quinta-feira, 12 de agosto de 2021

Liberdade e bullying – vamos conversar sobre isso?

 


"Chorei bastante porque, na verdade, venho de uma crescente. Não foi um ato em si que me incomodou porque eles já vinham acontecendo, foi um estopim. Isso deu um start para falar porque, inclusive, vou ser voz e outras pessoas podem se identificar comigo"
(empresária Mariana Alves falando do bullying que sua filha sofreu para o G1)


 

Maria Luiza (Malu), de apenas 13 anos, fez um ensaio fotográfico para melhorar sua autoestima já abalada graças a uma órtese numa perna – que o diagnostico não teve uma definição – e numa sala de vídeo de um aplicativo e entregam conhecidos e comentaram sua perna (aqui). A questão é: o bullying e o cyberbullying é um processo da própria educação que se dá a essa geração? Ou é um processa da coisificação enquanto educação por meio online, que se fica protegendo o jovem do mundo de fora e se quer, cada vez mais, que fique num aplicativo? Porque, indo e não indo na liquidificação das coisas e dos sentimentos – Baumam usa muito Marx, porém, a questão vai muito além da desvalorização – chegamos em uma conclusão é que, a educação não é só ler e escrever ou valores familiares, mas o mundo e as coisas lhe darão também esses valores. Os aplicativos ensinam que o mundo e as pessoas que não nos servem ou nos contraria – isso começa na reforma protestante de Martinho Lutero – precisa ser “deletado”, porque não se pode ser triste ou magoado.

Estamos vivendo em tempos que as pessoas são obrigadas em serem felizes, serem satisfeitas e outras coisas mais, mas o mundo não é assim. A questão da felicidade é que, a felicidade não existe em si mesmo, mas momentos alegres que podem ser construídos ou pode ser conquistado, nunca imposto. A impostura de uma alegria – como a ditadura da alegria ou da felicidade – é a cobrança de ser vitorioso (como acontece numa cultura protestante) que faz o jovem fazer escolhas muito mais práticas e muito mais usual. Esse usual é um grande problema no mundo contemporâneo. Gera ansiedade e depressão e ainda, muito pior, desincentiva o estudo intelectual e gera uma cobrança de perfeição. Daí nossa herança grega, a perfeição.

Será que existe perfeição? A perfeição tem a base de uma aparecia – no sentido de idealização – perfeita de não tem nenhum defeito. Ou seja, seria uma forma sem nenhuma imperfeição e isso cai na verdade (platônica). A verdade, enquanto uma forma de objeto, é uma realidade objetiva e uma verdade subjetiva. Verdades objetiva é o objeto em si mesmo, por exemplo, e a verdade subjetiva é a qualidade que damos ao objeto. Caneca é objetiva por existir e ser pega, o azul é subjetiva que é uma qualidade única (ou não). Mas, será que existe além da caneca e a sombra da caneca, uma caneca muito mais perfeita? Muito mais além do mero objeto? A perfeição caracteriza um ser que poderia reunir uma coisa idealizada com todas as qualidades e não teria nenhum defeito, e mostra uma circunstância que não possa ser melhorada.

Num modo histórico, a questão do estudo da perfeição começa com um termo do filósofo Aristóteles – que pesquisou várias questões – “entelecheia” (enteles que quer dizer completo e telos, que quer dizer, fim, proposito e echein, ter) que seria um trabalho ativo para a realização de um alvo, que é intrínseca à mesma coisa. Mas é também esse alvo, uma espécie de estágio em que a organização que teria alcançado todas as suas potencialidades, e consequentemente, alcançou a perfeição. E herdamos isso no cristianismo – já que o cristianismo absorveu muito da filosofia aristotélica – por meio dos jesuítas. O entelecheia que Aristóteles cunhou traz a tona uma questão interessante: qual seria o alvo dessa investigação? Pois, a perfeição não existe de uma forma estética e muito menos, numa forma intelectual. O pensar – segundo nossa cultura – é algo inútil, não produz nada e não tem serventia,

Malu – como é chamada pela sua mãe – não é imperfeita, mas a nossa sociedade a perfeição tem uma utilidade. Segundo um dos comentários – que vários sites mostraram – o conhecido tinha perguntado se ela poderia jogar futebol. Por que ela tinha que jogar futebol? Por que a sociedade acha que jogar futebol é importante? Além do mais, uma das modalidades que se teve destaque dentro das paraolimpíadas foi o basquete de cadeiras de rodas, que ainda é destaque. Existem vários esportes de cadeirantes ou o pessoal de muletas. Por que a sociedade insiste em uma visão estereotipada da perfeição? Quantas pessoas ainda usam meios religiosos como base para curar uma coisa que você vai ter que conviver, de aceitar e viver da melhor maneira possível.

 

Amauri Nolasco Sanches Júnior




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