Ato em memória de Isabelly foi realizado na última quarta, 18, na Unila. Fotos: Divulgação
Já escrevi nesse blog ou em outros espaços – porque eu
escrevia em outros lugares – que há um movimento de descaracterização de uma
postura universitária e isso, em parte, é culpa da cultura hollywoodiana. Venderam,
principalmente nos anos 70 e 80, que estudar era uma coisa ultrapassada e deveríamos
aproveitar a vida com liberdade e “curtição”. Na outra ponta da questão – e isso
tem a ver com a pós-modernidade – é o desestruturalismo que forjou uma verdade relativizada
e que quebrou a humanização do conhecimento. se Aristóteles dizia que o homem tem
sede de saber, o movimento de desestruturação relativizou esse conhecimento em
mera vivencia. Nomes mais famosos como Foucault, Derrida, Deleuze entre outros,
começam a tratar certas tradições como meios que sustentam certos preconceitos.
A morte da estudante de medicina e autista, Isabelly Baldin
(25), nos mostra um outro ponto bastante importante: será que a falta de
empatia não é originada dessa relativização da verdade universal e o
fortalecimento da sua verdade? Carl Sagan escreveu no seu livro “O mundo assombrado
pelos demônios”, que por sermos primatas e mamíferos, ao sermos bebês,
poderemos reconhecer nossos pais como iguais e sorri para eles como reconhecesse
esse padrão. Mas, além disso, nós somos animais que temos que construir
significado e fazendo conceitos a todo momento para explicar certos fenômenos não
muito claros dentro da consciência. Ou seja, o bullying que Isabelly recebeu de
professores e alunos da Universidade Federal de Integração Latino-Americana (UNILA),
vem de uma postura de não querer mudar certos padrões para que todos possam estudar.
Não é isso que as universidades modernas idealizaram depois que romperam com a
igreja?
Daí vem a pergunta do título do texto: a lógica nazista
voltou? Porque, a meu ver, os nazistas só radicalizaram os milhares de pós-conceitos
que já existiam na época. Como disse André Comte-Sponville em seu “Pequeno Tratado
das Grande Virtudes”, os nazistas eram polidos e não educados. Porque, tinham
muito conhecimento e uma cultura exemplar – como os alemães têm até hoje – mas,
usaram muitas teorias pseudocientíficas e místicas/ocultistas para propagar a
pureza da humanidade. Não conseguiram levar o conhecimento para outro patamar. Assim,
parece que a UNILA mostra uma padronização no Sul – e lugares poucos abertos a mudanças
no Brasil – onde não querem levar esse conhecimento em um outro patamar. Primeiro,
do Sul, veio colocar pessoas com deficiência em classes especiais em APAEs ou
outras instituições, porque não se consegue adaptar uma escola, depois o suicídio
de uma aluna autista por causa da não adequação de escolas e universidades. Mostrando
o atraso do Brasil mesmo em locais ditos de conhecimento. Depois, a não adaptação
por teimosia.
O Brasil é um país que não aceita nada de diferente e só tem
gente sempre tentando levar vantagem em tudo. Tudo que é para pessoas com deficiência
são caros e feitos muito vagabundamente, serviços que são como favores (mesmo
que pagamos por esses serviços) entre outras coisas. Mais do que isso, não se
entende que a deficiência não é uma doença que você pode portar e depois, não portar
mais. Porque a deficiência é uma condição e a inclusão é um ato político.
Em um podcast (no YouTube), minha amiga – que é uma pessoa
com deficiência – demonstrou ser muito raro ter a oportunidade de se conectar
com pessoas na área de negócios, e também, estar na área de liderança em um
projeto do Estado (Projeto Guri). Com 18 milhões de pessoas com deficiência
(segundo o IBGE de 2022), temos ainda a ideia que um país com tantas pessoas
com deficiência e muito poucas que conseguem estudar. Acessibilidade não é só
rampas ou facilidades arquitetônicas, mas devem ser muito mais do que isso,
devem ser a conscientização e predominância dentro da sua área. Por que um
deficiente deve ter um cargo de “verificador de fichas” se ele é qualificado em
RH, por exemplo? Por que um deficiente formado em administração, deve ser
“organizador de papeis”?
Isso seria capacitismo? há uma genealogia do capacitismo que
remontam milênios de sociedades que poderiam abranger cuidados com pessoas com
corpos divergentes, ou sociedades que poderiam não cuidar de pessoas com alguma
deficiência. Mesmo sendo racionais, nossa consciência pode remontar uma
realidade que só existe graças as nossas crenças e chamamos de subjetividade.
Ora, a maioria dos preconceitos – mesmo os de milênios afora – foram
construídos graças a subjetividade de achar que o “diferente” não seria humano.
Lendas, muitos provavelmente, eram interpretações de corpos não normalizados
dentro de uma crença muito além da realidade.
Um corpo não completo. A completude de uma realidade depende
da conjuntura que essa realidade se encontra na nossa base subjetiva, pois, se
a capacidade de ir além da massividade das ideias – a atitude de rebanho – não
haverá uma ruptura no preconceito. Isso se dará sempre com o medo. Se você não
tiver nenhuma instrução em um país no meio da selva – como o Brasil era nos
séculos passados – se você vê um garoto negro com uma perna só e pulando, vai
remontar a um ser místico. Ou, que assobia antes de fazer quaisquer travessuras.
Assim, tivemos duas fazes capacitistas dentro do nosso país. Um de esconder e
internar, pois seria muito “desagradável” ter uma pessoa com deficiência na
família (prova disso eram artistas com deficiência tentando esconder a
deficiência para não ser evidente, como o Roberto Carlos) e nos anos 80, onde
estudávamos em colégios comuns e mesmo assim, separados (poucos puderam romper
isso).
Há um capacitismo estrutural? A meu ver, não existe. Na
antiguidade, a questão era a falta de conhecimento científico e falta de uma
consciência que corpos divergentes eram humanos em condições diferentes. Mesmo
assim, existem pesquisas arqueológicas que dizem que havia comunidades que
cuidavam de pessoas com deficiência, outras não. Mas, como um bom filosofo que
sou, por que temos sociedades que matavam ou predem pessoas com deficiência?
Será que com a escassez da idade média com a ignorância popular – mesmo assim, havia
casas de caridade ou pessoas que recolhiam crianças nessas condições para
esmolarem – achavam que eram criaturas demoníacas? O fato que a modernidade,
com seu cientificismo, não amenizou para os deficientes até então.
O Brasil é herdeiro dos jesuítas e sua religiosidade
(caridade), do cientificismo positivista (temos que ter especialistas) e a
sociologia marxista (burguesia e proletariado). Quando lemos que há ainda uma
cultura cientificista que você só ouve especialistas (medicalismo), com visões
muito mais místicas do que cientificas, já que eles insistem em prever o
futuro, as empresas não sabem ou não querem saber se deficientes sabem ou não
falar e ter opiniões. Os próprios funcionários do SUS perguntam se sabemos ler
e escrever. A modernidade com sua noção da ciência, não causou nenhum ou quase
nenhum impacto sobre o ato de incluir pessoas com corpos divergentes pelo
simples fato de ser diferente. A modernidade e a pós-modernidade só construiu preconceitos
(chamo de pós-conceitos) piores em desembocar na eugenia silenciosa ou o
projeto T-4 dos nazistas, eliminando todas as pessoas deficientes. Não é isso
que fazem abortando crianças com síndrome de down – ou havendo probabilidade de
serem – ainda no útero da mãe?
Empresas só são meios para vender seu serviço e você vende
conforme sua capacidade, ou seja, se você é formado em computação, por exemplo,
tenho que vender meu serviço nessa área. Empresas não são nossas “amigas”. Nem
mesmo os governantes são nossos amigos. Para as empresas e governo, somos um símbolo
dentro de um número muito grande de cidadãos ou possíveis trabalhadores. Eles
não contratam pessoas com deficiência, porque tratam o corpo do trabalhador de
uma máquina e não como um humano, com deus desejos e pensamentos e nem, sua
qualificação. Ou seja, a maioria das vezes, são “tampa buracos” do número de deficientes
que precisam para não pagarem a multa e só. Assim, a luta pela inclusão não
pode ficar só em espaços físicos, em construção de conceitos estruturalistas
(isso não acabou e não vai acabar com o capacitismo), mas, transcender o mundo
e as coisas e dizer que somos humanos.
Na lógica – que aprendi quando eu fiz programação no curso
de TI – existe aquilo que é considerado verdadeiro e aquilo que é considerado
falso. A meu ver, dentro da filosofia não tem muita importância por causa das
circunstâncias que estamos vivendo essa realidade. O que consideramos o que é
verdadeiro ou falso, em tudo que observamos, depende de um contexto e isso é
bastante interessante. Entre duas linhas de um mesmo fenômeno – não existe
consciência sem um objeto – existe aquilo que é verdadeiro (que possivelmente,
estamos considerando aquilo a verdade) e aquilo que é falso (que consideramos
ser uma mentira).
No mundo da informática, isso nos dará como base mestra para
construirmos algoritmos que vão dizer para um computador se aquilo tem que
acontecer (v), e aquilo que não pode acontecer (f). Por exemplo, um loop não
pode acontecer, porque não haverá estabilidade para eu escrever esse texto pelo
fato de não sair nem do modo de ligar o programa. Do mesmo modo, a linguagem da
programação tem que ser clara e saber direcionar o processador a calcular essa
linguagem para o 0 e o 1. Se for (V) então é 1, se for (F) é 0. A meu ver, esse
argumento do que é verdadeiro e o que é falso só serve na informática.
Se você está vendo um garoto batendo em um adulto e não
enxerga um contexto, em um modo racional, não se tem como julgar esse tipo de
situação. E se o menino tem autismo? E se a moça da loja fez uma coisa para o
garoto? Claro, existem coisas que podemos dizer que, se for um garoto autista o
porquê de ele não estar acompanhado é muito importante e o autismo não é
desculpa para ser mal educado. Mas, será que um vídeo desses terá total verdade
dos fatos? Porque estamos na era que tudo se torna verdade, tudo se torna
objeto de julgamento e isso é bastante perigoso.
Chagamos a pós-verdade como um conceito que pode descrever
um cenário em que os fatos têm menos importância em uma formação de opinião
publica do que apelo emocionais e suas próprias crenças. talvez, poderíamos
dizer que Platão teria razão em dizer que opinião (doxa) não seria o
conhecimento, pois o conhecimento é racional e a opinião é emocional. Ou seja,
os fatos ficam em segundo plano quando é uma verdade factual dando daquilo que
as pessoas escolhem (ou querem) acreditam. Esse fenômeno pode ser visto, especialmente,
na política e nas redes sociais, onde pode haver narrativas que são construídas
para reforçar ideologias, muitas vezes ignorando ou distorcendo os fatos.
Indo além do obvio, mas a pós-verdade sempre existiu como
manipulação da informação e as redes sociais só repetem o que sempre vimos na
TV. Ou melhor, o telejornal como fonte única de informação, construía uma
narrativa onde o meio de comunicação poderia construir um discurso onde
poderíamos acreditar. A verdade poderia ser manipulável – e ainda é – mas,
poderíamos chegar ao conceito de má-fé de Sartre. Mesmo que a pós-verdade e a
má-fé tenham pontos em comum, há diferenças bastante sutis dentro do prognóstico
de um discurso predominante. Já que a pós-verdade engana por causa da
construção narrativa do discurso, a má-fé (podemos dizer assim) pode ser o
sujeito se enganar para sempre evitar em assumir a sua responsabilidade diante
da opinião. Você sabe que políticos enganam, mas continua a escolher um deles.
No entanto, poderemos ver que existe uma ligação entre os
dois conceitos bastante interessante, muitas pessoas que propaga m pós-verdade podem
estar agindo de má-fé consigo mesmas, acreditando em algo porque isso as
conforta ou reforça sua visão de mundo, mesmo que os fatos digam o contrário. Mesmo
porque, em um ambiente de pós-verdade, a má-fé pode ser um mecanismo pedagógico
que impede as pessoas de confrontarem a realidade. Elas não podem ver a verdade
porque acreditam que estão levando a verdadeira realidade dos fatos, distorcendo-a
conforme suas crenças.
Quando resolvi fazer esse blog, eu tinha a ideia de escrever
ideias beirando o anarquismo como uma resistência de tudo que está ai. Porque,
a meu ver, pessoas com deficiência e nem filósofos deveriam ser partidários ou
ter lado ideológico dentro do espectro político. Afinal, quem fala de pessoas
com deficiência nesses tempos de inclusão social? Quando políticos, sem ter
filho ou ter parente com deficiência, fez de políticas públicas para pessoas
com deficiência? Ninguém. Minha alma anárquica sempre ansiou por liberdade de
escolha, liberdade de expressão e liberdade de escrever e ser o que eu quiser. Um
anarquista (com ou sem o capital), não pode ser escravo de cartilhas prontas e
nem ser a favor de nada que vem do ESTADO e os seus governantes e quem financia
ele – ou se subjuga ao seu poder e financia – é um cúmplice safado dele.
A questão que poderemos começar a discutir é: o que seria a definição
de deficiência? Porque, em uma análise muito mais minuciosa, “de” é um artigo
de negação e “eficiente” tem a ver com a eficiência de um ato em que se pode
fazer. Ou seja, de + eficiente tem a ver com a perda de eficiência no ato de fazer
alguma coisa. Ter eficiência é efetivar um ato de andar, por exemplo, pegar
algo no alto etc. Por isso que o “de-eficiência” é uma perda de efetividade em
membros e o preconceito dessa falta – por causa do seu conceito de doença – se chama
de “capacitismo”, porque há uma não capacidade da efetividade dos membros que
pensam ser uma doença e não é nada disso. A “de-eficiência” seria algo de muito
mais uma condição (no sentido de condicionar o corpo aquela condição) do que
uma doença ou um corpo “defeituoso” como uma máquina e deveria ser consertado.
Essa definição tem um porquê importante nessa discussão nesse
texto, porque traz um outro foco a realidade da inclusão. Ora, se a de-eficiência
é uma condição e nos condiciona a uma perda de algumas capacidades e mesmo
assim, somos e temos corpos humano e como animais políticos (sociais), inclusão
é um ato político. Eu e minha noiva somos um casal político. Meus amigos são minhas
ligações políticas junto com minha família. O que acontece nos prédios dos três
poderes em Brasília é a governança do país, mas atos políticos acontecem em
todo momento e o brasileiro médio não sabe viver dentro de uma comunidade política.
Em um shopping há pessoas que não sabem andar, não sabem que um cachorro dentro
de um estabelecimento como este estressa, que comer pipoca e encher o cesto de
lixo ate cair é falta de educação e não respeitar o aviso que banheiros de
pessoas com deficiência são usados por elas. O brasileiro médio tem preguiça em
saber e sente orgulho da burrice que expressa, como, por exemplo, achar que
livro é só para estudar.
Por causa de um corpo diferente, no sentido da normalidade
social, dará aval para as pessoas não nos enxergarem como humanos que somos? Daí
há o discurso libertário no sentido de sair dentro da coletividade (coletivismo
irracional), e nos enxergar como indivíduos autônomos que pensam como outras
pessoas. Temos que nos impor como seres humanos, pessoas politicas que devem
ser enxergadas como seres engajados socialmente. Por que não? Por que não poderemos
ser vistos como agentes sociais, que consumimos e por isso, temos capacidade de
trabalhar e dizer o que desejamos ou sentimos?
Daí vem a pergunta que sempre me fiz: por que animais tem
mais direitos do que pessoas com deficiência? Claro, não sou e nunca serei a
favor de tortura e abandono de animais, mas, é injusto que animais tenham muito
mais direitos do que humanos com corpos divergentes (adorei esse termo). E ai
temos que se aprofundar na questão, pois, quando você prefere animais a
humanos, pode ser que você tenha sociopatia. Do mesmo modo, outros tipos de
apego, que com certeza, não são empatia com o humano social. Social e
socializar, a meu ver, são termos diferentes do que coletivismo irracional. Você
conviver e defender o direito de outro ser humano é diferente de ficar em uma
fila enorme para pegar um sorvete no méqui, ou até mesmo, filas enormes. Os marxistas
iriam dizer que há um fetichismo na questão de ser o sorvete do méqui, mas não é
bem assim, há uma escolha e você pode escolher entre aquilo ou outra coisa.
"Esse crime, o crime sagrado de ser divergente,
nós o cometeremos sempre." — Patrícia Galvão (Pagu)
Eu – autor desse blog – sou um amante da liberdade sem um
viés definido de autores para isso. Mas, acima de tudo, tenho minha alma
anárquica e divergente da moral castradora dentro do coitadismo que se acumula dentro
do chamado “movimento de minorias”. Por isso mesmo, minha filosofia foi chamada
de “transgressismo filosófico”, ou seja, a transgressão daquilo que é comum e
ser divergente (opinião contraria).
A frase da escritora e jornalista, Patrícia Galvão (Pagu), cabe
em um momento de censura que estamos vivendo. Se não estamos alinhados em uma
opinião de massa (que a maioria acredita), estamos sendo taxados de criminosos e
esse crime sagrado é, exatamente, ser um divergente no meio da subjugação
massificadora de algumas ideias. Primeiro, até onde eu sei, somos ainda animais
racionais e como disse Aristóteles, por sermos racionais somos “animais
políticos”. Mas, nesse exato momento, quero invocar o modo grego do termo
“politikon” que era diferente dentro do que conhecemos. Onde “politikon” era
todo homem livre (literalmente), que participava da vida social dentro da àgora
e decidia o que se deveria ou não ser feito em Atenas (onde havia a
democracia). Por outro lado, quem era apolítico era chamado de “idiotike”, e
vivia isolado dentro do seu egoísmo de não querer saber da polis.
Como disse em um dos artigos que escrevi na rede LinkedIn
(aqui), a inclusão tem que ser um ato político. Mas esse “ato” não tem só a ver
com ação e sim, pode ser colocado como um fenômeno dentro de uma certa
realidade que pode ou não acontecer. A inclusão não só aparece, mas ela é por
si mesmo. Por isso, um ato social não pode ser refém de um discurso ou um
pronome – como chamar um deficiente de deficiente, ou, uma piada sem graça – e
sim, se mostrar em um ser humano que tem suas vontades e suas satisfações. Ou as
pessoas acham que não somos humanos com desejos e sentimentos? E assim, dentro
da questão mirabolante de achar que somos pessoas que não sabemos o que nos
atinge ou não (alguns não sabem por causa da subproteção familiar e
institucional). Dai as classes especiais são um erro, pois, trancam as crianças
com deficiência e fazem essas crianças verem um mundo de “mentiras”, subprotegidas
que deveriam ver o mundo de verdade e mais, APAEs e outras entidades com
inclusão não se combinam.
Alguns anos eu e minha noiva escrevemos o livro “Liberdade e Deficiência” onde colocamos vários textos nossos, denunciando a nossa falta de
liberdade por causa da deficiência. Mas, eram denuncias concretas de
acontecimentos de verdade dentro de uma visão nosso mesmo, não uma visão representativa
dentro de uma outra coisa não concreta. Afinal, “nada sobre nós sem nós”, como
forma de uma visão crítica da nossa vivência como um corpo-deficiente e ao
mesmo tempo, ter a consciência de ser um humano ignorado e sem uma perspectiva
institucional e levada ao meio tutorado. Ou seja, não há o porquê pessoas não
deficientes dizerem por nós o que seria melhor, o que deveríamos gostar, o que
deveríamos ter como vida e onde deveríamos estudar.
Por isso, dei o nome de “liberdade e deficiência”, onde a
liberdade pode ser vista além da deficiência no sentido de um corpo não igual –
um corpo é um meio para a consciência se manifestar – e viver na realidade
objetiva. Por que somos hostilizados? Por que as pessoas não querem que seus
filhos tenham contato com outras crianças deficientes? O discurso de
classificação entre as minorias. O discurso de representatividade. Quando
pensávamos que a inclusão deveria ser objetiva – a linguagem só seria um meio –
a questão era debatida dentro da deficiência e não uma representação dela. Deixamos
de dizer “por” e se passou a dizer “sobre”. Por uma inclusão e não sobre uma
inclusão. Por isso não acredito que há um mundo inclusivo, o que há são
estruturas inclusivas para dar um ar de “bom moço”, mas mulheres com
deficiência são operadas para não terem filhos, fetos com síndrome de down são
abortados e por aí vai.
Cairmos no problema da polidez no Pequeno Tratado das Grande
Virtudes de André Comte-Sponville, onde escreve que os nazistas eram polidos,
tinham alto grau de cultura, porém, poderiam mandar arrancar a pele de um judeu
para fazer abajur (realmente, aconteceu). Na verdade, a meu ver, os nazistas
dentro de algumas questões ainda assombram a cultura eurocentrista, como
abortar fetos que tem alto grau de chance de serem Down em alguns países da
Europa (que tem forte tendencia Escandinávia), ou em alguns Estados americanos,
as famílias têm permissão de operarem mulheres com deficiência para não
engravidarem. A polidez europeia guarda a crueldade de matar fetos por serem
geneticamente modificados pela natureza. Daí a pergunta de ouro:isso não seria o modo eugenista disfarçado de
humanista? As autistas também vai ser detectadas e vão ser abortadas? Dai entramos
em uma discussão muito pós-moderna, onde há estruturas discursivas que dominam a
narrativa do senso comum e isso – em hipótese – geraria o preconceito dentro de
uma minoria marginalizada.
O que levou os nazistas a terem todo esse preconceito e
construírem toda a moral nazifascista dentro dessas classes? Toda uma gama de
fatores históricos dentro de um preconceito que deveria – até onde eu sei não
se estudou ainda – ser estudado sob a ótica antropológica, culminou no fenômeno
de preconceito radicalizados que foram usados como “bode expiatório” na crise
que estava instaurada na Alemanha na época. Ou seja, não há nenhuma “desculpa”
de se ter a eugenia 2.0 nos dias de hoje, a não ser a questão financeira que
alguns países adotem como prioridade e ainda sim, não passa de puro extermínio
e uma eugenia silenciosa e muito mais perigosa do que a nazista.
Dai entramos na ceara da piada do comediante Léo Lins e nos
perguntamos: diante da falta de acessibilidade, campanhas para nos colocar em APAEs,
abortos de fetos que tem possibilidade de Síndrome de Down etc, o problema é a piada?
Nesse blog, eu já discuti a questão das chamadas “web putas”
– termo cunhado por uma delas, para não me chamarem de machista – onde há uma
elite econômica crescendo e elas vão sim, ser a elite do futuro mesmo que a
sociedade não aceite. Mas, vamos nos ater em uma analise muito mais profunda,
do uso de filtros de pessoas com síndrome de Down para vender seus conteúdos
adultos dentro da perspectiva da hiper- sexualização do corpo com deficiência,
que abre um paradoxo muito curioso dentro da nossa cultura: ao mesmo tempo que
há uma infantilização da pessoa com deficiência com sua sexualidade, há ao
mesmo tempo, uma fetichização do corpo deficiente dentro de nichos (o devoteismo
é um deles) onde pode causar um aumento (que já é grande) de casos de assedio e
violência com a pessoa com deficiência.
Mas, temos que entrar primeiro no corpo enquanto existência
e a consciência enquanto ex-sistência. Desde
Descartes com seu axioma famoso “penso, logo sou” (na verdade, a tradução errou
porque é “sou” e não “existo”), temos o corpo como “coisa existente” e a
consciência como “coisa pensante”, onde eu percebo minha existência dentro da
consciência da percepção do existir. Se eu percebo que estou escrevendo esse
texto, é porque estou interagindo com a realidade, sempre sendo cético se
aquilo existe realmente. Na filosofia da deficiência, usamos muito a
fenomenologia de Merleau –Ponty, que discuti muito mais a experiência do corpo.
Pois, Ponty argumenta que o corpo não é apenas um objeto fisco, mas um sujeito
perceptivo que constrói significado através da experiencia sensorial. Ou seja, se
temos um corpo humano que só é “diferente” por causa de uma condição, não
exclui nós como deficientes porque somos um corpo político (social).
Por isso mesmo há um movimento dentro do pensamento de
pessoas com deficiência que é: inclusão é um termo político. Porque acaba
levando na ideia que esse “corpo político” seja um engajamento (Sartre) de
alguma ideologia (como esquerda ou direita), mas, poderemos colocar o “político”
no seu sentido original grego, no sentido de socialização do deficiente como um
corpo social que interage com essa mesma sociedade. Na proposta dentro da
filosofia da deficiência, poderíamos dizer que a discussão se liga em um modelo
social da deficiência, que surgem no foco dos impedimentos individuai para
possíveis barreiras que são impostas pela sociedade. Assim, a inclusão das
pessoas deficiência não seria só uma questão arquitetônica de estruturas
acessíveis, mas o reconhecimento da pessoa com deficiência como um sujeito ativo
na construção social. Isso exige mudar alguns paradigmas.
Daí poderemos dizer que há uma ontologia da deficiência. A
ontologia é um ramo da filosofia que estuda a natureza do ser, da existência e
da própria realidade. Na verdade, ontologia faz parte da metafisica e sempre
vai buscar respostas a pergunta: “o que significa existir?”. Mas dentro da
filosofia da deficiência, pode ir além da visão clínica que pode começar como:
“o que seria o corpo com deficiência?”. Ou seja, na ontologia da deficiência a
busca é a compreensão da deficiência além das condições biomédicas biológicas
ou clínicas, como forma de existência (o ser no mundo) que pode carregar
implicações éticas, políticas e sociais. alguns filósofos – e existem filósofos
da deficiência – tem como argumento que a deficiência deve ser vista como uma
diferença ontológica radical. Filósofos da deficiência como Shelley Tremain e
Robert McRuer, tem como argumento que a ontologia da deficiência pode envolver
uma crítica às formas tradicionais sobre o corpo e a identidade. Eles acham que
de vez de ver a deficiência como um desvio ou uma falta (o corpo perfeito),, pode
ser vista como formas legitimas de existência, reforçando a capacidade de reformular
conceitos como dependência, capacidade e inclusão.
Dito isso, temos que nos perguntar o porquê o corpo com deficiência
tem uma infantilização ou uma visão de doença, como corpos inocentes que (em
tese) podem ser usados com facilidade. E o termo “usado” não é exagero. Quando
começou a campanha “sim, nós fodemos”, minha crítica era a relativização do
sexo como forma de dizer que o corpo com deficiência pode ser “fodido” e então,
pode ser sexualizado à vontade. Há relatos de violência contra mulheres com
deficiência e isso é um fato, dentro desse estereotipo que se criou para dizer
que temos sexualidade – que poderia ser dito em outras formas – se criou uma
gama de fetichização do corpo com deficiência como objeto a ser usado. Isso
pode ser implicado como a sexualização do nosso corpo como forma de
sexualização em um país machista e capacitista.
Ou seja, a hiper-sexialidade dentro da imagem da
deficiência, pode ser um nicho de fetichização (como o devotismo, que em tese,
só tem devoção dentro do corpo com deficiência), mas pode abrir portas perigosas
dentro da realidade. Por que será que as “web putas” se caracterizam de
mulheres ingênuas e que tem caracterizações de “menininhas”? Essa pergunta é
muito importante para refletimos se queremos ser vistos como pessoas – no
sentido de sermos vistos como humanos – ou como objetos? A objetificação do
corpo (como propriedade da minha consciência do eu-no-mundo), seria uma
violação do direito de existir e tem muitas raízes no capacitismo. Pessoas
feias, por exemplo, tinham que aguentar pessoas atirarem objetos em suas faces,
pessoas com deficiência eram estigmatizados como pessoas com demônios ou, eram
exploradas de todo modo (como eram considerados não humanos, poderiam ser
violentados como os animais são ainda hoje).
Hoje com o tema da tecnicidade como meio de comunicação –
que pode ser por meio muito mais ampliado – foi muito mais amplificadas com o
advento da internet. Martin Heidegger – morto em 1976 – argumenta em seu famoso
artigo, “A questão da técnica”, que a técnica moderna não apenas é um meio para
fins diversos ou um fazer humano, mas sim uma forma de desvelamento da
realidade. Daí o filosofo alemão introduz no seu pensamento o conceito de engendramento
(Gestelt), que tem o significado que a técnica como uma estrutura da nossa
percepção. Ou seja, tudo se transforma como algo disponível para uso.
A visão de Heidegger é bem clara: ele argumenta que devemos
entender sua essência para evitar que essa técnica nos aprisione em uma visão
utilitária do mundo. Ou melhor, deveríamos saber o que a tecnologia nos pode
beneficiar e compreender que não devemos ser escravos disso. E assim, poderemos
dizer – porque muitos participaram da transição do analógico para a web – que
nossas opiniões e conhecimentos diversos, não podem ser moldados diante da
tecnologia digital e não das big techs. E assim, tomando por base a essência da
tecnicidade como meio e não um fim, poderemos nos perguntar: as big techs são
para todos?
Mas, respondendo a pergunta que deu o nome desse artigo, o
fenômeno das redes sociais ter migrado deum imaginário “tecnoanarquista” para
um possível “tecnofascismo”, seria um resultado de transformações muito
profundas de estruturas e politicas no modo como a tecnologia digital são
desenvolvidas. Nesse contexto, o que Heidegger argumenta da essência dessa
técnica como entendimento para não dominação do ser humano, faz sentido. Assim,
as redes sociais como instrumento – que se aprimoraram com a inteligência
artificial – são utilizadas dentro de diferentes atores de poder. Alimentando
ideologias, ao invés, de fomentar a liberdade.
O “tecnoanarquismo”
foi um termo criado (associado logo depois) nos primórdios da internet, por
causa de um ideal onde a tecnologia digital poderia decentralizar do poder, a
liberdade de expressão irrestrita, a colaboração horizontal e a autonomia dos
indivíduos frente ao ESTADOS e as corporações. Poderia ser chamado como uma
utopia – como pareceu depois que legalistas tomaram o controle da internet – que
previa comunidades autogeridas, transparência radical e à democratização do
acesso à informação. Poderíamos voltar a Platão e nos perguntar: o conhecimento
é para todos? Porque a “democratização” do acesso a internet deixou a internet
com informações sem fontes, deixou opiniões embasadas em preconceitos (eu chamo
de pós-conceitos), e além de tudo, poderemos dizer que a internet começou a ser
uma extensão da TV. Talvez, poderíamos ir muito mais a fundo e investigarmos o
porque que com o tempo, apareceram dinâmicas que favoreceram o oposto disso: o
“tecnofascismo”.
Primeiro, houve mudanças estruturais como as redes sociais
foram construídas com estruturas algorítmicas e centralizadas, pois, as big
techs passaram a controlar grandes fluxos de informações sempre priorizando
assuntos polêmicos, alimentando a polarização e de ódio onde geram mais
engajamento. Duas coisas mexem com o gosto do público: sexo e vida alheia.Mas, tenho convicção que a tecnologia tem um
viés muito mais instrumental do que dominador, porque se as redes sociais têm a
dinâmica de moldar os assuntos, você também pode moldar os algoritmos como
queira. Nesse contexto poderia nos perguntar: por que essa transformação aconteceu?
Já que nos primórdios da internet – que muitos tinham como “coisa de
adolescente” – muitas discussões muito mais profundas aconteciam e tinham muito
mais profundidade intelectual. Sabíamos as fontes.
Mas, ao logo do tempo as estruturas abertas e horizontais
foram cooptadas por muitos interesses econômicos – transformando em um braço do
capitalismo – e político (polarização), que perceberam nas redes sociais meios
mais eficientes de um controle social e manipulação em massa. E isso começa com
a ideia algorítmica da questão de atrair pessoas para aquele assunto, o
marketing tanto empresarial quanto político, usou isso como um meio de levar
ideias sem fontes e produtos que desejamos. Por exemplo, eu como pessoa com
deficiência, posso receber varias publicidade de cadeiras de rodas (motorizadas
ou não), cooptando meu desejo de ter aquela cadeira de rodas ou um meio político
em prol a causa.
Nesse exemplo que eu dei, fica claro que há um direcionamento
de anúncios que pode até parecer útil à primeira vista – afinal, ser sugerido
algo que se encaixa na sua realidade pode facilitar a busca por produtos ou
serviço. Mas há um problema – como toda critica filosófica – esse mecanismo é
explorado sem nenhuma transparência ou sem diversidade de opções, ele pode e
limita, a liberdade de escolha e até pode reforçar a sensação de necessidade ou
desejo artificialmente induzido. Daí poderemos ir além, pois, a promessa de
liberdade se transforma em um instrumento de vigilância e liberdade por causa
da coleta massiva de dados e o poder dos algoritmos passaram a ser usados para
fins autoritários, e não emancipatórios. Indo além, em um olhar mais no viés filosófico,
há uma ironia nessa questão: onde se deveria ser um instrumento de emancipação (pelo
conhecimento) se converte em um agente de poder e manipulação. Isso pode
remeter a críticas clássicas sobre a tecnologia e sociedade, que vai além da
técnica (como a de Heidegger), como as críticas de Foucault fez sobre o
biopoder e controle social.
A estrutura do “tecnofascismo” acontece sem se exigir um
líder central ou uma estrutura organizacional, explorando algoritmos de redes
sociais para acirrar polarizações e manter vigilância constante. Ou seja, as
redes sociais deixaram de ser vistas como ferramenta emancipatória (pelo
conhecimento) e passaram a ser instrumentos de controle, manipulação e
opressão, transformando o sonho tecnoanarquista em um tipo de pesadelo
tecnofascista. E aí temos que trazer para a discussão as críticas do filosofo
Jean Baudrillard onde escreveu e analisou muito a transição entre o mundo analógico
e o mundo digital.
Enquanto Heidegger analisa a técnica como um modo de
revelação do mundo, Baudrillard explora como a sociedade contemporânea se move para
um estado de hiper-realidade, onde as representações substituem o real. Nas
redes, poderemos ver isso se manifestar com a criação de identidades, muitas
vezes, simuladas onde as pessoas constroem versões idealizadas de si mesmas, na
sua maioria, influenciadas por signos (símbolos) e imagens do que pela
realidade concreta. Muitas vezes, levada ao um tecnoideologia onde se criam
símbolos para representar o mundo onde poderíamos idealizar (no modo libertário
da coisa), mas, Baudrillard argumenta que vivemos em um mundo onde os
simulacros não apenas representam a realidade, mas substituem completamente,
tornando difícil distinguir entre o que é verdadeiro (no sentido genuíno) e o
que é apenas uma construção mediática.
Ora, porém tenha colocado
que, muitas vezes, as redes sociais tenha o potencial de criar bolhas
narrativas, a questão da síntese do texto é moldar o algoritmo segundo a tua crença.
E isso remonta a questão da vontade e da indução. Eu chego em um shopping e
tenho vontade de tomar um sorvete, ou eu vou em um famoso que tem milhões na
fila e não consegui nem entrar (por causa da minha cadeira de rodas), ou vou no
que eu tenho mais acesso e não tenho uma fila enorme. Não poderimos escolher dentro da questão das
redes sociais? Por que não poderemos escolher quem sigamos ou informações baratas?
Para defender uma “escola especial” ou não, temos que
investigar o conceito de deficiência dentro da questão social e não uma questão
médica. Porque, se não, cairmos em um limbo de ignorância que recai dentro da essência
do capacitismo. E ai que mora o cerne do termo “capacitismo”, o que seria ou não
capaz de fazer uma atividade? As indagações do Dr Paulo Liberalesso são até
interessantes no sentido de uma discussão séria, mas o grande problema é a questão
da generalização dessa questão da escola. A meu ver, escolas deveriam ser
neutras em todos os sentidos, dando uma escolaridade de base e tendo como base,
uma questão mais de vivência do que clínica.
O intuito do texto é firmar respostas ao Dr Liberalesso para
entendemos a questão da discussão da escolaridade desde a infância até adulta.
A defesa da
inclusão escolar é, sem dúvida, um avanço civilizatório. No entanto, quando
tratamos de alunos com deficiências graves é fundamental reconhecer que a
inclusão plena em escolas regulares, apesar de desejável, nem sempre será a
mais adequada ou efetiva para garantir o direito fundamental à educação de
todos.
Vamos pensar nesse parágrafo. Sem dúvida nenhuma, quando
pensamos em uma inclusão dentro de uma escola, sempre há um avanço muito grande
dentro do processo civilizatório. Segundo Platão, o conhecimento nos faz humano
e nos caminha até a verdade (que seria, grosso modo, a realidade). E quando
houve um sistema onde teria que dar educação para todos, ainda não se deu educação
para todos e há outras questões. Aqui no Brasil há uma cultura de escravocratas
onde a educação não se deve ser dada ao mais pobre, afinal, por que pobre tem
que estudar? Por isso mesmo, escolas tem estruturas podres, caindo aos pedaços
e virou reduto de crianças pobres comerem e não aprenderem uma matéria, mesmo
que, milhões serem roubados dentro de inúmeros órgãos do governo.
Como respondi no post do Instagram do Dr Paulo, o governo
teve 40 anos para fazer melhoras da educação escolar para todo mundo e os
deficientes terem uma escolarização inclusiva, então, realmente, que se dane se
há ou não estrutura. E ai mora o perigo, se transferimos ou “abafamos” esse tipo
de problema, só vai agravar ainda mais. Fora que como estudante de escola
especial, sei muito bem os traumas que ficam de não poder ser uma criança humana
dentro de um mundo que quando se impõem em verdade, te assusta e questões alarmistas
(não pode isso ou aquilo) que essas entidades sempre fizeram e fazem. Pelo que
eu sei – posso estar enganado – há mecanismos na própria lei que separa as deficiências
graves com as deficiências leves.
<<<<As escolas especiais se apresentam,
nesse contexto, não como um retrocesso, mas como uma resposta ética, técnica e
humana à diversidade das necessidades educacionais
Elas oferecem recursos específicos, estrutura adaptada
e profissionais capacitados para lidar com situações que exigem atenção
individualizada e estratégias pedagógicas específicas.
Em muitos casos, são o único espaço em que certos
alunos podem desenvolver habilidades básicas de comunicação, autonomia e
socialização com dignidade e segurança.>>>
O problema não é a estrutura chamada escola especial, mas o
conceito que se firmou em cima dela e sim, é um retrocesso. Como dissemos, há na
própria na LBI (Lei Brasileira de Inclusão), mecanismos que são biopsicossociais
que separam das deficiências graves com as deficiências leves. Se a criança com
deficiência tende a ter uma deficiência grave, se tem escolas ou instituições que
existem tudo isso que disse na segunda linha. No mais, as deficiências leves
como a minha (paralisia cerebral), tendem a ter consciência dentro de uma
realidade. portanto, se colocarmos em uma escola regular, vai estudar como
qualquer aluno. Ou não? Ora, muitas pessoas com deficiência nem tiveram contato
com outras deficiências até entrarem em movimentos em prol de deficientes.
Até onde sabemos, a consciência dentro de uma realidade vai além
do corpo e suas condições e temos que tomar cuidado com esses “recursos
especiais” viciarem muitas pessoas a facilitarem essa coisa de adaptação. Uma coisa
é aquilo que vivemos (como forma subjetiva) outra coisa é aquilo que é em uma
realidade muito mais do que o Dr trabalha.
É um equívoco imaginar que todos os alunos se
beneficiarão igualmente da mesma estrutura escolar.
O princípio da equidade, que busca oferecer a cada um
aquilo de que realmente precisa, deve prevalecer sobre uma inclusão que seja
meramente simbólica.
Inserir o aluno com necessidades complexas em uma
escola regular sem os apoios necessários, além de comprometer seu
desenvolvimento, pode expô-lo à negligência, à exclusão velada e até à
violência.
O único equívoco é esse texto para defender algo que irá
ferir até a nossa constituição (educação escolar para todos). Porque se
trancarmos todas as crianças com deficiência em escolas especiais de APAEs da
vida, vamos criar uma sociedade mais apática e isso, sem dúvida nenhuma, é
quase uma ação nazifascista eugenista de trancar aquilo que não se adequa a
sociedade. Criando crianças incapazes de viver em sociedade, criando adultos
incapazes de viverem por si mesmo, tendo mais gastos para o ESTADO e ainda por
cima, criando uma sociedade incapaz de olhar o corpo com deficiência e não ter
asco. Se nós convivemos em sociedade já somos atropelados em shoppings, imagina
não convivendo em sociedade.
Além de colocar esse tema em discussão em um tom alarmista
como <<<comprometer seu desenvolvimento, pode expô-lo à negligência, à
exclusão velada e até à violência>>, ignorando que sim, escolas especiais
tendem a ter uma violência silenciosa e que muitas vezes, há uma violência psicológica
até mesmo familiar. Ou seja, a escola especial não vai trazer uma segurança completa
como se houvesse uma redoma igual a israelita, segurando os misseis lançados
pela sociedade.
As escolas especiais não excluem, elas incluem de forma
apropriada. São espaços de acolhimento, pertencimento e cuidado, onde o
currículo é adaptado à realidade de cada aluno, respeitando seu tempo, suas
formas de expressão e seu potencial real de aprendizagem.
Elas também promovem, muitas vezes, a integração com a
comunidade, com escolas regulares e com projetos sociais, permitindo formas
híbridas e mais sensíveis de inclusão.
Sartre diz no seu ícone livro (O Ser e o Nada) que quando
negamos alguma coisa, nadificamos uma realidade para colocarmos outra, Ai esta
uma prova cabal disso, onde se coloca uma realidade em cima de uma outra
realidade que a que colocou não existe. Quando o Dr Paulo diz que “as escolas
especiais não excluem” fico comparando meu pai dizer que o regime militar matou
só comunista, era só ficar quieto e esta tudo certinho. Ou em outras palavras, as
crianças com deficiência vão ficar em um suposto lugar gostosinho e sem
problemas para outras mães não se preocuparem em suas crianças terem que
conviver com essas “coisas estranhas” dentro das escolas. E se ele trabalhou 20
anos em uma escola especial, eu fiquei quase o mesmo período na AACD sendo
bolinado pela instituição todo o momento como se déssemos prejuízo.
E ai? Será que não temos violência dentro dessas escolas
especiais?
A filosofia sempre se propôs em desvendar o lado mais
racional dentro da realidade, sendo essa realidade, um numero muito grande de
linguagens e objetos de significado. Com o fenômeno da internet – como fenômeno
virtual – poderíamos ampliar essa realidade em muito bits de informação que o cérebro,
muitas vezes, não consegue processar. Mas, nossa consciência só é consciência se
tiver um objeto dessa consciência, seja concerto (res extensa) seja abstrato
(res cogitan) que perfaz, segundo Sartre, a imaginação.
Quando vivemos em uma negação do processo da consciência dentro
da perspectiva do nada, chamamos de ignorância por ignorar a realidade. E
quando ignoramos a realidade se autoenganamos para caber em uma das nossas crenças
que aquilo que vivemos ou pensamos viver, tem um fundo de verdade. Mas não tem.
Ainda sim poderíamos perguntar: ao ampliar o numero de linguagens e objetos de
significados disponíveis, será que a realidade se expande ou apenas nossa percepção
dela? Responderia que não. Quando o cérebro não tem informações conexas dentro
de uma perspectiva de nexo (ligação), o cérebro processo só informações fáceis.
O conhecido “cérebro podre” (brainrot).
Ídolos são esse autoengano e idealizamos pessoas que não agregam
nada em nossa vida. Essa negação do aprendizado mais profundo – como um conteúdo
mais pasteurizado – tende a ampliar a crítica da indústria cultural. O problema
se amplia por causa que o “cultural” não se aplica em uma geração do fútil, uma
geração que se orgulha de ser emburrecida. Virginia Fonseca quando foi depor na
CPI das BETs, além de quebrar decoro indo de moletom comum e calças jeans, ainda
demostrou nossa cultura da ignorância e do patrimonialismo. Só por ela ser uma
influenciadora de renome e nora de cantor sertanejo – grande coisa – demonstra a
questão mediática que a questão tomou no espetáculo. E sim, se o influencer
ganha com a perca do jogador, isso é antiético.
O que seria ética? Ética na etimologia, vem do grego ETHOS
que era o caráter do povo grego e o que era ser grego, mas ao traduzir ETHOS
para MOS ou no plural MORES, os romanos modificaram por costumes. Hoje dissemos
que moral é os costumes sociais e ética é o estudo da moral, e tem ainda outro
problema, muitos ainda acham que moral é o mesmo que ética. Não é. A simplificação,
exatamente, tem a ver com a ignorância e tem a ver como já vimos, ignorar a
realidade. Mas, antes de tudo, existe a má-fé que é um autoengano dentro de uma
realidade que se aceitou como verdade. A maioria não quer ter o suficiente,
quer o máximo possível para ostentar ao outro.
E isso recai nas mídias sociais como se todo mundo quer dar opinião
daquilo que não sane e pior ainda, acham que a vida delas é conteúdo para ser
consumido. Isso daria um livro inteiro. Sociedade do espetáculo de Debord? Mesmo
não sendo marxista, a crítica marxista dentro da mídia com filósofos marxistas –
aqui há varias correntes – pode ser usada com esse caso (bets) ou ate mesmo, se
adentrarmos as “web putas” (ou web Jobs), quando você é o produto dentro do
ganho. Você vê uma foto ou ver um vídeo pago e você jogar em um site de aposta não
seria o mesmo? Você perde muito mais do que você ganha? Debord diz – isso em 1967
– tudo acaba sendo uma imagem e isso reflete muito mais o vazio de significado,
dentro da sua vida cotidiana, dentro da sua vida online.
A verdade é a realidade posta e nada poderemos fazer de fato
além de aceitar essa verdade. Mas, até que ponto a verdade é contaminada com a
subjetividade de nossas próprias crenças? Porque, quando vemos um objeto,
aquele objeto pode ser a consciência de alguma coisa, como diria o filosofo Edmund
Husserl (1859-1938). Por outro lado, a subjetividade pode dar a consciência aquilo
que as crenças equivalem dentro de uma proposta ou a outra, ou seja, entre
aquilo que é o objeto que se impõem a realidade e aquilo que se imagina ser a
verdade.
Não vamos usar aqui o termo preconceito, mas pós-conceito,
pois, se referimos já não a um conceito preestabelecido dentro de uma situação,
e sim, um conceito depois de um julgamento. Já que o conceito é um conceito
seria um julgamento depois de uma experiencia de perceber algo, ou melhor,
seria um julgamento dentro do conhecimento. O belo e o feio – como formas estéticas
idealizadas – são julgamentos o que temos como belo e como temos como feio além
disso, o belo e o feio pode sim conter um preconceito (aquilo que você conhece
como objeto observado) e o pós-conceito (um conceito já construído). A questão vai
muito além, mas isso não nos interessa nessa reflexão.
Peter Jordan (no canal Ei Nerd) trouxe uma constatação muito
interessante dessa nova direita (que trouxe em outros textos): essa direita revolucionária
(que são rebeldes sem causa e sem estudo nenhum) tendem a enxergar tudo no viés
de guerra cultural. Os intelectuais Olavo de Carvalho e Steven Bennon,
instalaram uma narrativa que há uma guerra cultural e que essa guerra cultural
vem para destruir os valores universais (majoritariamente, dentro da igreja
cristã). E, indo muito mais afundo, são ideias distorcidas de uma filosofia
muito mais profunda do que mera superficialidade de chamar o coleguinha de
comunista ou fascista.
Não há “marxismo cultural”, os próprios marxistas – aqueles que
estudam mesmo as obras de Karl Marx – não aceitam as agendas wokes e nem a
pauta progressista. Bennon, no contexto americano, tem um pensamento que há um “globalismo”
onde há um plano de dominação de término daquilo que tanto construiu as bases
da liberdade e da democracia. Não há nada disso. Se vimos os filmes hollywoodianos,
vimos características que sempre tiveram e se fomos bastante rigorosos, sempre
esteve fretando em estabelecer uma cultura só norte-americana (ou yanque). Se pegamos a contracultura – desde os hippies
que o governo americano introduziu drogas para difamar o movimento – sempre foi
mostrada como algo “comunista” e não como algo de libertação e de liberdade. Afinal,
poderemos nos perguntar: por que será que tudo que se encaixava em liberdade
virou socialismo de repente nos EUA? Os libertários lá são considerados
socialistas.
Olavo de Carvalho tem um pensamento construído em cima da
sua frustração de não ter sido aceito academicamente. Isso ate Freud (pai da psicanálise)
saberia analisar como um recalque. Mas, filosoficamente, Olavo tende a ser um
ressentido. O pensamento dele além de simplificado, como o de Bennon, tende a
ter vários pós-conceitos dentro da cultura brasileira. A meu ver, o brasileiro médio
tende sempre que gostar das coisas simplificada como fáceis de “entender” e
ficar repetindo como jargão. Somos a cultura do jargão. Não se gosta de ler
coisas complexas porque não temos uma escolaridade ruim, importamos aquilo que não
presta, não se sabe nada e se opina tudo. Porque o esforço sempre é ruim. O Olavo
de Carvalho reflete esse tipo de pensamento, pois, mesmos que lesse, nunca
entendeu coisas complexas como a filosofia moderna e a contemporânea.Sempre se enveredou em teorias conspiracionistas
que eram muito mais fáceis: como Theodor Adorno ter escrito as músicas dos
Beatles (tem um texto muito famoso dele criticando o jazz como música infantil)
ou coisas do gênero.
Ser contra uma
filosofia ou uma pauta – seja lá qual for – não quer dizer que tenhamos de lhe
dar com esse tipo de coisa com estupides. Claro que a extrema-esquerda
radicalizada na agenda woke – importante do EUA – vai radicalizando uma inclusão
que deveria ter acontecido, mas, os wokes vem usando a filosofia pós-estruturalista
que é bem mais complexa. O filosofo Michel Foucault e Jacques Derrida propuseram
uma ruptura no modo de linguagem dentro de estruturas conservadoras de linguagem
que poderiam, porventura, moldar preconceitos. Por exemplo, pessoas com deficiência
diminuiu o capacitismo? Não. Porque o discurso pode reforçar uma discriminação,
mas nunca pode determinar ela que tem estruturas que vão além da linguagem. E aí
que a extrema-direita transvestida de guardiões da democracia usam esse tipo de
coisa como “guerra cultural”, num modo bem simplista, alertando sobre coisas
que não existem. Cortinas de fumaça.
A questão do bullying que
atriz norte-americana Bella Ramsey vem sofrendo, tem raízes muito além de uma crítica
ao cinema, tem a ver com o pós-conceito já construído dentro da direita
revolucionaria americana e brasileira. Por que não quebrar esse padrão mental
que tanto se pode discriminar outra pessoa? Por que não estudar sobre o assunto
ao invés de atacar pessoas desse modo?
Meu primeiro livro com minha nova foi “Liberdade e Deficiência”
que foi bastante significativo e mostra como – eu e ela, de alguma forma –
presamos a liberdade e toda a questão da deficiência enquanto libertar das
amarras sociais. Para entender isso temos que entender duas coisas: (1) o que é
liberdade enquanto seres autônomos? (2) o que seria deficiência como corpo
diferente dos outros seres humanos, por causa de uma condição? Pois, a meu ver,
a deficiência não muda nosso pertencimento da espécie sapiens e não muda nosso DNA.
Será que isso não deve ter gerado tantas lendas?
Quando olhamos o caso de Natalia Grace – que tem um tipo
raro de nanismo – podemos imaginar como humanos pré-históricos olhando crianças
abandonadas com tipos de deficiência como esta e imaginando “seres monstruosos”.
Talvez, isso tenha ficado no inconsciente coletivo como que quem tivesse alguma
deficiência, tivesse alguma “monstruosidade”. Mas, nações gregas – como mostram
pesquisas recentes que geraram bastantes debates – que antes pensávamos que
matariam pessoas com deficiência, poderiam não ter matado. Como pinturas de Hefesto
(o deus coxo da metalúrgica) em cadeira de rodas, nenhum esqueleto deformado
encontrado em poços ou em outros lugares. Ora, então de onde vem a rejeição tão
difundida?
Segundo o documentário “O Curioso caso de Natalia Grace”
podemos destacar que o caso já começa capacitista quando médicos europeus do
interior da Ucrânia (devastada pela Rússia) convencem a mãe biológica a doar
para a adoção. Argumento? Foi: “não jogue sua juventude fora”, ou seja, “sua
juventude” era muito mais importante do que aquele ser humano descartado por causa
da condição de deficiência. Mas, o caso pode ser de puro interesse financeiro
de vender para adoção em nome de uma suposta liberdade como se um ser humano
fosse um ser qualquer (hoje nem animais são tratados assim). Mas, o histórico europeu
transvestido de liberdade liberal – e no fundo, é uma eugenia disfarçada – vem liberando
abortos de crianças com tendencias com Síndrome de Down. Ora, ter tendencia é
ter a probabilidade de ter uma síndrome e não quer dizer, uma certeza.
Isso começou com os latinos, a mãe de Claudio I – padrasto
de Nero – chamava ele de “monstro” ou “estupido” por causa da sua deficiência.
Isso mostra que muitos preconceitos – como a raça superior também veio dos
romanos – vieram de uma visão distorcida estética dentro da ideia de a
felicidade como ter autonomia e corpos perfeitos. Claudio governou Roma aclamado,
mesmo com tal deficiência e isso pode nos trazer pistas, sobre o capacitismo dentro
da estrutura humana dentro do prognóstico de uma cultura nascida em sague e
gloria. Os Estados Unidos da América não é diferente, nasceram de uma insurgência
de libertar o povo da Nova Inglaterra dos impostos abusivos. Mas, dentro da cultura
puritana – radicais protestantes – há uma grande tendencia a moralidade (muitas
vezes, demagógica).
A violência norte-americana não vem só das suas “supostas” intervenções
em nome de uma suposta liberdade. Quando assistimos o documentário e a seria da
Star+, “Uma Família Perfeita”, vimos que a adoção da Natalia Grace foi muito
estranha. Os Barnetts a transformaram em adulta e puseram ela para morar em um
apartamento sozinha, quando tinha 8 anos de idade. Pelas fotos, quem dissesse
que a Natalia fosse adulta, eu diria que tinha grande tendencia de uma deficiência
mental. E há uma coisa bastante interessante, muitas coisas levam que Kristine
Barnett era a grande abusiva da história, que nos traz várias perguntas: por
que a sociedade americana existem tantas pessoas abusivas e de moralismo
exagerado? Como dissemos, há uma forte tendencia dentro de uma tradição de
valores puritanos e individualistas (não longe do utilitarismo), o que poderia
levar a julgamentos severos sobre comportamentos e normas sociais. Outra coisa
é que, o sistema jurídico americano é mediático e frequentemente amplifica
casos polêmicos.
Como as lendas – de anões que são demônios ou pessoas
deformadas com pacto com o demônio – Natalia foi transformada em uma “anã” com
tendencias adultas (como o filme A Órfã) que reforçam as lendas antigas e
medievais. Ou seja, aquela menina é “possuída” – como alguns vizinho do apartamento
diziam dela – e deveria ter tendencia a matar Kristine enquanto ela não vê. Como
dissemos, desde o começo está errado e mostra o capacitismo. Qual candidato a
qualquer governo – seja direita ou esquerda – falam de pessoas com deficiência?
Muito me surpreendeu a família atual de Natalia – que também tem nanismo e
deveria ser a primeira família que deveria ter adotado Natalia – que desconfia de
famílias sem deficiência e que poderia usar esses deficientes como renda extra.
Chocados? Não é novidade na história humana.
Muitas famílias pobres antigas e medievais – até mendigos –
pegavam crianças com deformidade para pedir esmolas em templos (antiguidade) ou
em igrejas (era medieval). A questão vai além do liberalismo econômico e o
capitalismo – como alguns apontam – mas dentro da história com o estereotipo
perfeito e produtivo que não poderia ser de outro modo (dizendo que eram demônios).
Por outro lado, isso vai muito além, pois, temos tendencias biológicas de
rejeitar o diferente como algo que não é da nossa espécie. Além disso, o poder
teve que inserir essas ideias para eliminar corpos ou porque atrasariam o clã,
ou porque não poderiam ser cuidados todo tempo. Só que tem um outro porem,
estamos na era tecnológica onde uma roupa com eletrodos fez uma moça ficar em
pé. Pessoas com Síndrome de Down são jornalistas, são modelos, são pessoas
iguais como humanas e podem trabalhar e produzir quando recebem o tratamento
adequado. O capacitismo nasce de uma visão do corpo como um objeto de autonomia
da consciência, mas além disso, há a visão da deficiência como um corpo não são
(saudável). Ou seja, a deficiência é o caos e o corpo perfeito é a harmonia.
Tenho tendencia de ver uma realidade calcada dentro da fenomenologia
(criada pelo filosofo Edmund Husserl que é muito usada para a filosofia da deficiência),
onde não há consciência sem um objeto. Para Husserl, a consciência é sempre
intencional, ou melhor, ela sempre se dirige a um objeto, seja ele físico,
mental ou mesmo ideal. Nenhuma experiencia consciente existe isoladamente, mas
sempre está relacionada a algo que é apresentado a consciência. Ou seja, em um
contexto da filosofia da deficiência, essa abordagem pode permitir compreender
a vivência subjetiva da pessoa com deficiência, indo além de definições médicas
ou sociais, e focando na forma como o fenômeno da deficiência se apresenta à consciência
do individuo dos outros.
Portanto, liberdade é muito, muito mais do que uma autonomia
do corpo, muito mais do que subir uma escada, saber fazer as coisas. Mas sim,
poder ter adaptações do mundo para fazer essas coisas e respeitar o corpo como
um agente que existe com a realidade e o fenômeno dos objetos. Transformar o
corpo em objeto – usável e descartável – se intensificou com a individualização,
porem, a coletivização – no caso capacitista – não se encontra com tanta diferença
como o individualismo. Falar em deficiência não vende revista ou jornal e ate
mesmo, não dá voto. O caso piora com a polarização.
O caso de Natalia Grace é muito mais do que uma história horrível
e capacitista por natureza, é também uma denúncia a natureza social humana.
"Minha consciência me pertence, minha justiça me
pertence e minha liberdade é soberana",
Pierre-Joseph
Proudhon
Mesmo eu ter escrito um manifesto em defesa a Lei Brasileira
de Inclusão (link AQUI) gostaria de escrever outro texto sobre a resistência PCD
que deve ocorrer.
Tudo movimento das pessoas com deficiência – que não tem
nenhuma representação política no Brasil – deveria esquecer as diferenças ideológicas
e nos unir em uma causa. Quem pergunta em páginas de lojas de cadeiras de rodas
“qual o valor?” como se quisesse comprar ou teria condições, é um mentiroso e
deveria sentir vergonha disso. Muitos deficientes deveriam olhar dentro de si e
se perguntar: onde estar meus direitos? Onde esta o meu estudo? Onde está meu
trabalho? Mesmo com uma Lei que garanta tudo isso e querem reduzir por causa de
reacionários que acham que antigamente era melhor, com inflações inúmeras, com pessoas
com deficiência em entidades nos usando para ganhar dinheiro e nós sendo
cobaias.
Os deficientes brasileiros sempre foram a escoria social, ora
porque o brasileiro nunca gostou de planejamento ou organização (demora muito,
dizem muitos), ora porque é muito mais fácil nos trancar dentro de casa do que
acessibilizar. Fora que o brasileiro médio não entendeu, se temos prioridade na
fila é por causa da agilidade e se temos vagas em estacionamentos, é por causa da
agilidade e as pessoas possam parar o carro sem esperar a saída e a entrada de
cadeirantes, por exemplo. Não é privilégio. As empresas brasileiras nunca
quiseram empregar as pessoas com deficiência – nem empresas da mídia – porque sempre
tiveram uma visão estética muito antiga. As empresas mais atualizadas – fora – já
pensam a mão de obra está além do nosso corpo. Não empregam naquilo que somos
formados.
“Nada sobre nós sem nós” deveria ser a frase central dessa luta,
onde mães não conseguem escolas para crianças deficientes ou autistas,
deficientes não recebem BPC (Benefício de Prestação Continuada), entre outras
coisas, que o deficiente não pode fazer porque não é um pais acessível. Um cachorro
tem mais direito de entrar em um shopping, do que um deficiente cadeirante que
é atropelado pela multidão enlouquecida. Cadê nosso direito humano da vida? Vamos
achar que essas pessoas nos dite como devemos viver, sair ou aproveitar a vida?
A deficiência em si nunca deve ser vista como um empecilho da vida, um
empecilho para luta politica dentro das classes dos excluídos. Mesmo que, em
muitos aspectos, movimentos sociais são ressentidos e não querem direitos
adquiridos ou não, querem vingança e criar morais que retrocedam aqueles que
conseguiram. Não. Devemos olhar para aqueles como um exemplo, não de superar
nada – pois, não temos obrigação de mostrar nada para a sociedade – mas como
aquele que pode nos mostrar o caminho.
Depois de reinaugurar meu blog, por que não falar a verdade?
Afinal, esse blog nasceu Resistencia.
Na etimologia, fã veio de fanático que tem a ver com pessoas
radicais que se fanatizam por uma figura pública. Com o show da cantora Lady
Gaga – pago pela prefeitura do RJ – muitas pessoas estão na frente do hotel com
fraldas, gritando para ela sair e se apresentar aos fãs. Como diz o comentarista
musical, Regis Tadeu – que me bloqueou – todo fa, no fundo, é um perfeito
idiota e deveria se tocar que artistas não são produtos da sua idealização. Chegaram,
ate mesmo, serem assaltados.
Afinal, ate que ponto essa idolatria é saudável? Tenho um
amigo – de muitos anos – que dizia ouvir só Elvis Presley e Roupa Nova e mais
nada. Não sei se faz isso hoje em dia, mas essa atitude demonstra como ele é,
se isolando porque não convenceu um movimento daquilo que lutava. Sempre dizia:
“eu sempre estuve sozinho”. Essa solidão é reforçada por razões da deficiência,
não ter um pai presente (por ele ter morrido quando esse amigo era bem pequeno)
e por causa dos bullyings que sofreu do motorista que tivermos na AACD. Será que
via na figura de Elvis algo paterno ou algo que remetesse alguma lembrança afetiva?
Essa questão remontam vários fatores preponderantes dentro
da nossa cultura contemporânea. Talvez, meu amigo tenha encontrado algum
refugio nessas figuras como se essas musicas fossem um porto seguro emocional. E
assim, muitas vezes, eles criam uma ligação intensa com um artista por
necessidade de preencher algumas lacunas afetivas ou criar uma sensação de
pertencimento. Mesmo não admitindo, esse mesmo amigo teve dificuldade de
conquistas, dificuldade de socialização e uma enorme dificuldade de se desligar
um pouco do ambiente familiar. Mas, será que isso tem a ver com a deficiência e
a ideia de coitadismo que ronda a questão do segmento de PCDs? Não. Tem a ver
com dois fatores freudianos que lançam dúvidas da questão da autogovernança de
si mesmo: o principio do prazer e do medo.
O princípio do prazer e do medo, segundo Freud, seriam
forças essenciais que podem influenciar a forma como tomamos decisões e como
lidar com o mundo ao nosso redor. Assim, o prazer faria com que busquemos
experiencias que nos tragam satisfação e evitam sofrimento – como diríamos, a
dor inevitável – enquanto o medo pode atuar como um freio, nos protegendo de
riscos e incertezas. Talvez – não só meu amigo – tenha nessas figuras algo que
de alguma segurança em um mundo inseguro e incerto. Pois, afinal, o ser humano está
numa realidade contingente e é um ser contingente em mudanças de linguagem e
cultura.
E ai chegamos em dois novos pontos: o que seria realidade
(no sentido de fatos) e o que é a existência. Porque, quando você elege um ídolo
– seja qual for – você começa a ver uma outra realidade em nome do seu prazer (sensação
de conforto) e a eliminação do medo (sensação de segurança). Mesmo que não há consciência
sem o objeto, o objeto pode estar viciado (fetiche) em conceitos que você mesmo
construiu; principalmente, quando esse ídolo é humano. Existe a verdade (no
sentido de realidade) onde a pessoa é o que é e não daquilo que você construiu
como conceito, exigindo assim, você perceber a sua existência e a existência do
outro.
O ídolo só é uma ideia daquilo que achamos certo e no fundo,
não é certo e nem a realidade.
Única coisa que preso na minha vida é minha liberdade.
Imagina uma pessoa com deficiência que sempre dependeu de transporte
ruim, que sempre minha mãe teve que ir em pé comigo no colo. Ou, instituições que
mais sugaram o dinheiro suado do meu pai para eu adulto, descobrir que o que
diziam que eu tinha não era verdade. Não ter uma adolescência descente porque
eu tinha que ir em uma oficina – que era mais um deposito de deficientes – que me
prometeu em me ensinar a trabalhar (não ensinava nada) e ainda sugava todo o
dinheiro do meu pai mais uma vez. Quando não apoiamos seu show teletonico, nos
expulsaram como cães que não servem mais.
Nesse interim, aprendi a valorizar a minha liberdade de um
jeito que ninguém tira ela de mim mais. Comecei a construir meu pensamento em
sistemas anarquistas, mas, com vieses nietzschianos do ubermech (além-do-homem),
onde toda teoria anarquista comunista era calcadas no ressentimento dentro daquilo
que Nietzsche chamava de moral de rebanho. Ou seja, não se consegue ser o que o
mais forte, o que entenderam como é a realidade, o real impulsiona a vida e a
energia vital se torna a vontade de potência. Mas, muitos querem o caminho mais
rápido – que Cristo chamou de caminho estreito – e querem impor a moral dos
ressentidos, portanto, a moral que aniquila os fortes que souberam estudar.
Não que deixei de ser libertário por causa de apropriações dos
anarcocapitalistas reacionários se apropriarem de pautas libertarias para
defender políticos – como ANCAPSU etc – mas, além da questão da propriedade
privada (que o anarquismo clássico rejeita), somos todos anarquistas contra o
poder autoritário. Se aprendi que a liberdade é algo inegociável – liberdade
ainda que tardia – é porque a sociedade teve a ideia condicionada de uma
liberdade que não existe. Quem não quer montar seu negócio próprio sem
burocracias ou o governo te enchendo o saco? Queremos tratamentos descentes,
coisas de qualidade – como, no meu caso, cadeiras de rodas mais baratas – sem a
exploração de preços por causa de impostos, por exemplo.
No mais, o anarquismo em sua essência (em todas as suas
vertentes), sempre tendem a serem armas ideológicas de resistência contra
governos fracos e exploradores querem sempre o poder e o dinheiro acima do interesse
de todos. São psicopatas políticos que acham que o mundo é deles. Mas, deixamos
uma pergunta bastante sincera: qual governo ou político fez alguma coisa por
nós em toda a história da redemocratização? Precisamos romper a dependência de ídolos
(figuras heroicas), para se autogovernar e entender que o importante é a
liberdade.
Exatamente. Misturam todas os ideologias para criar uma
própria. O mesmo ocorre com a religião. É como jogar FIFA com metade do time do
Barcelona com a outra metade do real Madrid e chamar o time Real Barcelona ou
Barcelomadrid
(The Old Square)
Esse é um comentário de um amigo que fiz no X, onde temos
interesses filosóficos e espirituais muito parecidos. Mas, esse comentário é uma
derivação do comentário que eu comentei do comentário dele sobre meu texto
sobre libertarianismo e anarquismo. Como me disseram que estou muito superficial
nas minhas análises, vamos o aprofundamento de várias visões que eu tenho sobre
o libertarianismo, anarquismo e o bolsonarismo (um pouco do petismo esquerdista).
Eu disse que o libertarianismo acredita não em uma revolução
armada (como os anarquistas da corrente de Bakunin), mas em uma mudança progressista
do mundo com a melhoria do mesmo com o capitalismo. Muitos ditos libertários – são
muito mais ANCAPs ou liberais que não querem pagar impostos – acham que devem
ser conservadores, e isso, é um grave erro. Primeiro, confundem conservadorismo
com tradicionalismo, depois, se você busca mudanças, você não quer mais o mundo
como esta.
Há uma distinção entre o libertarianismo e o
anarcocapitalismo (ANCAP) muito importante, especialmente, porque muitas vezes
as pessoas agrupam essas correntes como se fossem uma só. Mas não são. Como,
por exemplo, o libertarianismo tendem a buscar uma transformação progressiva e
acredita na capacidade da mudança do capitalismo de melhora do mundo, enquanto
os anarcocapitalistas tem a tendencia de adotar uma postura mais radical e,
muitas vezes, conservadora. Mesmo que acreditem que deva eliminar o ESTADO de
uma vez, coisa que o libertarianismo minarquista não concorda.
Ainda, se não bastasse essa confusão, há a confusão entre o
conservadorismo e o tradicionalismo que merece um destaque quando escrevemos
sobre isso. Porque, em essência, o conservadorismo busca preservar certos
valores e instituições, mas não necessariamente não aceita certas mudanças. Só não
aceita rupturas repentinas. Já o tradicionalismo – que no bolsonarismo veio do Olavo
de Carvalho – muito mais rígido, foca em manter práticas e costumes históricos.
Geralmente, falando filosoficamente, um tradicionalista não busca tradições em
sua essência, mas tendem a ter sempre uma visão reacionária. Isso faz que se alguém
que deseja mudanças e adota uma postura conservadora ou tradicionalista, pode
acabar em um paradoxo, como vimos lá atras.
Por que acontece isso dentro das ideologias políticas? Por preguiça
de pesquisar e encontrar, como na maioria das vezes, coisas muito diferentes
daquilo que se acredita. E crenças não são racionalidades, são ídolos como
disse Bacon. Francis Bacon – em sua obra Novum Organon – descreveu como “ídolos”,
vários obstáculos que temos quanto ao pensamento racional e à busca do
conhecimento. Esses “ídolos” são preconceitos ou falsas crenças que podem
interferir na nossa capacidade de compreender o mundo de forma objetiva.
Dentro das ideologias políticas, isso parece bastante
evidente. Isso tem a ver, muitas vezes, com que as pessoas se apegam para reforçarem
suas crenças., em vez de ter um confronto com as reais informações desafiem essas
crenças. é muito mais confortável, mas limita o crescimento intelectual e a
capacidade do diálogo. Mas, mesmo que não se queira pesquisar ou tenha preguiça
de fazê-lo, há uma negação muito forte dentro das redes, onde muitas pessoas são
prejudicadas por causa que disseram o que a pessoa não concorda e foram
denunciadas.
Minha posição é bem clara e já expus ela no blog, mas, por
que não sou bolsonarista ou petista?
Embora a maioria dos ditos libertários são contra liberdade –
por serem bolsonaristas, já que Rothbard disse que os libertários também combatem
o conservadorismo americano e aqui deveria também combate o bolsonarismo – estou
sempre no lado da verdade e da justiça, além, da liberdade. Ter liberdade não é
ficar preso em um lado ideológico, mas apoiar aquilo que é verdadeiro sem lidar
com ideologias escravas que já são prontas e sem visar o bem e a justiça, além disso,
ser filosofo é libertar a consciência humana das amarras conceituais.
Sabemos que existem bolsonaristas que cegamente – porque são
crentes como todo mundo idiotizado – atacam deficiências, o modo que escrevemos
e o porquê acreditamos em algo. Como os petistas dizem que quem não apoia o Lula
é fascista (o fascismo e o nazismo seriam muito mais complexos do que os
anarquistas de araque dizem), os bolsonaristas dizem que quem não acredita no Bolsonaro
é um comunista (como se soubessem o que é o comunismo em sua essência ideológica).
Podem me chamar de “isentão” ou “intergaláctico”, mas eu
continuo apoiando a ideia que político é funcionário público.