foto de Platão criada por ATomasi [Instagram] |
Amauri Nolasco Sanches Júnior
Dias desses fiquei no meu Instagram vendo alguns stories e
quase nenhum – porque pessoas com deficiência, pouco, mas postam – pessoas postarem
sobre as Paralimpíadas. Por que as pessoas postam a hashtag da moda ou jogos olímpicos,
mas os paralímpicos não? Talvez, o medo ancestral de se deparar com a fraqueza
humana esteja nessa questão que a mídia – grande defensora das minorias – não repercutiu
tanto. Quando é contra minorias que tem grande destaque – como os LGBT ou os
negros – todo mundo mostra e posta algo como se fosse uma guerra. Não que não temos
que rechaçar qualquer preconceito, mas aí mostra quem é ativista e quem só quer
“surfar” na onda daquele momento.
Eu desconfio daquelas pessoas que postam sobre o Teleton ou
aquelas pessoas que ficam indignadas porque um motorista passou por cima de um
gatinho no meio da rua. Isso é um arranca like e atrai um marketing pessoal
muito grande. Veja, nada tenho contra marketing pessoal, o problema é ser verdadeiro
naquilo que você é ou aquilo que você quer parecer que é. Sempre acaba sendo
uma questão de linguagem, porque a realidade e os fatos que compõem essa
realidade, são apenas um modo dessa linguagem. Por isso esta na moda o pessoal
dizer que tudo não passa de narrativas – qualquer fato histórico acaba sendo
uma narrativa – porque o discurso pode convencer aqueles que não tem tanto conhecimento.
Isso me lembra o mito da caverna – que foi sintetizado no
filme Matrix – onde seres humanos nascem numa caverna acorrentados e sua
realidade vai sendo moldadas por sombras produzida por outras pessoas. Será que
toda a realidade é o que pensamos ser ou são as sombras que ensinam que são realidade?
Ai está a cerne da ideia que Platão nos colocou, porque ate mesmo dentro da
caverna existiam os teóricos das sombras que queriam explicar o que seriam
essas sombras. Aliás, a pergunta “o que é a realidade?” foi a pergunta que começou
toda a história filosófica, porque algumas pessoas se espantaram com
descobertas que as certezas de crenças não deixavam enxergar. Mas, mesmo com
essa indagação sobre a realidade, o ser humano ainda insiste em ter certezas de
que não sabe ser a verdade, pois, a verdade só pode ser alcançada pele excelência.
Você deve estar se perguntando: o que isso ter a ver com a Paralimpíadas
desse ano em Tóquio? Porque essas pessoas que postam coisas dentro de uma outra
realidade, na verdade, nem sabem o que é realidade. Talvez, a realidade para
elas seja fazer academia ou postar vídeos em piscinas ou em uma outra
realidade, que nos faz pensar na mesma caverna de Platão. Não há a realidade e
sim uma realidade forjada. Isso não é novo na humanidade. Criamos uma geração narcisista
que acha que a realidade é comprar, gravar vídeos bobos, expressar o que a
maioria expressa e gostar só daquilo que cabe na sua realidade. Meus posts não têm
quase like, porque eu posto opiniões embasadas dentro daquilo que sou e não porque
quero like. Na guerra fria tupiniquim – que o Brasil exportou dos yanques – a questão
fica muito mais clara.
O hate que disse ser apenas uma “Olimpíada de retardados e
cotoco” só expressa a falta de educação e empatia que nossa sociedade se
encontra, a imposição da sua realidade perante o outro. A pergunta “o que é a
realidade?” se faz necessária quando o preconceito – como forma da expressão do
medo e da indiferença – vai se abatendo em realidades que ele vive. A realidade
é uma? A verdade existe? Não existe. O que existe são fragmentos de uma
realidade que não faz uma verdade, porque o senso comum insiste em construir
certezas simplistas. Cômodas. Que só são realidades condicionadas de valores
artificiais. São simulacros dentro de uma só realidade e que as pessoas se
escondem ali para não ver a realidade da realidade.
Será que a realidade é a realidade? A realidade só é
realidade onde você conhece, por isso mesmo, se diz que tudo que você conhece
pode ser nomeado. Se pode transcender essa realidade? Talvez, mas você tem que
ir muito mais daquilo que está acostumado – a realidade e as linguagens envolvendo
essa realidade – e ir a fundo em algumas questões. Eu mesmo, muitas vezes,
indago coisas que o segmento das pessoas com deficiência tem em pauta, o que
devo ou não consumir, o que devo ou não ler, ser seletivo em alguns assuntos e
pautas que todo mundo discute. Eu não tenho a menor vontade, por exemplo, de
assistir serie só porque estão na moda, ou gostar ou não de um final só porque
a maioria discorda ou concorda. A minha realidade é única e meu gosto faz parte
da minha realidade, por outro lado, não quer dizer que vou ficar alheio das várias
realidades que estão acontecendo no mundo. As músicas que estão tocando. Os artistas
da moda. E até mesmo, postar coisas relevantes dentro de uma informação importante
– claro – dentro daquilo que acho importante.
Ai que esta o ponto, o que pode ser importante? O que é a essência
da importância da realidade e do conhecimento? Será que a nossa cultura dá importância
para o conhecimento?
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