terça-feira, 14 de setembro de 2021

Eu vou de Lula?

 


Amauri Nolasco Sanches Júnior

 

Platão – filósofo grego que viveu trezentos anos antes de Cristo – dizia que nosso mundo é como uma caverna e seres humanos que nascem nessa caverna e são acorrentados. Virados para uma parede, e nessa parede estão sombras que poderiam ser a realidade. Existiam intelectuais que discutiam a natureza dessas sombras, mas nenhum deles sabiam o que eram porque estavam dentro da caverna. O filósofo então diz – sem dizer como e nem o porquê – um ser humano se liberta das correntes e consegue, de algum modo, sair dessa caverna e ao sair seus olhos doem. A luz solar lhe cega porque seus olhos nunca foram usados e ele, ao melhorar, começa ver o mundo como ele é. E volta para avisar os outros que nem as sombras e nem a caverna são a realidade, mas o povo não acredita e ri do pobre homem e ele insiste, ao insistir, ele morre pelas mãos que tentou ajudar. A questão platônica são duas e importantes: o que será a realidade e o conhecimento como meio de se libertar e isso tem a ver com o filósofo.

Dois exemplos modernos vão seguir o modelo platônico: um é Alice no País das Maravilhas e o outro é o filme Matrix. Aliás, o filme Matrix é uma mistura insana entre o mito da caverna e o da Alice no País das Maravilhas e o contexto dele é bem o que a história nos mostra. Os seres humanos sempre foram meios para se alimentar o poder (as máquinas) em energia para funcionarem. Mas existem outras características, que o filme mostra que é bastante interessante. No começo do primeiro filme de uma trilogia – nesse momento que estou escrevendo esse texto, vai sair o 4º filme – Neo é um hacker que trabalha numa grande companhia de software, mas ele sempre achou que tinha algo de errado na realidade no geral (o despertar). No seu computador – onde fazia o serviço de hackeamento – aparece “siga o coelho” em referência ao livro de Alice no País das Maravilhas. Ora, o livro, segue em resposta – claro que o autor estava ciente da pergunta cartesiana o que seria sonho e o que seria realidade – o que é um sonho e o que seria uma realidade.

A questão de toda filosofia é: o que seria a realidade? Podemos estar seguros que a realidade é tudo que existe, mas nem sempre a realidade é uma realidade. Todas as sensações que temos quando estamos acordados sentimos quando estamos dormindo. Então, como saber se estamos na realidade mesmo? Como saber que aquilo é real ou não e que as pessoas estão mesmo dizendo a verdade? Porque, a verdade – como algo realizável – é um fenômeno de percepção e expressão o que entendemos como realidade, pois, tudo aquilo que é real é percebido e tem um termo para nos referimos a coisa ou o ser (para a filosofia, o ser consiste em todos os objetos). O objeto, num modo geral, consiste em algo que tem um objetivo e que não há dúvida. Mas, será mesmo? Será mesmo que percebemos a realidade ou percebemos aquilo que fomos condicionados a perceber?

Você deve estar me perguntando: o que isso tem a ver com o Lula ou o Bolsonaro? Será que o discurso de qualquer um dos dois é o verdadeiro – não só, porém, eu simplifiquei – e sincero? Ora, voltaremos ao filósofo Platão. No tempo dele, Atenas, estava em processo democrático e seu mestre Sócrates havia sido condenado por ter corrompido a juventude – que de algum modo, ainda acontece – e foi condenado a se matar bebendo cicuta (veneno). Então, ele desenvolveu um conceito que a democracia era um regime teatral, ou seja, é uma teatrocracia. Isso fica bastante claro quando ele diz no mito da caverna, que quem produz essas sombras são os governantes dessa caverna e querem dominar a percepção da realidade. Ninguém, na verdade, sabe qual é a realidade e como acessar ela em seu poder majoritário. Alguns dizem que é se libertando da caixinha, mas que caixinha?

A esquerda (caixinha 1) é a ideologia da mudança, não quer romper o estado e sua dominação (Matrix?) e acabar com a escravidão conceitual onde o ser humano é escravo, quer só dar um verniz bonitinho social para transvestir de bondade e justiça social. A direita (caixinha 2) é a ideologia que preza os costumes antigos e tradicionais (visão conservadora) e defendem a propriedade privada e uma liberdade na economia (liberalismo). Embora queiram menos estado, querem que ele exista. Qual caixinha você escolhe? A caixinha 1 que quer mais estado e quer dominar tudo e a liberdade seja restrita em ter o que o estado quer que tenhamos ou do lado de uma política que defende os exploradores? De algum modo, sair dessa caverna é ver que de qualquer forma você estará preso nela e veras sombras daquilo tudo que é.

Será que vou na caixinha 1 ou vou na caixinha 2? Sempre tem uma terceira.

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