Amauri Nolasco Sanches Júnior
Por muito tempo eu me perguntei o porquê que a maioria dos
brasileiros não tem o hábito da leitura, parar e ler uma notícia. Duas coisas me
fizeram ter uma visão ampla da situação: uma foi eu começar a fazer manchetes para
um portal de notícias e não ter nada de leitores. Outra foi eu estudar a fundo
a origem da nossa cultura e como ela foi gerada a partir de outras muitas
culturas. Talvez, por ser um povo que nunca foi letrado – pois, os portugueses
estavam com uma cultura meio medieval e meio moderna – e que não se tinha muita
preocupação de letrar nosso povo. Segundo Darcy Ribeiro, os brasilíndios – uma mistura
dos portugueses com índios – eram pessoas que nem português falavam, era um
dialeto que no fundo era um tupi meios misturado. Só a partir do século XVII,
que aqui se começou a falar português, mesmo assim, muitas regiões falando vários
dialetos.
A questão sempre foi que o Brasil não passava de terras
novas para cultivo de produtos que Portugal precisava. Primeiro, por causa do
clima tropical – parecido com a asia que tinha a cana-de-açúcar – e depois, a questão
muito controversa, que gera debates intermináveis, que não se colonizou o Brasil
para ser uma extensão de Portugal e sim, se quis tirar tudo que precisava e ir
embora. Claro, que se envolve ser humano, envolve um outro aspecto que é a
sexualidade. Se teve muita miscigenação e se teve etnias mestiças. No mais, a
maioria dos portugueses que vieram para cá eram homens iletrados, vieram porque
prometeram terras. Afinal, quem não queria terras para cultivar e ter seu próprio
feudo? Sim, eram homens que se tornaram nobres sem ter ordem hereditária, os
fidalgos. Assim, nossa cultura é muito mais na prática do que nas letras ou na
teoria.
Ainda, na academia, se passou muito a ideia marxista que
todo teórico ou filósofo que ficasse raciocinando ou ficasse escrevendo eram
burgueses. No outro lado, o positivismo comtista dava uma pitada de tecnocracia
dentro da cultura. Se por um lado os marxistas achavam que dentro da guerra de
classes o burguês era o herdeiro da teoria – que acabou sendo o socialismo o
grande fetiche da burguesia – por outro lado, os positivistas eram aqueles que
achavam que só a técnica e a ciência salvavam. Nossa bandeira tem uma frase
positivista. Nessa miscelânea quem salvou o Brasil? Sem contar que o
cristianismo – o catolicismo, principalmente – achava ou acha, que a sabedoria
é um pecado porque tem a ver com o orgulho (discurso para não querer concorrência
no saber e nenhum questionamento). No final das contas, nenhum desses discursos
salvaram o Brasil e sempre deixou o povo ignorante para melhor governá-lo e
isso é fato. Não adianta teóricos dizerem que a burguesia fez isso, se governos
de esquerda não resolveram esse “pepino”.
O próprio Darcy Ribeiro também comenta, que nosso povo tem, além
de não ter o hábito do estudo, ainda há a preguiça. Sim, a preguiça é um grande
símbolo nosso. Um por causa do clima tropical – no calor fazemos menos coisas –
e outra, nossa cultura foi construída dentro da cultura da pesca e caça indígena.
Não temos que negar, nosso povo tem cultura indígena e ponto, aceita que dói
menos. Não é uma preguiça pejorativa – sendo o ócio a melhor maneira de se
educar no mundo grego – mas uma preguiça originaria brasileira e que não tem
problema nenhum, pois, é uma característica brasileira. Como eu disse lá em
cima, o ócio era uma das principais características da educação grega (padeia)
para melhor aprender, mas, os cristãos vão dizer que como Eva e Adão comem o
fruto proibido, o ser humano tem que trabalhar por causa do pecado original. Foi
decretado que o homem vai tirar o sustento do seu suor. Por outro lado, o trabalho
intelectual não é um trabalho, trabalho de verdade é o braçal, o trabalho que dá
fruto.
Sem escolarização, com o conceito que a preguiça é pecado (numa
mediação cristã) fizeram que o Brasil fosse um país que não gostasse de ler e
nem refletir. Somos um povo cordial, num sentido de quebra de regras e ir muito
no sentimento, se apegar aquilo que seja verdade. Mas nem sempre o que você vê é
verdade, pode ser um simples conceito que foi construído a partir de uma fantasia.
Ora, como se sabe se estamos sonhando ou dormindo se no sonho temos as mesmas sensações?
Como você sabe, se aquele portal de notícia está dizendo a verdade se não abriu
o link? Muitas vezes – a maioria delas – somos forçados a aceitar algumas
verdades que não são verdades, são apenas discursos (que se chamam de narrativas),
para criar conceitos. Por isso mesmo, eu digo que muitas coisas que chamam de
preconceito, já são conceitos porque já é uma narrativa dominante. Quando o
ministro da educação fala que crianças com deficiência atrapalham os outros
alunos, não é mais um pré-conceito, já é um conceito que a maioria acredita. Aliás,
são conceitos milenares que são enraizados e vai demorar muito para acabar.
Até mesmo confundimos educação por escolarização,
exatamente, porque não temos bases teóricas solidas e somos muito avessos a
regras. Não se gosta de seguir ordens, seguir as coisas como elas são e não o
que achamos. Por isso, talvez, não temos uma filosofia. As filosofias são pensamentos
lineares que se segue regras logicas de linguagem. Nas américas – num ponto crítico
– é um continente que não tem um idioma próprio (tirando as línguas indígenas) e
não sabe, ate mesmo, forjar termos importantes para uma filosofia própria. Nem mesmo
a estudanense. Mas acredito que estamos começando a pensar, refletir com olhos críticos
as situações e as diversidades do mundo, porém, é muito pouco para quem quer
encarar um pensamento logico. E não é que pensamentos racionais temos que
deixar de lado sentimentos, e sim, enxergar a realidade como ela é de verdade.
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