Amauri Nolasco Sanches
Júnior
Lendo uma análise de um amigo querido sobre o ceticismo no
seu Facebook, me fez refletor e fazer uma pergunta: o que é um cético? Porque,
no comentário dele, ele diz que beirava aos cinquenta anos e não tinha tempo de
ser um sonhador e que viu muitas coisas tanto no meio do rock (ele é vocalista
de uma banda) e no meio do segmento das pessoas com deficiência (pois, ele é
pessoa com deficiência). E é interessante quando as pessoas acham que só porque
avançaram na idade, não podem ser sonhadoras ou acreditarem que não sabem
certas coisas. Acontece, que assim como Deus, amor, o termo “cético” ficou um
termo da modinha daquilo que se caracterizou como uma dúvida de tudo que tentam
nos empurrar como verdades ou que devemos acreditar. Qualquer crença é subjetiva.
Sendo as crenças algo subjetivo, a verdade não pode ser verificada ou
universal, sendo assim, se acredita ser cético por não acreditar em certas
verdades, então, não pode ser verdade.
Mas o que significa ser cético, afinal? Ser cético é ter
qualquer atitude de questionamento para com o conhecimento, fatos, opiniões ou
crenças que são estabelecidas. Dentro da filosofia – onde apareceu de forma
sistemática – é a doutrina da qual a mente humana não pode atingir nenhuma
certeza de nenhuma verdade. O ceticismo filosófico, por exemplo, seria uma abordagem
global que requer todas as informações suportadas pela evidência. O ceticismo
filosófico clássico deriva da Skeptiko, que era uma escola que “nada
afirma”. Os adeptos do pirronismo – que veio do filósofo Pirro de Elis (360-275
a.C) que estudo na Índia – suspenderam todo o julgamento em suas investigações.
Os céticos podem até duvidar da confiabilidade dos seus próprios sentidos. Mas,
desde sua origem – que tem no termo grego “sképsi” que tem o significado
“exame, investigação” como base – o ceticismo constrói um modo de investigação
mais examinada, pois, se investiga muito mais a fundo.
Atualmente, o termo designa aquelas pessoas que duvidam de
tudo e não acreditam em nada ou dizem não acreditar. Pois, se você não acredita
que aquilo seja uma verdade, você acredita que aquilo seja uma falsidade. Porém,
podemos afirmar que o ceticismo defende que a felicidade estar no não
julgamento, ou seja, para ser feliz você não pode fazer nenhum julgamento. Manter
sempre uma postura neutra dentro de todas as questões do cotidiano. Questionar
tudo que lhe é mostrado. Não acredita ou admite nenhum dogma, fenômeno religioso
ou metafisico – isso tem base no pirronismo.
Se nos considerarmos céticos – aí está sua principal
característica – vamos alcançar a afasia, que é não emitir nenhuma opinião
sobre nada. Depois, vamos entrar num estado de ataraxia – que seria a não
preocupação – e somente assim, podemos ser, verdadeiramente, felizes. Então,
ser cético não é só duvidar de algumas matérias e sim, duvidar de tudo e de
todo mundo. Daí cairmos na pergunta: podemos duvidar, por exemplo, que somos
filhos dos nossos pais? Uns podem responder que não, devemos acreditar que
somos filhos dos nossos pais e que isso é provado como uma verdade. Será? Pois,
você não estava lá e nem viu seu nascimento. Um cético de verdade iria dizer
que sim, essa dúvida é legitima. Se somos céticos, não devemos acreditar em
nenhum dogma, nenhum fenômeno sobrenatural e nada que venha do pensamento religioso.
Portanto, ser cético consiste em ser ateu. Só nos resta uma saída do ceticismo
de Facebook, o método cartesiano da dúvida metódica.
Há um problema, se você dá uma opinião você não é cético. Ai
chegamos no cerne do problema, porque duvidar de algumas resoluções ou métodos
de tratamento e analise, isso não é ser cético. O filósofo francês Rene
Descartes (1596-1650) fez um desafio aos céticos da sua época, pois, os céticos
só duvidavam dos dogmas religiosos e não outros dogmas. Descartes disse que se
fosse para duvidar, que duvidássemos de tudo, mas, o que não podemos duvidar
era da nossa existência. O famoso: “penso, logo existo”. Ou seja, se eu estou pensando, eu logo percebo
que existo porque só percebo a minha consciência, eu não posso duvidar da minha
existência.
Claro que estou sendo radical em dizer que um cético tem que
duvidar de tudo, ninguém pode duvidar de tudo. Apesar que, um cético não duvida
por duvidar, ele duvida aquilo que sabe que não é verdade e não pode ser real.
Não pode ser provado. Provar, nem sempre, tem a ver com as nossas percepções,
porque o próprio Descartes disse que nossas percepções podem nos enganar. Portanto,
para ser cético, é muito mais do que duvidar.
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