terça-feira, 27 de julho de 2021

Puseram fogo no Borba Gato

 

 

Estátua de Borba Gato em Sabará, Minas Gerais

Amauri Nolasco Sanches Júnior

 

Manuel Borba Gato nasceu em território paulista em 1649, filho de pais que vieram da Ilha Terceira – é uma das nove ilhas do Açores – que vieram se estabelecer na capitania de São Vicente. Seu pai João Borba Gato e seu tio Belchior de Borba Gato, eram de bandeira também e desbravavam o sertão paulista e mais tarde se envolveu (seu pai), na revolta contra os jesuítas e na Aclamação de Amador Bueno, que aconteceu em 1641. Com esse ambiente familiar – que era feito de desbravadores – o jovem Borba Gato se tornaria também um bandeirante e se casou com Maria Leite, filha do “caçador de esmeraldas” e também de índios, Fernão Dias Pais.

Uma adentro é importante na nossa análise, pois muitos não sabem de onde vieram os bandeirantes.  A questão que se levanta é: será que eles tiveram importância dentro da colonização mesmo? Porque, vendo a colonização dos Estados Unidos – que tinha o nome de Nova Inglaterra – vimos que a própria Inglaterra mandava ou ia, famílias para a colonização e uma expansão do território britânico e a criação de cidades que iriam construir um país. A colonização ibérica – onde o reino de Portugal se podia ser confundido com o reino da Espanha – foi mais de procura de riquezas e de enviar a parte nobre e seminobre que na maioria das vezes, matavam índios e escravizavam eles para trabalharem ao seu favor. Como os índios não eram muito de aceitar a escravidão – mesmo o porquê, conheciam o território – se começou a comprar escravos da africanos que vendiam os derrotados de guerra. Não que a colonização norte-americana foi menos predatória – mataram índios, escravizaram negros e derrubaram florestas – é que a colonização ibérica não visava, e nunca visou, a expansão do território português ou espanhol.

Os sertanejos – que posteriormente foram chamados de bandeirantes por defenderem uma bandeira – eram famílias que procuravam riquezas. Mas também procuravam indígenas para escravizar ou exterminavam os quilombos (formados por negros fugitivos). Por outro lado, colaboraram bastante para expandir o território do Brasil além daquele que foi imposto pelo Tratado de Tordesilhas, ocupando tanto a região central, como o oeste e o sul do Brasil. E eram os descobridores de ouro nas regiões que hoje são Minas Gerais, Goiás e Mato Grosso.

Dercy Ribeiro, historiador, dizia que os bandeirantes podiam se apresentar em um panorama racial muito diverso, dizendo que entre as famílias sertaneja eram normais a miscigenação com índios era a regra da sociedade da época – um embranquecimento? – inclusive até mesmo, da elite que sempre foi considerado como “homens bons”. Nesses primórdios da sociedade brasileira, a estrutura familiar era patricenica e poligâmica, ou seja, era formado com o pai – pater – e muitas mulheres indígenas com suas proles e parentes dessas mulheres. O casamento católico apenas foi firmado muito tempo depois. A maior bandeira que se tem notícia foi de Manuel Preto e de Antônio Tavares e 2 mil indígenas, assim demonstrando o enorme peso demográfico ameríndio naquele tempo.

Além de falarem o português tradicional entre eles, os bandeirantes falavam a língua paulista, uma língua que usavam muitas vezes cotidianamente entre eles. E foi com termos em tupi que os sertanejos davam nomes de vários lugares por onde passaram, tendo origem de muitos topônimos brasileiros, como por exemplo, Jundiaí, Piracicaba, Sorocaba, Taubaté, Guaratinguetá, Mogi das Cruzes etc. Porém, a imagem dos sertanejos não é das melhores, pois foram responsáveis por escravização de indígenas e por exterminarem muitos deles. Mas, a imagem positiva deles foi amplamente positivada no final só século dezenove e, principalmente, nos anos 20 e 30 do século vinte por causa da elite paulista que tinha que centrar seu poder que enfraqueceu com o getulismo e, consequentemente, sua influência política.

Portanto, a imagem dos bandeirantes não foi das melhores e ao invés de ajudar Portugal na colônia, devastaram como gafanhotos em uma plantação. O fato é que já no tempo de Borba Gato – século dezessete – a procura de riquezas aumentou.  Suas tarefas de proteger o litoral dos ataques indígenas – que não deixavam formar engenhos de cana e nem a extração de pau Brasil – virou a formação do vasto território brasileiro.  Borba Gato depois de se casar com a filha de Fernão Dias, na bandeira do sogro percorreu entre 1674 e 1681, as matas entre São Paulo e do Mato Grosso. Depois de 1681, quando seu sogro morre nas margens do rio das Velhas, ele foi para Minas Gerais onde se desentendeu com o fidalgo (representante da coroa) chamado Rodrigo de Castelo Branco – que não era português e sim, castelhano – tendo um desentendimento com ele por causa das pedras preciosas (que depois se descobriu que não eram esmeraldas e sim, turmalinas).

O corpo de Castelo Branco foi encontrado e Borba Gato foi acusado do crime e para não ser condenado, preferiu ir para o sertão e encontrou ouro no mesmo rio que o sogro tinha morrido nas margens. O governador do Rio de Janeiro descobriu esse fato e o bandeirante negociou sua inocência em troca em dizer onde veio o ouro. Assim foi feito, em 1698 além de conseguir o perdão ainda conseguiu um posto de tenente (um oficial que desempenha, por delegação, as funções de uma outra pessoa). Logo depois, mostrou onde estava todo o metal precioso nos ribeirinhos e na serra de Sabará. Borba Gato morreu em 1718 e seus restos mortais se encontram em local desconhecido.

Borba Gato foi filho do seu tempo, que os bandeirantes ou sertanejos, eram importantes dentro das colônias latino-americanas para “fincar” as estacas nas terras. Além disso, foram designados para proteger as capitanias dos povos indígenas e de possíveis invasores, como os franceses invadiram o nordeste brasileiro. Na verdade, se fomos muito mais a fundo, a questão é que a península ibérica transvestida de monarquia absolutista – adoravam imitar as realezas francesas e inglesas – mas eram ainda nações feudais e fizeram das américas um feudo maior. Talvez, nossa cultura tenha sido construída dentro de atos já na época – não dá para fazer uma análise sem fazer um anacronismo – não éticas e fora do contexto, já que esses homens vieram para proteger e foram exploradores e gananciosos. Eram germes da ralé de Arendt, que colocou sua origem no imperialismo capitalista, que punham a ganância no patamar nas suas obrigações. Homenagear esses homens não faz muito sentido, assim como homenagear qualquer um que atente contra vidas, contra seres humanos e forjando tiranias, sejam de direita ou de esquerda.


Bibliografia:


Borba Gato Bandeirante paulista

Biografia de Borba Gato

Borba Gato (Wikipédia)


veja também:

sexta-feira, 23 de julho de 2021

A democracia das aranhas de Machado de Assis

 

 


Amauri Nolasco Sanches Júnior

 

 Imagine uma raça de aranhas que começam a se juntar e um pesquisador descobre sua linguagem e começa a organizar uma sociedade aracnídea e essa sociedade, começa a ter os mesmos problemas que a sociedade humana. Problemas que já eram vistos no passado – principalmente, no Brasil – onde as eleições tinham fraudes, faziam de tudo para ganhar a aranha que comandava uma turma e a urna. Quem seria a aranha tecedeira que seria a Penélope – em alusão a mulher e rainha de Ulisses que teceu um tapete até a volta do marido – à espera de um Ulisses que pudesse ser digno de vencer? Machado de Assis (1839-1908), foi o gênio da escrita e foi um cara que sintetizou a alma humana como ninguém (deu para perceber que Machado tem minha admiração) e no conto “A sereníssima República”, ele faz uma crítica severa a sociedade e uma crítica as ideologias políticas.

Cheguei a esse conto graças a uma palestra da Nova Acrópoles – com a professora Lucia Helena Galvão – que usou viários contos como referência filosófica e um desses contos machadianos, estava esse. Talvez, como mostrou a professora Lúcia Helena, Machado tenha feito uma critica as ideologias e formas de governo dizendo que não importa qual forma de governo ou ideologias seguimos, se não mudarmos a si mesmo não haverá governo nenhum que possa resolver o problema da humanidade. Pois, se prestarmos mais atenção no conto, podemos ver que o conto mostra que as aranhas se esqueceram da sua natureza e ficaram deslumbradas com o poder de comandar a comunidade aracnídea. E esse é o problema, pois, nenhum ser humano vai arrumar um problema que é só seu.

Mas uma coisa é interessante no conto, o pesquisador aprendeu a linguagem das aranhas e implantou a ideologias para elas e elas aprenderam, como um teórico que ensina numa comunidade e depois observa como aquela teoria se comporta. Como se as coisas fossem externas e não, elas são internas e tem a ver com o patrono da filosofia: Sócrates. A filosofia socrática é uma teoria onde a preocupação não é a origem de tudo e sim, a origem de si mesmo para se conhecer para conhecer a verdadeira realidade. Por isso mesmo, Sócrates vai dizer que uma vida que não é examinada não vale a pena ser vivida. O que seria uma vida examinada? Talvez, usando o conto, se a aranhas fossem conhecer a si mesmas e perceber que elas não eram humanas e não tivessem nenhum compromisso social – e não precisariam ter – elas indagariam o pesquisador o porquê ele queria implantar uma coisa humana, numa comunidade de aranhas. Ou acharia estranha essa coisa de democracia que um voto valeria como um e a maioria colocaria um individuo mandando nas outras aranhas, porque o mundo é muito maior para um individuo pode arrumar e comandar outros.

A questão que se levanta – que está até no livro Origem do Totalitarismo de Hannah Arendt – foi a implantação da igualdade como direito universal e insolúvel sendo que cada um tem sua natureza. Todas as tentativas de socialismo (seja de direita ou esquerda) governos totalitários, ditaduras e as democracias liberais (ditas liberais), foram idealizadas em cima da igualdade francesa dos tempos da revolução. Mas, se fomos parar para pensar, o individuo como soberano das suas decisões e da sua própria autonomia não existe mais. Por quê? Porque aconteceu o que aconteceu com as aranhas, sua natureza foi esquecida e o estado ficou o grande provedor daquilo que a si próprio deveria ser o foco da questão. Será que somos livres? Será que podemos escolher mesmo? Será que não somos enganados para trabalhar por uma coisa maior?

Como é demonstrado no conto, a igualdade não existe quando você começa a enxergar cada consciência, cada ser como único que pode mudar a si e a realidade. Pois, não precisamos pregar a igualdade, precisamos ter consciência que não somos aquilo que nos tentam impor.

terça-feira, 20 de julho de 2021

Olavo tem SUS, PCD não tem nem BPC

 





Amauri Nolasco Sanches Júnior

 

 

 O Brasil tem um grande mal, sempre favorecer os mais famosos ou os políticos para ter “vantagens” quanto a isso. A questão vai mais longe, há a cultura da vantagem e essa cultura vem destruindo a nossa ética e contaminou, ate mesmo, nossa moral. Um outro mal da nossa cultura é sempre colocar coisas ou pessoas como uteis ou não, por causa do pensamento de utilidade daquilo ou que aquilo não tem utilidade nenhuma. Por exemplo, a grande parcela da população, acha o trabalho intelectual um trabalho inútil e sem sentido, em contrapartida. Mas, não sabem essa maioria, que tudo que usamos foram pensados de uma forma intelectual como teoria. Tudo teve um começo numa teoria e não importa o que seja.

Semana passada, eu escrevi uma notícia que o escritor e filosofo Olavo de Carvalho veio para o Brasil e fazer exames na bexiga que havia uma infecção, ser internado no InCor (que é ligado ao Hospital das Clínicas). Aí vem a pergunta: pela rapidez da operação e dos exames, ele fez uma triagem? Será que houve uma furada de fila nas condições de ser operado e examinado? Quem custeia essa internação? Porque é muito fácil ser famoso no Brasil, pois temos uma cultura facilitadora e que reage muito bem – e as coisas são mais fáceis – quando pessoas são famosas. Interesses? Conjunturas? Foto junto com o famoso? não sabemos. Mas sabemos que as coisas são bem mais fáceis com quem tem uma certa fama.

E vamos falar a verdade, nós não temos políticas públicas como prioridade, porque na visão da maioria não somos uteis para aumentar o PIB (produto interno bruto) brasileiro e nem servimos para ter uma imagem eleitoral. Como disse, temos uma visão cultural que só pode existir aquilo que se é útil e serve para si, não tendo serventia, se deve ser descartado. Nós, pessoas com deficiência, devemos ficar em casa. Devemos ser sustentados pela família. Não devemos sair, não devemos estudar, não devemos trabalhar, não devemos namorar e não devemos transar. Mulheres americanas, ainda, são operadas pelos pais, mutilam elas. As mulheres com deficiência são mutiladas mentalmente, que no geral, vivem em sociedades totalmente, machistas. Mas, no geral, as pessoas com deficiência são tratadas como “vasinhos de flores” que você dá água, comida e um divertimento, ela vai ficar quietinho no seu canto e não é bem assim. Pessoas com deficiência devem ficar quietas e contentes.

Enquanto Olavo tem o Sistema Único de Saúde (SUS) ao seu dispor, muitas pessoas com deficiência não podem trabalhar, não por falta de qualificação (como alegam muitos donos de empresas), mas porque ainda se tem a imagem de inutilidade e não saber a função necessária e, muitos casos, é uma questão estética. As empresas ficam feias com pessoas com deficiência (principalmente, agencias de publicidade) e não podem gastar com acessibilidade – como se não fosse lei acessibilizar – e não contratam deficiências mais severas (cadeirantes) e sim, deficiências mais leves ou com menos estudos. Isso é a verdade, ninguém quer uma pessoa com deficiência em sua empresa e o que é pior, o benefício que deveria ir para as pessoas com deficiência como uma ajuda, ou é negado ou é tirado.

O BPC (benefício prestação continuada) é ou deveria ser, um benefício para ajudar o custo dos gastos das pessoas com deficiência ou que não podem trabalhar, ou que não arrumam trabalho por causa do não endurecimento da lei de cotas. Ou, até mesmo, a falta de campanhas que possam conscientizar as pessoas não é inúteis. Como eu disse, não somos uteis na questão de aumentar a produtividade do Brasil. Porque temos uma cultura tecnicista que não admite nada que não seja considerado útil, como as pessoas fossem um objeto ou uma máquina. E nem se tem trabalho e nem o governo quer pagar o benefício. Isso faz nós temos um paradoxo, pois, o que as pessoas com deficiência podem fazer ou lutar? O que faremos? Será que essas coisas são importantes para o segmento? Sei não.

domingo, 18 de julho de 2021

Eu, esquerdista?

 


A filósofa Hannah Arendt na década de 1960 (revista Cult)

Amauri Nolasco Sanches Júnior

 

>>>Para ela, povo é aquele movimento social articulado a partir de interesses concretos e definidos, inclusive de classe social, que reage para defender seus direitos quando são atacados – e por isso ela identifica povo com a democracia. Já a ralé, no sentido político, é formada por uma massa de cidadãos de várias classes, alimentados por uma “amargura egocêntrica” que produz uma forma de “nacional tribal” e também o “niilismo rebelde."<<<


Hannah Arendt (1906-1975), filosofa política, no seu livro (muito bom, por sinal), Origem do Totalitarismo, explica o que é a ralé. Na visão da filosofa, a ralé é, fundamentalmente, um grupo no qual são representados todo tipo de resíduo de todas as classes (não tendo uma classe específica). E assim, é muito fácil confundir a ralé com o povo no geral, que também tem uma compreensão de todas as camadas dentro da sociedade. Mas, enquanto o povo, nas várias revoluções luta para colocar um sistema representativo, a ralé branda sempre pelo “homem forte” ou o “grande líder”. Pelo simples fato que a ralé odeia a sociedade da qual é excluída, e odeia o parlamento onde não se sente representada. E quando você lê esse tipo de coisa, se começa entender o que acontece com as discussões políticas hoje, que com os casos de corrupções do governo petista, se formou um antipetismo.

Esse antipetismo despertou os membros da ralé brasileira – que não está preocupado com o Brasil e sim, do seu próprio bem-estar – que não gostam de discutir nada e sim, gostam de achar que um “grande líder” vai resolver o problema de tudo e não vai. Esse fenômeno não é só da direita, mas também está enraizado dentro da esquerda. Tanto, que Arendt denuncia também o governo totalitário soviético stalinista, como algo totalitário e importante para análise mais apurada da questão. Ou seja, não importa o governo ou a direção ideológica que se originou esse governo, quem vai direcionar onde ele vai é o sistema que contrapõem a ideologia, que é dominado pelo estado e o estado que manda no processo. Se o governo é liberal, por exemplo, a parte socialista sempre vai ditar que aquilo tem que continuar ou não, como um sistema que abrange interesses de funcionário e alguns políticos ligados com esses funcionários. E no mais, dentro do estado há um sistema de castas, um sistema que sintonia e sintetiza as diversas posições ideológicas e interesses.

O Brasil, por muito tempo, se criou um sistema de dependência social, porque se queria agradar gregos e troianos. Por exemplo, há uma lei de cotas das empresas para contratarem pessoas com deficiência (de uma forma educativa), mas para não pressionar essas mesmas empresas, se criou o BPC (Benefício de Prestação Continuada) e não se fala mais nisso. A questão não é ser a favor ou não, mas, exigir um respeito e um reconhecimento da capacidade dessas pessoas (no qual, eu me incluo) e que a incapacidade é um mito. Então, houve uma normatização do benefício para não confrontarem, uma burguesia que não entendia, como não entende ainda, que se mede um funcionário com o seu currículo. Não sei se há precedentes culturais, mas o brasileiro ainda se dentem no corpo e como esse corpo é na sua aparência. Mostrando que ainda – coisa que ficou no século dezenove – se baseiam no modo aparente e não no modo comportamental. Assim nasce o preconceito. Assim nasce, também, a ralé que demonstra, total desprezo pela sociedade na qual faz parte.

E nesse sentido, se você faz críticas contra o Bolsonaro (que se diz da direita conservadora) você, automaticamente, ou vira da “direita limpinha” – na qual chamam os liberais – ou esquerdista. Que aliás, o termo esquerdismo vem desde Lenin – sim, tinha um plano de eliminar os esquerdistas russos – e vem sendo usado muito para a direita ralé se identificar como limpinha e ética, só que não. Não há logica nenhuma. A questão que se usa a narrativa ideológica para definir coisas que não deveriam ser definidas tão fáceis assim e nem tão simplistas, pois, ideologias para serem montadas foram exaustivamente, discutidas. Simplificar para alienar.

Mas, a meu ver e está no texto de Arendt, não é só a extrema direita esta a ralé, a extrema esquerda também tem esse tipo de personagem social. Que se coloca como vítima social, não se sente representada por ninguém do parlamento e quer ou espera esse “homem forte” para tirar todo mundo da pobreza. O bolsonarismo, aliás, é um subproduto do lulopetismo e tem em seu cerne o mesmo modo operandi. Apelidos (formas de adjetivação), colocar ações que não aconteceram, o mundo conspira contra o governo que acha que vai resolver todos os seus problemas. Porém, não vai. As pessoas acham que governos ou políticos ficam pensando os problemas 24 horas por dia, mas não ficam e não fazem nenhum esforço para isso. Não importa qual ideologia um governo tenha, o processo político é um processo de negociação e nessa negociação, a parte mais fraca sempre vai ficar de fora. Por que políticas públicas para pessoas com deficiência, por exemplo, demoram tanto? Por que políticas acessíveis não são implantadas de imediato? Porque há acordos e sempre o lado que não aumenta o PIB, que sai da pauta e não interessa qual pauta o governo é.

Portanto, nem sempre quem critica o capitalismo do Brasil (muito atrasado), é um socialista e nem sempre quando você critica a esquerda você é um fascista. No mesmo modo, nem sempre quem critica o bolsonarismo é um esquerdista e nem sempre quem critica o lulopetismo é direitista. As coisas não são tão simples assim, pois, não há uma explicação simples de ideologias tão complexas como esta.

quinta-feira, 15 de julho de 2021

A ditadura de Cuba

 


Amauri Nolasco Sanches Júnior

Devemos, sempre, apoiar a liberdade. Só que acontece, que liberdade existe um problema, porque a liberdade é um conceito que tem a ver com vontades, com escolhas, com aquilo que as pessoas desejam ou não, dentro dos valores e dentro daquilo que conduz ao objeto desejado. A questão é: será mesmo que somos libertos ou não? Será que nossos desejos são espontâneos ou são induzidos?  Porque a esquerda socialista – os marxistas, num modo geral – sempre colocaram, seguindo o pensamento de Marx, que há um fetichismo dentro daquilo que se consome e que faz você comprar acima do valor real, ou seja, quando aquilo virar moda, aquilo tende a banalizar e não ter mais significado. Mas, tem um problema, mesmo com esse suposto fetichismo, há uma vontade e existem pessoas que não se rendem a moda, e consomem aquilo que, realmente, gosta.

O gostar é muito daquilo que você é e não, necessariamente, tem a ver em ser induzido. Há indução? Claro que há, como há indução em tudo que você não gosta, como o capitalismo, como a religião etc. a meu ver, toda a realidade te induz a ser aquilo e a gostar das coisas que você gosta e não é tudo que você escolhe. O próprio Sartre – filosofo francês do século vinte – disse que toda escolha tem sua consequência e por isso mesmo, somos condenados a sermos livres. Mesmo o porquê, mesmo que o capitalismo não seja um paraíso – e não quer ser – o socialismo que induzir o ser humano a ser pobre em nome de uma igualdade que na realidade, não existe. Como demonstrei, o gosto é uma propriedade daquilo que se formou enquanto persona, não dá para você achar que as pessoas vão comer aquilo e não querer outra coisa ou mais comida. Não há fetichização nenhuma, há uma vontade de comer aquilo.

ÀS vezes, queremos comer no “mequê”, outras vezes queremos comer um pastel com caldo de cana numa esquina qualquer, e todo mundo tem o direito de querer isso. A questão é o direito de ser o que somos e não o que temos que ser. O que somos? Por que fazemos aquilo? Ai que a questão fica mais interessante, porque se você não sabe quem é e nem a realidade no qual você vive, a melhora nunca vai vir. A questão nunca foi o capitalismo ou ideologias, foi as escolhas e sobre a liberdade. Isso não é uma filosofia burguesa, mesmo o porquê, a burguesia de hoje é tão ou mais alienada, do que a massa. Não sabem a realidade porque se transformam, no pesar do tempo, em rales que podem eleger pessoas tirânicas, sejam de direita, ou sejam de esquerda. Que, aliás, atentam contra a liberdade delas mesmas.

O capitalismo esta certo em tudo? Não. Há várias desigualdades de oportunidades e preconceitos que são alimentados pelo capitalismo e pelo mercado da “perfeição”. Então, devemos defender o que, afinal? A liberdade de fazer e sermos o que queremos ser, se isso é errado, qual o critério de nos fazer acreditar que isso é errado? Porque, como demonstrei ao longo do texto, muitas vezes, nossos gostos são reflexo do que somos.

terça-feira, 13 de julho de 2021

Cadeirante filósofo e roqueiro

 


SE O ROCK É ILEGAL, ME ENFIEM NA PRISÃO!

KURT COBAIN

 

 

Amauri Nolasco Sanches Júnior

Quando eu tinha 12 anos de idade, eu ouvi pela primeira vez uma banda chamada Guns`N Roses e gostei do que ouvi. Músicas barulhentas e que o ritmo era rápido e sem nenhuma frescura. Eu gosto de músicas que tenham um ritmo definido e que tenham como pauta, falar a verdade e o que sentimos sem drama nenhuma. Esse foi meu primeiro encontro com a verdade. Quando eu tinha 21 anos, mais ou menos, eu descobri a filosofia como modo de reflexão e sai de um hiato que era ser pessoa com deficiência (cadeirante) e perceber minha realidade e tudo que acontece na minha volta. Foi meu segundo encontro com a realidade. Hoje, depois dos quarenta e com mais maturidade, percebi o quanto o rock tem a ver com a filosofia. O quanto as pessoas discriminam o rock – não poderia ser diferente – por causa do questionamento que as músicas sempre mostram. Não é diferente na filosofia, sendo ela, questionadora das verdades solidas sociais.

Indo bastante longe, acho que a questão da visão infantilizada da deficiência vem de uma cultura que sempre nos colocou como pessoas sem consciência. Não a toa, pessoas com deficiência, por séculos, ou foram exploradas para serem pessoas pedintes (esmoleiros) ou eram colocados nas diversas casas de caridade. Só a partir dos anos 80, isso mudou um pouco – descobri que mulheres com deficiência nos Estados Unidos, estão sujeitas a serem operadas para não terem filhos pela própria família – quando houve grandes manifestações mostrando que temos sim consciência daquilo que fazemos. Mas, ainda hoje, muitas pessoas com deficiência são levadas a terem uma educação religiosa – na maioria dos casos, para serem curados – e que não tem instrução nenhuma, mesmo que essa deficiência, não tenha nenhuma interferência na sua escolha cognitiva.

Por que a maioria renuncia à sua liberdade? A questão da incapacidade começa no hospital, quando o médico (num tom de velório) diz que o filho do casal tem alguma deficiência. Se começa um processo de culpa e nesse processo a pessoa começa a se enfiar numa religião, pois, a ciência não dará uma resposta fácil ou que tenha só uma verdade. A religião sempre vai dizer que é uma redenção ou uma prova ter um filho com deficiência e assim, eles têm que aceitar essa pessoa que Deus mandou para eles. Eu não acredito nesse Deus. Mas, sempre as pessoas com deficiência foram exploradas em nome da fé e isso nem era culpa das pessoas, mas de uma narrativa da consolação que aliviava a dor de ter um filho com deficiência. Os próprios acham isso até hoje e se são questionados, dão respostas prontas e nem mesmo, sabem o que estão dizendo. Ouvem músicas que todo mundo ouve e segue o que todo mundo segue e isso não agrega nada na vida de ninguém.

E para não questionar, começam a dizer que são ecléticos. Mas, a meu ver, ser eclético é ser apaziguador. Não vou dizer que não gosto de outros ritmos, gosto de anos 80 num modo, quase, geral, mas, se tem que ter consciência de um gosto musical mais teu e não aquilo que impunham. Tirar fotos suas e não fotos que tiram para você. O gosto é seu, não é de ninguém. E quando começamos a mostrar que temos gostos próprios, que temos vontade próprias, que temos vontade de seguir ou não religiões, mostramos que não somos imaturos e que não somos manipulados, a visão social muda. Cada pessoa (por isso mesmo se colocou pessoa em primeiro lugar) com deficiência é um indivíduo único e próprio e que deve ser respeitado como tal. Não se curar de uma coisa que nem doença é – só lembrando que o pastor Valdomiro é manco – sim, uma limitação que não atrapalha nada a vida.

Na verdade, eu nunca achei que as pessoas com deficiência deveriam ser incluídas – mesmo o porquê, pessoas com deficiência são parte da sociedade – e sim, deveriam ser respeitadas como pessoas. Não nascemos fora da sociedade, nascemos dentro da sociedade. A questão é sempre uma questão de respeito e sempre enxergar as pessoas com deficiência como pessoas autônomas, como pessoas que tem uma consciência e podem pensar por elas mesmas. Não faz mais sentido essa política de segregação das pessoas com deficiência, mostrando quanto a nossa cultura é atrasada e por que não, ainda, é uma cultura medievalista e não moderna. Eu sou a prova viva – e muitos amigos também – que podemos pensar por nós mesmos e ter nosso próprio gosto. Nossa própria maneira de pensar. Nossa maneira de agir. Nossa maneira de ter uma espiritualidade própria sem depender da maioria. Nenhum governo vai dar isso para nós e nenhum governo será capaz de entender, que uma deficiência nao faz uma pessoa inútil.

sábado, 10 de julho de 2021

O existencialismo e o Facebook

 



Um homem não é outra coisa senão o que faz de si mesmo.


Amauri Nolasco Sanches Júnior

 

Fui bloqueado do Facebook por causa de uma brincadeira que fiz com meu amigo de ir “espancar” ele só porque brincou que ia colocar um cara xarope na moderação do grupo, mas era tudo uma brande brincadeira. Ele não ia colocar o xarope e eu não ia espancar ele. O grande problema de algumas plataformas é a questão de automação. A automação é bastante prática, mas deixa lacunas entre a intenção do autor daquela frase ou texto. Esse é o cerne do existencialismo: escolhas. E, a meu ver, as escolhas são, totalmente, humanas. Até o momento, não se há nenhum registro de inteligências artificiais conseguindo fazer alguma escolha e fazendo uma seleção da intenção tanto daquele que executou, como a intenção da sua própria intenção de executar. Daí a frase de Sartre faz todo sentido.

Jean-Paul Sartre (1905-1980) dizia que as escolhas faziam do ser humano aquilo que ele era, ou seja, primeiro ele passa a existir como consciência e depois ele passa a definir como ser. O ser aparece do nada. A frase que coloquei acima, mostra muito bem, a questão da construção do seu próprio caráter só tem a ver com você e por isso mesmo, Sartre vai dizer que somos condenados a sermos livres. E nessas escolhas podemos dizer que há as consequências. Então, a interpretação humana, pode definir se alquilo é ofensivo ou não conforme o caráter de cada um for definido.

Essa é a discussão quando discutimos a inteligência artificial: como confiar nas decisões? Porque, esse tipo de inteligência pode operar com decisões logicas, mas nem sempre as decisões logicas podem resolver problemas. Existem as escolhas morais e éticas. Um policial androide pode estar na rua e então vê dois jovens com agressões: como sabe se aquilo ou não é uma agressão de verdade? Como saber se na pior das hipóteses, aquilo não vai resultar em uma morte? Isso mostra que o sonho iluminista de livrar o homem da superstição levando ao pensamento logico racional, pode levar as outras atrocidades. O ser humano se define também com o sentimental e com a capacidade de ter empatia com o outro. De saber onde ou quando agir ou não. Um algoritmo é uma definição muito logica e não existe escolhas, ou sim (dentro de definições estabelecidas) ou não (dentro dessa mesma regra). Nem sempre a escolha é feita de sim ou não. As vezes, as escolhas são feitas de interpretações e nada tem a ver com motivos lógicos.

A ética, por exemplo, tem a ver com essa construção da consciência do que somos e o que fazemos no mundo. Esse é o problema, inteligências artificiais não tem consciência. Não escolhem (não como uma terceira via), não percebem, não tem empatia. Qual o limite do algoritmo mesmo?

sexta-feira, 9 de julho de 2021

Bolsonaro ‘cagando’ pra CPI e eu cagando pra esses políticos

 



"Hoje foi o Renan [Calheiros], o Omar [Aziz] e o saltitante, fizeram uma festa lá embaixo, na Presidência, entregando um documento para eu responder. Sabe qual a minha resposta, pessoal? Caguei"

Bolsonaro (fazendo palhaçada)

 

Amauri Nolasco Sanches Júnior

 

Essas falas são de um presidente da república, que como tal, deveria ter caído a fixa a muito tempo, que não é mais um deputado do baixo clero. Aliás, estamos vendo uma palhaçada atras da outra dentro do cenário político como se eles não estivessem levando a sério todas as crises que o Brasil vem passando todo esse tempo. Não há como negar o descaso e as questões importantes que foram deixadas de lado, por causa de uma política rasteira e populista que estamos vivendo. Bolsonaro – assim como foi construída a imagem do Lula – faz parte da política populista que sempre houve no Brasil, desde quando, o Getúlio Vargas subiu ao poder. Resoluções rasas, obras populistas, soluções fáceis para garimpar a ralé moderna que não quer um governo de verdade, quer um líder forte, um homem que vai resolver todos os problemas do país. Mas, não vai. A ralé não discute política, não gosta de política, não se interessa por política. Só que questões importantes passam pela política e não adianta fugir.

Estou lendo Hannah Arendt (1906-1975), e estou aprendendo bastante – aliás, quem quer entender esse fenômeno hoje no país deveria de ler “Origens do Totalitarismo: Antissemitismo, imperialismo, Totalitarismo” – na qual, ela explica todo o processo que levou a ascensão do fascismo italiano e o nazismo alemão no começo do século 20. A questão é sempre em volta de nichos que são usados como bode expiatório por governos que querem se perpetuar no poder, como os judeus foram por muito tempo na Europa. E isso sempre é levado a diante por uma leva que Arendt chamou de ralé moderna. A ralé na modernidade é muito diferente do termo no modo clássico, porque a ralé para a filosofa – mesmo que ela não gostava de ser chamada como tal – era indivíduos que não sabiam e nem queriam discutir política. Pois, se a massa quer achar um governo forte e que resolva os problemas do país, a ralé coloca as esperanças em um único sujeito forte. E a ralé não tem nenhuma classe, porque ela está em todas as classes sociais.

O populismo é feito dessa ralé, pois querem uma resolução fácil e rápida. Porque não entendem o processo político que passa cada governo, cada ato de não ser únicos dentro da sociedade. Essa fala do presidente da República mostra como estamos atrasados dentro da modernidade no Brasil, mesmo o porquê, nunca houve uma vontade política de fazer essa modernização. Somos o curral do mundo, onde o mundo busca onde comer e onde plantar o que precisa. Para que modernizar nossa nação? Para que achar que brasileiro serva para outra coisa a não ser, plantar? Por outro lado, há uma vontade de se modernizar e achar meios para melhor desenvolvimento de uma nação que 500 anos é explorada e nada cresce a não ser na corrupção. Não há nação mais descarada em matéria da corrupção como o Brasil. Infelizmente, parece que temos essa característica no nosso DNA, mas, podemos ver uma grande parte ainda honesta e que trabalhe para ganhar dinheiro. A questão é bem outra.

A questão é a crença do “homem forte”, a crença de um “messias” que nos levara ao paraíso sobre a terra. Não há paraíso nenhum. Há uma esperança vendida e que não existe. Nada diferente dos remédios enganadores medievais – que caracteriza muito o Brasil – das curas milagrosas, do rei vindo da divindade para fazer o que o corpo político deveria fazer. Esse corpo político é o povo. A grande massa popular que elege e deveria cobrar mais eficiência, mas eficácia política. Mas, como tudo aqui, falta vontade política de dar educação e o povo melhor cobrar e ter uma visão crítica. Visão importante dentro da política. E pensam ser conservadores, pois, o conservadorismo tem a característica de ser cético e centrado numa única coisa, a conservação das instituições políticas.’  Ora, questões morais também entram na pauta, mas, não é avesso a mudança. Para um conservador, a mudança tem que ser cuidadosa. Há ainda uma outra confusão entre o tradicionalismo e o conservadorismo, pois, aqui se defende muito a tradição e não o conservadorismo. Só que mesmo no tradicionalismo, há uma confusão também. O Brasil foi colonizado pelos jesuítas da Companhia de Jesus, ou seja, nossa tradição como costume é católica e não protestante.

E outra coisa, que tradição tem que ser defendida? A católica italiana? A protestante alemã? A portuguesa? Qual? Não temos tradições consolidadas e nem costumes únicos, porque nosso território é muito vasto. Somos uma nação continental. Como fazer? Cobrar, cobrar.

Rachadinha do Bolsonaro

terça-feira, 6 de julho de 2021

Corrupção por vicio

 





 

Com a corrupção morre o corpo, com a impiedade morre a alma.

Santo Agostinho

 

Amauri Nolasco Sanches Júnior

 

Dias desses eu estava lendo um artigo do filosofo Luiz Felipe Pondé, onde ele falava da concupiscência como vicio daquilo que é material. Começou com Santo Agostinho (354-430), quando ele examina sua vida e começa a achar que aquilo era errado – principalmente, seu vicio por sexo – e começa a introduzir isso dentro da igreja católica. Tanto é, que a igreja transforma esse pensamento do bispo de Hipona (hoje Annaba), como um ponto importante dentro da sua doutrina: a castidade. Embora, que Juliano de Eclano (380-454) acuse Santo Agostinho de nunca ter deixado de ser maniqueísta – filosofia religiosa que foi fundada na Pérsia por Maniu Maquineu (século III) que acreditava em duas forças opostas: o bem e o mal – e ter forjado o conceito de concupiscência em cima dessa filosofia religiosa. Porque tem a ver na visão do bispo de Hipona, o sexo como um mal a ser expurgado da fé católica – que várias outras igrejas, posteriormente, vão adotar – pois, atrapalha seu trabalho de elevação para a verdade.

Mas, além da luxuria – que é um pecado capital – a concupiscência tem a ver com toda tentativa de obter bens e poder e isso, também, envolve a corrupção. A questão da corrupção, depois de muitas leituras, pode ter começado dentro do império romano, no qual, somos herdeiros diretos. Muitos papas medievais tinham essa prática de quererem tanto as riquezas de se viver com conforto, e depois da coração de Carlos Magno (742-814) no ano 800 – criando o Sacro Império Romano Germano – se começou querer o poder. Imagina a igreja herdar todo império romano mais os reinos germânicos e o papa ser o imperador, é um poder muito grande e poderia significar o imperador do ocidente inteiro. Mas, ao que parece, não funcionou e se fragmentou em vários reinos. Só terminou no fim da primeira guerra mundial, criando nações que hoje conhecemos. Aliás, desde o império romano, as coisas sempre foram muito mais dirigidas ao poder do que ao dinheiro, mesmo o porquê, a nobreza sempre foi a nobreza em status e em riquezas insuperáveis, então, o negócio era mesmo o poder. E poder consiste em acordos – que envolviam casamentos arranjados – consistiam em política suja e consistia em dominação popular pela espiritualidade.

O Brasil como herdeiro de uma nação, pelo menos na época, totalmente, católica, como Portugal – que nos tempos de Roma, era o porto onde escoavam a produção e entrava mercadoria – onde muitas coisas foram herdadas e muito bem aprendidas, como vimos em toda colonização da nossa nação. Ninguém pode negar que o Brasil foi colonizado meio na marra, pois as outras nações que estavam nessas de navegação, já estavam de olho no Pindorama (como os índios chamavam aqui). Também tinha o Tratado de Tordesilhas – que parte do Brasil foi roubado da Espanha – e quem veio foram os condenados e nobres falidos, ou seja, eram primos do rei que não souberam guardar seus tesouros. Ou, até mesmo, eram nobres menores que queriam mais posses para aumentar seu prestígio. Somos uma nação construída por nobres falidos e gananciosos que não mediram nenhum esforço, para encontrar o que tanto almejava.

Portugal foi uma grande herdeira de Roma, assim como nações germânicas e nasceu de uma desavença entre mãe e filho. O infante Dom Henrique libertou “Portugale” da “hispânica” e declarou o porto – desde os tempos romanos – como uma nação, que desde então, lutou para ter uma identidade. Talvez, os nobres portugueses sempre se espelharam nos nobres franceses (não é a toa, que somos herdeiros da cultura francesa), e toda aquele luxo, toda aquela pompa, não chegava tanto. A nobreza portuguesa era gananciosa porque não conseguia juntar nada, se gastava muito – no qual, herdamos também, porque o governo gasta demais e faz muito pouco – não a toa, que a nobreza veio para cultivar as coisas asiáticas aqui. A cana de açúcar é asiática. A gana de conseguir mais dinheiro fez escravizar africanos – que eram vendidos para os americanos do norte – que vinham alimentar essa ganância. Ou seja, mesmo devotos da igreja católica, sempre nossas origens flertaram com a concupiscência.

O Brasil sempre foi uma nação que gosta de uma vantagem e uma gambiarra, pois, até mesmo das ideologias e nas religiões – quase tudo – metemos coisas que não existem. As religiões cristãs, no geral, sempre tiveram um ar católico, como evangélicos terem aversão de estudo e riqueza – Lutero iria abominar o protestantismo brasileiro – como colocaram no conservadorismo o liberalismo que não existe. Além, claro, que brasileiro nunca foi conservador e sim, tradicionalista. Ou a maioria só olha coisas antigas por quê? Porque brasileiro gosta da tradição, mas não segue toda ela. Gosta de leis e ordem, mas não segue toda ela. Há um hiato, bastante interessante, entre querer que a lei seja dada para os outros e não para si e para os seus. Que a ordem sempre é para os outros e não para si. Barulho de música alta incomoda do mesmo jeito, uma igreja com orações altas e música alta pode incomodar.

Essas notícias de corrupção não me é estranha, porque ao longo da minha vida sempre escutei que a pessoa faria o mesmo. Não é só uma questão de concupiscência, é uma questão cultural e única. Afinal, somos filhos de reinos que seguiam o cristianismo, mas não atuavam nele.

sábado, 3 de julho de 2021

Em pleno 2021 temos que falar de sexualidade do PCD

 





Amauri Nolasco Sanches Junior

 

Dias desses eu lendo meu feed de notícia (no Facebook), e me deparei com um post de uma mãe de um garoto autista, dizendo que o filho aprendeu a se masturbar sozinho e foi repreendida por isso. A questão é: o filho era dela, ela estava contando uma coisa que poderia servir para um monte de pessoas com autismo e outras deficiências. Afinal, quem não se masturba? Só porque temos uma deficiência não podemos ter uma sexualidade ao ponto de uma mãe não poder dizer que o filho autista aprendeu se masturbar? Com que direito as pessoas têm para repreender está mãe? No mesmo modo, as pessoas não têm direito de ficar vigiando o “rabo” dos outros e achar que tem o direito de se achar o senhor da moral.

Primeiro, toda essa moral cristã – ou se diz cristã – nem passa nem perto dos ensinamentos de Jesus Cristo, porque é uma teologia da dominação, uma teologia que foi criada para reunir ou tentar, reunir o império. Isso não faz da teologia da igreja algo verdadeiro, porque só foi forjado como um catalizador da união pelo poder imperial, isso muda tudo. Muda tudo porque a questão sempre foi materialista e nunca espiritual. Então, a questão sempre foi muito mais política do que metafisica. E não interessa, meu amigo, vim com o argumento que não tem nada nos arquivos da igreja, porque não iam guardar nos arquivos e você nunca vai ter acesso dos documentos de verdade. Claro, que vão negar a morte de vários nomes, vão negar a morte de milhares de pessoas com deficiência etc. Para assegurar a hegemonia do cristianismo como a mensageira de Cristo e não foi.

Outro motivo da sexualidade ser um tabu para as pessoas com deficiência além do moralismo – se confunde muito moral com moralismo – que tanto o cristianismo prega e não Jesus, também tem a visão que temos de alguns estereótipos fabricados por séculos de discriminação e ignorância. O termo deficiência veio do termo latim “deficiens”, que vem do verbo latino “deficiere” que quer dizer, desertar, se revoltar ou falhar, de “De” que é fora, mais o “Facere” que é fazer ou realizar. O falhar sempre foi uma imagem que nos colocaram para explicar a ausência de perfeição e se não temos perfeição, não temos alma. Isso mesmo amigão com deficiência cristão, muito antigamente, éramos considerados sem alma e como um animal. Largados ou nas ruas sequestrados por mendigos para pedir esmolas ou em instituições para pegar o dinheiro dos nobres, as pessoas com deficiência eram consideradas como não reprodutivas e que não podiam trabalhar ou gerar filhos. Ou seja, eram pessoas que não tinham utilidade para a sociedade.

No direito romano – no qual, somos herdeiros diretos – pessoas são indivíduos que tem todo o direito jurídico de serem membros da sociedade. Assim, como está no direito romano, se somos pessoas é porque somos membros da sociedade. Só que na filosofia, a coisa fica mais interessante, pois, na nossa língua no colonial, pessoa é sinônimo de ser humano. Mas, na filosofia, há muitos debates o que teria sentido o uso correto no termo ou discuti qual seria o critério de defini algo ou alguém como pessoa. Na filosofia, uma pessoa é uma entidade que tem certas capacidades ou alguns atributos que são associados à sua personalidade, como, por exemplo, em contextos morais, sociais ou institucionais. Ou seja, uma pessoa é um agente moral.

Moral não tem a ver com moralismo, pois, moral são regras de convívio de moralismo são essas regras (ou regras de uma determinada religião). Então, enquanto a moral pode nos dar um norte para um convívio, mais ou menos, civilizado, o moralismo seria uma tirania da moral. Por outro lado – nós, os filósofos – dissemos que a ética é a ciência da moral e assim, a ética que vai estudar as questões morais e determinar o que é moral e moralismo. Pode sentar-se no chão, bater a cabeça na parede e todo tipo de coisa, as pessoas constroem essa moral a partir de valores verdadeiros ou não. O conceito de moral é um conceito onde se presa a liberdade e o respeito, o resto é bobagem do cristianismo fake que estamos vivendo.

Se somos pessoas e temos consciência da realidade e da sociedade, somos agentes morais com deficiência. E, como pessoas, juridicamente, somos indivíduos que temos nosso direito. Não estamos mais na idade média onde somos internados em instituições e pronto, acabou o problema. Somos membros da sociedade e temos nosso direito garantido como pessoa, se queira ou não. Mas, existe um outro estereotipo: a da cadeira de rodas. Na história, a cadeira de rodas foi sempre usada para carregar pessoas com deficiência, se os hospitais têm cadeiras de rodas, apenas é um instrumento de auxílio. Portanto, a cadeira de rodas é um instrumento de pessoas com deficiência e não só para doentes. Essa coisa de generalizar, estraga o debate e nos coloca como doentes assexuados.