Alice perguntou: Gato
Cheshire... pode me dizer qual o caminho que eu devo tomar?
Isso depende muito do lugar para onde você quer ir – disse o Gato.
Eu não sei para onde ir! – disse Alice.
Se você não sabe para onde ir, qualquer caminho serve.
(Alice no País das Maravilhas)
Amauri Nolasco Sanches Júnior
Não há obra literária mais filosófica – poderia concorrer
com o conto O Espelho de Machado de Assis – que tenha sido escrita nos tempos
modernos do que Alice no País das Maravilhas (li na versão da editora DarkSide).
Claro, todo mundo lembra do clássico da Disney porque é famosa e o povo não tem
o hábito da leitura – porém, prefiro o filme do Tim Burton – e deveria ser
recomendado nas escolas (o livro mesmo). Indo além do que uma analise o porquê
a abra foi escrita, mostra uma menina que segue um coelho e vai para um outro
mundo e no final, ela é acordada. Tem duas coisas interessantes, pois, toda a
narrativa tem uma narrativa matemática (Lewis Carroll era professor de matemática)
e as questões filosóficas dentro da lógica metafisica (leia-se: linguagem e
realidade).
Mas essa parte do Gato Cheshire, onde Alice pede uma informação
em caminho seguir – sendo que havia dois caminhos – é interessante, porque
depois dessa parte que eu coloquei, ele disse que tanto o Chapeleiro Maluco
quanto a Lebre de março são malucos. Alice diz que não quer se meter com maluco
e o gato diz que ela não vai ter escolha, porque ali todo mundo era meio maluco.
Mas que caminho deveríamos seguir? Buda diz que existia um caminho do meio onde
haveria um caminho reto que nos levaria ao presente – os estoicos tinham
filosofia parecida – e os filósofos budistas dizem que não há certo ou errado,
poderemos escolher em trilhar um caminho ou trilhar o outro caminho. Jesus, o
Cristo (que podemos dizer, o ungido), foi mais enfático em dizer que estreito é
o caminho certo e largo o caminho da perdição. Não é o que estamos vendo todos
os dias? Buda e Jesus dizem – cada um na sua linguagem – que para encontrar
respostas, devemos trabalhar para ter essas respostas e a trilha e enxergar a
realidade como ela é. Jesus se consagrou – pelo menos, os discípulos disseram
isso – como a verdade, o caminho e a vida. Ou seja, o caminho até a verdade e a
verdade como a vida.
Talvez, o que Carroll quis dizer nessa passagem, a meu ver,
tem a ver com o caminho que sempre nos dizem para trilhar e que não sabemos
como e qual trilhar. E tem a ver com o conhecimento. Se não há certeza daquilo
que vai trilhar porque não trilhar qualquer caminho? Porque Sócrates disse, que
uma vida não examinada não vale a pena ser vivida. O que você imagina com isso?
Que se você não sabe o que leva você viver ou ter sua opinião, não vale você viver
porque você nem sabe o que está fazendo no mundo e isso é grave. A gravidade está
em pessoas que se agarram em pastores picaretas – que prometem curas milagrosas
como se fossem procuradores de Deus – e políticos mais picaretas do que estes
pastores, que sofrem preconceito por causa das suas deficiências e acham que não
se deve discutir nem religião e nem política. Se quer inclusão, tem que trilhar
o caminho da política se não quiser trilhar, vai ter que ficam dentro de casa.
Já fui muito expulso de grupos de pessoas com deficiência,
por causa dos meus posicionamentos sobre só haver brincadeirinhas ou tratar as
pessoas com deficiência, como se fossem eternas crianças e não trato. Ou se
discuti a vida, ou não haverá acessibilidade, não haverá escolas, não haverá nem
o direito de se namorar (como alguns são obcecados), não haverá trabalho e não haverá
direito de escolha para pessoas com deficiência. Religião e política se discuti
sim e a família, se estão tratando direito as pessoas com deficiência ou não,
como e se estão sendo respeitadas as vontades e desejos dessas pessoas. Quantas
pessoas como deficiência não são trancadas dentro de casa? Quantas pessoas
querem pedir cadeiras de rodas (ou outros aparelhos) e a família diz que a
pessoas não sabe de nada? Quantas pessoas com deficiência não são empregadas
porque as empresas não querem se adequar e o governo não fiscaliza? Isso são as
pessoas que não querem discutir religião e política, pois são escravas do poder
e só levam a vida numa brincadeira porque são auto alienadas.
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