Amauri Nolasco Sanches
Júnior
O Brasil tem um
grande mal, sempre favorecer os mais famosos ou os políticos para ter “vantagens”
quanto a isso. A questão vai mais longe, há a cultura da vantagem e essa cultura
vem destruindo a nossa ética e contaminou, ate mesmo, nossa moral. Um outro mal
da nossa cultura é sempre colocar coisas ou pessoas como uteis ou não, por
causa do pensamento de utilidade daquilo ou que aquilo não tem utilidade nenhuma.
Por exemplo, a grande parcela da população, acha o trabalho intelectual um
trabalho inútil e sem sentido, em contrapartida. Mas, não sabem essa maioria,
que tudo que usamos foram pensados de uma forma intelectual como teoria. Tudo teve
um começo numa teoria e não importa o que seja.
Semana passada, eu escrevi uma notícia que o escritor e
filosofo Olavo de Carvalho veio para o Brasil e fazer exames na bexiga que
havia uma infecção, ser internado no InCor (que é ligado ao Hospital das Clínicas).
Aí vem a pergunta: pela rapidez da operação e dos exames, ele fez uma triagem? Será
que houve uma furada de fila nas condições de ser operado e examinado? Quem custeia
essa internação? Porque é muito fácil ser famoso no Brasil, pois temos uma
cultura facilitadora e que reage muito bem – e as coisas são mais fáceis –
quando pessoas são famosas. Interesses? Conjunturas? Foto junto com o famoso? não
sabemos. Mas sabemos que as coisas são bem mais fáceis com quem tem uma certa
fama.
E vamos falar a verdade, nós não temos políticas públicas
como prioridade, porque na visão da maioria não somos uteis para aumentar o PIB
(produto interno bruto) brasileiro e nem servimos para ter uma imagem eleitoral.
Como disse, temos uma visão cultural que só pode existir aquilo que se é útil e
serve para si, não tendo serventia, se deve ser descartado. Nós, pessoas com deficiência,
devemos ficar em casa. Devemos ser sustentados pela família. Não devemos sair, não
devemos estudar, não devemos trabalhar, não devemos namorar e não devemos
transar. Mulheres americanas, ainda, são operadas pelos pais, mutilam elas. As mulheres
com deficiência são mutiladas mentalmente, que no geral, vivem em sociedades totalmente,
machistas. Mas, no geral, as pessoas com deficiência são tratadas como “vasinhos
de flores” que você dá água, comida e um divertimento, ela vai ficar quietinho
no seu canto e não é bem assim. Pessoas com deficiência devem ficar quietas e
contentes.
Enquanto Olavo tem o Sistema Único de Saúde (SUS) ao seu
dispor, muitas pessoas com deficiência não podem trabalhar, não por falta de qualificação
(como alegam muitos donos de empresas), mas porque ainda se tem a imagem de inutilidade
e não saber a função necessária e, muitos casos, é uma questão estética. As empresas
ficam feias com pessoas com deficiência (principalmente, agencias de
publicidade) e não podem gastar com acessibilidade – como se não fosse lei
acessibilizar – e não contratam deficiências mais severas (cadeirantes) e sim, deficiências
mais leves ou com menos estudos. Isso é a verdade, ninguém quer uma pessoa com deficiência
em sua empresa e o que é pior, o benefício que deveria ir para as pessoas com deficiência
como uma ajuda, ou é negado ou é tirado.
O BPC (benefício prestação continuada) é ou deveria ser, um benefício
para ajudar o custo dos gastos das pessoas com deficiência ou que não podem
trabalhar, ou que não arrumam trabalho por causa do não endurecimento da lei de
cotas. Ou, até mesmo, a falta de campanhas que possam conscientizar as pessoas
não é inúteis. Como eu disse, não somos uteis na questão de aumentar a produtividade
do Brasil. Porque temos uma cultura tecnicista que não admite nada que não seja
considerado útil, como as pessoas fossem um objeto ou uma máquina. E nem se tem
trabalho e nem o governo quer pagar o benefício. Isso faz nós temos um paradoxo,
pois, o que as pessoas com deficiência podem fazer ou lutar? O que faremos? Será
que essas coisas são importantes para o segmento? Sei não.
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