Amauri Nolasco Sanches
Júnior
O que é real? É uma das questões mais comentadas de todos os
tempos e que, não há uma única resposta. Uns poderiam responder que o real é
aquilo que vimos, sentimos e sabemos que existem. Outros como o filósofo
francês Rene Descartes (1598 – 1650) dizem que, as sensações podem te enganar e
você pode esta vivendo em uma situação que não seja real. Afinal, como disse
Platão em um dos diálogos da sua obra “A Republica”, vivemos em uma caverna
acorrentados, vendo sombras feitas por outros homens. Talvez, podemos
interpretar que Platão tenha colocado uma questão bastante interessante: será
que estamos presos numa realidade que não é realidade? Daí a arte, como o
próprio Platão fez, começa fazer com o que os seres humanos questionem e
debatam algumas dessas ideias.
Dias desses eu assisti com minha sobrinha, um filme chamado
“O Jogador Nº 1” que mostra um mundo construído virtualmente para esconder o
mundo destruído da realidade. Essa questão foi abordada também no filme
“Matrix”, onde as máquinas guerrearam com os humanos e depois, quando ganharam,
usaram os humanos como fonte de energia. No caso do “O Jogador” os seres
humanos viviam num caos governados, praticamente, por corporações desde as
guerras das mídias sociais (polarização?). Mas o que eu me dei conta do próprio
filme é que, ao final – quando o protagonista ganhou o jogo – o backup da
consciência do fundador do jogo – um nerd que nasceu nos anos 80 do século XX e
o filme se passa em 2045 – disse que ele fez o jogo por ter medo do mundo real.
Quantas pessoas tem medo do encarar a realidade como ela é?
Claro, o idealizador não tinha medo da realidade, tinha medo
das pessoas e o que elas achavam dele. Muitas pessoas que gostam de conhecer –
pelo menos no meu tempo de garoto – eram hostilizados por gostarem de estudar,
serem estudiosos. Chamavam essas pessoas de nerds, que eram pessoas vistas como
muito intelectuais e que se interessavam por assuntos que a maioria não estava
nem aí. Que, claro, eram discursos para desincentivar o estudo, porque,
sabemos, o poder nunca gostou de um povo que estudasse. O mundo virtual – que começou com filmes de ficção
cientifica e os vídeos games – começou a estar em voga e ditar as regras.
O termo virtual vem do latim “virtus” que quer dizer força,
poder. Ou seja, a força quer dizer algo realizador, pois, tudo que tem força não
precisa de nada para realizar algo. Pode realizar aquilo que te convém. Por
exemplo, uma simples semente tem uma força dentro dela, que se junta com outras
forças, pode produzir uma arvore. Já o poder pode se relacionar com a
capacidade de interferir em algo. Ora, tudo aquilo ou aquele que tem o poder de
interferir ou agir sobre o outro – seja uma pessoa ou uma coisa – pode
interferir a um processo. Como, por exemplo, um pai tem poderes de interferir
sobre o processo educacional do seu filho. Porém, virtus também tem a ver com a
virtude o que nos leva para as proximidades da moral, pois, a virtude pode ser
entendida como uma força interior que mobiliza as pessoas na prática da ação socialmente
aceita. Digamos que a virtude se contrapõe à ausência de uma qualidade específica
que se aproxima o virtuoso do justo e aquele sem virtude do fraco ou o mau
caráter.
Em inúmeras cenas, mostra a virtude como tema chave da saga
do protagonista. Mas, também mostra que podemos ter amizades reais vindas do
mundo virtual, porque se potencializaram em verdade. Verdade e realidade são termos
chaves da filosofia metafisica. A verdade como realidade tem, a meu ver, duas vertentes:
uma é a verdade objetiva (como realidade do objeto em si mesmo); e a verdade
objetiva (alguma qualidade e como aparência). Mas, a verdade como objetiva pode
ter outras questões, assim como, as verdades objetivas. Por quê? Mesmo que você
perceba um objeto como real, ele pode não ser realidade e apenas uma ilusão. Daí
podemos colocar uma outra questão: o mundo virtual é real? Será que as páginas
do meu World são reais ou são apenas páginas virtuais? Porque temos a ilusão de
achar, que tudo que é virtual, necessariamente, são coisas online e não é bem
assim. Como técnico de informática, deve esclarecer que tudo que existe num
computador é virtual. Afinal, o termo informática vem de informação automática e
informação – que veio do latim informare – tem o significado -in- (em) e formar
que quer dizer formar ou aspecto.
Ora, tudo que nos chega como informação está formando nossa
mente como algo que existe, algo que, potencialmente, pode ser real. Mas – usando
o senso comum – as páginas do meu world não podem ser tocadas e se não podem
ser tocadas, não são reais. Por outro lado, eu posso imprimir essas páginas e
eu toco nelas. A questão é: são as mesmas páginas? Será que ao imprimir vão ser
aquilo que eu escrevi dentro do software? Talvez sim, talvez não. O objeto
percebido é percebido só por causa de um sentido só – a visão – porque eu estou
vendo as margens da página e o formato da página e seu, pelo menos na tela no
notebook, que ela existe. Assim como a mesa onde estou – que na verdade, é uma
bancada em uma prateleira – existe porque minhas coisas estão em cima dela
(incluindo o notebook). Mas, isso poderia assegurar a realidade? Não, de certo.
Mas pode ser um convite é reflexão. Ao medo daquilo que não podemos controlar.
Pensando o que disse o fundador do jogo no filme – que era
nerd – cheguei a conclusão que ele tinha medo do mundo real, porque ele não pode
controlar. Podemos controlar um jogo porque sabemos que vai acontecer, num
mundo real não sabemos o que fazer. Muitas pessoas que têm medo do mundo real,
tem medo do mundo que não pode saber o que vai acontecer, não tem nenhuma
certeza. Mesmo num jogo de corrida, por exemplo, que você pode bater e perder o
jogo. Mesmo assim, sabemos o que o ambiente do jogo fara. Esse é o problema, as
gerações que nasceram com esta tecnologia não estão conseguindo encarar o mundo
real, por causa, exatamente, da incerteza. E isso é muito ruim. Isso vai construir
uma humanidade que vai tratar o outro como um mero objeto, vai ter medo do
mundo real.
No próprio filme, o fundador do mundo virtual pede para
terem um momento no mundo real, pois, não se pode ter certeza de nada, mas esse
mundo é o verdadeiro.
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