Amauri
Nolasco Sanches Junior
Dias desses eu lendo meu feed de notícia (no Facebook), e me deparei com um post de uma mãe de um garoto autista, dizendo que o filho aprendeu a se masturbar sozinho e foi repreendida por isso. A questão é: o filho era dela, ela estava contando uma coisa que poderia servir para um monte de pessoas com autismo e outras deficiências. Afinal, quem não se masturba? Só porque temos uma deficiência não podemos ter uma sexualidade ao ponto de uma mãe não poder dizer que o filho autista aprendeu se masturbar? Com que direito as pessoas têm para repreender está mãe? No mesmo modo, as pessoas não têm direito de ficar vigiando o “rabo” dos outros e achar que tem o direito de se achar o senhor da moral.
Primeiro, toda essa
moral cristã – ou se diz cristã – nem passa nem perto dos ensinamentos de Jesus Cristo,
porque é uma teologia da dominação, uma teologia que foi criada para reunir ou
tentar, reunir o império. Isso não faz da teologia da igreja algo verdadeiro,
porque só foi forjado como um catalizador da união pelo poder imperial, isso muda
tudo. Muda tudo porque a questão sempre foi materialista e nunca espiritual. Então,
a questão sempre foi muito mais política do que metafisica. E não interessa,
meu amigo, vim com o argumento que não tem nada nos arquivos da igreja, porque não
iam guardar nos arquivos e você nunca vai ter acesso dos documentos de verdade.
Claro, que vão negar a morte de vários nomes, vão negar a morte de milhares de
pessoas com deficiência etc. Para assegurar a hegemonia do cristianismo como a
mensageira de Cristo e não foi.
Outro motivo da
sexualidade ser um tabu para as pessoas com deficiência além do moralismo – se confunde
muito moral com moralismo – que tanto o cristianismo prega e não Jesus, também tem
a visão que temos de alguns estereótipos fabricados por séculos de discriminação
e ignorância. O termo deficiência veio do termo latim “deficiens”, que vem do
verbo latino “deficiere” que quer dizer, desertar, se revoltar ou falhar, de “De”
que é fora, mais o “Facere” que é fazer ou realizar. O falhar sempre foi uma
imagem que nos colocaram para explicar a ausência de perfeição e se não temos perfeição,
não temos alma. Isso mesmo amigão com deficiência cristão, muito antigamente, éramos
considerados sem alma e como um animal. Largados ou nas ruas sequestrados por
mendigos para pedir esmolas ou em instituições para pegar o dinheiro dos nobres,
as pessoas com deficiência eram consideradas como não reprodutivas e que não podiam
trabalhar ou gerar filhos. Ou seja, eram pessoas que não tinham utilidade para
a sociedade.
No direito romano –
no qual, somos herdeiros diretos – pessoas são indivíduos que tem todo o
direito jurídico de serem membros da sociedade. Assim, como está no direito
romano, se somos pessoas é porque somos membros da sociedade. Só que na
filosofia, a coisa fica mais interessante, pois, na nossa língua no colonial, pessoa
é sinônimo de ser humano. Mas, na filosofia, há muitos debates o que teria
sentido o uso correto no termo ou discuti qual seria o critério de defini algo
ou alguém como pessoa. Na filosofia, uma pessoa é uma entidade que tem certas
capacidades ou alguns atributos que são associados à sua personalidade, como,
por exemplo, em contextos morais, sociais ou institucionais. Ou seja, uma
pessoa é um agente moral.
Moral não tem a ver
com moralismo, pois, moral são regras de convívio de moralismo são essas regras
(ou regras de uma determinada religião). Então, enquanto a moral pode nos dar
um norte para um convívio, mais ou menos, civilizado, o moralismo seria uma
tirania da moral. Por outro lado – nós, os filósofos – dissemos que a ética é a
ciência da moral e assim, a ética que vai estudar as questões morais e
determinar o que é moral e moralismo. Pode sentar-se no chão, bater a cabeça na
parede e todo tipo de coisa, as pessoas constroem essa moral a partir de valores
verdadeiros ou não. O conceito de moral é um conceito onde se presa a liberdade
e o respeito, o resto é bobagem do cristianismo fake que estamos vivendo.
Se somos pessoas e
temos consciência da realidade e da sociedade, somos agentes morais com deficiência.
E, como pessoas, juridicamente, somos indivíduos que temos nosso direito. Não estamos
mais na idade média onde somos internados em instituições e pronto, acabou o
problema. Somos membros da sociedade e temos nosso direito garantido como
pessoa, se queira ou não. Mas, existe um outro estereotipo: a da cadeira de
rodas. Na história, a cadeira de rodas foi sempre usada para carregar pessoas
com deficiência, se os hospitais têm cadeiras de rodas, apenas é um instrumento
de auxílio. Portanto, a cadeira de rodas é um instrumento de pessoas com deficiência
e não só para doentes. Essa coisa de generalizar, estraga o debate e nos coloca
como doentes assexuados.
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