"Nem o progresso nem a vida são
dons gratuitos."
Machado de Assis
Amauri Nolasco Sanches Júnior
Quando falamos de filosofia política – pelo menos, a que eu
gosto – falamos da filosofa Hannah Arendt e o filósofo José Ortega Y Gasset. Um
diz que a política é um conjunto de ações que fazem na cumplicidade, outro diz
que as circunstâncias fazem o homem e seus conceitos. Por exemplo, Hitler não era
poderoso e nem tinha o governo de nada, ele se tornou poderoso e senhor do seu
governo graças a uma certa cumplicidade e o apoio de muita gente. Não se tem
como negar – se os alemães se arrependeram, isso é uma outra história – o fato
que estamos numa espécie, de teatrocracia aos moldes do que Platão colocou a
democracia. Claro, ruim com ela, pior sem ela, mas a democracia se configura em
se ter dinâmicas cênicas para convencimento e a tomada do poder. Tudo é feito
no ato do convencimento.
Eu tenho uma certa desconfiança que tudo não passa de um
discurso muito bem-feito para enganar a grande maioria. A vinte anos estamos
vendo governos populistas tomarem o poder através do discurso assistencialista –
ou da esquerda ou da direita – em sempre convencer o povo no bolso. Não há como
o estado se meter na economia, há como o governo – um dos braços do estado –
dar condições para o país crescer e subsistir por ele mesmo. O estado não tem
como sustentar todo mundo e não tem como regulamentar tudo, pois senão, se começa
ter o poder de tudo e isso é ditadura. Infraestrutura e leis que garanta
harmonia social, a sociedade tende sempre a progredir e se autossustentar
enriquecendo. Mas, segundo muitos pesquisadores brasileiros, somos um povo
cordial – no sentido do latim cordiális que quer dizer coração – e somos
avessos a seguirmos regras. O jogo político passa ser comandando graças as
nossas paixões.
Assim como a educação e a escolarização, o brasileiro
confunde paixão com amor. A meu ver, paixão não é tesão (atração por quem se
ama), pois, tesão é tesão e paixão tem um escopo, por causa da sua família etimológica,
a ver com doença e sofrimento. Por quê? Paixão vem da mesma família de paciente
e doença e vem do grego páthos = daí vem patologia – e tem a ver, também, com o
sofrimento. Ora, não é a toa, e os medievais vão tratar a paixão como uma doença
da alma, pois, quando estamos apaixonados estamos doentes por alguém ou por
algo. O amor é um afeto mais ameno do apego do ente amado, quando você percebe
que o ser amado está contigo por escolha. O brasileiro acha que atração é amor,
e não é. Amor tem a ver com a alma e a essência – senão, não se amaria tanto
corpos considerados imperfeitos – das pessoas que são amadas, ou daquele amor
por um objeto amado, também. A questão é: as pessoas acreditam mesmo num projeto
político ou acreditam na pessoa em si mesmo? Será que ainda temos vontade política
de modernização do Brasil?
O Brasil como colônia, nasceu com uma ideia feudal, isso é
fato. Nascemos com um ideal de “terreno dos fundos” dos portugueses que tomaram
conta e plantaram, sugaram o que puderam, construíram uma protoetnia e deixaram
o Brasil ser livre. Isso é um fato irrevogável. O problema que o Brasil não quer
assumir duas identidades: uma de latino-americanos que somos (e assim que
europeus e norte-americanos nos veem), depois, temos uma identidade brasilíndia
e assim se fez nossa cultura. E não, não é coisa de comunista. É coisa de
pessoas que passaram anos estudando e investigando nossa história para tentar forjar
uma identidade. Mas, como o argentino, queríamos ser colonizados pelos anglo-saxões.
Não fomos. E somos o que deveríamos ser e deveríamos fazer filosofias e
pensamentos políticos, a partir daquilo que foi forjado dentro da nossa cultura
brasilíndia.
Feito isso, a modernização acontece com o amor onde você mora
e a sociedade onde se vive. Nem todo ente de esquerda é corrupto, nem todo ente
de direita é fascista. Aliás, isso tem a ver com o discurso da dominação que
permeia nossa educação pouco eficiente, pois, se quer eliminar o outro em seu
discurso adjetivando termos que podem sofrer banalização. A corrupção tem a ver
com a ética de roubar ou não roubar, não tem a ver em nenhum momento, com
ideologia. Tanto o stalinismo soviético como o nazifascismo ítalo-germânico, foram
o extremo de ideias socialistas. Sim, a meu ver, o socialismo também foi
idealizado pela extrema-direita. E sabemos, que o socialismo – como forma de
educar a grande massa – é tentador como forma de unir uma sociedade em um só ideal.
Qual governante não queria tal feito?
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