terça-feira, 27 de maio de 2025

A HIPER-SEXUALIDADE DO CORPO COM DEFICIÊNCIA

 

 





Nesse blog, eu já discuti a questão das chamadas “web putas” – termo cunhado por uma delas, para não me chamarem de machista – onde há uma elite econômica crescendo e elas vão sim, ser a elite do futuro mesmo que a sociedade não aceite. Mas, vamos nos ater em uma analise muito mais profunda, do uso de filtros de pessoas com síndrome de Down para vender seus conteúdos adultos dentro da perspectiva da hiper- sexualização do corpo com deficiência, que abre um paradoxo muito curioso dentro da nossa cultura: ao mesmo tempo que há uma infantilização da pessoa com deficiência com sua sexualidade, há ao mesmo tempo, uma fetichização do corpo deficiente dentro de nichos (o devoteismo é um deles) onde pode causar um aumento (que já é grande) de casos de assedio e violência com a pessoa com deficiência.

Mas, temos que entrar primeiro no corpo enquanto existência e a consciência enquanto ex-sistência.  Desde Descartes com seu axioma famoso “penso, logo sou” (na verdade, a tradução errou porque é “sou” e não “existo”), temos o corpo como “coisa existente” e a consciência como “coisa pensante”, onde eu percebo minha existência dentro da consciência da percepção do existir. Se eu percebo que estou escrevendo esse texto, é porque estou interagindo com a realidade, sempre sendo cético se aquilo existe realmente. Na filosofia da deficiência, usamos muito a fenomenologia de Merleau –Ponty, que discuti muito mais a experiência do corpo. Pois, Ponty argumenta que o corpo não é apenas um objeto fisco, mas um sujeito perceptivo que constrói significado através da experiencia sensorial. Ou seja, se temos um corpo humano que só é “diferente” por causa de uma condição, não exclui nós como deficientes porque somos um corpo político (social).

Por isso mesmo há um movimento dentro do pensamento de pessoas com deficiência que é: inclusão é um termo político. Porque acaba levando na ideia que esse “corpo político” seja um engajamento (Sartre) de alguma ideologia (como esquerda ou direita), mas, poderemos colocar o “político” no seu sentido original grego, no sentido de socialização do deficiente como um corpo social que interage com essa mesma sociedade. Na proposta dentro da filosofia da deficiência, poderíamos dizer que a discussão se liga em um modelo social da deficiência, que surgem no foco dos impedimentos individuai para possíveis barreiras que são impostas pela sociedade. Assim, a inclusão das pessoas deficiência não seria só uma questão arquitetônica de estruturas acessíveis, mas o reconhecimento da pessoa com deficiência como um sujeito ativo na construção social. Isso exige mudar alguns paradigmas.

Daí poderemos dizer que há uma ontologia da deficiência. A ontologia é um ramo da filosofia que estuda a natureza do ser, da existência e da própria realidade. Na verdade, ontologia faz parte da metafisica e sempre vai buscar respostas a pergunta: “o que significa existir?”. Mas dentro da filosofia da deficiência, pode ir além da visão clínica que pode começar como: “o que seria o corpo com deficiência?”. Ou seja, na ontologia da deficiência a busca é a compreensão da deficiência além das condições biomédicas biológicas ou clínicas, como forma de existência (o ser no mundo) que pode carregar implicações éticas, políticas e sociais. alguns filósofos – e existem filósofos da deficiência – tem como argumento que a deficiência deve ser vista como uma diferença ontológica radical. Filósofos da deficiência como Shelley Tremain e Robert McRuer, tem como argumento que a ontologia da deficiência pode envolver uma crítica às formas tradicionais sobre o corpo e a identidade. Eles acham que de vez de ver a deficiência como um desvio ou uma falta (o corpo perfeito),, pode ser vista como formas legitimas de existência, reforçando a capacidade de reformular conceitos como dependência, capacidade e inclusão.

Dito isso, temos que nos perguntar o porquê o corpo com deficiência tem uma infantilização ou uma visão de doença, como corpos inocentes que (em tese) podem ser usados com facilidade. E o termo “usado” não é exagero. Quando começou a campanha “sim, nós fodemos”, minha crítica era a relativização do sexo como forma de dizer que o corpo com deficiência pode ser “fodido” e então, pode ser sexualizado à vontade. Há relatos de violência contra mulheres com deficiência e isso é um fato, dentro desse estereotipo que se criou para dizer que temos sexualidade – que poderia ser dito em outras formas – se criou uma gama de fetichização do corpo com deficiência como objeto a ser usado. Isso pode ser implicado como a sexualização do nosso corpo como forma de sexualização em um país machista e capacitista.

Ou seja, a hiper-sexialidade dentro da imagem da deficiência, pode ser um nicho de fetichização (como o devotismo, que em tese, só tem devoção dentro do corpo com deficiência), mas pode abrir portas perigosas dentro da realidade. Por que será que as “web putas” se caracterizam de mulheres ingênuas e que tem caracterizações de “menininhas”? Essa pergunta é muito importante para refletimos se queremos ser vistos como pessoas – no sentido de sermos vistos como humanos – ou como objetos? A objetificação do corpo (como propriedade da minha consciência do eu-no-mundo), seria uma violação do direito de existir e tem muitas raízes no capacitismo. Pessoas feias, por exemplo, tinham que aguentar pessoas atirarem objetos em suas faces, pessoas com deficiência eram estigmatizados como pessoas com demônios ou, eram exploradas de todo modo (como eram considerados não humanos, poderiam ser violentados como os animais são ainda hoje).

 

 

Amauri Nolasco Sanches Júnior

sexta-feira, 23 de maio de 2025

REDES SOCIAIS – POR QUE DE TECNOANARQUISMOS SE TRANSFORMOU EM TECNOFASCISMO?

 



Hoje com o tema da tecnicidade como meio de comunicação – que pode ser por meio muito mais ampliado – foi muito mais amplificadas com o advento da internet. Martin Heidegger – morto em 1976 – argumenta em seu famoso artigo, “A questão da técnica”, que a técnica moderna não apenas é um meio para fins diversos ou um fazer humano, mas sim uma forma de desvelamento da realidade. Daí o filosofo alemão introduz no seu pensamento o conceito de engendramento (Gestelt), que tem o significado que a técnica como uma estrutura da nossa percepção. Ou seja, tudo se transforma como algo disponível para uso.

A visão de Heidegger é bem clara: ele argumenta que devemos entender sua essência para evitar que essa técnica nos aprisione em uma visão utilitária do mundo. Ou melhor, deveríamos saber o que a tecnologia nos pode beneficiar e compreender que não devemos ser escravos disso. E assim, poderemos dizer – porque muitos participaram da transição do analógico para a web – que nossas opiniões e conhecimentos diversos, não podem ser moldados diante da tecnologia digital e não das big techs. E assim, tomando por base a essência da tecnicidade como meio e não um fim, poderemos nos perguntar: as big techs são para todos?

Mas, respondendo a pergunta que deu o nome desse artigo, o fenômeno das redes sociais ter migrado deum imaginário “tecnoanarquista” para um possível “tecnofascismo”, seria um resultado de transformações muito profundas de estruturas e politicas no modo como a tecnologia digital são desenvolvidas. Nesse contexto, o que Heidegger argumenta da essência dessa técnica como entendimento para não dominação do ser humano, faz sentido. Assim, as redes sociais como instrumento – que se aprimoraram com a inteligência artificial – são utilizadas dentro de diferentes atores de poder. Alimentando ideologias, ao invés, de fomentar a liberdade.

 O “tecnoanarquismo” foi um termo criado (associado logo depois) nos primórdios da internet, por causa de um ideal onde a tecnologia digital poderia decentralizar do poder, a liberdade de expressão irrestrita, a colaboração horizontal e a autonomia dos indivíduos frente ao ESTADOS e as corporações. Poderia ser chamado como uma utopia – como pareceu depois que legalistas tomaram o controle da internet – que previa comunidades autogeridas, transparência radical e à democratização do acesso à informação. Poderíamos voltar a Platão e nos perguntar: o conhecimento é para todos? Porque a “democratização” do acesso a internet deixou a internet com informações sem fontes, deixou opiniões embasadas em preconceitos (eu chamo de pós-conceitos), e além de tudo, poderemos dizer que a internet começou a ser uma extensão da TV. Talvez, poderíamos ir muito mais a fundo e investigarmos o porque que com o tempo, apareceram dinâmicas que favoreceram o oposto disso: o “tecnofascismo”.

Primeiro, houve mudanças estruturais como as redes sociais foram construídas com estruturas algorítmicas e centralizadas, pois, as big techs passaram a controlar grandes fluxos de informações sempre priorizando assuntos polêmicos, alimentando a polarização e de ódio onde geram mais engajamento. Duas coisas mexem com o gosto do público: sexo e vida alheia.  Mas, tenho convicção que a tecnologia tem um viés muito mais instrumental do que dominador, porque se as redes sociais têm a dinâmica de moldar os assuntos, você também pode moldar os algoritmos como queira. Nesse contexto poderia nos perguntar: por que essa transformação aconteceu? Já que nos primórdios da internet – que muitos tinham como “coisa de adolescente” – muitas discussões muito mais profundas aconteciam e tinham muito mais profundidade intelectual. Sabíamos as fontes.

Mas, ao logo do tempo as estruturas abertas e horizontais foram cooptadas por muitos interesses econômicos – transformando em um braço do capitalismo – e político (polarização), que perceberam nas redes sociais meios mais eficientes de um controle social e manipulação em massa. E isso começa com a ideia algorítmica da questão de atrair pessoas para aquele assunto, o marketing tanto empresarial quanto político, usou isso como um meio de levar ideias sem fontes e produtos que desejamos. Por exemplo, eu como pessoa com deficiência, posso receber varias publicidade de cadeiras de rodas (motorizadas ou não), cooptando meu desejo de ter aquela cadeira de rodas ou um meio político em prol a causa.

Nesse exemplo que eu dei, fica claro que há um direcionamento de anúncios que pode até parecer útil à primeira vista – afinal, ser sugerido algo que se encaixa na sua realidade pode facilitar a busca por produtos ou serviço. Mas há um problema – como toda critica filosófica – esse mecanismo é explorado sem nenhuma transparência ou sem diversidade de opções, ele pode e limita, a liberdade de escolha e até pode reforçar a sensação de necessidade ou desejo artificialmente induzido. Daí poderemos ir além, pois, a promessa de liberdade se transforma em um instrumento de vigilância e liberdade por causa da coleta massiva de dados e o poder dos algoritmos passaram a ser usados para fins autoritários, e não emancipatórios. Indo além, em um olhar mais no viés filosófico, há uma ironia nessa questão: onde se deveria ser um instrumento de emancipação (pelo conhecimento) se converte em um agente de poder e manipulação. Isso pode remeter a críticas clássicas sobre a tecnologia e sociedade, que vai além da técnica (como a de Heidegger), como as críticas de Foucault fez sobre o biopoder e controle social.

A estrutura do “tecnofascismo” acontece sem se exigir um líder central ou uma estrutura organizacional, explorando algoritmos de redes sociais para acirrar polarizações e manter vigilância constante. Ou seja, as redes sociais deixaram de ser vistas como ferramenta emancipatória (pelo conhecimento) e passaram a ser instrumentos de controle, manipulação e opressão, transformando o sonho tecnoanarquista em um tipo de pesadelo tecnofascista. E aí temos que trazer para a discussão as críticas do filosofo Jean Baudrillard onde escreveu e analisou muito a transição entre o mundo analógico e o mundo digital.

Enquanto Heidegger analisa a técnica como um modo de revelação do mundo, Baudrillard explora como a sociedade contemporânea se move para um estado de hiper-realidade, onde as representações substituem o real. Nas redes, poderemos ver isso se manifestar com a criação de identidades, muitas vezes, simuladas onde as pessoas constroem versões idealizadas de si mesmas, na sua maioria, influenciadas por signos (símbolos) e imagens do que pela realidade concreta. Muitas vezes, levada ao um tecnoideologia onde se criam símbolos para representar o mundo onde poderíamos idealizar (no modo libertário da coisa), mas, Baudrillard argumenta que vivemos em um mundo onde os simulacros não apenas representam a realidade, mas substituem completamente, tornando difícil distinguir entre o que é verdadeiro (no sentido genuíno) e o que é apenas uma construção mediática.

Ora, porém tenha colocado que, muitas vezes, as redes sociais tenha o potencial de criar bolhas narrativas, a questão da síntese do texto é moldar o algoritmo segundo a tua crença. E isso remonta a questão da vontade e da indução. Eu chego em um shopping e tenho vontade de tomar um sorvete, ou eu vou em um famoso que tem milhões na fila e não consegui nem entrar (por causa da minha cadeira de rodas), ou vou no que eu tenho mais acesso e não tenho uma fila enorme.  Não poderimos escolher dentro da questão das redes sociais? Por que não poderemos escolher quem sigamos ou informações baratas?

 

 

Amauri Nolasco Sanches Júnior

sexta-feira, 16 de maio de 2025

ESCOLAS ESPECIAIS – AINDA ESSA DISCUSSÃO?

 





Para defender uma “escola especial” ou não, temos que investigar o conceito de deficiência dentro da questão social e não uma questão médica. Porque, se não, cairmos em um limbo de ignorância que recai dentro da essência do capacitismo. E ai que mora o cerne do termo “capacitismo”, o que seria ou não capaz de fazer uma atividade? As indagações do Dr Paulo Liberalesso são até interessantes no sentido de uma discussão séria, mas o grande problema é a questão da generalização dessa questão da escola. A meu ver, escolas deveriam ser neutras em todos os sentidos, dando uma escolaridade de base e tendo como base, uma questão mais de vivência do que clínica.

O intuito do texto é firmar respostas ao Dr Liberalesso para entendemos a questão da discussão da escolaridade desde a infância até adulta. 

 

 A defesa da inclusão escolar é, sem dúvida, um avanço civilizatório. No entanto, quando tratamos de alunos com deficiências graves é fundamental reconhecer que a inclusão plena em escolas regulares, apesar de desejável, nem sempre será a mais adequada ou efetiva para garantir o direito fundamental à educação de todos.

Vamos pensar nesse parágrafo. Sem dúvida nenhuma, quando pensamos em uma inclusão dentro de uma escola, sempre há um avanço muito grande dentro do processo civilizatório. Segundo Platão, o conhecimento nos faz humano e nos caminha até a verdade (que seria, grosso modo, a realidade). E quando houve um sistema onde teria que dar educação para todos, ainda não se deu educação para todos e há outras questões. Aqui no Brasil há uma cultura de escravocratas onde a educação não se deve ser dada ao mais pobre, afinal, por que pobre tem que estudar? Por isso mesmo, escolas tem estruturas podres, caindo aos pedaços e virou reduto de crianças pobres comerem e não aprenderem uma matéria, mesmo que, milhões serem roubados dentro de inúmeros órgãos do governo.

Como respondi no post do Instagram do Dr Paulo, o governo teve 40 anos para fazer melhoras da educação escolar para todo mundo e os deficientes terem uma escolarização inclusiva, então, realmente, que se dane se há ou não estrutura. E ai mora o perigo, se transferimos ou “abafamos” esse tipo de problema, só vai agravar ainda mais. Fora que como estudante de escola especial, sei muito bem os traumas que ficam de não poder ser uma criança humana dentro de um mundo que quando se impõem em verdade, te assusta e questões alarmistas (não pode isso ou aquilo) que essas entidades sempre fizeram e fazem. Pelo que eu sei – posso estar enganado – há mecanismos na própria lei que separa as deficiências graves com as deficiências leves.

 

<<<<As escolas especiais se apresentam, nesse contexto, não como um retrocesso, mas como uma resposta ética, técnica e humana à diversidade das necessidades educacionais  

Elas oferecem recursos específicos, estrutura adaptada e profissionais capacitados para lidar com situações que exigem atenção individualizada e estratégias pedagógicas específicas.

Em muitos casos, são o único espaço em que certos alunos podem desenvolver habilidades básicas de comunicação, autonomia e socialização com dignidade e segurança.>>>

O problema não é a estrutura chamada escola especial, mas o conceito que se firmou em cima dela e sim, é um retrocesso. Como dissemos, há na própria na LBI (Lei Brasileira de Inclusão), mecanismos que são biopsicossociais que separam das deficiências graves com as deficiências leves. Se a criança com deficiência tende a ter uma deficiência grave, se tem escolas ou instituições que existem tudo isso que disse na segunda linha. No mais, as deficiências leves como a minha (paralisia cerebral), tendem a ter consciência dentro de uma realidade. portanto, se colocarmos em uma escola regular, vai estudar como qualquer aluno. Ou não? Ora, muitas pessoas com deficiência nem tiveram contato com outras deficiências até entrarem em movimentos em prol de deficientes.

Até onde sabemos, a consciência dentro de uma realidade vai além do corpo e suas condições e temos que tomar cuidado com esses “recursos especiais” viciarem muitas pessoas a facilitarem essa coisa de adaptação. Uma coisa é aquilo que vivemos (como forma subjetiva) outra coisa é aquilo que é em uma realidade muito mais do que o Dr trabalha.

É um equívoco imaginar que todos os alunos se beneficiarão igualmente da mesma estrutura escolar.

O princípio da equidade, que busca oferecer a cada um aquilo de que realmente precisa, deve prevalecer sobre uma inclusão que seja meramente simbólica.

Inserir o aluno com necessidades complexas em uma escola regular sem os apoios necessários, além de comprometer seu desenvolvimento, pode expô-lo à negligência, à exclusão velada e até à violência.

O único equívoco é esse texto para defender algo que irá ferir até a nossa constituição (educação escolar para todos). Porque se trancarmos todas as crianças com deficiência em escolas especiais de APAEs da vida, vamos criar uma sociedade mais apática e isso, sem dúvida nenhuma, é quase uma ação nazifascista eugenista de trancar aquilo que não se adequa a sociedade. Criando crianças incapazes de viver em sociedade, criando adultos incapazes de viverem por si mesmo, tendo mais gastos para o ESTADO e ainda por cima, criando uma sociedade incapaz de olhar o corpo com deficiência e não ter asco. Se nós convivemos em sociedade já somos atropelados em shoppings, imagina não convivendo em sociedade.

Além de colocar esse tema em discussão em um tom alarmista como <<<comprometer seu desenvolvimento, pode expô-lo à negligência, à exclusão velada e até à violência>>, ignorando que sim, escolas especiais tendem a ter uma violência silenciosa e que muitas vezes, há uma violência psicológica até mesmo familiar. Ou seja, a escola especial não vai trazer uma segurança completa como se houvesse uma redoma igual a israelita, segurando os misseis lançados pela sociedade.

 

 

As escolas especiais não excluem, elas incluem de forma apropriada. São espaços de acolhimento, pertencimento e cuidado, onde o currículo é adaptado à realidade de cada aluno, respeitando seu tempo, suas formas de expressão e seu potencial real de aprendizagem.

Elas também promovem, muitas vezes, a integração com a comunidade, com escolas regulares e com projetos sociais, permitindo formas híbridas e mais sensíveis de inclusão.

 

 

 

Sartre diz no seu ícone livro (O Ser e o Nada) que quando negamos alguma coisa, nadificamos uma realidade para colocarmos outra, Ai esta uma prova cabal disso, onde se coloca uma realidade em cima de uma outra realidade que a que colocou não existe. Quando o Dr Paulo diz que “as escolas especiais não excluem” fico comparando meu pai dizer que o regime militar matou só comunista, era só ficar quieto e esta tudo certinho. Ou em outras palavras, as crianças com deficiência vão ficar em um suposto lugar gostosinho e sem problemas para outras mães não se preocuparem em suas crianças terem que conviver com essas “coisas estranhas” dentro das escolas. E se ele trabalhou 20 anos em uma escola especial, eu fiquei quase o mesmo período na AACD sendo bolinado pela instituição todo o momento como se déssemos prejuízo.

E ai? Será que não temos violência dentro dessas escolas especiais?



quinta-feira, 15 de maio de 2025

VIRGINIA FONSECA NO PAÍS DAS MARAVILHAS

 



A filosofia sempre se propôs em desvendar o lado mais racional dentro da realidade, sendo essa realidade, um numero muito grande de linguagens e objetos de significado. Com o fenômeno da internet – como fenômeno virtual – poderíamos ampliar essa realidade em muito bits de informação que o cérebro, muitas vezes, não consegue processar. Mas, nossa consciência só é consciência se tiver um objeto dessa consciência, seja concerto (res extensa) seja abstrato (res cogitan) que perfaz, segundo Sartre, a imaginação.

Quando vivemos em uma negação do processo da consciência dentro da perspectiva do nada, chamamos de ignorância por ignorar a realidade. E quando ignoramos a realidade se autoenganamos para caber em uma das nossas crenças que aquilo que vivemos ou pensamos viver, tem um fundo de verdade. Mas não tem. Ainda sim poderíamos perguntar: ao ampliar o numero de linguagens e objetos de significados disponíveis, será que a realidade se expande ou apenas nossa percepção dela? Responderia que não. Quando o cérebro não tem informações conexas dentro de uma perspectiva de nexo (ligação), o cérebro processo só informações fáceis. O conhecido “cérebro podre” (brainrot).

Ídolos são esse autoengano e idealizamos pessoas que não agregam nada em nossa vida. Essa negação do aprendizado mais profundo – como um conteúdo mais pasteurizado – tende a ampliar a crítica da indústria cultural. O problema se amplia por causa que o “cultural” não se aplica em uma geração do fútil, uma geração que se orgulha de ser emburrecida. Virginia Fonseca quando foi depor na CPI das BETs, além de quebrar decoro indo de moletom comum e calças jeans, ainda demostrou nossa cultura da ignorância e do patrimonialismo. Só por ela ser uma influenciadora de renome e nora de cantor sertanejo – grande coisa – demonstra a questão mediática que a questão tomou no espetáculo. E sim, se o influencer ganha com a perca do jogador, isso é antiético.

O que seria ética? Ética na etimologia, vem do grego ETHOS que era o caráter do povo grego e o que era ser grego, mas ao traduzir ETHOS para MOS ou no plural MORES, os romanos modificaram por costumes. Hoje dissemos que moral é os costumes sociais e ética é o estudo da moral, e tem ainda outro problema, muitos ainda acham que moral é o mesmo que ética. Não é. A simplificação, exatamente, tem a ver com a ignorância e tem a ver como já vimos, ignorar a realidade. Mas, antes de tudo, existe a má-fé que é um autoengano dentro de uma realidade que se aceitou como verdade. A maioria não quer ter o suficiente, quer o máximo possível para ostentar ao outro.

E isso recai nas mídias sociais como se todo mundo quer dar opinião daquilo que não sane e pior ainda, acham que a vida delas é conteúdo para ser consumido. Isso daria um livro inteiro. Sociedade do espetáculo de Debord? Mesmo não sendo marxista, a crítica marxista dentro da mídia com filósofos marxistas – aqui há varias correntes – pode ser usada com esse caso (bets) ou ate mesmo, se adentrarmos as “web putas” (ou web Jobs), quando você é o produto dentro do ganho. Você vê uma foto ou ver um vídeo pago e você jogar em um site de aposta não seria o mesmo? Você perde muito mais do que você ganha? Debord diz – isso em 1967 – tudo acaba sendo uma imagem e isso reflete muito mais o vazio de significado, dentro da sua vida cotidiana, dentro da sua vida online.

 

Amauri Nolasco Sanches Júnior

(bacharelado de filosofia)

terça-feira, 13 de maio de 2025

ANTICAPACITISMO – PETER JORDAN (EI NERD) TEM RAZÃO

 






Amauri Nolasco Sanches Júnior

 

A verdade é a realidade posta e nada poderemos fazer de fato além de aceitar essa verdade. Mas, até que ponto a verdade é contaminada com a subjetividade de nossas próprias crenças? Porque, quando vemos um objeto, aquele objeto pode ser a consciência de alguma coisa, como diria o filosofo Edmund Husserl (1859-1938). Por outro lado, a subjetividade pode dar a consciência aquilo que as crenças equivalem dentro de uma proposta ou a outra, ou seja, entre aquilo que é o objeto que se impõem a realidade e aquilo que se imagina ser a verdade.

Não vamos usar aqui o termo preconceito, mas pós-conceito, pois, se referimos já não a um conceito preestabelecido dentro de uma situação, e sim, um conceito depois de um julgamento. Já que o conceito é um conceito seria um julgamento depois de uma experiencia de perceber algo, ou melhor, seria um julgamento dentro do conhecimento. O belo e o feio – como formas estéticas idealizadas – são julgamentos o que temos como belo e como temos como feio além disso, o belo e o feio pode sim conter um preconceito (aquilo que você conhece como objeto observado) e o pós-conceito (um conceito já construído). A questão vai muito além, mas isso não nos interessa nessa reflexão.

Peter Jordan (no canal Ei Nerd) trouxe uma constatação muito interessante dessa nova direita (que trouxe em outros textos): essa direita revolucionária (que são rebeldes sem causa e sem estudo nenhum) tendem a enxergar tudo no viés de guerra cultural. Os intelectuais Olavo de Carvalho e Steven Bennon, instalaram uma narrativa que há uma guerra cultural e que essa guerra cultural vem para destruir os valores universais (majoritariamente, dentro da igreja cristã). E, indo muito mais afundo, são ideias distorcidas de uma filosofia muito mais profunda do que mera superficialidade de chamar o coleguinha de comunista ou fascista.

Não há “marxismo cultural”, os próprios marxistas – aqueles que estudam mesmo as obras de Karl Marx – não aceitam as agendas wokes e nem a pauta progressista. Bennon, no contexto americano, tem um pensamento que há um “globalismo” onde há um plano de dominação de término daquilo que tanto construiu as bases da liberdade e da democracia. Não há nada disso. Se vimos os filmes hollywoodianos, vimos características que sempre tiveram e se fomos bastante rigorosos, sempre esteve fretando em estabelecer uma cultura só norte-americana (ou yanque).  Se pegamos a contracultura – desde os hippies que o governo americano introduziu drogas para difamar o movimento – sempre foi mostrada como algo “comunista” e não como algo de libertação e de liberdade. Afinal, poderemos nos perguntar: por que será que tudo que se encaixava em liberdade virou socialismo de repente nos EUA? Os libertários lá são considerados socialistas.

Olavo de Carvalho tem um pensamento construído em cima da sua frustração de não ter sido aceito academicamente. Isso ate Freud (pai da psicanálise) saberia analisar como um recalque. Mas, filosoficamente, Olavo tende a ser um ressentido. O pensamento dele além de simplificado, como o de Bennon, tende a ter vários pós-conceitos dentro da cultura brasileira. A meu ver, o brasileiro médio tende sempre que gostar das coisas simplificada como fáceis de “entender” e ficar repetindo como jargão. Somos a cultura do jargão. Não se gosta de ler coisas complexas porque não temos uma escolaridade ruim, importamos aquilo que não presta, não se sabe nada e se opina tudo. Porque o esforço sempre é ruim. O Olavo de Carvalho reflete esse tipo de pensamento, pois, mesmos que lesse, nunca entendeu coisas complexas como a filosofia moderna e a contemporânea.  Sempre se enveredou em teorias conspiracionistas que eram muito mais fáceis: como Theodor Adorno ter escrito as músicas dos Beatles (tem um texto muito famoso dele criticando o jazz como música infantil) ou coisas do gênero.

 Ser contra uma filosofia ou uma pauta – seja lá qual for – não quer dizer que tenhamos de lhe dar com esse tipo de coisa com estupides. Claro que a extrema-esquerda radicalizada na agenda woke – importante do EUA – vai radicalizando uma inclusão que deveria ter acontecido, mas, os wokes vem usando a filosofia pós-estruturalista que é bem mais complexa. O filosofo Michel Foucault e Jacques Derrida propuseram uma ruptura no modo de linguagem dentro de estruturas conservadoras de linguagem que poderiam, porventura, moldar preconceitos. Por exemplo, pessoas com deficiência diminuiu o capacitismo? Não. Porque o discurso pode reforçar uma discriminação, mas nunca pode determinar ela que tem estruturas que vão além da linguagem. E aí que a extrema-direita transvestida de guardiões da democracia usam esse tipo de coisa como “guerra cultural”, num modo bem simplista, alertando sobre coisas que não existem. Cortinas de fumaça.

A questão do bullying que atriz norte-americana Bella Ramsey vem sofrendo, tem raízes muito além de uma crítica ao cinema, tem a ver com o pós-conceito já construído dentro da direita revolucionaria americana e brasileira. Por que não quebrar esse padrão mental que tanto se pode discriminar outra pessoa? Por que não estudar sobre o assunto ao invés de atacar pessoas desse modo? 

quinta-feira, 8 de maio de 2025

NATALIA GRACE, UMA PSICOPATA?

 





Amauri Nolasco Sanches Júnior

 

 

Meu primeiro livro com minha nova foi “Liberdade e Deficiência” que foi bastante significativo e mostra como – eu e ela, de alguma forma – presamos a liberdade e toda a questão da deficiência enquanto libertar das amarras sociais. Para entender isso temos que entender duas coisas: (1) o que é liberdade enquanto seres autônomos? (2) o que seria deficiência como corpo diferente dos outros seres humanos, por causa de uma condição? Pois, a meu ver, a deficiência não muda nosso pertencimento da espécie sapiens e não muda nosso DNA. Será que isso não deve ter gerado tantas lendas?

Quando olhamos o caso de Natalia Grace – que tem um tipo raro de nanismo – podemos imaginar como humanos pré-históricos olhando crianças abandonadas com tipos de deficiência como esta e imaginando “seres monstruosos”. Talvez, isso tenha ficado no inconsciente coletivo como que quem tivesse alguma deficiência, tivesse alguma “monstruosidade”. Mas, nações gregas – como mostram pesquisas recentes que geraram bastantes debates – que antes pensávamos que matariam pessoas com deficiência, poderiam não ter matado. Como pinturas de Hefesto (o deus coxo da metalúrgica) em cadeira de rodas, nenhum esqueleto deformado encontrado em poços ou em outros lugares. Ora, então de onde vem a rejeição tão difundida?

Segundo o documentário “O Curioso caso de Natalia Grace” podemos destacar que o caso já começa capacitista quando médicos europeus do interior da Ucrânia (devastada pela Rússia) convencem a mãe biológica a doar para a adoção. Argumento? Foi: “não jogue sua juventude fora”, ou seja, “sua juventude” era muito mais importante do que aquele ser humano descartado por causa da condição de deficiência. Mas, o caso pode ser de puro interesse financeiro de vender para adoção em nome de uma suposta liberdade como se um ser humano fosse um ser qualquer (hoje nem animais são tratados assim). Mas, o histórico europeu transvestido de liberdade liberal – e no fundo, é uma eugenia disfarçada – vem liberando abortos de crianças com tendencias com Síndrome de Down. Ora, ter tendencia é ter a probabilidade de ter uma síndrome e não quer dizer, uma certeza.

Isso começou com os latinos, a mãe de Claudio I – padrasto de Nero – chamava ele de “monstro” ou “estupido” por causa da sua deficiência. Isso mostra que muitos preconceitos – como a raça superior também veio dos romanos – vieram de uma visão distorcida estética dentro da ideia de a felicidade como ter autonomia e corpos perfeitos. Claudio governou Roma aclamado, mesmo com tal deficiência e isso pode nos trazer pistas, sobre o capacitismo dentro da estrutura humana dentro do prognóstico de uma cultura nascida em sague e gloria. Os Estados Unidos da América não é diferente, nasceram de uma insurgência de libertar o povo da Nova Inglaterra dos impostos abusivos. Mas, dentro da cultura puritana – radicais protestantes – há uma grande tendencia a moralidade (muitas vezes, demagógica).

A violência norte-americana não vem só das suas “supostas” intervenções em nome de uma suposta liberdade. Quando assistimos o documentário e a seria da Star+, “Uma Família Perfeita”, vimos que a adoção da Natalia Grace foi muito estranha. Os Barnetts a transformaram em adulta e puseram ela para morar em um apartamento sozinha, quando tinha 8 anos de idade. Pelas fotos, quem dissesse que a Natalia fosse adulta, eu diria que tinha grande tendencia de uma deficiência mental. E há uma coisa bastante interessante, muitas coisas levam que Kristine Barnett era a grande abusiva da história, que nos traz várias perguntas: por que a sociedade americana existem tantas pessoas abusivas e de moralismo exagerado? Como dissemos, há uma forte tendencia dentro de uma tradição de valores puritanos e individualistas (não longe do utilitarismo), o que poderia levar a julgamentos severos sobre comportamentos e normas sociais. Outra coisa é que, o sistema jurídico americano é mediático e frequentemente amplifica casos polêmicos.

Como as lendas – de anões que são demônios ou pessoas deformadas com pacto com o demônio – Natalia foi transformada em uma “anã” com tendencias adultas (como o filme A Órfã) que reforçam as lendas antigas e medievais. Ou seja, aquela menina é “possuída” – como alguns vizinho do apartamento diziam dela – e deveria ter tendencia a matar Kristine enquanto ela não vê. Como dissemos, desde o começo está errado e mostra o capacitismo. Qual candidato a qualquer governo – seja direita ou esquerda – falam de pessoas com deficiência? Muito me surpreendeu a família atual de Natalia – que também tem nanismo e deveria ser a primeira família que deveria ter adotado Natalia – que desconfia de famílias sem deficiência e que poderia usar esses deficientes como renda extra. Chocados? Não é novidade na história humana.

Muitas famílias pobres antigas e medievais – até mendigos – pegavam crianças com deformidade para pedir esmolas em templos (antiguidade) ou em igrejas (era medieval). A questão vai além do liberalismo econômico e o capitalismo – como alguns apontam – mas dentro da história com o estereotipo perfeito e produtivo que não poderia ser de outro modo (dizendo que eram demônios). Por outro lado, isso vai muito além, pois, temos tendencias biológicas de rejeitar o diferente como algo que não é da nossa espécie. Além disso, o poder teve que inserir essas ideias para eliminar corpos ou porque atrasariam o clã, ou porque não poderiam ser cuidados todo tempo. Só que tem um outro porem, estamos na era tecnológica onde uma roupa com eletrodos fez uma moça ficar em pé. Pessoas com Síndrome de Down são jornalistas, são modelos, são pessoas iguais como humanas e podem trabalhar e produzir quando recebem o tratamento adequado. O capacitismo nasce de uma visão do corpo como um objeto de autonomia da consciência, mas além disso, há a visão da deficiência como um corpo não são (saudável). Ou seja, a deficiência é o caos e o corpo perfeito é a harmonia.

Tenho tendencia de ver uma realidade calcada dentro da fenomenologia (criada pelo filosofo Edmund Husserl que é muito usada para a filosofia da deficiência), onde não há consciência sem um objeto. Para Husserl, a consciência é sempre intencional, ou melhor, ela sempre se dirige a um objeto, seja ele físico, mental ou mesmo ideal. Nenhuma experiencia consciente existe isoladamente, mas sempre está relacionada a algo que é apresentado a consciência. Ou seja, em um contexto da filosofia da deficiência, essa abordagem pode permitir compreender a vivência subjetiva da pessoa com deficiência, indo além de definições médicas ou sociais, e focando na forma como o fenômeno da deficiência se apresenta à consciência do individuo dos outros.

Portanto, liberdade é muito, muito mais do que uma autonomia do corpo, muito mais do que subir uma escada, saber fazer as coisas. Mas sim, poder ter adaptações do mundo para fazer essas coisas e respeitar o corpo como um agente que existe com a realidade e o fenômeno dos objetos. Transformar o corpo em objeto – usável e descartável – se intensificou com a individualização, porem, a coletivização – no caso capacitista – não se encontra com tanta diferença como o individualismo. Falar em deficiência não vende revista ou jornal e ate mesmo, não dá voto. O caso piora com a polarização.

O caso de Natalia Grace é muito mais do que uma história horrível e capacitista por natureza, é também uma denúncia a natureza social humana.

sábado, 3 de maio de 2025

RESISTENCIA PCD (LUTA CONTRA A REDUÇÃO DA LBI)

 

 




"Minha consciência me pertence, minha justiça me pertence e minha liberdade é soberana",

 Pierre-Joseph Proudhon

 

 

Mesmo eu ter escrito um manifesto em defesa a Lei Brasileira de Inclusão (link AQUI) gostaria de escrever outro texto sobre a resistência PCD que deve ocorrer.

 

Tudo movimento das pessoas com deficiência – que não tem nenhuma representação política no Brasil – deveria esquecer as diferenças ideológicas e nos unir em uma causa. Quem pergunta em páginas de lojas de cadeiras de rodas “qual o valor?” como se quisesse comprar ou teria condições, é um mentiroso e deveria sentir vergonha disso. Muitos deficientes deveriam olhar dentro de si e se perguntar: onde estar meus direitos? Onde esta o meu estudo? Onde está meu trabalho? Mesmo com uma Lei que garanta tudo isso e querem reduzir por causa de reacionários que acham que antigamente era melhor, com inflações inúmeras, com pessoas com deficiência em entidades nos usando para ganhar dinheiro e nós sendo cobaias.

Os deficientes brasileiros sempre foram a escoria social, ora porque o brasileiro nunca gostou de planejamento ou organização (demora muito, dizem muitos), ora porque é muito mais fácil nos trancar dentro de casa do que acessibilizar. Fora que o brasileiro médio não entendeu, se temos prioridade na fila é por causa da agilidade e se temos vagas em estacionamentos, é por causa da agilidade e as pessoas possam parar o carro sem esperar a saída e a entrada de cadeirantes, por exemplo. Não é privilégio. As empresas brasileiras nunca quiseram empregar as pessoas com deficiência – nem empresas da mídia – porque sempre tiveram uma visão estética muito antiga. As empresas mais atualizadas – fora – já pensam a mão de obra está além do nosso corpo. Não empregam naquilo que somos formados.

“Nada sobre nós sem nós” deveria ser a frase central dessa luta, onde mães não conseguem escolas para crianças deficientes ou autistas, deficientes não recebem BPC (Benefício de Prestação Continuada), entre outras coisas, que o deficiente não pode fazer porque não é um pais acessível. Um cachorro tem mais direito de entrar em um shopping, do que um deficiente cadeirante que é atropelado pela multidão enlouquecida. Cadê nosso direito humano da vida? Vamos achar que essas pessoas nos dite como devemos viver, sair ou aproveitar a vida? A deficiência em si nunca deve ser vista como um empecilho da vida, um empecilho para luta politica dentro das classes dos excluídos. Mesmo que, em muitos aspectos, movimentos sociais são ressentidos e não querem direitos adquiridos ou não, querem vingança e criar morais que retrocedam aqueles que conseguiram. Não. Devemos olhar para aqueles como um exemplo, não de superar nada – pois, não temos obrigação de mostrar nada para a sociedade – mas como aquele que pode nos mostrar o caminho.

Essa união tem importância agora.

sexta-feira, 2 de maio de 2025

EFEITO LADY GAGA



Depois de reinaugurar meu blog, por que não falar a verdade? Afinal, esse blog nasceu Resistencia.

 

Na etimologia, fã veio de fanático que tem a ver com pessoas radicais que se fanatizam por uma figura pública. Com o show da cantora Lady Gaga – pago pela prefeitura do RJ – muitas pessoas estão na frente do hotel com fraldas, gritando para ela sair e se apresentar aos fãs. Como diz o comentarista musical, Regis Tadeu – que me bloqueou – todo fa, no fundo, é um perfeito idiota e deveria se tocar que artistas não são produtos da sua idealização. Chegaram, ate mesmo, serem assaltados.

Afinal, ate que ponto essa idolatria é saudável? Tenho um amigo – de muitos anos – que dizia ouvir só Elvis Presley e Roupa Nova e mais nada. Não sei se faz isso hoje em dia, mas essa atitude demonstra como ele é, se isolando porque não convenceu um movimento daquilo que lutava. Sempre dizia: “eu sempre estuve sozinho”. Essa solidão é reforçada por razões da deficiência, não ter um pai presente (por ele ter morrido quando esse amigo era bem pequeno) e por causa dos bullyings que sofreu do motorista que tivermos na AACD. Será que via na figura de Elvis algo paterno ou algo que remetesse alguma lembrança afetiva?

Essa questão remontam vários fatores preponderantes dentro da nossa cultura contemporânea. Talvez, meu amigo tenha encontrado algum refugio nessas figuras como se essas musicas fossem um porto seguro emocional. E assim, muitas vezes, eles criam uma ligação intensa com um artista por necessidade de preencher algumas lacunas afetivas ou criar uma sensação de pertencimento. Mesmo não admitindo, esse mesmo amigo teve dificuldade de conquistas, dificuldade de socialização e uma enorme dificuldade de se desligar um pouco do ambiente familiar. Mas, será que isso tem a ver com a deficiência e a ideia de coitadismo que ronda a questão do segmento de PCDs? Não. Tem a ver com dois fatores freudianos que lançam dúvidas da questão da autogovernança de si mesmo: o principio do prazer e do medo.

O princípio do prazer e do medo, segundo Freud, seriam forças essenciais que podem influenciar a forma como tomamos decisões e como lidar com o mundo ao nosso redor. Assim, o prazer faria com que busquemos experiencias que nos tragam satisfação e evitam sofrimento – como diríamos, a dor inevitável – enquanto o medo pode atuar como um freio, nos protegendo de riscos e incertezas. Talvez – não só meu amigo – tenha nessas figuras algo que de alguma segurança em um mundo inseguro e incerto. Pois, afinal, o ser humano está numa realidade contingente e é um ser contingente em mudanças de linguagem e cultura.

E ai chegamos em dois novos pontos: o que seria realidade (no sentido de fatos) e o que é a existência. Porque, quando você elege um ídolo – seja qual for – você começa a ver uma outra realidade em nome do seu prazer (sensação de conforto) e a eliminação do medo (sensação de segurança). Mesmo que não há consciência sem o objeto, o objeto pode estar viciado (fetiche) em conceitos que você mesmo construiu; principalmente, quando esse ídolo é humano. Existe a verdade (no sentido de realidade) onde a pessoa é o que é e não daquilo que você construiu como conceito, exigindo assim, você perceber a sua existência e a existência do outro.

O ídolo só é uma ideia daquilo que achamos certo e no fundo, não é certo e nem a realidade.

quinta-feira, 1 de maio de 2025

MINHA ALMA ANARQUISTA

 





Única coisa que preso na minha vida é minha liberdade.

 

Imagina uma pessoa com deficiência que sempre dependeu de transporte ruim, que sempre minha mãe teve que ir em pé comigo no colo. Ou, instituições que mais sugaram o dinheiro suado do meu pai para eu adulto, descobrir que o que diziam que eu tinha não era verdade. Não ter uma adolescência descente porque eu tinha que ir em uma oficina – que era mais um deposito de deficientes – que me prometeu em me ensinar a trabalhar (não ensinava nada) e ainda sugava todo o dinheiro do meu pai mais uma vez. Quando não apoiamos seu show teletonico, nos expulsaram como cães que não servem mais.

Nesse interim, aprendi a valorizar a minha liberdade de um jeito que ninguém tira ela de mim mais. Comecei a construir meu pensamento em sistemas anarquistas, mas, com vieses nietzschianos do ubermech (além-do-homem), onde toda teoria anarquista comunista era calcadas no ressentimento dentro daquilo que Nietzsche chamava de moral de rebanho. Ou seja, não se consegue ser o que o mais forte, o que entenderam como é a realidade, o real impulsiona a vida e a energia vital se torna a vontade de potência. Mas, muitos querem o caminho mais rápido – que Cristo chamou de caminho estreito – e querem impor a moral dos ressentidos, portanto, a moral que aniquila os fortes que souberam estudar.

Não que deixei de ser libertário por causa de apropriações dos anarcocapitalistas reacionários se apropriarem de pautas libertarias para defender políticos – como ANCAPSU etc – mas, além da questão da propriedade privada (que o anarquismo clássico rejeita), somos todos anarquistas contra o poder autoritário. Se aprendi que a liberdade é algo inegociável – liberdade ainda que tardia – é porque a sociedade teve a ideia condicionada de uma liberdade que não existe. Quem não quer montar seu negócio próprio sem burocracias ou o governo te enchendo o saco? Queremos tratamentos descentes, coisas de qualidade – como, no meu caso, cadeiras de rodas mais baratas – sem a exploração de preços por causa de impostos, por exemplo.

No mais, o anarquismo em sua essência (em todas as suas vertentes), sempre tendem a serem armas ideológicas de resistência contra governos fracos e exploradores querem sempre o poder e o dinheiro acima do interesse de todos. São psicopatas políticos que acham que o mundo é deles. Mas, deixamos uma pergunta bastante sincera: qual governo ou político fez alguma coisa por nós em toda a história da redemocratização? Precisamos romper a dependência de ídolos (figuras heroicas), para se autogovernar e entender que o importante é a liberdade.