quarta-feira, 1 de setembro de 2021

Estudos mostram: brasileiro não tem o hábito de leitura e comenta sem ler

 





Amauri Nolasco Sanches Júnior

 

Por muito tempo eu me perguntei o porquê que a maioria dos brasileiros não tem o hábito da leitura, parar e ler uma notícia. Duas coisas me fizeram ter uma visão ampla da situação: uma foi eu começar a fazer manchetes para um portal de notícias e não ter nada de leitores. Outra foi eu estudar a fundo a origem da nossa cultura e como ela foi gerada a partir de outras muitas culturas. Talvez, por ser um povo que nunca foi letrado – pois, os portugueses estavam com uma cultura meio medieval e meio moderna – e que não se tinha muita preocupação de letrar nosso povo. Segundo Darcy Ribeiro, os brasilíndios – uma mistura dos portugueses com índios – eram pessoas que nem português falavam, era um dialeto que no fundo era um tupi meios misturado. Só a partir do século XVII, que aqui se começou a falar português, mesmo assim, muitas regiões falando vários dialetos.

A questão sempre foi que o Brasil não passava de terras novas para cultivo de produtos que Portugal precisava. Primeiro, por causa do clima tropical – parecido com a asia que tinha a cana-de-açúcar – e depois, a questão muito controversa, que gera debates intermináveis, que não se colonizou o Brasil para ser uma extensão de Portugal e sim, se quis tirar tudo que precisava e ir embora. Claro, que se envolve ser humano, envolve um outro aspecto que é a sexualidade. Se teve muita miscigenação e se teve etnias mestiças. No mais, a maioria dos portugueses que vieram para cá eram homens iletrados, vieram porque prometeram terras. Afinal, quem não queria terras para cultivar e ter seu próprio feudo? Sim, eram homens que se tornaram nobres sem ter ordem hereditária, os fidalgos. Assim, nossa cultura é muito mais na prática do que nas letras ou na teoria.

Ainda, na academia, se passou muito a ideia marxista que todo teórico ou filósofo que ficasse raciocinando ou ficasse escrevendo eram burgueses. No outro lado, o positivismo comtista dava uma pitada de tecnocracia dentro da cultura. Se por um lado os marxistas achavam que dentro da guerra de classes o burguês era o herdeiro da teoria – que acabou sendo o socialismo o grande fetiche da burguesia – por outro lado, os positivistas eram aqueles que achavam que só a técnica e a ciência salvavam. Nossa bandeira tem uma frase positivista. Nessa miscelânea quem salvou o Brasil? Sem contar que o cristianismo – o catolicismo, principalmente – achava ou acha, que a sabedoria é um pecado porque tem a ver com o orgulho (discurso para não querer concorrência no saber e nenhum questionamento). No final das contas, nenhum desses discursos salvaram o Brasil e sempre deixou o povo ignorante para melhor governá-lo e isso é fato. Não adianta teóricos dizerem que a burguesia fez isso, se governos de esquerda não resolveram esse “pepino”.

O próprio Darcy Ribeiro também comenta, que nosso povo tem, além de não ter o hábito do estudo, ainda há a preguiça. Sim, a preguiça é um grande símbolo nosso. Um por causa do clima tropical – no calor fazemos menos coisas – e outra, nossa cultura foi construída dentro da cultura da pesca e caça indígena. Não temos que negar, nosso povo tem cultura indígena e ponto, aceita que dói menos. Não é uma preguiça pejorativa – sendo o ócio a melhor maneira de se educar no mundo grego – mas uma preguiça originaria brasileira e que não tem problema nenhum, pois, é uma característica brasileira. Como eu disse lá em cima, o ócio era uma das principais características da educação grega (padeia) para melhor aprender, mas, os cristãos vão dizer que como Eva e Adão comem o fruto proibido, o ser humano tem que trabalhar por causa do pecado original. Foi decretado que o homem vai tirar o sustento do seu suor. Por outro lado, o trabalho intelectual não é um trabalho, trabalho de verdade é o braçal, o trabalho que dá fruto.

Sem escolarização, com o conceito que a preguiça é pecado (numa mediação cristã) fizeram que o Brasil fosse um país que não gostasse de ler e nem refletir. Somos um povo cordial, num sentido de quebra de regras e ir muito no sentimento, se apegar aquilo que seja verdade. Mas nem sempre o que você vê é verdade, pode ser um simples conceito que foi construído a partir de uma fantasia. Ora, como se sabe se estamos sonhando ou dormindo se no sonho temos as mesmas sensações? Como você sabe, se aquele portal de notícia está dizendo a verdade se não abriu o link? Muitas vezes – a maioria delas – somos forçados a aceitar algumas verdades que não são verdades, são apenas discursos (que se chamam de narrativas), para criar conceitos. Por isso mesmo, eu digo que muitas coisas que chamam de preconceito, já são conceitos porque já é uma narrativa dominante. Quando o ministro da educação fala que crianças com deficiência atrapalham os outros alunos, não é mais um pré-conceito, já é um conceito que a maioria acredita. Aliás, são conceitos milenares que são enraizados e vai demorar muito para acabar.

Até mesmo confundimos educação por escolarização, exatamente, porque não temos bases teóricas solidas e somos muito avessos a regras. Não se gosta de seguir ordens, seguir as coisas como elas são e não o que achamos. Por isso, talvez, não temos uma filosofia. As filosofias são pensamentos lineares que se segue regras logicas de linguagem. Nas américas – num ponto crítico – é um continente que não tem um idioma próprio (tirando as línguas indígenas) e não sabe, ate mesmo, forjar termos importantes para uma filosofia própria. Nem mesmo a estudanense. Mas acredito que estamos começando a pensar, refletir com olhos críticos as situações e as diversidades do mundo, porém, é muito pouco para quem quer encarar um pensamento logico. E não é que pensamentos racionais temos que deixar de lado sentimentos, e sim, enxergar a realidade como ela é de verdade.



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