quinta-feira, 19 de agosto de 2021

Bolsonaro não quer educação

 

 


Amauri Nolasco Sanches Júnior

 

Inventaram um “inclusivismo” para explicar uma incompetência do Ministério da Educação – que hoje virou tudo ideológico – que o seu ministro, Milton Ribeiro, disse que as crianças com deficiência atrapalham quem não tem nenhuma deficiência. Sabemos que existem muito lobby das entidades famosinhas e muitas reclamações de pais que não aguentam ver seus filhos convivendo com o diferente, porque para eles, o diferente é uma parte anormal da sociedade. Mas o que seria normal ou anormal? Mesmo o porquê, a questão da deficiência foram muito bem resolvidos em outros países que enxergaram ser muito mais barato educar um povo a aceitar o diferente do que sustentar essas minorias para agradar uma pequena parte dessa sociedade. Não aceitam o que não concordam ser certo ou errado. A triste notícia é que não existe nada normal ou anormal, nada certa ou errada, porque o diferente só é a ignorância e o medo de se conviver com aquilo que é considerado diferente.

Me parece que o ministro Ribeiro usou essa expressão para mostrar que existe uma ideologização na questão, e até concordo que em certo sentido, há sim uma certa ideologização dessa questão. Mas o problema começa quando ao invés de resolver esta questão ficam arrumando culpados e assim, ficam empurrando com a barriga. Aliás, numa analise muito mais profunda, já deveriam ter resolvido isso a muito tempo atrás. Os outros países, resolveram isto nos anos 90, o Brasil não consegue resolver uma coisa simples como esta porque querem o caminho muito mais cômodo e não querem gastar. O próprio MEC é o maior orçamento que existe na união, com suas secretarias caras e uma grade escolar vagabunda e que não educa ninguém (nem quem tem deficiência e nem quem não tem deficiência).

A questão é que não há nenhum inclusivismo assim como, não há inclusão, pois, não nascemos no meio do mato, sozinhos e sim, nascemos na sociedade. Indo muito mais além – porque não dizer ter a ver com a linguagem – me parece que incluir fica meio uma coisa excluída, e isso, visivelmente, é uma forma de capacitismo. Você dizer que pessoas com deficiência devem ser incluídas, pressupõe que não somos pessoas (porque o termo pessoa já carrega um peso de ser cidadão) e que por conta da deficiência não somos socialmente viáveis. Mesmo o porquê, não existe uma só deficiência e não existe um padrão (arrisco a dizer que não existe um só segmento). A esquerda hereditária – do politicamente correto – transformou tanto o conceito de deficiência em uma classe, que tem gente que acha que existe uma cultura surda. Não, não existe cultura surda, assim como não existe uma cultura cadeirante.

Mas, devemos sempre colocar que há discriminação por acharem que sim, não somos capazes. O termo capacitismo vem da tradução do inglês ableism e é pautado em uma construção social de se ter um corpo padrão considerado perfeito colocando como normal e de uma sublimação da capacidade de uma pessoa diante da sua deficiência. Ou seja, tem a ver com a capacidade e a aptidão – seria a disposição inata ou adquirida para uma determinada coisa – que as pessoas com deficiência podem ter. isso não tem nada a ver com ideologias (esquerda ou direita), isso tem a ver com a visão que o ser humano tem de o corpo ser útil ou ser inútil. Coitado e não coitado. Dai entramos no pensamento utilitarista que o corpo do meu filho pode ser útil (perfeito) e pode ser um cidadão, ele tem uma deficiência (imperfeito) e não tem nenhuma utilidade para a sociedade. Quais atletas trazem mais medalhas de ouro nas paraolimpíadas? Quem melhor trabalha para mostrar que é capaz?

Campanhas como o Teleton fomenta a visão capacitista que não somos capazes de fazer nada, a aptidão daquele cargo não seria para nós que não somos “independente”. A equipe que tanto o ministro coloca como uma barreira para a professora educar – que a solução deveria ser dele – é a visão da criança com deficiência ter que “depender” de alguém e que não sabe fazer nada. Claro, numa forma bastante profunda, existem deficiências que exige maior atenção e uma maior atenção. Isso não quer dizer que não tenham capacidade, não tenha um desempenho bom.

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