terça-feira, 24 de agosto de 2021

Respondendo o ministro e pastor Milton Ribeiro

 

 

(aqui)

Olá,  senhor ministro,

 

Não sei o senhor, mas eu estou bem porque nunca desistir de estudar e de adquirir conhecimento, mesmo tendo uma deficiência. Sim, senhor pastor, eu tenho uma deficiência chamada paralisia cerebral que, muitas pessoas como o senhor, acham que temos o cérebro paralisado. O próprio Freud – aquele homem de barba com um charuto que descobriu o inconsciente – tem um trabalho sobre ela e tinha dúvidas se era uma deficiência adquirida dentro do útero da mãe ou fora ao nascer (falta de oxigenação cerebral). Sabemos que o imperador Claudio I = padastro de Nero – tinha esta deficiência e conseguiu ser um general hábil e um imperador razoavelmente, bom naquilo que fez. Aliás, Nero tanto gostava dele, que um dos motivos de ter matado a própria mãe, foi ela ter matado ele envenenado. Mas, claro, segundo o senhor, eu não poderia ter aprendido isso sozinho e nem escrito isso nesse texto.

Sabe senhor Ministro, eu estou fazendo bacharelado de filosofia porque sempre gostei de ler os filósofos e bem devagar eu conseguir três diplomas além desse, mas, os empresários pensam igual o senhor, não sabemos trabalhar e não sabemos nem aprender. Chegou ao absurdo do senhor dar esse exemplo:  <<<Imagina uma professora de geografia: “aqui é o rio Amazonas” para uma criança que tem deficiência visual, são elas também.>>>, sendo que a professora poderia descrever o rio amazonas para o aluno cego, poderia a escola ter uma impressora com braile, ou um software com autodescrição. Dinheiro temos, falta vontade política. Em matéria de inclusão de pessoas com deficiência, as coisas sempre vão devagar porque acham que não há voto nosso, acham que não votamos, mas sim, votamos e somos cidadãos como outros quaisquer.

O senhor disse: <<A escolha quem faz é o pai e mãe, é ele quem coloca o filho lá, nenhum diretor tem autoridade de negar a matrícula de uma pessoa que tem deficiência em uma escola pública, elas não podem fazer isso, não é isso que estou falando.>>>. Se tivéssemos uma sociedade instruída e com maior poder de informações, poderia ser um argumento razoável, mas muitos pais são ignorantes e vão na onda daqueles que querem manipular. Olha, não acho que a esquerda foi um “poço de inclusão”, houve inúmeros erros e o Haddad também quis essas “classes especiais”. Acredite, não é o melhor para as pessoas com deficiência estarem em escolas especiais, mesmo o porquê, vai ser um dinheiro a mais que o governo vai gastar. Mas, logico, vocês entendem muito melhor do que a gente, afinal, não entendemos nada.

O senhor ainda disse: <<Não deixando de lado os deficientes, mas olhando também os outros 88% dos alunos que eventualmente podem ter também>>>. Desculpe senhor Ministro, mas não estão pensando em nada, pois, nossa educação escolar é a mais deficitária dos últimos 50 anos e isso o senhor deveria saber. É muito feio colocar a culpa em crianças com deficiência que só querem conviver com as outras crianças uma incompetência que até o regime militar foi insuficiente, porque essa bagunça toda é falta de escola e escolarização de qualidade. O MEC (Ministério da Educação) é caro demais e não consegue resolver coisas bastante simples, fazer escolas e dar uma educação de qualidade.

Por fim o senhor disse: << A criança com deficiência tem que ter um olhar e um cuidado especial e é isso que o nosso governo quer ter, nosso governo quer ter um cuidado especial para com a criança com deficiência>>. Não. vocês estão colocando as crianças com deficiência como crianças especiais e não queremos ser especiais, queremos ser cidadãos brasileiros com deficiência. Acho, bastante idiota – com todo respeito senhor Ministro – que pessoas da sua religião achar que somos coitados porque, segundo a concepção de vocês, somos imperfeitos e não sabemos nos cuidar. Não sabemos o que é a vida. Não sabemos o que fazemos e o que queremos. Existe um vídeo famoso, que deve circular nas redes sociais ainda, um menininho cego que a mãe pede para ele ir na casa da avó pegar uma panela e ele vai. Mesmo a mãe indo atras dele gravando em silencio, ele foi e voltou. Por quê? Porque o ser humano é adaptável senhor Ministro, ele se vira na adversidade. O resto, é só asneiras.

 

Amauri Nolasco Sanches Júnior

Cidadão brasileiro com deficiência




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