 1863, cita  o paradoxo sem mencionar sua fonte do mesmo trecho que eu coloquei ali em cima.

Agora vamos ao outro problema, Epicuro (e nem os epicuristas) eram ateus e não acreditavam em uma divindade. Isso foi propagado por fontes cristãs católicas por causa da filosofia de Epicuro do prazer, só que ele não ensinava a ter prazer desmedido como queria crer os padres (com a ideia do prazer carnal). Só que se comemos sentimos prazer de comer, se bebemos sentimos prazer em beber, se defecamos o prazer do alívio é imediato. Não existe so o prazer do sexo (que é sim uma necessidade) e nem das causas mórbidas - olha ai a ideia do cenobitas de novo - e sim, Epicuro dizia que teria que ter equilíbrio entre o prazer e a dor. Se comer demais vai ter dor e tudo que é demais é dor e miséria. Bem parecido com Aristóteles.

E, a meu ver, existe um outro problema: se fosse mesmo de Epicuro, qual deus ele estaria falando? Mesmo o porque - sendo honesto como todo filosofo deve ser - Epicuro nasceu muito antes do cristianismo ou conheceu o deus judeu Yavé. Contudo, há de se dizer que o paradoxo - esse que eu coloquei no texto - foi modificado e pode gerar confusão. Mas, ao que parece, é o que temos para analisar.

1 - Seria Deus desejoso de prevenir o mal mas incapaz?


Essa pergunta tem alguns elementos bastante controversos que vão muito contrário a história da filosofia, pois, ao perguntar sobre o desejo (consequentemente, a vontade de Deus), está perguntando coisas bastante complexas. Por outro lado, o paradoxo, conhecido também como “Problema do Mal”, é um dilema filosófico clássico. Aprendemos que a filosofia não perguntaria se Deus fosse desejoso de prevenir o mal fosse capaz, mas perguntaria: o que é o desejo? O que é a incapacidade? Porque um mal - seja lá qual for - tem a ver com o julgamento moral que fazemos com tal conduta. Como matar - uma condição moral universal - que para roubar alguma coisa pode ser má, por outro lado, para se defender ou por causa de uma guerra pode ser o bem de uma nação.

A questão ultrapassa muito mais o dilema moral de fazer e não fazer do que o mal como entidade concreta. Daí a resposta no dilema filosófico: “Portanto não é omnipotente”. Como se sabe se ele não é “omnipresente”? Qual razão poderia achar que Deus poderia interferir nas ações humanas? Dizem os ateus que ele teria o poder de impedir o mal e o sofrimento, mas não há qualquer ação para acabar com esse mal e assim, vamos a segunda pergunta.

2 - Seria ele capaz, mas sem desejo?



Aí vem a segunda resposta: “Então é malévolo”. Há um problema nessa resposta, porque se Deus “malévolo”, ele não pode ser bom. Bondade e maldade pode ser algo sim subjetivo, mas indo muito além na questão do senso comum (como certo ou errado), o bem e o mal pode ser encarado como conhecimento e ignorância. Poderemos ainda dizer que existe um livre-arbítrio que Deus pode ter dado ao homem para ver onde ele vai. Então, poderia ser uma escolha de dar ao ser humano liberdade.

3 - Seria ele tanto capaz quanto desejoso? Então por que há o mal?


A terceira pergunta é uma pergunta moral. Se Deus deseja e é capaz de acabar com o mal (ou ignorância), o porque o mal existe? Algo existe porque saiu da condição de potencialização - partindo da definição aristotélica - para a condição de ato. A bondade de um ato humano tem a ver com a maldade do ato humano, como vontade de fazer ou não, um mal para o outro. Mas, o ato em si mesmo, tem além da racionalização o fator de sentimentalização, por mais que tentamos ser muito mais racionais, somos também sentimento e sentimos raiva, que leva ao ódio e o ódio leva ao ato malévolo.

Isso eximiria Deus do ato humano, porque o humano fez o mal e Deus (por ser bom e justo) tenderia em entender que a moral humana deveria mudar. Nós humanos - como seres racionais, morais e éticos - sempre temos tendência de jogar aos outros o que fazemos. Ora, Sartre (no livro As Quatros Paredes), diz: “o inferno é os outros”, ou seja, a culpa é de Deus e não da própria humanidade.

segunda-feira, 27 de novembro de 2023

Mídias Sociais e Hellraiser - dor e prazer

 





Amauri Nolasco Sanches Junior


Nos primórdios da internet, parecia que o sonho iluminista estava se concretizando na questão do conhecimento. Muito antes dos iluministas, o filósofo Platão (antes dele Sócrates) já dizia sobre o conhecimento (episteme) e como seria importante para chegarmos até a verdade (aretheia) que queria dizer “desocultação” de algo. O conhecimento não poderia ser confundido com informação, porque uma coisa queria dizer uma coisa e outra quer dizer outra e isso tem a ver nas linhas de significado que damos aquilo. Se vimos uma notícia, por exemplo, temos que ler a notícia de modo neutro (epoché) para transformar essa informação em conhecimento ou mera opinião. Digamos que o conhecimento tem embasamento e opinião seria um preconceito daquilo que achamos ser verdade, que na maioria das vezes - com a pressa de responder - prevalece.

Acontece que a devastação das mídias sociais tem a ver com a opinião, simplesmente, do conhecimento. A vida ficou muito mais frenética do que era antes - o capitalismo se adequou com o modo Linkedin de ser - porque a informação está chegando muito mais rápido e assim, o mundo está muito mais ansioso. As seguranças que tínhamos não temos mais e muitas pessoas acham - aprenderam assim com as mídias tradicionais - que vida particular é conteúdo. Poderíamos discutir em um outro momento o que seria conteúdo, porém, por hora, temos que fazer uma análise como as coisas se perderam ao longo da existência do mundo virtual. Onde a moeda de troca, digamos, é a curtida ou a visualização do seu vídeo ou por conta do que as pessoas acreditam ser verdade, ou por conta daquilo que darão prazer para elas. Se antigamente a internet tinha alguns guetos (sim, houve um tempo que a internet tinha guetos) onde exibicionismo, jogos de azar e outras coisas aconteciam, hoje acontece descaradamente na frente de qualquer autoridade. A questão fica bastante controversa chegando até mesmo, ter a promessa de monetização por conta de números exorbitantes de seguidos ou de visualizações (como acontece no Kwai e no TikTok).

Se havia uma esperança que haveria uma maior concentração de conhecimento por causa da internet, as mídias sociais mostraram que só há prazer imediato e ostentação, mostrando que no fundo, é um ponto onde quem tem humilha quem não e ainda, pelos humilhados, são tratados como “deuses”. Nesse ínterim não podemos deixar de comparar as redes sociais como se fossem os cenobitas da franquia Hellraiser, que são seres infernais que são chamados quando alguém mexe com a caixa (Configuração das Lamentações) e invoca a dor e o prazer extremo. Não há outra comparação. Pois, cada um dos cenobitas pode ser uma rede social ou todos podem ser comparados com elas.

No que vimos dentro dessas redes a comparação seria inevitável, por outro lado, não nos apressamos com uma comparação muito restrita. A questão é analisar o que está em uma rede e o porque aquilo seria importante na sua vida, seja em um modo intelectual, seja em um modo prático. Daí a pergunta é: será mesmo que saber onde as pessoas vão ou o que elas estão fazendo estará vinculado com algum conhecimento? O fenômeno da consciência com o objeto passa pelo significado que esse objeto aparece daquilo que foi montado dentro dessa consciência. Abro o Instagram e vejo uma mulher de biquine mostrando a bunda, posso dar um significado de prazer em olhar aquela foto ou posso dizer que a geração nova está degenerada. Mas o significado da foto - que sempre já é uma imagem do passado - pode não ser o mesmo daquele que posta e daquele que vê. Seja lá o que mostra a foto (bundas, peitos, corpos etc) tem a ver com a divulgação de algo muito maior do que a simples postagem. Dai a pergunta <Onlyfans é prostituiçao?> faz sentido na questão da divulgação. Como dizem, para ganhar dinheiro na internet ou criar polêmica (muitas vezes, de pseudoproblemas) ou seja mulher e mostre a bunda.

Inevitavelmente, o feminismo e o machismo se tornou um produto rentável seja na afirmação do homem contra o pseudoempoderamento feminino, seja esse pseudoempoderamento com biquínis e sites da vida. Não resta a menor dúvida. A questão tem que ir em um outro rumo: por que as pessoas se interessam tanto por esse tipo de conteúdo que não tem nada, não agrega nada, e ainda, pagam para ver homens e mulheres pelados? Fora em conteúdos que não trazem conhecimento nenhum e só fazem fomentar a polarização, não fazem as pessoas refletirem e ainda montam um mundo caótico que não existe mais nenhuma solução.

Não tem nenhum problema sair pelado (a) em um site - como o poder do corpo como algo de posse daquilo que é seu - o problema (como tudo que vira “modinha”) é achar que existe só esse meio para ganhar dinheiro ou prestígio (como todo mundo acha). O conteúdo fica pobre, porque não traz nenhum conhecimento importante sobre o que as pessoas podem usar. Que conhecimento poderemos tirar de uma pessoa ir em uma balada? O que posso tirar de conteúdo um corpo nu? So se fizermos um exercício estético do corpo, mesmo assim, depende do momento que a foto é tirada.

sábado, 25 de novembro de 2023

Por que ‘aulas vagabundas de filosofia’?

 




Amauri Nolasco Sanches Junior

O Secretário da Justiça e Cidadania do Estado de São Paulo, Fabio Pietro, disse: "a turma do sindicato fica dando aula vagabunda de filosofia e sociologia, para que vocês não aprendam nada" ainda acrescenta que "o colégio público ensinou matemática e português". Há dois problemas nas falas dos secretários, porque acho que ele tem uma concepção deturpada da filosofia levada a filosofia olavista. Uma que a filosofia e a sociologia sempre foram ligadas a política - como demonstra na segunda fala mostrada no vídeo - e se um jovem quiser sentar na “cadeira do prefeito”, tem que saber matematica e portugues, mas, tem que saber ética (filosofia), como existem morais vigentes (filosofia/sociologia), como as sociedades se comportam (sociologia) e cidadania (filosofia política).

A pergunta <o que é filosofia?> tende a explicar (ou a tentar) o que seria a filosofia e qual sua função. Por isso a questão <para que serve a filosofia?> não faz nenhum sentido, pois, a filosofia como racionalização da realidade existente, não pode servir a ninguém ou a nada. Alias, etimologicamente, o termo servir que veio do latim “servitium” que queria dizer “escravidão, servidão” , ou ainda de “servium”. Ora, talvez porque o ato de servir tenha origem na monarquia, do império, onde o servir estava condicionado em uma satisfação das necessidades do soberano e dos seus. Mas, servir remonta servir algo para, ou seja, tem que ter algo a oferecer e o poder nunca gostou o que a filosofia sempre teve a oferecer: o mundo mais ampliado. Portanto, a filosofia (philia pressupõe escolha e um caminho e Sophia é o objeto dessa procura) com a liberdade que tanto preza nunca iria ser serva a nada. Não é escrava e sim senhora de todos os saberes.

Depois, o secretário não teve aulas de retórica, pois não expressou o que queria dizer. Grande problema dos dias de hoje não só na política, mas as pessoas perderam a capacidade de falar o que pensam. A questão toda é a ideia - de Olavo de Carvalho - que existe um marxismo cultural que degenera nossa cultura e transforma nossa cultura. Como eu faço bacharelado em filosofia - portanto, sei o que estou dizendo - não há um ensino homogêneo de doutrinação marxista nas universidades (pelo menos, olhei o currículo de um monte e não há nada). O que há e isso tem de ficar claro, uma forte tendência de escolha de ser de esquerda (pode ser a marxista) e existe os da direita. Eu estou sendo libertario. Mas há sim estudos sobre Marx por causa da importância dos estudos dele na sociologia.

Outra coisa que temos que esclarecer é que, o marxismo (o de verdade) odeia os wokes e chamam eles de liberais brincando de esquerda. De algum modo a briga política da velha narrativa política da esquerda e a nova, vai ganhando corpo cada vez mais. Acontece que tanto o petismo (que tem um viés antigo de trabalhismo) e o bolsonarismo (que tem um viés da direita olavista), simplificam problemas culturais muito sérios e que deixam de ser analisados por causa dessas análises rasas. A educação que temos aqui - apesar de essa crise mundial - é uma educação científica que vem do positivismo e que não deu certo. Deixam de reforçar o básico (estou falando, exatamente, de portugues e matemática) para querer dar algo que não tem nada a ver, como lógica. Lógica é para pessoas mais velhas, matemática básica é o ideal até o ensino médio.

Voltando a filosofia, se você não estuda a filosofia a fundo - e tem uma diferença entre estudar autodidata e estudar academicamente - não se entende que a filosofia vai puxar a racionalização de qualquer coisa que tem a ver com a política (que vem de politikon que eram cidadãos da polis). E no mais, a filosofia dará uma visão muito mais ampliada da ética e da moral, levando aos cidadãos questionar decisões que não fazem parte da democracia e questionar nossa liberdade sem amarras de fanatismo ideológico ou religioso. Filósofos que defendem uma posição, não são filósofos.

domingo, 19 de novembro de 2023

O MENINO AUTISTA DA RIACHUELO E A VIOLÊNCIA CONTRA PCDs

 



Amauri Nolasco Sanches Junior 



Dia 17 de novembro circula um vídeo onde uma mãe pede para gravar um vídeo e denuncia uma agressão contra ela e seu filho dentro de uma loja Riachuelo na Bahia (segundo relata o apresentador Marcos Mion, pai de um autista e ativista dos direitos do autismo). segundo ela, a lojista depois de atendê-la com seu filho, teria gritado “não me mande mais essas bombas” e se revoltou pedindo respeito. Logo depois da repercussão, a lojista foi demitida e gravou um vídeo dizendo não se referir a mãe e a criança, mas, o outro cartão que não é a Riachuelo. Como o youtuber Diego Rox - que também tem um filho autista - o que vimos foi a dor da mae que explodiu naquele momento que, sem muito esforço para entender, deve ter ouvido muito na vida por causa do seu filho. 

No começo desse ano, escrevi um artigo sobre cachorrinhos poderem ir em shoppings e PCDs não, em um modo provocativo para a reflexão. Mas, pelo que vimos no video - quando vamos mesmo no shopping e existem vendedoras que nos tratam diferentes mesmo - não esta muito fora de uma verdade, já que pessoas com deficiência não podem sair sem antes aguentar cara feia. Aliás, existe um paradoxo muito sério - que irei tratar em um outro texto - que quando saio com minha noiva pais de crianças com deficiência nos olham com cara feia, como se não quisessem que seu filho visse dois cadeirantes namorando. 

Em meu  livro “Clube das rodas de aço: Tratado do Capacitismo” eu destaco na primeira linha que “Um deficiente não nasce deficiente e sim, se torna deficiente pelas imagens (estereótipos) que a sociedade o dará.”. Mostrando - como a filosofa feminista-existencialista Simone de Beauvouir - que ha uma imagem normativa imposta que trata o deficiente como inferior e quem não tem deficiência como seres superiores. O capacitismo - como teoria - tenta estudar o fenômeno do pré-conceito como um discurso implantado como norma para mão-de-obra social. 

Num modo linguístico - onde se estuda a língua e sua normatividade - o sufixo nominal “-ismo”, de origem grega, constrói termos que designam conceitos de ordem geral, por exemplo, alcoolismo, ou pode servir como formar substantivos e adjetivos que exprimem ideias de doutrinas religiosas, sistemas políticos, fenômenos linguísticos e literários, ou terminologias científicas. Dai vem o termo “capacitismo” colocando o termo capaz-ismo, mostrando uma atitude de exclusão por causa da sua condição corporal entre aquilo que é normativo e aquilo que não é normativo. O que seria algo excluído em um corpo incluído socialmente? 

A meu ver, igualdade não é o mesmo de equidade. Do mesmo modo, exclusão e inclusão não é o mesmo de aceitação, pois, nascemos já inclusos dentro de uma sociedade e isso não muda. Aceitar a condição humana é uma questão de humanismo, deveria ser uma condição de ver o outro como um igual e deixar esse estereótipo para lá. Primeiro, por causa de uma visão médica (medicalismo) em que o corpo tem que ser “arrumado” para caber na normalização, porque para sermos felizes temos que andar etc. Depois, segundo eu vejo, ha uma relativisação do preconceito (capacitismo) ora quando contam uma história triste, ora quando é a família, ora quando é conhecido etc. 


Ou lutamos ou não. 


quarta-feira, 15 de novembro de 2023

Capacitismo e o eterno requiem teletoniano



 Amauri Nolasco Sanches Junior

Eu sempre tive aptidão para pensar muito além do que pensavam, por isso, sempre fui impedido de levar o conhecimento para outras pessoas na Oficina Abrigada de Trabalho (OAT) da AACD. As coisas não eram livres, a Oficina era um “depósito” de pessoas deficientes depois que fizemos 14 anos. Fui expulso da escola por escrever uma carta para os diretores (na verdade, era uma carta de reivindicação de um tratamento que não tínhamos) reivindicando aquilo que era do nosso direito. Se naquela época eu não entendia que esse foi sim, um ato de capacitismo, hoje eu entendi que muitas coisas deveriam ser repensadas e essa sociedade brasileira é atrasada. 

Primeiro, somos uma cultura colonizada por uma nação católica, ainda com a cartilha escolástica dos jesuítas (Companhia de Jesus). Antes da reforma do Marquês de Pombal (chamada de revolução pombalina), Portugal era uma nação feudal que  ainda  mandava cruzadas (Dom Sebastião morreu nesta última). O Brasil teve escolas catequizadas que queriam converter os índios (que não queriam acreditar nesse deus) e quem tinha posses, tinham a opção de transformar seus filhos em padres e muito mais tarde, em advogados. Somos uma nação de padres e advogados e sempre quisemos imitar os outros para puxar o saco e conseguir vantagens. Aliás, como sempre digo, o termo “vantagem” deveria estar na bandeira nacional, pois sempre estará na cultura brasileira como modus operandi. 

As consequências de uma educação tardia (digamos assim), é que nosso povo cultiva hábitos de confundir aquilo que é conceito (formas de pensamento que explicam a realidade) e o preconceito (modo subjetivo de ver o mundo). Ou seja, você achar que um deficiente é doente por causa dda sua deficiência é um preconceito, pois, seu modo de pensar tende muito a ser subjetivo. Porque o conceito de deficiência se refere a uma condição em que uma pessoas tem uma limitação que afeta suas habilidades. Mas, essa deficiência não pode definir a totalidade de uma pessoa, mas é apenas uma característica (particular) que pode afetar suas experiências e necessidades. Como tudo que envolve humanos, a deficiência pode variar em sua natureza e gravidade, sejam elas físicas, sensoriais, intelectual e mental.

Nos anos 50 um médico trouxe - da época - algo revolucionário para os padrões do Brasil: levar a uma suposta reabilitação na imagem de andar, porque o mundo (deslumbrado com a ciência) queria “curar” pessoas com deficiência. Daí entra o preconceito. O corpo na condição de deficiência - limitações de sua autonomia e da sua eficiência - não está na “normalidade” social como um corpo eficiente e produtivo. Indo além de perspectivas ideológicas, estamos em um momento da humanidade que só vale aquilo que serve. Assim, Dr Renato Bonfim (com os conceitos da época) criou a ideia da AACD, um modelo medicalista europeu onde o corpo como uma máquina, tinha que ser consertado e posto como serventia social. Acontece que nossa ciência e nossa medicina usa a cartilha positivista de Comte, pois, a medicina (como outras áreas da ciência) salvará a humanidade das “imperfeições” e colocará a felicidade em nós. Por que só devo ser feliz “perfeito”? Por que as pessoas nos observam como “sofredores”?

Existe a ideia da imperfeição como um sofrimento e todo sofrimento vem da ideia (forma) de um castigo ou de Deus ou dos deuses, ou de fazer algo de um passado ou um parente estar em pecado. Mas, todas as religiosidades sao crenças, a compreensão de um todo já é espiritualidade e quando voce compreende conotações espirituais, vai entender a questão do corpo perfeito mais nitidamente. A questão do corpo deficiente como sofrimento tem a ver com o corpo enquanto substância inerente, a realidade como experiência precisa dele para viver essa realidade. Mas o corpo como um TODO dentro da realidade é uma conexão entre eu (consciência que está pensando e sentido) e o outro (consciência modificadora da realidade). O conceito de deficiência (ou do corpo) não pode ficar restrito apenas em um conceito médico - diria como o modelo cartesiano - onde o corpo seria uma máquina, mas, de um outro ângulo dentro da premissa que o corpo é um TODO. 

Assim, aquilo que “serve” - como um servo obediente medieval que eram pessoas que se submetiam em troca de comida e proteção - tende a ser útil e aí que o corpo “defeituoso” - no primeiro momento, o D da AACD era “defeituosa”, ou seja, “crianças defeituosas” - passa a ser uma espécie de máquina a ser “arrumada”. Essa imagem que a deficiência é um sofrimento - muitos paises da Europa permitem aborto de crianças que tem forte tendencia em ter Sindrome de Down - ainda acomete muitos paises, mesmo que se mostre pessoas deficientes participando de trabalhos da vida cotidiana. A meu ver, o preconceito não pode ou não poderia ser ignorância, pois, o preconceito é a forma errada de ver um indivíduo diferente. Mesmo o porque, muitas mulheres europeias - isso é comprovada em vídeos - por médicos que, ora deveriam preservar a vida segundo o juramento de Hipócrates, ora não são ignorantes e sabem das probabilidades que uma criança pode  ou não desenvolver a síndrome. 

Até mesmo observando a associação em questão - idealizada e construída por médicos não leigos - era estudada, pessoas que detinham conhecimentos e que, no entanto, alimentaram por anos a ideia da manutenção do corpo (ou corpo/máquina). E no caso de uma entidade brasileira - com sua cultura e seus vícios - o tratamento de um deficiente rico se diferencia do deficiente pobre. Temos depoimentos - meu, da minha noiva e de muitos amigos que vivemos na pobreza - em que se houve negligência na hora de se tratar pacientes mais humildes. Ora, em um país que há ainda uma cultura oligárquica de escravatura, não se pode negar que há essa diferença.