sábado, 25 de setembro de 2021

Tolos e suas tolices num mundo de Schopenhauer

 





Amauri Nolasco Sanches Júnior

 

Schopenhauer tem uma frase – muito usada em memes – que diz que, quem escreve para os tolos tem um grande público, porque, para ele, existiam escritores que só escreviam aquilo que a grande maioria gostava de ler. Isso Schopenhauer não estava errado. A grande mídia sempre escreve o que a grande massa lê – quando não tem preguiça nenhuma – do que, realmente, tem como verdade dos fatos. Talvez, ao escrever essa frase, Schopenhauer estava pensando no seu desafeto Hegel. Mas, a meu ver, a frase fala como as pessoas ainda romantizam a ignorância como se fosse uma coisa legitima e que as pessoas – por serem pobres e sem estudo – não precisem estudar e tem mais conhecimento para evitar certas práticas. Práticas sem teorias são, na maioria das vezes, práticas que dão errado. Ou qualquer um pode construir um edifício? Qualquer um pode operar uma pessoa? Qualquer um pode escrever um livro didático sem uma base teórica?

O que seria um tolo? Tolo – além de ser um adjetivo substantivo masculino – são aqueles que não tem inteligência ou juízo, ou que ou é tonto, simplório, ingênuo e faz ou diz tolices. Talvez, quando Schopenhauer disse que “quem escreve para os tolos”, tivesse se referindo aos ingênuos que sonham com um mundo idealizado e romantizam coisas que não se deveria romantizar. Como aqueles que acreditam num mundo melhor – esse melhor é subjetivo – ou aqueles que romantizam a pobreza ou a ignorância. Tanto a pobreza como a ignorância são coisas ruins e devem ser combatidas sim, isso não tem a ver com ideologias políticas, mas tem a ver com uma visão humana. Pessoas felizes são pessoas que não gostam de violência (porque não precisam) e só se combate isso, dando melhores condições para saírem dessa pobreza e conhecimento o bastante para transformarem vícios linguísticos e comportamentais, em algo correto e justo. A tolice desse tipo de pessoas são a tolice de acharem que mudando termos, superficialmente, vão resolver o problema e vão acabar com tudo isso.

Falo isso com bastante propriedade. Como pessoa com deficiência, eu estudei tarde porque as escolas não eram acessíveis – como ainda não são – porque o brasileiro tem essa ideia do servir para a sociedade, pois tudo aquilo que não serve tem que ser escondido. Ninguém lê nada porque o intelectual não presta, aquilo que te faz conhecer é ruim e não vai gerar nada. Não trabalhei – mesmo formado em publicidade e propaganda, TI (Técnico de Informática) e filósofo da educação – porque as empresas tratam o trabalhador como uma máquina e porque não querem gastar em acessibilidade. Brasileiro é avesso coisas sociais e a investimento, porque só quer ganhar dinheiro, não quer investir. Essa aversão a deficiência é a prática, é a pressa sem o planejamento e sem o que é nobre. Porque a nobreza não vem do dinheiro, vem das virtudes únicas e justas e isso se adquiri com conhecimento.

Mas, como Schopenhauer disse, os ingênuos querem as coisas fáceis, querem memes e vídeos curtinhos sem se ater em uma verdadeira arte do conhecer.  Minha notícia do ministro da educação gastando30 mil reais em uma quarentena nos Estados Unidos só teve 12 leitores, mas por que isso? Por que uma notícia de uma senhora desapareceu em 2012 não desperta curiosidade dos leitores? Ou que a Paralimpíadas foram alvo de ataques capacitistas? Porque o grande público quer coisas fáceis, coisas que não percam tempo lendo ou se informando. Aliás, muitos dizem que essa aversão do conhecimento da nossa cultura é influência da igreja católica, que via no conhecimento um pecado, o pecado do orgulho. Claro, pregavam isso porque um povo ignorante era mais bem dominado. Mas, será que foi só isso mesmo?



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