“A grandeza de alma é inseparável da grandeza intelectual, porque implica independência. Mas, sem grandeza intelectual, a grandeza de alma deveria ser contida, pois que cria a desordem, mesmo que tenha a intenção de proceder bem e de obrar com justiça.”
Friedrich Nietzsche
Já disse a minha posição espiritual e não é de hoje, que não
gosto das igrejas neopentecostais que andam circulando por aí. Não gosto de
partes da teologia evangélica, que remontam muito mais o judaísmo do que o
cristianismo, propriamente, dito. Para começar, nada tenho contra o judaísmo,
sou um grande estudioso da cabala e estou aprendendo os vários símbolos judaicos
sempre. Mas, ou você segue a Jesus ou você segue o judaísmo, os dois fica um
pouco desconexo. Mesmo o porquê, muitas resoluções judaicas Jesus foi contra e
até desautorizou a fazer. Como o que comer, como ser ligado demais as pessoas e
as coisas, como ser materialista e precisar de alguém para se ligar com Deus.
A questão é: porque raios eu preciso ir numa igreja e pagar
dizimo para que tudo dê certo na sua vida? O neopentecostismo, na verdade,
destruiu o o conceito da graça que é a chave do arrependimento cristão, pois, se
começou a barganhar o perdão como se fosse uma mercadoria. A graça é um perdão concedido,
segundo a tradição cristã, com o arrependimento verdadeiro do pecado cometido e
pelo amor de Deus a sua alma. Nada disso de dar coisas ou pagar pedágio para
ter graça ou para entrar no paraíso. Mesmo o porquê, não há muita lógica você querer
barganhar com um Ser que é onipresente, onisciente e onipotente e sabe muito
bem, o que você fez na sua vida e sabe tudo que acontece no universo e no cosmo
inteiro.
Quem me lê a mais tempo, sabe que separo religião com
espiritualidade, pois, a meu ver, existe uma diferença muito grande, aquelas
pessoas que buscam se religar com Deus e aqueles que buscam sentir as forças
criadoras de todo o universo e da realidade. Ora, a religião busca uma ligação,
que segundo cada tradição, foi interrompida por causa de um pecado ou um erro
primordial, ou seja, são dogmas para se seguir e ter essa ligação. Na tradição cristã,
esse erro ou pecado, se originou com o pecado original do casal primordial da
humanidade, Adão e Eva. Essa tradição judaico-cristã vem de tradições muito mais
antigas e que, alguns judeus dizem, que muitas pessoas dentro do próprio judaísmo
não levam tão a sério essa questão. Seria, uma espécie, de simbolismo. Na verdade, há uma tradição que diz que a
primeira mulher de Adão não foi Eva, mas, foi Lilith, feita do pó (não do
barro) como Adão. Lilith não queria, na hora da transa, que Adão ficasse em
cima dela e foi embora porque Adão não aceitou ficar em baixo. Deus vendo que
ele se sentia solitário, fez Eva da sua costela.
Há varias teorias sobre essa parte da bíblia, mas, há quase
um consenso, que o velho testamento (Torá), seja uma tradição de um livro muito
mais antigo. Ora, Adão pode ter vindo de “Adam”, que quer dizer “homem” ou “humanidade”,
remontando que Adão, na verdade, é um termo que quer dizer a humanidade. Ainda há
outra possibilidade, que Adão seja um nome de uma comunidade lideradas por
homens. Outra possibilidade é que Adão vem do hebraico AdaMah que significa “terra
fértil”, que remontariam a questão da origem do termo como a origem da humanidade.
Já Eva também tem uma discussão interessante de estudiosos sobre a origem do
termo, que vem de HaVVah que tem o significado “mãe de sobrevivente”. Outro termo
é HaYah que quer dizer “viver”. Os dois termos podem ter origem muito mais
profundas como ser uma comunidade de humanos comandado por mulheres. Há lendas
sobre comunidades assim, que remontam várias tradições e faz um certo sentido,
porque são comunidades que viviam em harmonia e começaram a viver em desarmonia
com o que é espiritual.
Por outro lado, há também uma grande discussão sobre os 6
dias que Deus fez um mundo, que remontam, os 6 períodos geológicos. Mas, a questão
ultrapassa uma leitura literal da questão, que pode muito bem, ir mais além do
que possamos ir. Mesmo o porquê, na questão de conhecer a si mesmo – atribuída aos
7 sábios da Grécia (Hellas) e usada na entrada do Oraculo de Delfos e depois
pela filosofia socrática – tem um lado, também, intrínseco de uma tradição espiritual
muito mais antiga. Tanto é, que a continuação da frase é que conheceremos o
universo e os deuses, ou seja, cada vez que somos convidados a conhecer a si
mesmo, somos levados a evoluir e enxergar uma outra realidade muito além de uma
construção e um sujeito que acha que tem o aval de Deus para falar por ele.
O que é o conhecer? Um dos significados é ter consciência, ou
seja, quando você tem o conhecimento de algo, a sua consciência vai saber que
aquilo existe e tem um significado. O objeto do conhecer, nesse caso, é você mesmo
no sentido de fazer um exame do que você é, assim, enxergar uma realidade muito
diferente daquilo que estamos acostumados. O “penso, logo existo” cartesiano (o
filosofo francês Rene Descartes) radicalizou o termo dizendo que temos a
certeza da nossa existência, pois, podemos duvidar de tudo. Posso duvidar que
exista a banda que estou ouvindo e achar que é uma musica produzida por
programas de música, ou posso duvidar que possa existir uma flor chamada rosa,
mas, não posso duvidar de mim que estou escrevendo esse texto.
Quando temos a certeza de uma existência e que aquilo que
todo mundo diz pode ser ilusão (as sombras de algo muito maior), pode ser que
nem exista, porque botamos ali o critério da dúvida. Aliás, somos os únicos animais
que podemos ter consciência da realidade que nos cerca e assim, podemos
perceber que além das inúmeras coisas pela ciência, há outras muito mais além do
que nossa realidade possa responder. Então, essa imagem fechada, esse pacotinho
pronto de um “deus” barbudo em um trono, me parece, algo muito limitado e dará vazão
a uma outra realidade. O mito da caverna platônico explica muito isso. A caverna
é a sociedade impondo ordens morais que nem as pessoas entendem, intelectuais
tentam entender, mas, não entendem. Porém, aquele que entendem que existe uma
outra realidade – o mundo das ideias de Platão era muito mais além do que esse
mundo espiritual do espiritismo que se diz kardecista – são taxados de doidos,
incomodam, são isolados pelo medo daqueles que se sentem confortados com
aquilo. Aquilo é o limite de seus espíritos amedrontados. É o limite de pessoas
limitadas. Será mesmo que precisamos nos religar?
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