sábado, 21 de junho de 2025

O CAPACITISMO NAS UNIVERSIDADES (A LOGICA NAZI VOLTOU?)

 


Ato em memória de Isabelly foi realizado na última quarta, 18, na Unila. Fotos: Divulgação

Já escrevi nesse blog ou em outros espaços – porque eu escrevia em outros lugares – que há um movimento de descaracterização de uma postura universitária e isso, em parte, é culpa da cultura hollywoodiana. Venderam, principalmente nos anos 70 e 80, que estudar era uma coisa ultrapassada e deveríamos aproveitar a vida com liberdade e “curtição”. Na outra ponta da questão – e isso tem a ver com a pós-modernidade – é o desestruturalismo que forjou uma verdade relativizada e que quebrou a humanização do conhecimento. se Aristóteles dizia que o homem tem sede de saber, o movimento de desestruturação relativizou esse conhecimento em mera vivencia. Nomes mais famosos como Foucault, Derrida, Deleuze entre outros, começam a tratar certas tradições como meios que sustentam certos preconceitos.

A morte da estudante de medicina e autista, Isabelly Baldin (25), nos mostra um outro ponto bastante importante: será que a falta de empatia não é originada dessa relativização da verdade universal e o fortalecimento da sua verdade? Carl Sagan escreveu no seu livro “O mundo assombrado pelos demônios”, que por sermos primatas e mamíferos, ao sermos bebês, poderemos reconhecer nossos pais como iguais e sorri para eles como reconhecesse esse padrão. Mas, além disso, nós somos animais que temos que construir significado e fazendo conceitos a todo momento para explicar certos fenômenos não muito claros dentro da consciência. Ou seja, o bullying que Isabelly recebeu de professores e alunos da Universidade Federal de Integração Latino-Americana (UNILA), vem de uma postura de não querer mudar certos padrões para que todos possam estudar. Não é isso que as universidades modernas idealizaram depois que romperam com a igreja?

Daí vem a pergunta do título do texto: a lógica nazista voltou? Porque, a meu ver, os nazistas só radicalizaram os milhares de pós-conceitos que já existiam na época. Como disse André Comte-Sponville em seu “Pequeno Tratado das Grande Virtudes”, os nazistas eram polidos e não educados. Porque, tinham muito conhecimento e uma cultura exemplar – como os alemães têm até hoje – mas, usaram muitas teorias pseudocientíficas e místicas/ocultistas para propagar a pureza da humanidade. Não conseguiram levar o conhecimento para outro patamar. Assim, parece que a UNILA mostra uma padronização no Sul – e lugares poucos abertos a mudanças no Brasil – onde não querem levar esse conhecimento em um outro patamar. Primeiro, do Sul, veio colocar pessoas com deficiência em classes especiais em APAEs ou outras instituições, porque não se consegue adaptar uma escola, depois o suicídio de uma aluna autista por causa da não adequação de escolas e universidades. Mostrando o atraso do Brasil mesmo em locais ditos de conhecimento. Depois, a não adaptação por teimosia.

O Brasil é um país que não aceita nada de diferente e só tem gente sempre tentando levar vantagem em tudo. Tudo que é para pessoas com deficiência são caros e feitos muito vagabundamente, serviços que são como favores (mesmo que pagamos por esses serviços) entre outras coisas. Mais do que isso, não se entende que a deficiência não é uma doença que você pode portar e depois, não portar mais. Porque a deficiência é uma condição e a inclusão é um ato político.



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quarta-feira, 18 de junho de 2025

GENEALOGIA DO CAPACITISMO

 

 

 

Em um podcast (no YouTube), minha amiga – que é uma pessoa com deficiência – demonstrou ser muito raro ter a oportunidade de se conectar com pessoas na área de negócios, e também, estar na área de liderança em um projeto do Estado (Projeto Guri). Com 18 milhões de pessoas com deficiência (segundo o IBGE de 2022), temos ainda a ideia que um país com tantas pessoas com deficiência e muito poucas que conseguem estudar. Acessibilidade não é só rampas ou facilidades arquitetônicas, mas devem ser muito mais do que isso, devem ser a conscientização e predominância dentro da sua área. Por que um deficiente deve ter um cargo de “verificador de fichas” se ele é qualificado em RH, por exemplo? Por que um deficiente formado em administração, deve ser “organizador de papeis”?

Isso seria capacitismo? há uma genealogia do capacitismo que remontam milênios de sociedades que poderiam abranger cuidados com pessoas com corpos divergentes, ou sociedades que poderiam não cuidar de pessoas com alguma deficiência. Mesmo sendo racionais, nossa consciência pode remontar uma realidade que só existe graças as nossas crenças e chamamos de subjetividade. Ora, a maioria dos preconceitos – mesmo os de milênios afora – foram construídos graças a subjetividade de achar que o “diferente” não seria humano. Lendas, muitos provavelmente, eram interpretações de corpos não normalizados dentro de uma crença muito além da realidade.

Um corpo não completo. A completude de uma realidade depende da conjuntura que essa realidade se encontra na nossa base subjetiva, pois, se a capacidade de ir além da massividade das ideias – a atitude de rebanho – não haverá uma ruptura no preconceito. Isso se dará sempre com o medo. Se você não tiver nenhuma instrução em um país no meio da selva – como o Brasil era nos séculos passados – se você vê um garoto negro com uma perna só e pulando, vai remontar a um ser místico. Ou, que assobia antes de fazer quaisquer travessuras. Assim, tivemos duas fazes capacitistas dentro do nosso país. Um de esconder e internar, pois seria muito “desagradável” ter uma pessoa com deficiência na família (prova disso eram artistas com deficiência tentando esconder a deficiência para não ser evidente, como o Roberto Carlos) e nos anos 80, onde estudávamos em colégios comuns e mesmo assim, separados (poucos puderam romper isso).

Há um capacitismo estrutural? A meu ver, não existe. Na antiguidade, a questão era a falta de conhecimento científico e falta de uma consciência que corpos divergentes eram humanos em condições diferentes. Mesmo assim, existem pesquisas arqueológicas que dizem que havia comunidades que cuidavam de pessoas com deficiência, outras não. Mas, como um bom filosofo que sou, por que temos sociedades que matavam ou predem pessoas com deficiência? Será que com a escassez da idade média com a ignorância popular – mesmo assim, havia casas de caridade ou pessoas que recolhiam crianças nessas condições para esmolarem – achavam que eram criaturas demoníacas? O fato que a modernidade, com seu cientificismo, não amenizou para os deficientes até então.

O Brasil é herdeiro dos jesuítas e sua religiosidade (caridade), do cientificismo positivista (temos que ter especialistas) e a sociologia marxista (burguesia e proletariado). Quando lemos que há ainda uma cultura cientificista que você só ouve especialistas (medicalismo), com visões muito mais místicas do que cientificas, já que eles insistem em prever o futuro, as empresas não sabem ou não querem saber se deficientes sabem ou não falar e ter opiniões. Os próprios funcionários do SUS perguntam se sabemos ler e escrever. A modernidade com sua noção da ciência, não causou nenhum ou quase nenhum impacto sobre o ato de incluir pessoas com corpos divergentes pelo simples fato de ser diferente. A modernidade e a pós-modernidade só construiu preconceitos (chamo de pós-conceitos) piores em desembocar na eugenia silenciosa ou o projeto T-4 dos nazistas, eliminando todas as pessoas deficientes. Não é isso que fazem abortando crianças com síndrome de down – ou havendo probabilidade de serem – ainda no útero da mãe?

Empresas só são meios para vender seu serviço e você vende conforme sua capacidade, ou seja, se você é formado em computação, por exemplo, tenho que vender meu serviço nessa área. Empresas não são nossas “amigas”. Nem mesmo os governantes são nossos amigos. Para as empresas e governo, somos um símbolo dentro de um número muito grande de cidadãos ou possíveis trabalhadores. Eles não contratam pessoas com deficiência, porque tratam o corpo do trabalhador de uma máquina e não como um humano, com deus desejos e pensamentos e nem, sua qualificação. Ou seja, a maioria das vezes, são “tampa buracos” do número de deficientes que precisam para não pagarem a multa e só. Assim, a luta pela inclusão não pode ficar só em espaços físicos, em construção de conceitos estruturalistas (isso não acabou e não vai acabar com o capacitismo), mas, transcender o mundo e as coisas e dizer que somos humanos.

sábado, 14 de junho de 2025

SOCORRO...

 



Na lógica – que aprendi quando eu fiz programação no curso de TI – existe aquilo que é considerado verdadeiro e aquilo que é considerado falso. A meu ver, dentro da filosofia não tem muita importância por causa das circunstâncias que estamos vivendo essa realidade. O que consideramos o que é verdadeiro ou falso, em tudo que observamos, depende de um contexto e isso é bastante interessante. Entre duas linhas de um mesmo fenômeno – não existe consciência sem um objeto – existe aquilo que é verdadeiro (que possivelmente, estamos considerando aquilo a verdade) e aquilo que é falso (que consideramos ser uma mentira).

No mundo da informática, isso nos dará como base mestra para construirmos algoritmos que vão dizer para um computador se aquilo tem que acontecer (v), e aquilo que não pode acontecer (f). Por exemplo, um loop não pode acontecer, porque não haverá estabilidade para eu escrever esse texto pelo fato de não sair nem do modo de ligar o programa. Do mesmo modo, a linguagem da programação tem que ser clara e saber direcionar o processador a calcular essa linguagem para o 0 e o 1. Se for (V) então é 1, se for (F) é 0. A meu ver, esse argumento do que é verdadeiro e o que é falso só serve na informática.

Se você está vendo um garoto batendo em um adulto e não enxerga um contexto, em um modo racional, não se tem como julgar esse tipo de situação. E se o menino tem autismo? E se a moça da loja fez uma coisa para o garoto? Claro, existem coisas que podemos dizer que, se for um garoto autista o porquê de ele não estar acompanhado é muito importante e o autismo não é desculpa para ser mal educado. Mas, será que um vídeo desses terá total verdade dos fatos? Porque estamos na era que tudo se torna verdade, tudo se torna objeto de julgamento e isso é bastante perigoso.

Chagamos a pós-verdade como um conceito que pode descrever um cenário em que os fatos têm menos importância em uma formação de opinião publica do que apelo emocionais e suas próprias crenças. talvez, poderíamos dizer que Platão teria razão em dizer que opinião (doxa) não seria o conhecimento, pois o conhecimento é racional e a opinião é emocional. Ou seja, os fatos ficam em segundo plano quando é uma verdade factual dando daquilo que as pessoas escolhem (ou querem) acreditam. Esse fenômeno pode ser visto, especialmente, na política e nas redes sociais, onde pode haver narrativas que são construídas para reforçar ideologias, muitas vezes ignorando ou distorcendo os fatos.

Indo além do obvio, mas a pós-verdade sempre existiu como manipulação da informação e as redes sociais só repetem o que sempre vimos na TV. Ou melhor, o telejornal como fonte única de informação, construía uma narrativa onde o meio de comunicação poderia construir um discurso onde poderíamos acreditar. A verdade poderia ser manipulável – e ainda é – mas, poderíamos chegar ao conceito de má-fé de Sartre. Mesmo que a pós-verdade e a má-fé tenham pontos em comum, há diferenças bastante sutis dentro do prognóstico de um discurso predominante. Já que a pós-verdade engana por causa da construção narrativa do discurso, a má-fé (podemos dizer assim) pode ser o sujeito se enganar para sempre evitar em assumir a sua responsabilidade diante da opinião. Você sabe que políticos enganam, mas continua a escolher um deles.

No entanto, poderemos ver que existe uma ligação entre os dois conceitos bastante interessante, muitas pessoas que propaga m pós-verdade podem estar agindo de má-fé consigo mesmas, acreditando em algo porque isso as conforta ou reforça sua visão de mundo, mesmo que os fatos digam o contrário. Mesmo porque, em um ambiente de pós-verdade, a má-fé pode ser um mecanismo pedagógico que impede as pessoas de confrontarem a realidade. Elas não podem ver a verdade porque acreditam que estão levando a verdadeira realidade dos fatos, distorcendo-a conforme suas crenças.

terça-feira, 10 de junho de 2025

UM ANARQUISTA NO SHOPPING

 



A multidão me tirou você
Me atirou pelas ruas, onde vou viver
Apesar dos idiotas eu amo você

 - Apesar Dos Idiotas (Flicts)

 

Quando resolvi fazer esse blog, eu tinha a ideia de escrever ideias beirando o anarquismo como uma resistência de tudo que está ai. Porque, a meu ver, pessoas com deficiência e nem filósofos deveriam ser partidários ou ter lado ideológico dentro do espectro político. Afinal, quem fala de pessoas com deficiência nesses tempos de inclusão social? Quando políticos, sem ter filho ou ter parente com deficiência, fez de políticas públicas para pessoas com deficiência? Ninguém. Minha alma anárquica sempre ansiou por liberdade de escolha, liberdade de expressão e liberdade de escrever e ser o que eu quiser. Um anarquista (com ou sem o capital), não pode ser escravo de cartilhas prontas e nem ser a favor de nada que vem do ESTADO e os seus governantes e quem financia ele – ou se subjuga ao seu poder e financia – é um cúmplice safado dele.

A questão que poderemos começar a discutir é: o que seria a definição de deficiência? Porque, em uma análise muito mais minuciosa, “de” é um artigo de negação e “eficiente” tem a ver com a eficiência de um ato em que se pode fazer. Ou seja, de + eficiente tem a ver com a perda de eficiência no ato de fazer alguma coisa. Ter eficiência é efetivar um ato de andar, por exemplo, pegar algo no alto etc. Por isso que o “de-eficiência” é uma perda de efetividade em membros e o preconceito dessa falta – por causa do seu conceito de doença – se chama de “capacitismo”, porque há uma não capacidade da efetividade dos membros que pensam ser uma doença e não é nada disso. A “de-eficiência” seria algo de muito mais uma condição (no sentido de condicionar o corpo aquela condição) do que uma doença ou um corpo “defeituoso” como uma máquina e deveria ser consertado.

Essa definição tem um porquê importante nessa discussão nesse texto, porque traz um outro foco a realidade da inclusão. Ora, se a de-eficiência é uma condição e nos condiciona a uma perda de algumas capacidades e mesmo assim, somos e temos corpos humano e como animais políticos (sociais), inclusão é um ato político. Eu e minha noiva somos um casal político. Meus amigos são minhas ligações políticas junto com minha família. O que acontece nos prédios dos três poderes em Brasília é a governança do país, mas atos políticos acontecem em todo momento e o brasileiro médio não sabe viver dentro de uma comunidade política. Em um shopping há pessoas que não sabem andar, não sabem que um cachorro dentro de um estabelecimento como este estressa, que comer pipoca e encher o cesto de lixo ate cair é falta de educação e não respeitar o aviso que banheiros de pessoas com deficiência são usados por elas. O brasileiro médio tem preguiça em saber e sente orgulho da burrice que expressa, como, por exemplo, achar que livro é só para estudar.

Por causa de um corpo diferente, no sentido da normalidade social, dará aval para as pessoas não nos enxergarem como humanos que somos? Daí há o discurso libertário no sentido de sair dentro da coletividade (coletivismo irracional), e nos enxergar como indivíduos autônomos que pensam como outras pessoas. Temos que nos impor como seres humanos, pessoas politicas que devem ser enxergadas como seres engajados socialmente. Por que não? Por que não poderemos ser vistos como agentes sociais, que consumimos e por isso, temos capacidade de trabalhar e dizer o que desejamos ou sentimos?

Daí vem a pergunta que sempre me fiz: por que animais tem mais direitos do que pessoas com deficiência? Claro, não sou e nunca serei a favor de tortura e abandono de animais, mas, é injusto que animais tenham muito mais direitos do que humanos com corpos divergentes (adorei esse termo). E ai temos que se aprofundar na questão, pois, quando você prefere animais a humanos, pode ser que você tenha sociopatia. Do mesmo modo, outros tipos de apego, que com certeza, não são empatia com o humano social. Social e socializar, a meu ver, são termos diferentes do que coletivismo irracional. Você conviver e defender o direito de outro ser humano é diferente de ficar em uma fila enorme para pegar um sorvete no méqui, ou até mesmo, filas enormes. Os marxistas iriam dizer que há um fetichismo na questão de ser o sorvete do méqui, mas não é bem assim, há uma escolha e você pode escolher entre aquilo ou outra coisa.

sexta-feira, 6 de junho de 2025

LIBERDADE E DEFICIÊNCIA – ENTRE PAGU E A LIBERDADE DE EXPRESSÃO

 





"Esse crime, o crime sagrado de ser divergente, nós o cometeremos sempre." — Patrícia Galvão (Pagu)

Eu – autor desse blog – sou um amante da liberdade sem um viés definido de autores para isso. Mas, acima de tudo, tenho minha alma anárquica e divergente da moral castradora dentro do coitadismo que se acumula dentro do chamado “movimento de minorias”. Por isso mesmo, minha filosofia foi chamada de “transgressismo filosófico”, ou seja, a transgressão daquilo que é comum e ser divergente (opinião contraria).

A frase da escritora e jornalista, Patrícia Galvão (Pagu), cabe em um momento de censura que estamos vivendo. Se não estamos alinhados em uma opinião de massa (que a maioria acredita), estamos sendo taxados de criminosos e esse crime sagrado é, exatamente, ser um divergente no meio da subjugação massificadora de algumas ideias. Primeiro, até onde eu sei, somos ainda animais racionais e como disse Aristóteles, por sermos racionais somos “animais políticos”. Mas, nesse exato momento, quero invocar o modo grego do termo “politikon” que era diferente dentro do que conhecemos. Onde “politikon” era todo homem livre (literalmente), que participava da vida social dentro da àgora e decidia o que se deveria ou não ser feito em Atenas (onde havia a democracia). Por outro lado, quem era apolítico era chamado de “idiotike”, e vivia isolado dentro do seu egoísmo de não querer saber da polis.

Como disse em um dos artigos que escrevi na rede LinkedIn (aqui), a inclusão tem que ser um ato político. Mas esse “ato” não tem só a ver com ação e sim, pode ser colocado como um fenômeno dentro de uma certa realidade que pode ou não acontecer. A inclusão não só aparece, mas ela é por si mesmo. Por isso, um ato social não pode ser refém de um discurso ou um pronome – como chamar um deficiente de deficiente, ou, uma piada sem graça – e sim, se mostrar em um ser humano que tem suas vontades e suas satisfações. Ou as pessoas acham que não somos humanos com desejos e sentimentos? E assim, dentro da questão mirabolante de achar que somos pessoas que não sabemos o que nos atinge ou não (alguns não sabem por causa da subproteção familiar e institucional). Dai as classes especiais são um erro, pois, trancam as crianças com deficiência e fazem essas crianças verem um mundo de “mentiras”, subprotegidas que deveriam ver o mundo de verdade e mais, APAEs e outras entidades com inclusão não se combinam.

Alguns anos eu e minha noiva escrevemos o livro “Liberdade e Deficiência” onde colocamos vários textos nossos, denunciando a nossa falta de liberdade por causa da deficiência. Mas, eram denuncias concretas de acontecimentos de verdade dentro de uma visão nosso mesmo, não uma visão representativa dentro de uma outra coisa não concreta. Afinal, “nada sobre nós sem nós”, como forma de uma visão crítica da nossa vivência como um corpo-deficiente e ao mesmo tempo, ter a consciência de ser um humano ignorado e sem uma perspectiva institucional e levada ao meio tutorado. Ou seja, não há o porquê pessoas não deficientes dizerem por nós o que seria melhor, o que deveríamos gostar, o que deveríamos ter como vida e onde deveríamos estudar.

Por isso, dei o nome de “liberdade e deficiência”, onde a liberdade pode ser vista além da deficiência no sentido de um corpo não igual – um corpo é um meio para a consciência se manifestar – e viver na realidade objetiva. Por que somos hostilizados? Por que as pessoas não querem que seus filhos tenham contato com outras crianças deficientes? O discurso de classificação entre as minorias. O discurso de representatividade. Quando pensávamos que a inclusão deveria ser objetiva – a linguagem só seria um meio – a questão era debatida dentro da deficiência e não uma representação dela. Deixamos de dizer “por” e se passou a dizer “sobre”. Por uma inclusão e não sobre uma inclusão. Por isso não acredito que há um mundo inclusivo, o que há são estruturas inclusivas para dar um ar de “bom moço”, mas mulheres com deficiência são operadas para não terem filhos, fetos com síndrome de down são abortados e por aí vai.

Cairmos no problema da polidez no Pequeno Tratado das Grande Virtudes de André Comte-Sponville, onde escreve que os nazistas eram polidos, tinham alto grau de cultura, porém, poderiam mandar arrancar a pele de um judeu para fazer abajur (realmente, aconteceu). Na verdade, a meu ver, os nazistas dentro de algumas questões ainda assombram a cultura eurocentrista, como abortar fetos que tem alto grau de chance de serem Down em alguns países da Europa (que tem forte tendencia Escandinávia), ou em alguns Estados americanos, as famílias têm permissão de operarem mulheres com deficiência para não engravidarem. A polidez europeia guarda a crueldade de matar fetos por serem geneticamente modificados pela natureza. Daí a pergunta de ouro:  isso não seria o modo eugenista disfarçado de humanista? As autistas também vai ser detectadas e vão ser abortadas? Dai entramos em uma discussão muito pós-moderna, onde há estruturas discursivas que dominam a narrativa do senso comum e isso – em hipótese – geraria o preconceito dentro de uma minoria marginalizada.

O que levou os nazistas a terem todo esse preconceito e construírem toda a moral nazifascista dentro dessas classes? Toda uma gama de fatores históricos dentro de um preconceito que deveria – até onde eu sei não se estudou ainda – ser estudado sob a ótica antropológica, culminou no fenômeno de preconceito radicalizados que foram usados como “bode expiatório” na crise que estava instaurada na Alemanha na época. Ou seja, não há nenhuma “desculpa” de se ter a eugenia 2.0 nos dias de hoje, a não ser a questão financeira que alguns países adotem como prioridade e ainda sim, não passa de puro extermínio e uma eugenia silenciosa e muito mais perigosa do que a nazista.

Dai entramos na ceara da piada do comediante Léo Lins e nos perguntamos: diante da falta de acessibilidade, campanhas para nos colocar em APAEs, abortos de fetos que tem possibilidade de Síndrome de Down etc, o problema é a piada?

terça-feira, 27 de maio de 2025

A HIPER-SEXUALIDADE DO CORPO COM DEFICIÊNCIA

 

 





Nesse blog, eu já discuti a questão das chamadas “web putas” – termo cunhado por uma delas, para não me chamarem de machista – onde há uma elite econômica crescendo e elas vão sim, ser a elite do futuro mesmo que a sociedade não aceite. Mas, vamos nos ater em uma analise muito mais profunda, do uso de filtros de pessoas com síndrome de Down para vender seus conteúdos adultos dentro da perspectiva da hiper- sexualização do corpo com deficiência, que abre um paradoxo muito curioso dentro da nossa cultura: ao mesmo tempo que há uma infantilização da pessoa com deficiência com sua sexualidade, há ao mesmo tempo, uma fetichização do corpo deficiente dentro de nichos (o devoteismo é um deles) onde pode causar um aumento (que já é grande) de casos de assedio e violência com a pessoa com deficiência.

Mas, temos que entrar primeiro no corpo enquanto existência e a consciência enquanto ex-sistência.  Desde Descartes com seu axioma famoso “penso, logo sou” (na verdade, a tradução errou porque é “sou” e não “existo”), temos o corpo como “coisa existente” e a consciência como “coisa pensante”, onde eu percebo minha existência dentro da consciência da percepção do existir. Se eu percebo que estou escrevendo esse texto, é porque estou interagindo com a realidade, sempre sendo cético se aquilo existe realmente. Na filosofia da deficiência, usamos muito a fenomenologia de Merleau –Ponty, que discuti muito mais a experiência do corpo. Pois, Ponty argumenta que o corpo não é apenas um objeto fisco, mas um sujeito perceptivo que constrói significado através da experiencia sensorial. Ou seja, se temos um corpo humano que só é “diferente” por causa de uma condição, não exclui nós como deficientes porque somos um corpo político (social).

Por isso mesmo há um movimento dentro do pensamento de pessoas com deficiência que é: inclusão é um termo político. Porque acaba levando na ideia que esse “corpo político” seja um engajamento (Sartre) de alguma ideologia (como esquerda ou direita), mas, poderemos colocar o “político” no seu sentido original grego, no sentido de socialização do deficiente como um corpo social que interage com essa mesma sociedade. Na proposta dentro da filosofia da deficiência, poderíamos dizer que a discussão se liga em um modelo social da deficiência, que surgem no foco dos impedimentos individuai para possíveis barreiras que são impostas pela sociedade. Assim, a inclusão das pessoas deficiência não seria só uma questão arquitetônica de estruturas acessíveis, mas o reconhecimento da pessoa com deficiência como um sujeito ativo na construção social. Isso exige mudar alguns paradigmas.

Daí poderemos dizer que há uma ontologia da deficiência. A ontologia é um ramo da filosofia que estuda a natureza do ser, da existência e da própria realidade. Na verdade, ontologia faz parte da metafisica e sempre vai buscar respostas a pergunta: “o que significa existir?”. Mas dentro da filosofia da deficiência, pode ir além da visão clínica que pode começar como: “o que seria o corpo com deficiência?”. Ou seja, na ontologia da deficiência a busca é a compreensão da deficiência além das condições biomédicas biológicas ou clínicas, como forma de existência (o ser no mundo) que pode carregar implicações éticas, políticas e sociais. alguns filósofos – e existem filósofos da deficiência – tem como argumento que a deficiência deve ser vista como uma diferença ontológica radical. Filósofos da deficiência como Shelley Tremain e Robert McRuer, tem como argumento que a ontologia da deficiência pode envolver uma crítica às formas tradicionais sobre o corpo e a identidade. Eles acham que de vez de ver a deficiência como um desvio ou uma falta (o corpo perfeito),, pode ser vista como formas legitimas de existência, reforçando a capacidade de reformular conceitos como dependência, capacidade e inclusão.

Dito isso, temos que nos perguntar o porquê o corpo com deficiência tem uma infantilização ou uma visão de doença, como corpos inocentes que (em tese) podem ser usados com facilidade. E o termo “usado” não é exagero. Quando começou a campanha “sim, nós fodemos”, minha crítica era a relativização do sexo como forma de dizer que o corpo com deficiência pode ser “fodido” e então, pode ser sexualizado à vontade. Há relatos de violência contra mulheres com deficiência e isso é um fato, dentro desse estereotipo que se criou para dizer que temos sexualidade – que poderia ser dito em outras formas – se criou uma gama de fetichização do corpo com deficiência como objeto a ser usado. Isso pode ser implicado como a sexualização do nosso corpo como forma de sexualização em um país machista e capacitista.

Ou seja, a hiper-sexialidade dentro da imagem da deficiência, pode ser um nicho de fetichização (como o devotismo, que em tese, só tem devoção dentro do corpo com deficiência), mas pode abrir portas perigosas dentro da realidade. Por que será que as “web putas” se caracterizam de mulheres ingênuas e que tem caracterizações de “menininhas”? Essa pergunta é muito importante para refletimos se queremos ser vistos como pessoas – no sentido de sermos vistos como humanos – ou como objetos? A objetificação do corpo (como propriedade da minha consciência do eu-no-mundo), seria uma violação do direito de existir e tem muitas raízes no capacitismo. Pessoas feias, por exemplo, tinham que aguentar pessoas atirarem objetos em suas faces, pessoas com deficiência eram estigmatizados como pessoas com demônios ou, eram exploradas de todo modo (como eram considerados não humanos, poderiam ser violentados como os animais são ainda hoje).

 

 

Amauri Nolasco Sanches Júnior

sexta-feira, 23 de maio de 2025

REDES SOCIAIS – POR QUE DE TECNOANARQUISMOS SE TRANSFORMOU EM TECNOFASCISMO?

 



Hoje com o tema da tecnicidade como meio de comunicação – que pode ser por meio muito mais ampliado – foi muito mais amplificadas com o advento da internet. Martin Heidegger – morto em 1976 – argumenta em seu famoso artigo, “A questão da técnica”, que a técnica moderna não apenas é um meio para fins diversos ou um fazer humano, mas sim uma forma de desvelamento da realidade. Daí o filosofo alemão introduz no seu pensamento o conceito de engendramento (Gestelt), que tem o significado que a técnica como uma estrutura da nossa percepção. Ou seja, tudo se transforma como algo disponível para uso.

A visão de Heidegger é bem clara: ele argumenta que devemos entender sua essência para evitar que essa técnica nos aprisione em uma visão utilitária do mundo. Ou melhor, deveríamos saber o que a tecnologia nos pode beneficiar e compreender que não devemos ser escravos disso. E assim, poderemos dizer – porque muitos participaram da transição do analógico para a web – que nossas opiniões e conhecimentos diversos, não podem ser moldados diante da tecnologia digital e não das big techs. E assim, tomando por base a essência da tecnicidade como meio e não um fim, poderemos nos perguntar: as big techs são para todos?

Mas, respondendo a pergunta que deu o nome desse artigo, o fenômeno das redes sociais ter migrado deum imaginário “tecnoanarquista” para um possível “tecnofascismo”, seria um resultado de transformações muito profundas de estruturas e politicas no modo como a tecnologia digital são desenvolvidas. Nesse contexto, o que Heidegger argumenta da essência dessa técnica como entendimento para não dominação do ser humano, faz sentido. Assim, as redes sociais como instrumento – que se aprimoraram com a inteligência artificial – são utilizadas dentro de diferentes atores de poder. Alimentando ideologias, ao invés, de fomentar a liberdade.

 O “tecnoanarquismo” foi um termo criado (associado logo depois) nos primórdios da internet, por causa de um ideal onde a tecnologia digital poderia decentralizar do poder, a liberdade de expressão irrestrita, a colaboração horizontal e a autonomia dos indivíduos frente ao ESTADOS e as corporações. Poderia ser chamado como uma utopia – como pareceu depois que legalistas tomaram o controle da internet – que previa comunidades autogeridas, transparência radical e à democratização do acesso à informação. Poderíamos voltar a Platão e nos perguntar: o conhecimento é para todos? Porque a “democratização” do acesso a internet deixou a internet com informações sem fontes, deixou opiniões embasadas em preconceitos (eu chamo de pós-conceitos), e além de tudo, poderemos dizer que a internet começou a ser uma extensão da TV. Talvez, poderíamos ir muito mais a fundo e investigarmos o porque que com o tempo, apareceram dinâmicas que favoreceram o oposto disso: o “tecnofascismo”.

Primeiro, houve mudanças estruturais como as redes sociais foram construídas com estruturas algorítmicas e centralizadas, pois, as big techs passaram a controlar grandes fluxos de informações sempre priorizando assuntos polêmicos, alimentando a polarização e de ódio onde geram mais engajamento. Duas coisas mexem com o gosto do público: sexo e vida alheia.  Mas, tenho convicção que a tecnologia tem um viés muito mais instrumental do que dominador, porque se as redes sociais têm a dinâmica de moldar os assuntos, você também pode moldar os algoritmos como queira. Nesse contexto poderia nos perguntar: por que essa transformação aconteceu? Já que nos primórdios da internet – que muitos tinham como “coisa de adolescente” – muitas discussões muito mais profundas aconteciam e tinham muito mais profundidade intelectual. Sabíamos as fontes.

Mas, ao logo do tempo as estruturas abertas e horizontais foram cooptadas por muitos interesses econômicos – transformando em um braço do capitalismo – e político (polarização), que perceberam nas redes sociais meios mais eficientes de um controle social e manipulação em massa. E isso começa com a ideia algorítmica da questão de atrair pessoas para aquele assunto, o marketing tanto empresarial quanto político, usou isso como um meio de levar ideias sem fontes e produtos que desejamos. Por exemplo, eu como pessoa com deficiência, posso receber varias publicidade de cadeiras de rodas (motorizadas ou não), cooptando meu desejo de ter aquela cadeira de rodas ou um meio político em prol a causa.

Nesse exemplo que eu dei, fica claro que há um direcionamento de anúncios que pode até parecer útil à primeira vista – afinal, ser sugerido algo que se encaixa na sua realidade pode facilitar a busca por produtos ou serviço. Mas há um problema – como toda critica filosófica – esse mecanismo é explorado sem nenhuma transparência ou sem diversidade de opções, ele pode e limita, a liberdade de escolha e até pode reforçar a sensação de necessidade ou desejo artificialmente induzido. Daí poderemos ir além, pois, a promessa de liberdade se transforma em um instrumento de vigilância e liberdade por causa da coleta massiva de dados e o poder dos algoritmos passaram a ser usados para fins autoritários, e não emancipatórios. Indo além, em um olhar mais no viés filosófico, há uma ironia nessa questão: onde se deveria ser um instrumento de emancipação (pelo conhecimento) se converte em um agente de poder e manipulação. Isso pode remeter a críticas clássicas sobre a tecnologia e sociedade, que vai além da técnica (como a de Heidegger), como as críticas de Foucault fez sobre o biopoder e controle social.

A estrutura do “tecnofascismo” acontece sem se exigir um líder central ou uma estrutura organizacional, explorando algoritmos de redes sociais para acirrar polarizações e manter vigilância constante. Ou seja, as redes sociais deixaram de ser vistas como ferramenta emancipatória (pelo conhecimento) e passaram a ser instrumentos de controle, manipulação e opressão, transformando o sonho tecnoanarquista em um tipo de pesadelo tecnofascista. E aí temos que trazer para a discussão as críticas do filosofo Jean Baudrillard onde escreveu e analisou muito a transição entre o mundo analógico e o mundo digital.

Enquanto Heidegger analisa a técnica como um modo de revelação do mundo, Baudrillard explora como a sociedade contemporânea se move para um estado de hiper-realidade, onde as representações substituem o real. Nas redes, poderemos ver isso se manifestar com a criação de identidades, muitas vezes, simuladas onde as pessoas constroem versões idealizadas de si mesmas, na sua maioria, influenciadas por signos (símbolos) e imagens do que pela realidade concreta. Muitas vezes, levada ao um tecnoideologia onde se criam símbolos para representar o mundo onde poderíamos idealizar (no modo libertário da coisa), mas, Baudrillard argumenta que vivemos em um mundo onde os simulacros não apenas representam a realidade, mas substituem completamente, tornando difícil distinguir entre o que é verdadeiro (no sentido genuíno) e o que é apenas uma construção mediática.

Ora, porém tenha colocado que, muitas vezes, as redes sociais tenha o potencial de criar bolhas narrativas, a questão da síntese do texto é moldar o algoritmo segundo a tua crença. E isso remonta a questão da vontade e da indução. Eu chego em um shopping e tenho vontade de tomar um sorvete, ou eu vou em um famoso que tem milhões na fila e não consegui nem entrar (por causa da minha cadeira de rodas), ou vou no que eu tenho mais acesso e não tenho uma fila enorme.  Não poderimos escolher dentro da questão das redes sociais? Por que não poderemos escolher quem sigamos ou informações baratas?

 

 

Amauri Nolasco Sanches Júnior

sexta-feira, 16 de maio de 2025

ESCOLAS ESPECIAIS – AINDA ESSA DISCUSSÃO?

 





Para defender uma “escola especial” ou não, temos que investigar o conceito de deficiência dentro da questão social e não uma questão médica. Porque, se não, cairmos em um limbo de ignorância que recai dentro da essência do capacitismo. E ai que mora o cerne do termo “capacitismo”, o que seria ou não capaz de fazer uma atividade? As indagações do Dr Paulo Liberalesso são até interessantes no sentido de uma discussão séria, mas o grande problema é a questão da generalização dessa questão da escola. A meu ver, escolas deveriam ser neutras em todos os sentidos, dando uma escolaridade de base e tendo como base, uma questão mais de vivência do que clínica.

O intuito do texto é firmar respostas ao Dr Liberalesso para entendemos a questão da discussão da escolaridade desde a infância até adulta. 

 

 A defesa da inclusão escolar é, sem dúvida, um avanço civilizatório. No entanto, quando tratamos de alunos com deficiências graves é fundamental reconhecer que a inclusão plena em escolas regulares, apesar de desejável, nem sempre será a mais adequada ou efetiva para garantir o direito fundamental à educação de todos.

Vamos pensar nesse parágrafo. Sem dúvida nenhuma, quando pensamos em uma inclusão dentro de uma escola, sempre há um avanço muito grande dentro do processo civilizatório. Segundo Platão, o conhecimento nos faz humano e nos caminha até a verdade (que seria, grosso modo, a realidade). E quando houve um sistema onde teria que dar educação para todos, ainda não se deu educação para todos e há outras questões. Aqui no Brasil há uma cultura de escravocratas onde a educação não se deve ser dada ao mais pobre, afinal, por que pobre tem que estudar? Por isso mesmo, escolas tem estruturas podres, caindo aos pedaços e virou reduto de crianças pobres comerem e não aprenderem uma matéria, mesmo que, milhões serem roubados dentro de inúmeros órgãos do governo.

Como respondi no post do Instagram do Dr Paulo, o governo teve 40 anos para fazer melhoras da educação escolar para todo mundo e os deficientes terem uma escolarização inclusiva, então, realmente, que se dane se há ou não estrutura. E ai mora o perigo, se transferimos ou “abafamos” esse tipo de problema, só vai agravar ainda mais. Fora que como estudante de escola especial, sei muito bem os traumas que ficam de não poder ser uma criança humana dentro de um mundo que quando se impõem em verdade, te assusta e questões alarmistas (não pode isso ou aquilo) que essas entidades sempre fizeram e fazem. Pelo que eu sei – posso estar enganado – há mecanismos na própria lei que separa as deficiências graves com as deficiências leves.

 

<<<<As escolas especiais se apresentam, nesse contexto, não como um retrocesso, mas como uma resposta ética, técnica e humana à diversidade das necessidades educacionais  

Elas oferecem recursos específicos, estrutura adaptada e profissionais capacitados para lidar com situações que exigem atenção individualizada e estratégias pedagógicas específicas.

Em muitos casos, são o único espaço em que certos alunos podem desenvolver habilidades básicas de comunicação, autonomia e socialização com dignidade e segurança.>>>

O problema não é a estrutura chamada escola especial, mas o conceito que se firmou em cima dela e sim, é um retrocesso. Como dissemos, há na própria na LBI (Lei Brasileira de Inclusão), mecanismos que são biopsicossociais que separam das deficiências graves com as deficiências leves. Se a criança com deficiência tende a ter uma deficiência grave, se tem escolas ou instituições que existem tudo isso que disse na segunda linha. No mais, as deficiências leves como a minha (paralisia cerebral), tendem a ter consciência dentro de uma realidade. portanto, se colocarmos em uma escola regular, vai estudar como qualquer aluno. Ou não? Ora, muitas pessoas com deficiência nem tiveram contato com outras deficiências até entrarem em movimentos em prol de deficientes.

Até onde sabemos, a consciência dentro de uma realidade vai além do corpo e suas condições e temos que tomar cuidado com esses “recursos especiais” viciarem muitas pessoas a facilitarem essa coisa de adaptação. Uma coisa é aquilo que vivemos (como forma subjetiva) outra coisa é aquilo que é em uma realidade muito mais do que o Dr trabalha.

É um equívoco imaginar que todos os alunos se beneficiarão igualmente da mesma estrutura escolar.

O princípio da equidade, que busca oferecer a cada um aquilo de que realmente precisa, deve prevalecer sobre uma inclusão que seja meramente simbólica.

Inserir o aluno com necessidades complexas em uma escola regular sem os apoios necessários, além de comprometer seu desenvolvimento, pode expô-lo à negligência, à exclusão velada e até à violência.

O único equívoco é esse texto para defender algo que irá ferir até a nossa constituição (educação escolar para todos). Porque se trancarmos todas as crianças com deficiência em escolas especiais de APAEs da vida, vamos criar uma sociedade mais apática e isso, sem dúvida nenhuma, é quase uma ação nazifascista eugenista de trancar aquilo que não se adequa a sociedade. Criando crianças incapazes de viver em sociedade, criando adultos incapazes de viverem por si mesmo, tendo mais gastos para o ESTADO e ainda por cima, criando uma sociedade incapaz de olhar o corpo com deficiência e não ter asco. Se nós convivemos em sociedade já somos atropelados em shoppings, imagina não convivendo em sociedade.

Além de colocar esse tema em discussão em um tom alarmista como <<<comprometer seu desenvolvimento, pode expô-lo à negligência, à exclusão velada e até à violência>>, ignorando que sim, escolas especiais tendem a ter uma violência silenciosa e que muitas vezes, há uma violência psicológica até mesmo familiar. Ou seja, a escola especial não vai trazer uma segurança completa como se houvesse uma redoma igual a israelita, segurando os misseis lançados pela sociedade.

 

 

As escolas especiais não excluem, elas incluem de forma apropriada. São espaços de acolhimento, pertencimento e cuidado, onde o currículo é adaptado à realidade de cada aluno, respeitando seu tempo, suas formas de expressão e seu potencial real de aprendizagem.

Elas também promovem, muitas vezes, a integração com a comunidade, com escolas regulares e com projetos sociais, permitindo formas híbridas e mais sensíveis de inclusão.

 

 

 

Sartre diz no seu ícone livro (O Ser e o Nada) que quando negamos alguma coisa, nadificamos uma realidade para colocarmos outra, Ai esta uma prova cabal disso, onde se coloca uma realidade em cima de uma outra realidade que a que colocou não existe. Quando o Dr Paulo diz que “as escolas especiais não excluem” fico comparando meu pai dizer que o regime militar matou só comunista, era só ficar quieto e esta tudo certinho. Ou em outras palavras, as crianças com deficiência vão ficar em um suposto lugar gostosinho e sem problemas para outras mães não se preocuparem em suas crianças terem que conviver com essas “coisas estranhas” dentro das escolas. E se ele trabalhou 20 anos em uma escola especial, eu fiquei quase o mesmo período na AACD sendo bolinado pela instituição todo o momento como se déssemos prejuízo.

E ai? Será que não temos violência dentro dessas escolas especiais?



quinta-feira, 15 de maio de 2025

VIRGINIA FONSECA NO PAÍS DAS MARAVILHAS

 



A filosofia sempre se propôs em desvendar o lado mais racional dentro da realidade, sendo essa realidade, um numero muito grande de linguagens e objetos de significado. Com o fenômeno da internet – como fenômeno virtual – poderíamos ampliar essa realidade em muito bits de informação que o cérebro, muitas vezes, não consegue processar. Mas, nossa consciência só é consciência se tiver um objeto dessa consciência, seja concerto (res extensa) seja abstrato (res cogitan) que perfaz, segundo Sartre, a imaginação.

Quando vivemos em uma negação do processo da consciência dentro da perspectiva do nada, chamamos de ignorância por ignorar a realidade. E quando ignoramos a realidade se autoenganamos para caber em uma das nossas crenças que aquilo que vivemos ou pensamos viver, tem um fundo de verdade. Mas não tem. Ainda sim poderíamos perguntar: ao ampliar o numero de linguagens e objetos de significados disponíveis, será que a realidade se expande ou apenas nossa percepção dela? Responderia que não. Quando o cérebro não tem informações conexas dentro de uma perspectiva de nexo (ligação), o cérebro processo só informações fáceis. O conhecido “cérebro podre” (brainrot).

Ídolos são esse autoengano e idealizamos pessoas que não agregam nada em nossa vida. Essa negação do aprendizado mais profundo – como um conteúdo mais pasteurizado – tende a ampliar a crítica da indústria cultural. O problema se amplia por causa que o “cultural” não se aplica em uma geração do fútil, uma geração que se orgulha de ser emburrecida. Virginia Fonseca quando foi depor na CPI das BETs, além de quebrar decoro indo de moletom comum e calças jeans, ainda demostrou nossa cultura da ignorância e do patrimonialismo. Só por ela ser uma influenciadora de renome e nora de cantor sertanejo – grande coisa – demonstra a questão mediática que a questão tomou no espetáculo. E sim, se o influencer ganha com a perca do jogador, isso é antiético.

O que seria ética? Ética na etimologia, vem do grego ETHOS que era o caráter do povo grego e o que era ser grego, mas ao traduzir ETHOS para MOS ou no plural MORES, os romanos modificaram por costumes. Hoje dissemos que moral é os costumes sociais e ética é o estudo da moral, e tem ainda outro problema, muitos ainda acham que moral é o mesmo que ética. Não é. A simplificação, exatamente, tem a ver com a ignorância e tem a ver como já vimos, ignorar a realidade. Mas, antes de tudo, existe a má-fé que é um autoengano dentro de uma realidade que se aceitou como verdade. A maioria não quer ter o suficiente, quer o máximo possível para ostentar ao outro.

E isso recai nas mídias sociais como se todo mundo quer dar opinião daquilo que não sane e pior ainda, acham que a vida delas é conteúdo para ser consumido. Isso daria um livro inteiro. Sociedade do espetáculo de Debord? Mesmo não sendo marxista, a crítica marxista dentro da mídia com filósofos marxistas – aqui há varias correntes – pode ser usada com esse caso (bets) ou ate mesmo, se adentrarmos as “web putas” (ou web Jobs), quando você é o produto dentro do ganho. Você vê uma foto ou ver um vídeo pago e você jogar em um site de aposta não seria o mesmo? Você perde muito mais do que você ganha? Debord diz – isso em 1967 – tudo acaba sendo uma imagem e isso reflete muito mais o vazio de significado, dentro da sua vida cotidiana, dentro da sua vida online.

 

Amauri Nolasco Sanches Júnior

(bacharelado de filosofia)

terça-feira, 13 de maio de 2025

ANTICAPACITISMO – PETER JORDAN (EI NERD) TEM RAZÃO

 






Amauri Nolasco Sanches Júnior

 

A verdade é a realidade posta e nada poderemos fazer de fato além de aceitar essa verdade. Mas, até que ponto a verdade é contaminada com a subjetividade de nossas próprias crenças? Porque, quando vemos um objeto, aquele objeto pode ser a consciência de alguma coisa, como diria o filosofo Edmund Husserl (1859-1938). Por outro lado, a subjetividade pode dar a consciência aquilo que as crenças equivalem dentro de uma proposta ou a outra, ou seja, entre aquilo que é o objeto que se impõem a realidade e aquilo que se imagina ser a verdade.

Não vamos usar aqui o termo preconceito, mas pós-conceito, pois, se referimos já não a um conceito preestabelecido dentro de uma situação, e sim, um conceito depois de um julgamento. Já que o conceito é um conceito seria um julgamento depois de uma experiencia de perceber algo, ou melhor, seria um julgamento dentro do conhecimento. O belo e o feio – como formas estéticas idealizadas – são julgamentos o que temos como belo e como temos como feio além disso, o belo e o feio pode sim conter um preconceito (aquilo que você conhece como objeto observado) e o pós-conceito (um conceito já construído). A questão vai muito além, mas isso não nos interessa nessa reflexão.

Peter Jordan (no canal Ei Nerd) trouxe uma constatação muito interessante dessa nova direita (que trouxe em outros textos): essa direita revolucionária (que são rebeldes sem causa e sem estudo nenhum) tendem a enxergar tudo no viés de guerra cultural. Os intelectuais Olavo de Carvalho e Steven Bennon, instalaram uma narrativa que há uma guerra cultural e que essa guerra cultural vem para destruir os valores universais (majoritariamente, dentro da igreja cristã). E, indo muito mais afundo, são ideias distorcidas de uma filosofia muito mais profunda do que mera superficialidade de chamar o coleguinha de comunista ou fascista.

Não há “marxismo cultural”, os próprios marxistas – aqueles que estudam mesmo as obras de Karl Marx – não aceitam as agendas wokes e nem a pauta progressista. Bennon, no contexto americano, tem um pensamento que há um “globalismo” onde há um plano de dominação de término daquilo que tanto construiu as bases da liberdade e da democracia. Não há nada disso. Se vimos os filmes hollywoodianos, vimos características que sempre tiveram e se fomos bastante rigorosos, sempre esteve fretando em estabelecer uma cultura só norte-americana (ou yanque).  Se pegamos a contracultura – desde os hippies que o governo americano introduziu drogas para difamar o movimento – sempre foi mostrada como algo “comunista” e não como algo de libertação e de liberdade. Afinal, poderemos nos perguntar: por que será que tudo que se encaixava em liberdade virou socialismo de repente nos EUA? Os libertários lá são considerados socialistas.

Olavo de Carvalho tem um pensamento construído em cima da sua frustração de não ter sido aceito academicamente. Isso ate Freud (pai da psicanálise) saberia analisar como um recalque. Mas, filosoficamente, Olavo tende a ser um ressentido. O pensamento dele além de simplificado, como o de Bennon, tende a ter vários pós-conceitos dentro da cultura brasileira. A meu ver, o brasileiro médio tende sempre que gostar das coisas simplificada como fáceis de “entender” e ficar repetindo como jargão. Somos a cultura do jargão. Não se gosta de ler coisas complexas porque não temos uma escolaridade ruim, importamos aquilo que não presta, não se sabe nada e se opina tudo. Porque o esforço sempre é ruim. O Olavo de Carvalho reflete esse tipo de pensamento, pois, mesmos que lesse, nunca entendeu coisas complexas como a filosofia moderna e a contemporânea.  Sempre se enveredou em teorias conspiracionistas que eram muito mais fáceis: como Theodor Adorno ter escrito as músicas dos Beatles (tem um texto muito famoso dele criticando o jazz como música infantil) ou coisas do gênero.

 Ser contra uma filosofia ou uma pauta – seja lá qual for – não quer dizer que tenhamos de lhe dar com esse tipo de coisa com estupides. Claro que a extrema-esquerda radicalizada na agenda woke – importante do EUA – vai radicalizando uma inclusão que deveria ter acontecido, mas, os wokes vem usando a filosofia pós-estruturalista que é bem mais complexa. O filosofo Michel Foucault e Jacques Derrida propuseram uma ruptura no modo de linguagem dentro de estruturas conservadoras de linguagem que poderiam, porventura, moldar preconceitos. Por exemplo, pessoas com deficiência diminuiu o capacitismo? Não. Porque o discurso pode reforçar uma discriminação, mas nunca pode determinar ela que tem estruturas que vão além da linguagem. E aí que a extrema-direita transvestida de guardiões da democracia usam esse tipo de coisa como “guerra cultural”, num modo bem simplista, alertando sobre coisas que não existem. Cortinas de fumaça.

A questão do bullying que atriz norte-americana Bella Ramsey vem sofrendo, tem raízes muito além de uma crítica ao cinema, tem a ver com o pós-conceito já construído dentro da direita revolucionaria americana e brasileira. Por que não quebrar esse padrão mental que tanto se pode discriminar outra pessoa? Por que não estudar sobre o assunto ao invés de atacar pessoas desse modo? 

quinta-feira, 8 de maio de 2025

NATALIA GRACE, UMA PSICOPATA?

 





Amauri Nolasco Sanches Júnior

 

 

Meu primeiro livro com minha nova foi “Liberdade e Deficiência” que foi bastante significativo e mostra como – eu e ela, de alguma forma – presamos a liberdade e toda a questão da deficiência enquanto libertar das amarras sociais. Para entender isso temos que entender duas coisas: (1) o que é liberdade enquanto seres autônomos? (2) o que seria deficiência como corpo diferente dos outros seres humanos, por causa de uma condição? Pois, a meu ver, a deficiência não muda nosso pertencimento da espécie sapiens e não muda nosso DNA. Será que isso não deve ter gerado tantas lendas?

Quando olhamos o caso de Natalia Grace – que tem um tipo raro de nanismo – podemos imaginar como humanos pré-históricos olhando crianças abandonadas com tipos de deficiência como esta e imaginando “seres monstruosos”. Talvez, isso tenha ficado no inconsciente coletivo como que quem tivesse alguma deficiência, tivesse alguma “monstruosidade”. Mas, nações gregas – como mostram pesquisas recentes que geraram bastantes debates – que antes pensávamos que matariam pessoas com deficiência, poderiam não ter matado. Como pinturas de Hefesto (o deus coxo da metalúrgica) em cadeira de rodas, nenhum esqueleto deformado encontrado em poços ou em outros lugares. Ora, então de onde vem a rejeição tão difundida?

Segundo o documentário “O Curioso caso de Natalia Grace” podemos destacar que o caso já começa capacitista quando médicos europeus do interior da Ucrânia (devastada pela Rússia) convencem a mãe biológica a doar para a adoção. Argumento? Foi: “não jogue sua juventude fora”, ou seja, “sua juventude” era muito mais importante do que aquele ser humano descartado por causa da condição de deficiência. Mas, o caso pode ser de puro interesse financeiro de vender para adoção em nome de uma suposta liberdade como se um ser humano fosse um ser qualquer (hoje nem animais são tratados assim). Mas, o histórico europeu transvestido de liberdade liberal – e no fundo, é uma eugenia disfarçada – vem liberando abortos de crianças com tendencias com Síndrome de Down. Ora, ter tendencia é ter a probabilidade de ter uma síndrome e não quer dizer, uma certeza.

Isso começou com os latinos, a mãe de Claudio I – padrasto de Nero – chamava ele de “monstro” ou “estupido” por causa da sua deficiência. Isso mostra que muitos preconceitos – como a raça superior também veio dos romanos – vieram de uma visão distorcida estética dentro da ideia de a felicidade como ter autonomia e corpos perfeitos. Claudio governou Roma aclamado, mesmo com tal deficiência e isso pode nos trazer pistas, sobre o capacitismo dentro da estrutura humana dentro do prognóstico de uma cultura nascida em sague e gloria. Os Estados Unidos da América não é diferente, nasceram de uma insurgência de libertar o povo da Nova Inglaterra dos impostos abusivos. Mas, dentro da cultura puritana – radicais protestantes – há uma grande tendencia a moralidade (muitas vezes, demagógica).

A violência norte-americana não vem só das suas “supostas” intervenções em nome de uma suposta liberdade. Quando assistimos o documentário e a seria da Star+, “Uma Família Perfeita”, vimos que a adoção da Natalia Grace foi muito estranha. Os Barnetts a transformaram em adulta e puseram ela para morar em um apartamento sozinha, quando tinha 8 anos de idade. Pelas fotos, quem dissesse que a Natalia fosse adulta, eu diria que tinha grande tendencia de uma deficiência mental. E há uma coisa bastante interessante, muitas coisas levam que Kristine Barnett era a grande abusiva da história, que nos traz várias perguntas: por que a sociedade americana existem tantas pessoas abusivas e de moralismo exagerado? Como dissemos, há uma forte tendencia dentro de uma tradição de valores puritanos e individualistas (não longe do utilitarismo), o que poderia levar a julgamentos severos sobre comportamentos e normas sociais. Outra coisa é que, o sistema jurídico americano é mediático e frequentemente amplifica casos polêmicos.

Como as lendas – de anões que são demônios ou pessoas deformadas com pacto com o demônio – Natalia foi transformada em uma “anã” com tendencias adultas (como o filme A Órfã) que reforçam as lendas antigas e medievais. Ou seja, aquela menina é “possuída” – como alguns vizinho do apartamento diziam dela – e deveria ter tendencia a matar Kristine enquanto ela não vê. Como dissemos, desde o começo está errado e mostra o capacitismo. Qual candidato a qualquer governo – seja direita ou esquerda – falam de pessoas com deficiência? Muito me surpreendeu a família atual de Natalia – que também tem nanismo e deveria ser a primeira família que deveria ter adotado Natalia – que desconfia de famílias sem deficiência e que poderia usar esses deficientes como renda extra. Chocados? Não é novidade na história humana.

Muitas famílias pobres antigas e medievais – até mendigos – pegavam crianças com deformidade para pedir esmolas em templos (antiguidade) ou em igrejas (era medieval). A questão vai além do liberalismo econômico e o capitalismo – como alguns apontam – mas dentro da história com o estereotipo perfeito e produtivo que não poderia ser de outro modo (dizendo que eram demônios). Por outro lado, isso vai muito além, pois, temos tendencias biológicas de rejeitar o diferente como algo que não é da nossa espécie. Além disso, o poder teve que inserir essas ideias para eliminar corpos ou porque atrasariam o clã, ou porque não poderiam ser cuidados todo tempo. Só que tem um outro porem, estamos na era tecnológica onde uma roupa com eletrodos fez uma moça ficar em pé. Pessoas com Síndrome de Down são jornalistas, são modelos, são pessoas iguais como humanas e podem trabalhar e produzir quando recebem o tratamento adequado. O capacitismo nasce de uma visão do corpo como um objeto de autonomia da consciência, mas além disso, há a visão da deficiência como um corpo não são (saudável). Ou seja, a deficiência é o caos e o corpo perfeito é a harmonia.

Tenho tendencia de ver uma realidade calcada dentro da fenomenologia (criada pelo filosofo Edmund Husserl que é muito usada para a filosofia da deficiência), onde não há consciência sem um objeto. Para Husserl, a consciência é sempre intencional, ou melhor, ela sempre se dirige a um objeto, seja ele físico, mental ou mesmo ideal. Nenhuma experiencia consciente existe isoladamente, mas sempre está relacionada a algo que é apresentado a consciência. Ou seja, em um contexto da filosofia da deficiência, essa abordagem pode permitir compreender a vivência subjetiva da pessoa com deficiência, indo além de definições médicas ou sociais, e focando na forma como o fenômeno da deficiência se apresenta à consciência do individuo dos outros.

Portanto, liberdade é muito, muito mais do que uma autonomia do corpo, muito mais do que subir uma escada, saber fazer as coisas. Mas sim, poder ter adaptações do mundo para fazer essas coisas e respeitar o corpo como um agente que existe com a realidade e o fenômeno dos objetos. Transformar o corpo em objeto – usável e descartável – se intensificou com a individualização, porem, a coletivização – no caso capacitista – não se encontra com tanta diferença como o individualismo. Falar em deficiência não vende revista ou jornal e ate mesmo, não dá voto. O caso piora com a polarização.

O caso de Natalia Grace é muito mais do que uma história horrível e capacitista por natureza, é também uma denúncia a natureza social humana.

sábado, 3 de maio de 2025

RESISTENCIA PCD (LUTA CONTRA A REDUÇÃO DA LBI)

 

 




"Minha consciência me pertence, minha justiça me pertence e minha liberdade é soberana",

 Pierre-Joseph Proudhon

 

 

Mesmo eu ter escrito um manifesto em defesa a Lei Brasileira de Inclusão (link AQUI) gostaria de escrever outro texto sobre a resistência PCD que deve ocorrer.

 

Tudo movimento das pessoas com deficiência – que não tem nenhuma representação política no Brasil – deveria esquecer as diferenças ideológicas e nos unir em uma causa. Quem pergunta em páginas de lojas de cadeiras de rodas “qual o valor?” como se quisesse comprar ou teria condições, é um mentiroso e deveria sentir vergonha disso. Muitos deficientes deveriam olhar dentro de si e se perguntar: onde estar meus direitos? Onde esta o meu estudo? Onde está meu trabalho? Mesmo com uma Lei que garanta tudo isso e querem reduzir por causa de reacionários que acham que antigamente era melhor, com inflações inúmeras, com pessoas com deficiência em entidades nos usando para ganhar dinheiro e nós sendo cobaias.

Os deficientes brasileiros sempre foram a escoria social, ora porque o brasileiro nunca gostou de planejamento ou organização (demora muito, dizem muitos), ora porque é muito mais fácil nos trancar dentro de casa do que acessibilizar. Fora que o brasileiro médio não entendeu, se temos prioridade na fila é por causa da agilidade e se temos vagas em estacionamentos, é por causa da agilidade e as pessoas possam parar o carro sem esperar a saída e a entrada de cadeirantes, por exemplo. Não é privilégio. As empresas brasileiras nunca quiseram empregar as pessoas com deficiência – nem empresas da mídia – porque sempre tiveram uma visão estética muito antiga. As empresas mais atualizadas – fora – já pensam a mão de obra está além do nosso corpo. Não empregam naquilo que somos formados.

“Nada sobre nós sem nós” deveria ser a frase central dessa luta, onde mães não conseguem escolas para crianças deficientes ou autistas, deficientes não recebem BPC (Benefício de Prestação Continuada), entre outras coisas, que o deficiente não pode fazer porque não é um pais acessível. Um cachorro tem mais direito de entrar em um shopping, do que um deficiente cadeirante que é atropelado pela multidão enlouquecida. Cadê nosso direito humano da vida? Vamos achar que essas pessoas nos dite como devemos viver, sair ou aproveitar a vida? A deficiência em si nunca deve ser vista como um empecilho da vida, um empecilho para luta politica dentro das classes dos excluídos. Mesmo que, em muitos aspectos, movimentos sociais são ressentidos e não querem direitos adquiridos ou não, querem vingança e criar morais que retrocedam aqueles que conseguiram. Não. Devemos olhar para aqueles como um exemplo, não de superar nada – pois, não temos obrigação de mostrar nada para a sociedade – mas como aquele que pode nos mostrar o caminho.

Essa união tem importância agora.

sexta-feira, 2 de maio de 2025

EFEITO LADY GAGA



Depois de reinaugurar meu blog, por que não falar a verdade? Afinal, esse blog nasceu Resistencia.

 

Na etimologia, fã veio de fanático que tem a ver com pessoas radicais que se fanatizam por uma figura pública. Com o show da cantora Lady Gaga – pago pela prefeitura do RJ – muitas pessoas estão na frente do hotel com fraldas, gritando para ela sair e se apresentar aos fãs. Como diz o comentarista musical, Regis Tadeu – que me bloqueou – todo fa, no fundo, é um perfeito idiota e deveria se tocar que artistas não são produtos da sua idealização. Chegaram, ate mesmo, serem assaltados.

Afinal, ate que ponto essa idolatria é saudável? Tenho um amigo – de muitos anos – que dizia ouvir só Elvis Presley e Roupa Nova e mais nada. Não sei se faz isso hoje em dia, mas essa atitude demonstra como ele é, se isolando porque não convenceu um movimento daquilo que lutava. Sempre dizia: “eu sempre estuve sozinho”. Essa solidão é reforçada por razões da deficiência, não ter um pai presente (por ele ter morrido quando esse amigo era bem pequeno) e por causa dos bullyings que sofreu do motorista que tivermos na AACD. Será que via na figura de Elvis algo paterno ou algo que remetesse alguma lembrança afetiva?

Essa questão remontam vários fatores preponderantes dentro da nossa cultura contemporânea. Talvez, meu amigo tenha encontrado algum refugio nessas figuras como se essas musicas fossem um porto seguro emocional. E assim, muitas vezes, eles criam uma ligação intensa com um artista por necessidade de preencher algumas lacunas afetivas ou criar uma sensação de pertencimento. Mesmo não admitindo, esse mesmo amigo teve dificuldade de conquistas, dificuldade de socialização e uma enorme dificuldade de se desligar um pouco do ambiente familiar. Mas, será que isso tem a ver com a deficiência e a ideia de coitadismo que ronda a questão do segmento de PCDs? Não. Tem a ver com dois fatores freudianos que lançam dúvidas da questão da autogovernança de si mesmo: o principio do prazer e do medo.

O princípio do prazer e do medo, segundo Freud, seriam forças essenciais que podem influenciar a forma como tomamos decisões e como lidar com o mundo ao nosso redor. Assim, o prazer faria com que busquemos experiencias que nos tragam satisfação e evitam sofrimento – como diríamos, a dor inevitável – enquanto o medo pode atuar como um freio, nos protegendo de riscos e incertezas. Talvez – não só meu amigo – tenha nessas figuras algo que de alguma segurança em um mundo inseguro e incerto. Pois, afinal, o ser humano está numa realidade contingente e é um ser contingente em mudanças de linguagem e cultura.

E ai chegamos em dois novos pontos: o que seria realidade (no sentido de fatos) e o que é a existência. Porque, quando você elege um ídolo – seja qual for – você começa a ver uma outra realidade em nome do seu prazer (sensação de conforto) e a eliminação do medo (sensação de segurança). Mesmo que não há consciência sem o objeto, o objeto pode estar viciado (fetiche) em conceitos que você mesmo construiu; principalmente, quando esse ídolo é humano. Existe a verdade (no sentido de realidade) onde a pessoa é o que é e não daquilo que você construiu como conceito, exigindo assim, você perceber a sua existência e a existência do outro.

O ídolo só é uma ideia daquilo que achamos certo e no fundo, não é certo e nem a realidade.

quinta-feira, 1 de maio de 2025

MINHA ALMA ANARQUISTA

 





Única coisa que preso na minha vida é minha liberdade.

 

Imagina uma pessoa com deficiência que sempre dependeu de transporte ruim, que sempre minha mãe teve que ir em pé comigo no colo. Ou, instituições que mais sugaram o dinheiro suado do meu pai para eu adulto, descobrir que o que diziam que eu tinha não era verdade. Não ter uma adolescência descente porque eu tinha que ir em uma oficina – que era mais um deposito de deficientes – que me prometeu em me ensinar a trabalhar (não ensinava nada) e ainda sugava todo o dinheiro do meu pai mais uma vez. Quando não apoiamos seu show teletonico, nos expulsaram como cães que não servem mais.

Nesse interim, aprendi a valorizar a minha liberdade de um jeito que ninguém tira ela de mim mais. Comecei a construir meu pensamento em sistemas anarquistas, mas, com vieses nietzschianos do ubermech (além-do-homem), onde toda teoria anarquista comunista era calcadas no ressentimento dentro daquilo que Nietzsche chamava de moral de rebanho. Ou seja, não se consegue ser o que o mais forte, o que entenderam como é a realidade, o real impulsiona a vida e a energia vital se torna a vontade de potência. Mas, muitos querem o caminho mais rápido – que Cristo chamou de caminho estreito – e querem impor a moral dos ressentidos, portanto, a moral que aniquila os fortes que souberam estudar.

Não que deixei de ser libertário por causa de apropriações dos anarcocapitalistas reacionários se apropriarem de pautas libertarias para defender políticos – como ANCAPSU etc – mas, além da questão da propriedade privada (que o anarquismo clássico rejeita), somos todos anarquistas contra o poder autoritário. Se aprendi que a liberdade é algo inegociável – liberdade ainda que tardia – é porque a sociedade teve a ideia condicionada de uma liberdade que não existe. Quem não quer montar seu negócio próprio sem burocracias ou o governo te enchendo o saco? Queremos tratamentos descentes, coisas de qualidade – como, no meu caso, cadeiras de rodas mais baratas – sem a exploração de preços por causa de impostos, por exemplo.

No mais, o anarquismo em sua essência (em todas as suas vertentes), sempre tendem a serem armas ideológicas de resistência contra governos fracos e exploradores querem sempre o poder e o dinheiro acima do interesse de todos. São psicopatas políticos que acham que o mundo é deles. Mas, deixamos uma pergunta bastante sincera: qual governo ou político fez alguma coisa por nós em toda a história da redemocratização? Precisamos romper a dependência de ídolos (figuras heroicas), para se autogovernar e entender que o importante é a liberdade.  

quinta-feira, 20 de março de 2025

UM LIBERTARIO NÃO BOLSONARISTA

 


Amauri Nolasco Sanches Júnior

- BACHAREL EM FILOSOFIA

Exatamente. Misturam todas os ideologias para criar uma própria. O mesmo ocorre com a religião. É como jogar FIFA com metade do time do Barcelona com a outra metade do real Madrid e chamar o time Real Barcelona ou Barcelomadrid

 (The Old Square)

Esse é um comentário de um amigo que fiz no X, onde temos interesses filosóficos e espirituais muito parecidos. Mas, esse comentário é uma derivação do comentário que eu comentei do comentário dele sobre meu texto sobre libertarianismo e anarquismo. Como me disseram que estou muito superficial nas minhas análises, vamos o aprofundamento de várias visões que eu tenho sobre o libertarianismo, anarquismo e o bolsonarismo (um pouco do petismo esquerdista).

Eu disse que o libertarianismo acredita não em uma revolução armada (como os anarquistas da corrente de Bakunin), mas em uma mudança progressista do mundo com a melhoria do mesmo com o capitalismo. Muitos ditos libertários – são muito mais ANCAPs ou liberais que não querem pagar impostos – acham que devem ser conservadores, e isso, é um grave erro. Primeiro, confundem conservadorismo com tradicionalismo, depois, se você busca mudanças, você não quer mais o mundo como esta.

Há uma distinção entre o libertarianismo e o anarcocapitalismo (ANCAP) muito importante, especialmente, porque muitas vezes as pessoas agrupam essas correntes como se fossem uma só. Mas não são. Como, por exemplo, o libertarianismo tendem a buscar uma transformação progressiva e acredita na capacidade da mudança do capitalismo de melhora do mundo, enquanto os anarcocapitalistas tem a tendencia de adotar uma postura mais radical e, muitas vezes, conservadora. Mesmo que acreditem que deva eliminar o ESTADO de uma vez, coisa que o libertarianismo minarquista não concorda.

Ainda, se não bastasse essa confusão, há a confusão entre o conservadorismo e o tradicionalismo que merece um destaque quando escrevemos sobre isso. Porque, em essência, o conservadorismo busca preservar certos valores e instituições, mas não necessariamente não aceita certas mudanças. Só não aceita rupturas repentinas. Já o tradicionalismo – que no bolsonarismo veio do Olavo de Carvalho – muito mais rígido, foca em manter práticas e costumes históricos. Geralmente, falando filosoficamente, um tradicionalista não busca tradições em sua essência, mas tendem a ter sempre uma visão reacionária. Isso faz que se alguém que deseja mudanças e adota uma postura conservadora ou tradicionalista, pode acabar em um paradoxo, como vimos lá atras.

Por que acontece isso dentro das ideologias políticas? Por preguiça de pesquisar e encontrar, como na maioria das vezes, coisas muito diferentes daquilo que se acredita. E crenças não são racionalidades, são ídolos como disse Bacon. Francis Bacon – em sua obra Novum Organon – descreveu como “ídolos”, vários obstáculos que temos quanto ao pensamento racional e à busca do conhecimento. Esses “ídolos” são preconceitos ou falsas crenças que podem interferir na nossa capacidade de compreender o mundo de forma objetiva.

Dentro das ideologias políticas, isso parece bastante evidente. Isso tem a ver, muitas vezes, com que as pessoas se apegam para reforçarem suas crenças., em vez de ter um confronto com as reais informações desafiem essas crenças. é muito mais confortável, mas limita o crescimento intelectual e a capacidade do diálogo. Mas, mesmo que não se queira pesquisar ou tenha preguiça de fazê-lo, há uma negação muito forte dentro das redes, onde muitas pessoas são prejudicadas por causa que disseram o que a pessoa não concorda e foram denunciadas.

Minha posição é bem clara e já expus ela no blog, mas, por que não sou bolsonarista ou petista?

Embora a maioria dos ditos libertários são contra liberdade – por serem bolsonaristas, já que Rothbard disse que os libertários também combatem o conservadorismo americano e aqui deveria também combate o bolsonarismo – estou sempre no lado da verdade e da justiça, além, da liberdade. Ter liberdade não é ficar preso em um lado ideológico, mas apoiar aquilo que é verdadeiro sem lidar com ideologias escravas que já são prontas e sem visar o bem e a justiça, além disso, ser filosofo é libertar a consciência humana das amarras conceituais.

Sabemos que existem bolsonaristas que cegamente – porque são crentes como todo mundo idiotizado – atacam deficiências, o modo que escrevemos e o porquê acreditamos em algo. Como os petistas dizem que quem não apoia o Lula é fascista (o fascismo e o nazismo seriam muito mais complexos do que os anarquistas de araque dizem), os bolsonaristas dizem que quem não acredita no Bolsonaro é um comunista (como se soubessem o que é o comunismo em sua essência ideológica).

Podem me chamar de “isentão” ou “intergaláctico”, mas eu continuo apoiando a ideia que político é funcionário público.