terça-feira, 27 de julho de 2021

Puseram fogo no Borba Gato

 

 

Estátua de Borba Gato em Sabará, Minas Gerais

Amauri Nolasco Sanches Júnior

 

Manuel Borba Gato nasceu em território paulista em 1649, filho de pais que vieram da Ilha Terceira – é uma das nove ilhas do Açores – que vieram se estabelecer na capitania de São Vicente. Seu pai João Borba Gato e seu tio Belchior de Borba Gato, eram de bandeira também e desbravavam o sertão paulista e mais tarde se envolveu (seu pai), na revolta contra os jesuítas e na Aclamação de Amador Bueno, que aconteceu em 1641. Com esse ambiente familiar – que era feito de desbravadores – o jovem Borba Gato se tornaria também um bandeirante e se casou com Maria Leite, filha do “caçador de esmeraldas” e também de índios, Fernão Dias Pais.

Uma adentro é importante na nossa análise, pois muitos não sabem de onde vieram os bandeirantes.  A questão que se levanta é: será que eles tiveram importância dentro da colonização mesmo? Porque, vendo a colonização dos Estados Unidos – que tinha o nome de Nova Inglaterra – vimos que a própria Inglaterra mandava ou ia, famílias para a colonização e uma expansão do território britânico e a criação de cidades que iriam construir um país. A colonização ibérica – onde o reino de Portugal se podia ser confundido com o reino da Espanha – foi mais de procura de riquezas e de enviar a parte nobre e seminobre que na maioria das vezes, matavam índios e escravizavam eles para trabalharem ao seu favor. Como os índios não eram muito de aceitar a escravidão – mesmo o porquê, conheciam o território – se começou a comprar escravos da africanos que vendiam os derrotados de guerra. Não que a colonização norte-americana foi menos predatória – mataram índios, escravizaram negros e derrubaram florestas – é que a colonização ibérica não visava, e nunca visou, a expansão do território português ou espanhol.

Os sertanejos – que posteriormente foram chamados de bandeirantes por defenderem uma bandeira – eram famílias que procuravam riquezas. Mas também procuravam indígenas para escravizar ou exterminavam os quilombos (formados por negros fugitivos). Por outro lado, colaboraram bastante para expandir o território do Brasil além daquele que foi imposto pelo Tratado de Tordesilhas, ocupando tanto a região central, como o oeste e o sul do Brasil. E eram os descobridores de ouro nas regiões que hoje são Minas Gerais, Goiás e Mato Grosso.

Dercy Ribeiro, historiador, dizia que os bandeirantes podiam se apresentar em um panorama racial muito diverso, dizendo que entre as famílias sertaneja eram normais a miscigenação com índios era a regra da sociedade da época – um embranquecimento? – inclusive até mesmo, da elite que sempre foi considerado como “homens bons”. Nesses primórdios da sociedade brasileira, a estrutura familiar era patricenica e poligâmica, ou seja, era formado com o pai – pater – e muitas mulheres indígenas com suas proles e parentes dessas mulheres. O casamento católico apenas foi firmado muito tempo depois. A maior bandeira que se tem notícia foi de Manuel Preto e de Antônio Tavares e 2 mil indígenas, assim demonstrando o enorme peso demográfico ameríndio naquele tempo.

Além de falarem o português tradicional entre eles, os bandeirantes falavam a língua paulista, uma língua que usavam muitas vezes cotidianamente entre eles. E foi com termos em tupi que os sertanejos davam nomes de vários lugares por onde passaram, tendo origem de muitos topônimos brasileiros, como por exemplo, Jundiaí, Piracicaba, Sorocaba, Taubaté, Guaratinguetá, Mogi das Cruzes etc. Porém, a imagem dos sertanejos não é das melhores, pois foram responsáveis por escravização de indígenas e por exterminarem muitos deles. Mas, a imagem positiva deles foi amplamente positivada no final só século dezenove e, principalmente, nos anos 20 e 30 do século vinte por causa da elite paulista que tinha que centrar seu poder que enfraqueceu com o getulismo e, consequentemente, sua influência política.

Portanto, a imagem dos bandeirantes não foi das melhores e ao invés de ajudar Portugal na colônia, devastaram como gafanhotos em uma plantação. O fato é que já no tempo de Borba Gato – século dezessete – a procura de riquezas aumentou.  Suas tarefas de proteger o litoral dos ataques indígenas – que não deixavam formar engenhos de cana e nem a extração de pau Brasil – virou a formação do vasto território brasileiro.  Borba Gato depois de se casar com a filha de Fernão Dias, na bandeira do sogro percorreu entre 1674 e 1681, as matas entre São Paulo e do Mato Grosso. Depois de 1681, quando seu sogro morre nas margens do rio das Velhas, ele foi para Minas Gerais onde se desentendeu com o fidalgo (representante da coroa) chamado Rodrigo de Castelo Branco – que não era português e sim, castelhano – tendo um desentendimento com ele por causa das pedras preciosas (que depois se descobriu que não eram esmeraldas e sim, turmalinas).

O corpo de Castelo Branco foi encontrado e Borba Gato foi acusado do crime e para não ser condenado, preferiu ir para o sertão e encontrou ouro no mesmo rio que o sogro tinha morrido nas margens. O governador do Rio de Janeiro descobriu esse fato e o bandeirante negociou sua inocência em troca em dizer onde veio o ouro. Assim foi feito, em 1698 além de conseguir o perdão ainda conseguiu um posto de tenente (um oficial que desempenha, por delegação, as funções de uma outra pessoa). Logo depois, mostrou onde estava todo o metal precioso nos ribeirinhos e na serra de Sabará. Borba Gato morreu em 1718 e seus restos mortais se encontram em local desconhecido.

Borba Gato foi filho do seu tempo, que os bandeirantes ou sertanejos, eram importantes dentro das colônias latino-americanas para “fincar” as estacas nas terras. Além disso, foram designados para proteger as capitanias dos povos indígenas e de possíveis invasores, como os franceses invadiram o nordeste brasileiro. Na verdade, se fomos muito mais a fundo, a questão é que a península ibérica transvestida de monarquia absolutista – adoravam imitar as realezas francesas e inglesas – mas eram ainda nações feudais e fizeram das américas um feudo maior. Talvez, nossa cultura tenha sido construída dentro de atos já na época – não dá para fazer uma análise sem fazer um anacronismo – não éticas e fora do contexto, já que esses homens vieram para proteger e foram exploradores e gananciosos. Eram germes da ralé de Arendt, que colocou sua origem no imperialismo capitalista, que punham a ganância no patamar nas suas obrigações. Homenagear esses homens não faz muito sentido, assim como homenagear qualquer um que atente contra vidas, contra seres humanos e forjando tiranias, sejam de direita ou de esquerda.


Bibliografia:


Borba Gato Bandeirante paulista

Biografia de Borba Gato

Borba Gato (Wikipédia)


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