Amauri Nolasco Sanches Júnior
Eu estava lendo uma matéria do G1 sobre o filho do baterista
do Molejo ter sido chamado, por uma vizinha, de “retardado” por causa de um
desentendimento. Segundo a mãe do menino – mulher do baterista – disse que a
mulher começou a querer identificar ela através do seu filho. Que o menino
seria um doente, uma criança que tinha “problema”. E como ela não atendeu nessa
identificação, ela também perguntou se era um filho de um “preto”, um pagodeiro,
favelado, pai de uma criança “doentinha”. Depois que Cristiane tentou explicar
que seu filho era autista, que não era uma doença a vizinha disse: "depois
que autismo virou moda, retardado tinha mudado de nome" e outra vizinha
disse, que a mulher insistiu em dizer que ele era “doente sim”.
O autismo não é um objeto e sim, uma condição e não é doença
mesmo que tenha CID (código internacional de doença). Acho que essa questão entra na questão
de Sócrates: a origem do mal é um fato colaborador do mal? Aí chegamos do fato
de tanto Sócrates como Platão – seu discípulo – acharem que o problema do bem e
do mal tem a ver com o conhecimento. Claro que uma dúvida fica no ar como: o ministro
da educação tem o conhecimento, mas disse que crianças com deficiência atrapalham as crianças sem deficiência, onde esta o conhecimento dele? Cadê o entendimento
dele que deficiência nada tem a ver com incapacidade? Se os próprios
governantes acham que deficientes são incapazes, o que dirá o senso comum sem
estudo nenhum. Mas, Sócrates poderia me dizer que a ignorância nem sempre é o
conhecimento que se acha ter, mas o conhecimento verdadeiro de uma mente
aberta, sem outros valores que podem interpretar segundo outros interesses. Isso
mesmo, qualquer um tem o entendimento conforme o que acredita.
Primeiro, quando a mulher disse “depois que autismo virou
moda” demonstra que a frase não faz o menor sentido logico. Mesmo o porquê,
tudo aquilo que vira se torna em alguma coisa, e moda quer dizer algo que virou
tendencia, ou seja, um objeto. Um autismo não é um objeto – nenhuma deficiência
– no sentido de escolha, mas uma condição que se nasce. Se há muitos autistas
no mundo é porque a medicina avançou e se pode diagnosticar mais pessoas com
mais precisão, não é uma tendencia e não pode ser encarado como tal. Depois ela
disse que “retardado mudou de nome" demostrando ignorância e desprezo a mudança.
Aliás, brasileiro é avesso a mudanças desde sempre e isso é característico da
nossa cultura. Queremos ser modernos, mas ao mesmo tempo, somos um povo que
gosta do passado como se aquilo tivesse importância. Mas não tem nenhuma. O passado
já foi.
Não se usa mais o termo “retardado” e não é uma questão de
estar ou não na moda, mas porque o conceito clínico avançou e as coisas não são
como eram. Ou seja, o brasileiro demora em assimilar mudanças porque gosta da acomodação,
não gosta de evoluir, conhecer, de ler as coisas como conhecimento e não importa
se vai usar ou não, esse conhecimento uma hora vai servir. Única coisa atrasada
que eu vejo não é os autistas e sim, nossa cultura que adora ficar na ignorância
e no passado.
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