segunda-feira, 9 de agosto de 2021

O jogador nº 1 – vamos falar do medo da realidade?

 




Amauri Nolasco Sanches Júnior

 

O que é real? É uma das questões mais comentadas de todos os tempos e que, não há uma única resposta. Uns poderiam responder que o real é aquilo que vimos, sentimos e sabemos que existem. Outros como o filósofo francês Rene Descartes (1598 – 1650) dizem que, as sensações podem te enganar e você pode esta vivendo em uma situação que não seja real. Afinal, como disse Platão em um dos diálogos da sua obra “A Republica”, vivemos em uma caverna acorrentados, vendo sombras feitas por outros homens. Talvez, podemos interpretar que Platão tenha colocado uma questão bastante interessante: será que estamos presos numa realidade que não é realidade? Daí a arte, como o próprio Platão fez, começa fazer com o que os seres humanos questionem e debatam algumas dessas ideias.

Dias desses eu assisti com minha sobrinha, um filme chamado “O Jogador Nº 1” que mostra um mundo construído virtualmente para esconder o mundo destruído da realidade. Essa questão foi abordada também no filme “Matrix”, onde as máquinas guerrearam com os humanos e depois, quando ganharam, usaram os humanos como fonte de energia. No caso do “O Jogador” os seres humanos viviam num caos governados, praticamente, por corporações desde as guerras das mídias sociais (polarização?). Mas o que eu me dei conta do próprio filme é que, ao final – quando o protagonista ganhou o jogo – o backup da consciência do fundador do jogo – um nerd que nasceu nos anos 80 do século XX e o filme se passa em 2045 – disse que ele fez o jogo por ter medo do mundo real. Quantas pessoas tem medo do encarar a realidade como ela é?

Claro, o idealizador não tinha medo da realidade, tinha medo das pessoas e o que elas achavam dele. Muitas pessoas que gostam de conhecer – pelo menos no meu tempo de garoto – eram hostilizados por gostarem de estudar, serem estudiosos. Chamavam essas pessoas de nerds, que eram pessoas vistas como muito intelectuais e que se interessavam por assuntos que a maioria não estava nem aí. Que, claro, eram discursos para desincentivar o estudo, porque, sabemos, o poder nunca gostou de um povo que estudasse.  O mundo virtual – que começou com filmes de ficção cientifica e os vídeos games – começou a estar em voga e ditar as regras.

O termo virtual vem do latim “virtus” que quer dizer força, poder. Ou seja, a força quer dizer algo realizador, pois, tudo que tem força não precisa de nada para realizar algo. Pode realizar aquilo que te convém. Por exemplo, uma simples semente tem uma força dentro dela, que se junta com outras forças, pode produzir uma arvore. Já o poder pode se relacionar com a capacidade de interferir em algo. Ora, tudo aquilo ou aquele que tem o poder de interferir ou agir sobre o outro – seja uma pessoa ou uma coisa – pode interferir a um processo. Como, por exemplo, um pai tem poderes de interferir sobre o processo educacional do seu filho. Porém, virtus também tem a ver com a virtude o que nos leva para as proximidades da moral, pois, a virtude pode ser entendida como uma força interior que mobiliza as pessoas na prática da ação socialmente aceita. Digamos que a virtude se contrapõe à ausência de uma qualidade específica que se aproxima o virtuoso do justo e aquele sem virtude do fraco ou o mau caráter.

Em inúmeras cenas, mostra a virtude como tema chave da saga do protagonista. Mas, também mostra que podemos ter amizades reais vindas do mundo virtual, porque se potencializaram em verdade. Verdade e realidade são termos chaves da filosofia metafisica. A verdade como realidade tem, a meu ver, duas vertentes: uma é a verdade objetiva (como realidade do objeto em si mesmo); e a verdade objetiva (alguma qualidade e como aparência). Mas, a verdade como objetiva pode ter outras questões, assim como, as verdades objetivas. Por quê? Mesmo que você perceba um objeto como real, ele pode não ser realidade e apenas uma ilusão. Daí podemos colocar uma outra questão: o mundo virtual é real? Será que as páginas do meu World são reais ou são apenas páginas virtuais? Porque temos a ilusão de achar, que tudo que é virtual, necessariamente, são coisas online e não é bem assim. Como técnico de informática, deve esclarecer que tudo que existe num computador é virtual. Afinal, o termo informática vem de informação automática e informação – que veio do latim informare – tem o significado -in- (em) e formar que quer dizer formar ou aspecto.

Ora, tudo que nos chega como informação está formando nossa mente como algo que existe, algo que, potencialmente, pode ser real. Mas – usando o senso comum – as páginas do meu world não podem ser tocadas e se não podem ser tocadas, não são reais. Por outro lado, eu posso imprimir essas páginas e eu toco nelas. A questão é: são as mesmas páginas? Será que ao imprimir vão ser aquilo que eu escrevi dentro do software? Talvez sim, talvez não. O objeto percebido é percebido só por causa de um sentido só – a visão – porque eu estou vendo as margens da página e o formato da página e seu, pelo menos na tela no notebook, que ela existe. Assim como a mesa onde estou – que na verdade, é uma bancada em uma prateleira – existe porque minhas coisas estão em cima dela (incluindo o notebook). Mas, isso poderia assegurar a realidade? Não, de certo. Mas pode ser um convite é reflexão. Ao medo daquilo que não podemos controlar.

Pensando o que disse o fundador do jogo no filme – que era nerd – cheguei a conclusão que ele tinha medo do mundo real, porque ele não pode controlar. Podemos controlar um jogo porque sabemos que vai acontecer, num mundo real não sabemos o que fazer. Muitas pessoas que têm medo do mundo real, tem medo do mundo que não pode saber o que vai acontecer, não tem nenhuma certeza. Mesmo num jogo de corrida, por exemplo, que você pode bater e perder o jogo. Mesmo assim, sabemos o que o ambiente do jogo fara. Esse é o problema, as gerações que nasceram com esta tecnologia não estão conseguindo encarar o mundo real, por causa, exatamente, da incerteza. E isso é muito ruim. Isso vai construir uma humanidade que vai tratar o outro como um mero objeto, vai ter medo do mundo real.

No próprio filme, o fundador do mundo virtual pede para terem um momento no mundo real, pois, não se pode ter certeza de nada, mas esse mundo é o verdadeiro.



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