domingo, 29 de agosto de 2021

Filosofia radical – os antifascistas sendo fascistas?

 


Amauri Nolasco Sanches Júnior 

A filosofia nasce do espanto. Mas não é um espanto qualquer, era o espanto que tinha uma realidade e esta realidade deveria ter um começo ou um proposito. Um porque de tudo existir. Talvez, quando Tales olhou tudo e constatou que tudo continha alguma medida de água (umidade), tenha concluído que tudo poderia vir da água. Hoje sabemos muito bem, que a fórmula da água é H2O, ou seja, sabemos que existe uma molécula de hidrogênio e duas moléculas de oxigênio para existir esse elemento. Seres orgânicos precisam da água – pelo menos os terráqueos – para viverem e ela é essencial para o planeta Terra. Mas, no mundo grego, a água tinha uma simbologia diferente e poderia conter coisas muitos mais místicas do que cientificas, naquela época.

Tales, talvez, olhou insetos aparecerem em poças d`água ou viu larvas de insetos dessas poças e tenha concluído isto. Talvez, ele tenha visto corpos que se decompunham graças a umidade, mas indo além – como ele disse que tudo tem deuses – que alguns objetos tinham vida e outros objetos não tinham vida. Ou a formação só poderia ser consciente. Na verdade, a filosofia já nasceu da incerteza de não sabemos onde e nem o porquê tudo existe. E, no entanto, a filosofia do ser e a filosofia política começa com Sócrates, Platão e Aristóteles. Talvez, Sócrates tenha visto que não adianta saber a origem de tudo se você não sabe de quem é – que de alguma maneira, não sabem até hoje – e, primeiramente, temos que nos conhecer. Platão, pegando sua educação política por ser descendente da família real ateniense, começou um pensamento politico na sua obra A República. E nessa obra se começa a indagação da realidade com o Mito da Caverna. Ai temos que saber, para entender esse mito platônico, que Sócrates foi julgado e morto graças a quebra dessa certeza da mitologia homérica que, naquele momento, era sagrado. O homem foi criado pelo titã Prometeu e dele recebeu o fogo, que por isso, foi punido.

Sócrates não se conformou, mas não renegou nada – essa ideia veio do pensamento iluminista de renegação da religião. Simplesmente, ele não se conformou com uma explicação, pois, achava que o ser humano era um ser que se conformava demais com as narrativas dadas. Aristóteles, de algum modo, vai retomar essa concepção dizendo que a bondade socrática só pode existir se tiver uma ética prática. A ética não pode ser só teórica. Isso, segundo ele, poderia ser visto dentro da amizade e um bom amigo era aquele que poderia querer o bem do outro amigo. Isso é cidadania. Mas, me parece que a filosofia aristotélica, começa a ser explorada e defendida de um modo que o filósofo não concebeu e ao longo dos séculos, foi usada para justificar sempre aquilo que interessava na época.

Quando na França, depois da revolução, quem era contra sentava a esquerda e quem era a favor a direita, era uma separação didática. Que foi usada em demasia dentro da guerra fria e as coisas ficaram como ficaram. Ser de esquerda, basicamente, é ser a favor de mudanças e ser de direita é ser contra essas mudanças. Não há bem, não há mau. Há uma atitude política dentro de mudanças e não mudanças. Só que o pensamento brasileiro – sim, temos um pensamento – é contraditório, porque nossa cultura é uma eterna dialética sem chegar numa síntese e aí chegamos ao porquê desse texto. Pois, se a filosofia não lhe dará nenhuma certeza da realidade, por que se apegar na certeza de se fazer o bem e o que é melhor para o outro? Por outro lado, podemos ver o pensamento contraditório brasileiro vendo anarquistas defendendo socialistas, expulsando pessoas que não concordam, Nietzsche virando ídolo, pessoas achando que liberalismo esta junto com o conservadorismo e que toda a esquerda é comunista.

Ideologias políticas não são fáceis de explicar e pedem muito estudo, não se aprende em usar uma camiseta ou levantar uma bandeira. São só símbolos e não a ideologia em si. Para defender algo com tanto rigor, temos que estudar esse algo, mesmo que, quando for criticar. Ai que esta, se você não conhece, você não tem nenhum elemento de leitura para fazer uma crítica filosófica e uma crítica madura. Começar a colocar adjetivos para a discussão, não é uma discussão madura e não agrega nada e aí que queria trazer a análise muito mais profunda do que chamar o outro de fascista ou de comunista.

Ser expulso de um grupo de Filosofia e História ao fazer uma análise seria sem nenhum viés ideológico, mostra como somos um povo que levamos muito para o lado pessoal. Primeiro, não acho nada em relação ao escritor Olavo de Carvalho, só acho que tirando as teorias da conspiração que ele adora ficar pondo em voga – a maioria vem dos Estados Unidos e são boatos de concorrentes que querem ferrar tal estabelecimento ou são coisas jogadas ao vento para destruir uma ideologia – ele até seria u pensador melhor do que o Paulo Ghiraldelli Jr e isso é fato, pois, pelo menos, o Olavo tem um nicho a explorar. Junto com os chamados filósofos pops – Karnal, Pondé, Clovis de Barros e Cortella – o Olavo escreve a linguagem que se entende como fácil de se entender, não há referências intermináveis como os livros acadêmicos que falam com os acadêmicos. Os filósofos franceses Luc Ferry e André Comte-Sponville tiveram que aprender também.

O fato dele apoiar ou não o governo Bolsonaro é uma outra análise que deveríamos fazer, mas sem adjetivos desnecessários – que acabam banalizando tanto o termo fascismo como o termo comunismo – e com maturidade. O caso é: existe filosofia sem liberdade? Pois, mesmo na suposta democracia ateniense se teve a morte de Sócrates, assim como outros que não puderam expressar seus pensamentos. Será que existe liberdade? Não sei.

Nenhum comentário:

Postar um comentário