quinta-feira, 2 de setembro de 2021

Setembro verde – por que não mais escrevi sobre Paralimpíadas?

 





Amauri Nolasco Sanches Júnior

 

Estamos no setembro verde – em relação, a conscientização sobre pessoas com deficiência – e cabe aqui algumas ressalvas sobre as questões sobre as pessoas com deficiência. Por que isso? Dias desses, em um grupo de cadeirantes do Facebook, um rapaz reclamando que a Globo não mostra muito as Paralimpíadas e todo mundo – igual um papagaio – fica escrevendo “Globo Lixo”. Eu escrevi no portal de notícia várias notícias sobre pessoas com deficiência – inclusive da fala do ministro da Educação – e não tenha nada de leitor ou muito pouco. Por quê? Por causa de uma verdade – que o filósofo e linguista Chomsky disse – que os programas e mídias, não foi feito para você, você é o produto. Ora, quem financia as mídias no geral, é as marcas e essas marcas que dão o tom dessas mídias. Se não tem nenhuma leitura ou compartilhamento, não terá futuro.

A questão é linguista e tem a ver com linguagens e uma lógica dentro dessa linguística. A questão não tem a ver com a Globo, porque o tom triste que se fala da deficiência, é um tom popular de senso comum e, de alguma medida, é um tom que a própria pessoa com deficiência passa. A maioria do nosso povo – de um modo geral – não gosta de ver notícias alegres ou que tenha um tom de informação. Porque, ainda, temos uma cultura que todo o ensino ou toda a informação é uma coisa que se utiliza e não utiliza. Você saber, por exemplo, que Orcas podem ser animais conscientes – que mesmo assim, iria ter uma adesão muito pequena de leitores – isso tem uma utilidade dentro de uma conversa, ou dentro de um Enem. De certo modo, existem informações irrelevante – assim pensa a sociedade – para perder tempo em uma leitura ou em um debate, que pode sim, trazer um crescimento social.

A sociedade enquanto ente dinâmico – já estou pegando vícios acadêmicos – tem uma tendencia a sempre achar que o mundo real é o mundo dela, o cotidiano. E sabemos, principalmente quem faz notícias, que a realidade é muito mais ampla do que a discussão se o vizinho é corno ou não. Se a Luiza Sonsa separou ou não do Vitão. Meio que o mundo da sociedade brasileira, se baseia em mera futilidade, mesmo no debate político. Porque a sociedade, num modo geral, generaliza tudo para caber mais fácil ao seu mundo. Uma cabeça que tem boletos para pagar, filhos para cuidar ou outros assuntos para se preocupar, não vai ler sobre o complexo meio social que virou a sociedade brasileira. Por cômodo também? Talvez. O fato é, que esse debate que a sociedade não lê e fica em debates intermináveis, envolta do nome da notícia, tem que ser debatida e já é matéria de estudo sério dentro dos meios de comunicação. Se antigamente se tinha todo um trabalho de ir comprar o jornal na banca, abrir o jornal e ler, hoje a internet – de algum modo – deixou o ser humano muito mais apressado em ver aquilo. As pessoas não querem mais “perder tempo”.

Aliás, o pensamento de “perder tempo” é um pensamento idiota, porque tudo que você se informa, agrega para você de alguma forma e não sai por aí dizendo um monte de baboseira. Nem todo mundo que faz crítica ao comunismo leu obras marxista ou do próprio Marx – desconfio que nem mesmo quem se diz marxista – e quem critica os ditos, “fascistas”, leram sobre o fascismo. Não há meia banana, ou meia mulher gravida, ou a banana é banana ou a mulher esta gravida ou não. Essa coisa de ser cordial do nosso povo – como sempre ser um ser sentimental – sempre colocou o brasileiro como avesso a seguir regras e seguir aquilo que é. Ele sempre adaptou as circunstâncias, daquilo que ele sempre acreditou ser uma verdade. A esquerda não admite que teve sim uma extrema-esquerda, assim como a direita, teve sim uma extrema-direita. Ponto. Isso não quer dizer que todo mundo da esquerda é corrupto e comunista, como quem apoia a direita é toda fascista.

Voltando a “vaca fria”, a questão de não leitura é uma questão de preguiça que muitos filósofos do Brasil – posso arriscar chamá-los de filósofos brasileiros – já constataram e não tem nada de vagabundice, numa comparação europeia, mas uma característica forte ao nosso povo. Como disse em um outro texto, a questão do ócio sempre foi levada a sério por aqueles que estudam a escolarização dentro da sociedade. Não se pode dar escolarização se não há tempo de aprendizado, e isso é fato. Fizeram da escola fabricas de mão de obra e não é e nunca foi – nem mesmo, no começo da revolução industrial – o objetivo da escola. A escola, era pontos de formar cidadãos para a vida e não operários como os capitalistas brasileiros – que pararam nos anos 1920 – acham que é. É a falta de critério que sempre permeou o nosso país.

Falar de deficiência para a maioria, sempre cria um ar de sofrimento e isso permeia a séculos. Não há como tirar da cabeça do brasileiro, que pessoas com deficiência sempre são pessoas antes de terem uma deficiência. No significado do termo, de+eficiência é uma negação da eficácia daquilo que não se é eficiente, capaz de fazer algumas tarefas. Isso não quer dizer não fazer. Quer dizer, se adaptar as tarefas de fazer aquelas tarefas. Por exemplo, em uma notícia que trago a denúncia da secretaria das pessoas com deficiência de São Paulo, Silvia Grecco – que ganhou o prêmio por narrar um jogo do Palmeiras para o filho cego e com autismo – onde um hate comenta uma noticia do portal R7 das Paralimpíadas, traz elementos de completa ignorância. Ele dizer que é uma olimpíada de “retardados”ou de “cotocos”, demostra o quão doente e ignorante nosso povo se revela ser. Mas, assim como o racismo e a homofobia, os elementos vem sempre de quem sofre capacitismo. Quantos cadeirantes já disseram que não namoram outro cadeirante? Quantaspessoas com deficiência apoiaram as falas do ministro da educação?

Se você não se esforça para ser uma pessoa cada vez mais, evoluída, porque você acha que os outros tem por obrigação, ter respeito com você?

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