Amauri Nolasco Sanches
Júnior
A verdade é a realidade posta e nada poderemos fazer de fato
além de aceitar essa verdade. Mas, até que ponto a verdade é contaminada com a
subjetividade de nossas próprias crenças? Porque, quando vemos um objeto,
aquele objeto pode ser a consciência de alguma coisa, como diria o filosofo Edmund
Husserl (1859-1938). Por outro lado, a subjetividade pode dar a consciência aquilo
que as crenças equivalem dentro de uma proposta ou a outra, ou seja, entre
aquilo que é o objeto que se impõem a realidade e aquilo que se imagina ser a
verdade.
Não vamos usar aqui o termo preconceito, mas pós-conceito,
pois, se referimos já não a um conceito preestabelecido dentro de uma situação,
e sim, um conceito depois de um julgamento. Já que o conceito é um conceito
seria um julgamento depois de uma experiencia de perceber algo, ou melhor,
seria um julgamento dentro do conhecimento. O belo e o feio – como formas estéticas
idealizadas – são julgamentos o que temos como belo e como temos como feio além
disso, o belo e o feio pode sim conter um preconceito (aquilo que você conhece
como objeto observado) e o pós-conceito (um conceito já construído). A questão vai
muito além, mas isso não nos interessa nessa reflexão.
Peter Jordan (no canal Ei Nerd) trouxe uma constatação muito
interessante dessa nova direita (que trouxe em outros textos): essa direita revolucionária
(que são rebeldes sem causa e sem estudo nenhum) tendem a enxergar tudo no viés
de guerra cultural. Os intelectuais Olavo de Carvalho e Steven Bennon,
instalaram uma narrativa que há uma guerra cultural e que essa guerra cultural
vem para destruir os valores universais (majoritariamente, dentro da igreja
cristã). E, indo muito mais afundo, são ideias distorcidas de uma filosofia
muito mais profunda do que mera superficialidade de chamar o coleguinha de
comunista ou fascista.
Não há “marxismo cultural”, os próprios marxistas – aqueles que
estudam mesmo as obras de Karl Marx – não aceitam as agendas wokes e nem a
pauta progressista. Bennon, no contexto americano, tem um pensamento que há um “globalismo”
onde há um plano de dominação de término daquilo que tanto construiu as bases
da liberdade e da democracia. Não há nada disso. Se vimos os filmes hollywoodianos,
vimos características que sempre tiveram e se fomos bastante rigorosos, sempre
esteve fretando em estabelecer uma cultura só norte-americana (ou yanque). Se pegamos a contracultura – desde os hippies
que o governo americano introduziu drogas para difamar o movimento – sempre foi
mostrada como algo “comunista” e não como algo de libertação e de liberdade. Afinal,
poderemos nos perguntar: por que será que tudo que se encaixava em liberdade
virou socialismo de repente nos EUA? Os libertários lá são considerados
socialistas.
Olavo de Carvalho tem um pensamento construído em cima da
sua frustração de não ter sido aceito academicamente. Isso ate Freud (pai da psicanálise)
saberia analisar como um recalque. Mas, filosoficamente, Olavo tende a ser um
ressentido. O pensamento dele além de simplificado, como o de Bennon, tende a
ter vários pós-conceitos dentro da cultura brasileira. A meu ver, o brasileiro médio
tende sempre que gostar das coisas simplificada como fáceis de “entender” e
ficar repetindo como jargão. Somos a cultura do jargão. Não se gosta de ler
coisas complexas porque não temos uma escolaridade ruim, importamos aquilo que não
presta, não se sabe nada e se opina tudo. Porque o esforço sempre é ruim. O Olavo
de Carvalho reflete esse tipo de pensamento, pois, mesmos que lesse, nunca
entendeu coisas complexas como a filosofia moderna e a contemporânea. Sempre se enveredou em teorias conspiracionistas
que eram muito mais fáceis: como Theodor Adorno ter escrito as músicas dos
Beatles (tem um texto muito famoso dele criticando o jazz como música infantil)
ou coisas do gênero.
Ser contra uma
filosofia ou uma pauta – seja lá qual for – não quer dizer que tenhamos de lhe
dar com esse tipo de coisa com estupides. Claro que a extrema-esquerda
radicalizada na agenda woke – importante do EUA – vai radicalizando uma inclusão
que deveria ter acontecido, mas, os wokes vem usando a filosofia pós-estruturalista
que é bem mais complexa. O filosofo Michel Foucault e Jacques Derrida propuseram
uma ruptura no modo de linguagem dentro de estruturas conservadoras de linguagem
que poderiam, porventura, moldar preconceitos. Por exemplo, pessoas com deficiência
diminuiu o capacitismo? Não. Porque o discurso pode reforçar uma discriminação,
mas nunca pode determinar ela que tem estruturas que vão além da linguagem. E aí
que a extrema-direita transvestida de guardiões da democracia usam esse tipo de
coisa como “guerra cultural”, num modo bem simplista, alertando sobre coisas
que não existem. Cortinas de fumaça.
A questão do bullying que atriz norte-americana Bella Ramsey vem sofrendo, tem raízes muito além de uma crítica ao cinema, tem a ver com o pós-conceito já construído dentro da direita revolucionaria americana e brasileira. Por que não quebrar esse padrão mental que tanto se pode discriminar outra pessoa? Por que não estudar sobre o assunto ao invés de atacar pessoas desse modo?
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