domingo, 3 de maio de 2020

Liberdade e deficiência – quando o amor acaba por causa do capacitismo



Liberdade e Deficiência , por Amauri Nolasco Sanches Junior e ...

O amor é a força mais sutil do mundo.

No livro “O que é deficiência” da Debora Diniz (antropóloga), diz que desde 1970 o Reino Unido fez um estudo que diz que deficiência não é uma simples expressão de uma lesão que impõe restrições e participação de uma pessoa. A deficiência é um conceito muito complexo que reconhece o corpo lesionado, mas também, vai reconhecer a sociedade que lhe oprime com seu conceito de normalidade. Dentro do estudo da biologia, o que é e o que não é normal? Numa forma do senso comum (vulgar), ser normal é ser o que as pessoas são em uma certa sociedade, aderir a uma conduta. Numa sociedade com corpos sem nenhuma lesão, o normal seria o padrão estético e a partir daí, se julga com olhos da maioria. A ordem estética se faz ver a pessoa com uma deficiência como uma pessoa deformada, fora da realidade. Não à toa, muitos medos humanos estão em criaturas deformadas, como, por exemplo, a figura de Lúcifer que do anjo mais belo se tornou uma figura deformada e retalhada de símbolos não normais.

Temos no capacitismo (preconceito com deficientes), uma diferenciação bastante sutil, porém, todas sofrem preconceito. O símbolo da cadeira de rodas como um acessório para doentes – também é usada para carregar pessoas doentes, mas, foi inventada para facilitar as pessoas que não podem andar – fez com que o estereotipo das pessoas cadeirantes fossem confundidas com doentes. Por outro lado, existe muito aqui no Brasil a visão do medico como o senhor da responsabilidade de prever o que a pessoa poderá ou não fazer, o que as pessoas poderão ou não ter uma vida normal. Muitos amigos viveram além do que os médicos previram. Alias, a meu ver, tem muito medico picareta que gosta de se sentir superior e fica diagnosticando asneiras, totalmente, fora da ciência. A ciência não prevê nada, ela analisa a probabilidade daquilo. Medico não é vidente.

Dito isso, podemos dizer, que nosso povo – por ter uma cultura religiosa – acredita em qualquer vagabundo que acha que sabe prever o futuro, mas, não sabe. O futuro é aquilo que construímos no presente, não dá para dizer que o vai acontecer x ou y, apenas com o desenvolvimento da pessoa e do corpo dela, se poderia ver a progressão da deficiência. Existem pessoas com deficiência que a deficiência mata aos 20 anos, outros vivem aos 90 anos, não dá para saber. Duas coisas alimentam o preconceito e a subproteção: uma é a mania do ser humano de procurar um significado para tudo e outra, a mania do ser humano de acreditar em tudo que é mais fácil e cômodo. Não existem significado nenhum da deficiência, porque é apenas um corpo lesionado, seja ao nascer ou depois em algum acidente. Não existe só doentes em uma cadeira de rodas, existem pessoas que precisam viver e querem viver em sociedade.

Eu tenho uma visão cética de tudo, eu não acredito em nenhum religioso, não acredito em médicos (por isso eu procuro uma segunda opinião), não acredito em jornais e não acredito em mensagem do WhatsApp.  Sempre estou pesquisando e lendo para não ser enganado, existem muitas pessoas vaidosas e maldosas que usam as crenças para ganharem prestigio. Também, não acho que nem a deficiência e nem nada da natureza tenha algum proposito, a natureza é cega e não sabe onde vai e assim, vai construindo nossa realidade. Quem sabe, algumas deficiências são o corpo humano em evolução e algumas coisas vão se modificando? Existe algo objetivo (a deficiência) e algo subjetivo (intuição), onde a consciência constrói os significados.

Mas, por que liberdade e deficiência? Quando pensamos em liberdade sempre pensamos em fazer tudo que desejamos, mas, quando conseguimos fazer, perdemos o interesse. A meu ver, temos o desejo e o real querer, pois, o desejo é apenas um momento, uma fagulha daquilo que o você quer de verdade (vamos chegar à essência da verdade). O que eu vi todos esses anos, foi que as pessoas nem sabem o que sentem, não sabem o que acreditam e não sabem quem são. Não sabem, muitas vezes, nem ao menos sua própria deficiência. Vão se apegando em pessoas, vão se apegando na ideia, vão se apegando nos símbolos que aprenderam a se apegar. Amar não é apegar as pessoas, aos animais e a própria família. Porque o apega deixa as pessoas vulneráveis. Muitas vezes, as religiões (principalmente, as evangélicas), deixam as pessoas vulneráveis pela culpa, acham que a deficiência são culpa delas e isso não é verdade.

A real liberdade é o NADA e o NÂO. Quando não esperamos nada e dizemos não, nos libertamos das amarras da normalidade e tudo que nos impõem como certo ou errado. Na própria bíblia diz que no principio era o nada e do nada Deus fez tudo que existe, fez uma realidade e, consequentemente, fomos criados (num outro texto eu discutirei esse principio da realidade na liberdade). Se irmos mais a fundo na questão da deficiência, aceitar ela e dizer um não para a sociedade ou não esperar nada de ninguém (pedir é uma outra história), a liberdade acontece. então, como somos humanos, somos fadados ater sentimentos e, muitas vezes, nos magoamos porque não podemos ficar com quem amamos, com quem descobrimos varias coisas. Ou porque a pessoa tem uma culpa enorme por ser deficiente, ou porque os familiares, com sua ignorância, começam a minar o namoro.

A culpa da deficiência vem de dois fatores:

1-      Religiões que insistem em dizer que a causa da deficiência é pecado, é dividas das vidas passadas e eles não podem curar por causa da pouca fé das pessoas. Mas, as deficiências são causadas por erros médicos, por nascimentos prematuros (muitas vezes, causadas pelos próprios familiares).  

2-      A dependência que muitas pessoas tem e a culpa de estarem atrapalhando a família. Também pode acontecer um apego exagerado dos familiares, que se confunde de amor.

Imagine dois cadeirantes se apaixonando e as pessoas achando que eles não podem ter nenhum relacionamento? Agora imagine se para terem razão, eles persigam o casal, eles acabem desgastando o relacionamento, por apenas, provarem sua tese? Dai entra a culpa, porque quando achamos que não podemos, sempre vamos ter uma vulnerabilidade maior. A questão sempre recai no apego, o apego ao cachorro, o apego as pessoas, o apego até nas imagens que se fazem das coisas e do amor.  O amor tem que ter um não, tem que ter um esperar nada. Daí entra o NADA e o NÃO, porque quando você não se apega a nada e diz não aquilo que querem lhe impor, muitas vezes, você depende dessas imagens sociais. Essas imagens que sempre vão tentar nos impor. Eu, pessoalmente, não admito que não me imponham nada, nem ideologias e nem crenças. Temos que presar a liberdade para uma real inclusão.


Amauri Nolasco Sanches Junior




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