Amauri Nolasco Sanches Júnior
Estamos no setembro verde – em relação, a conscientização sobre
pessoas com deficiência – e cabe aqui algumas ressalvas sobre as questões sobre
as pessoas com deficiência. Por que isso? Dias desses, em um grupo de
cadeirantes do Facebook, um rapaz reclamando que a Globo não mostra muito as Paralimpíadas
e todo mundo – igual um papagaio – fica escrevendo “Globo Lixo”. Eu escrevi no
portal de notícia várias notícias sobre pessoas com deficiência – inclusive da
fala do ministro da Educação – e não tenha nada de leitor ou muito pouco. Por
quê? Por causa de uma verdade – que o filósofo e linguista Chomsky disse – que os
programas e mídias, não foi feito para você, você é o produto. Ora, quem
financia as mídias no geral, é as marcas e essas marcas que dão o tom dessas mídias.
Se não tem nenhuma leitura ou compartilhamento, não terá futuro.
A questão é linguista e tem a ver com linguagens e uma lógica
dentro dessa linguística. A questão não tem a ver com a Globo, porque o tom
triste que se fala da deficiência, é um tom popular de senso comum e, de alguma
medida, é um tom que a própria pessoa com deficiência passa. A maioria do nosso
povo – de um modo geral – não gosta de ver notícias alegres ou que tenha um tom
de informação. Porque, ainda, temos uma cultura que todo o ensino ou toda a informação
é uma coisa que se utiliza e não utiliza. Você saber, por exemplo, que Orcas podem
ser animais conscientes – que mesmo assim, iria ter uma adesão muito pequena de
leitores – isso tem uma utilidade dentro de uma conversa, ou dentro de um Enem.
De certo modo, existem informações irrelevante – assim pensa a sociedade – para
perder tempo em uma leitura ou em um debate, que pode sim, trazer um crescimento
social.
A sociedade enquanto ente dinâmico – já estou pegando vícios
acadêmicos – tem uma tendencia a sempre achar que o mundo real é o mundo dela,
o cotidiano. E sabemos, principalmente quem faz notícias, que a realidade é
muito mais ampla do que a discussão se o vizinho é corno ou não. Se a Luiza Sonsa
separou ou não do Vitão. Meio que o mundo da sociedade brasileira, se baseia em
mera futilidade, mesmo no debate político. Porque a sociedade, num modo geral,
generaliza tudo para caber mais fácil ao seu mundo. Uma cabeça que tem boletos
para pagar, filhos para cuidar ou outros assuntos para se preocupar, não vai
ler sobre o complexo meio social que virou a sociedade brasileira. Por cômodo também?
Talvez. O fato é, que esse debate que a sociedade não lê e fica em debates intermináveis,
envolta do nome da notícia, tem que ser debatida e já é matéria de estudo sério
dentro dos meios de comunicação. Se antigamente se tinha todo um trabalho de ir
comprar o jornal na banca, abrir o jornal e ler, hoje a internet – de algum
modo – deixou o ser humano muito mais apressado em ver aquilo. As pessoas não querem
mais “perder tempo”.
Aliás, o pensamento de “perder tempo” é um pensamento idiota,
porque tudo que você se informa, agrega para você de alguma forma e não sai por
aí dizendo um monte de baboseira. Nem todo mundo que faz crítica ao comunismo
leu obras marxista ou do próprio Marx – desconfio que nem mesmo quem se diz
marxista – e quem critica os ditos, “fascistas”, leram sobre o fascismo. Não há
meia banana, ou meia mulher gravida, ou a banana é banana ou a mulher esta gravida
ou não. Essa coisa de ser cordial do nosso povo – como sempre ser um ser
sentimental – sempre colocou o brasileiro como avesso a seguir regras e seguir
aquilo que é. Ele sempre adaptou as circunstâncias, daquilo que ele sempre
acreditou ser uma verdade. A esquerda não admite que teve sim uma
extrema-esquerda, assim como a direita, teve sim uma extrema-direita. Ponto. Isso
não quer dizer que todo mundo da esquerda é corrupto e comunista, como quem
apoia a direita é toda fascista.
Voltando a “vaca fria”, a questão de não leitura é uma questão
de preguiça que muitos filósofos do Brasil – posso arriscar chamá-los de filósofos
brasileiros – já constataram e não tem nada de vagabundice, numa comparação europeia,
mas uma característica forte ao nosso povo. Como disse em um outro texto, a questão
do ócio sempre foi levada a sério por aqueles que estudam a escolarização dentro
da sociedade. Não se pode dar escolarização se não há tempo de aprendizado, e
isso é fato. Fizeram da escola fabricas de mão de obra e não é e nunca foi –
nem mesmo, no começo da revolução industrial – o objetivo da escola. A escola,
era pontos de formar cidadãos para a vida e não operários como os capitalistas brasileiros
– que pararam nos anos 1920 – acham que é. É a falta de critério que sempre
permeou o nosso país.
Falar de deficiência para a maioria, sempre cria um ar de
sofrimento e isso permeia a séculos. Não há como tirar da cabeça do brasileiro,
que pessoas com deficiência sempre são pessoas antes de terem uma deficiência. No
significado do termo, de+eficiência é uma negação da eficácia daquilo que não se
é eficiente, capaz de fazer algumas tarefas. Isso não quer dizer não fazer. Quer
dizer, se adaptar as tarefas de fazer aquelas tarefas. Por exemplo, em uma notícia
que trago a denúncia da secretaria das pessoas com deficiência de São Paulo, Silvia
Grecco – que ganhou o prêmio por narrar um jogo do Palmeiras para o filho cego
e com autismo – onde um hate comenta uma noticia do portal R7 das Paralimpíadas,
traz elementos de completa ignorância. Ele dizer que é uma olimpíada de “retardados”ou de “cotocos”, demostra o quão doente e ignorante nosso povo se revela ser. Mas,
assim como o racismo e a homofobia, os elementos vem sempre de quem sofre
capacitismo. Quantos cadeirantes já disseram que não namoram outro cadeirante? Quantaspessoas com deficiência apoiaram as falas do ministro da educação?
Se você não se esforça para ser uma pessoa cada vez mais, evoluída,
porque você acha que os outros tem por obrigação, ter respeito com você?
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