terça-feira, 20 de julho de 2021

Olavo tem SUS, PCD não tem nem BPC

 





Amauri Nolasco Sanches Júnior

 

 

 O Brasil tem um grande mal, sempre favorecer os mais famosos ou os políticos para ter “vantagens” quanto a isso. A questão vai mais longe, há a cultura da vantagem e essa cultura vem destruindo a nossa ética e contaminou, ate mesmo, nossa moral. Um outro mal da nossa cultura é sempre colocar coisas ou pessoas como uteis ou não, por causa do pensamento de utilidade daquilo ou que aquilo não tem utilidade nenhuma. Por exemplo, a grande parcela da população, acha o trabalho intelectual um trabalho inútil e sem sentido, em contrapartida. Mas, não sabem essa maioria, que tudo que usamos foram pensados de uma forma intelectual como teoria. Tudo teve um começo numa teoria e não importa o que seja.

Semana passada, eu escrevi uma notícia que o escritor e filosofo Olavo de Carvalho veio para o Brasil e fazer exames na bexiga que havia uma infecção, ser internado no InCor (que é ligado ao Hospital das Clínicas). Aí vem a pergunta: pela rapidez da operação e dos exames, ele fez uma triagem? Será que houve uma furada de fila nas condições de ser operado e examinado? Quem custeia essa internação? Porque é muito fácil ser famoso no Brasil, pois temos uma cultura facilitadora e que reage muito bem – e as coisas são mais fáceis – quando pessoas são famosas. Interesses? Conjunturas? Foto junto com o famoso? não sabemos. Mas sabemos que as coisas são bem mais fáceis com quem tem uma certa fama.

E vamos falar a verdade, nós não temos políticas públicas como prioridade, porque na visão da maioria não somos uteis para aumentar o PIB (produto interno bruto) brasileiro e nem servimos para ter uma imagem eleitoral. Como disse, temos uma visão cultural que só pode existir aquilo que se é útil e serve para si, não tendo serventia, se deve ser descartado. Nós, pessoas com deficiência, devemos ficar em casa. Devemos ser sustentados pela família. Não devemos sair, não devemos estudar, não devemos trabalhar, não devemos namorar e não devemos transar. Mulheres americanas, ainda, são operadas pelos pais, mutilam elas. As mulheres com deficiência são mutiladas mentalmente, que no geral, vivem em sociedades totalmente, machistas. Mas, no geral, as pessoas com deficiência são tratadas como “vasinhos de flores” que você dá água, comida e um divertimento, ela vai ficar quietinho no seu canto e não é bem assim. Pessoas com deficiência devem ficar quietas e contentes.

Enquanto Olavo tem o Sistema Único de Saúde (SUS) ao seu dispor, muitas pessoas com deficiência não podem trabalhar, não por falta de qualificação (como alegam muitos donos de empresas), mas porque ainda se tem a imagem de inutilidade e não saber a função necessária e, muitos casos, é uma questão estética. As empresas ficam feias com pessoas com deficiência (principalmente, agencias de publicidade) e não podem gastar com acessibilidade – como se não fosse lei acessibilizar – e não contratam deficiências mais severas (cadeirantes) e sim, deficiências mais leves ou com menos estudos. Isso é a verdade, ninguém quer uma pessoa com deficiência em sua empresa e o que é pior, o benefício que deveria ir para as pessoas com deficiência como uma ajuda, ou é negado ou é tirado.

O BPC (benefício prestação continuada) é ou deveria ser, um benefício para ajudar o custo dos gastos das pessoas com deficiência ou que não podem trabalhar, ou que não arrumam trabalho por causa do não endurecimento da lei de cotas. Ou, até mesmo, a falta de campanhas que possam conscientizar as pessoas não é inúteis. Como eu disse, não somos uteis na questão de aumentar a produtividade do Brasil. Porque temos uma cultura tecnicista que não admite nada que não seja considerado útil, como as pessoas fossem um objeto ou uma máquina. E nem se tem trabalho e nem o governo quer pagar o benefício. Isso faz nós temos um paradoxo, pois, o que as pessoas com deficiência podem fazer ou lutar? O que faremos? Será que essas coisas são importantes para o segmento? Sei não.

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