quarta-feira, 15 de setembro de 2021

Os dados de Gabriela Prioli

 




Amauri Nolasco Sanches Júnior

 

Por que será que meu texto “onde esta dona Beatriz?” teve mais leitores do que a notícia “Senhora desapareceu em Aparecida no ano de 2012e, desde então, nunca foi encontrada”? Muitas pessoas podem falar que o nome pode ter colaborado com a questão, mas temos que fazer uma certa investigação como acontece na nossa cultura. Quando eu era mais novo, uma amiga dizia que ler comendo fazia mal – depois minha noiva disse que o pai dela dizia a mesma coisa – e rimos da cara dela, pois não faz nenhum sentido ler comendo faz mal. Mesmo o porquê, existem pessoas que leem jornais tomando café ou almoçando, nem que seja um folheto de alguma coisa. Isso nos leva a uma verdade: por que temos tanta aversão ao conhecimento e a leitura? Isso fica claro quando vimos as pessoas postarem mais vídeos curtos (os cortes) ou memes, do que ler e analisar uma matéria e com calma postar sua opinião e isso é um “carimbo de pensamento”.

Ora, o que deveria ser um carimbo de pensamento? Esse termo foi inventado pelo professor Vitor Lima do canal “Isto não é filosofia”, onde ele diz que carimbos de pensamento são frases fáceis para as pessoas decorarem e nem saberem o que isso significa. Muitas frases dos filósofos viram memes, isso pode ser positivo de um modo, mas de outro mostra uma parte do pensamento daquele filósofo de uma frase tirada de um contexto. Um exemplo bastante clássico dentro da filosofia é a frase de Nietzsche “Deus está morto” tirada de um contexto maior – que ele faz críticas contundentes a cultura alemã da sua época e o niilismo que iria por vir – onde há um pensamento muito mais abrangente. Alguém pesquisou sobre essa frase para saber? Alguém comprou ou pegou o livro Gaia Ciência para procurar essa frase? Não. Como acontece com todo ser humano que vive no Brasil – não só, mas a maioria é daqui – eles ouvem o galo cantar e não sabem onde o galo está cantando. Ou seja, as pessoas ouvem coisas e não entendem essas coisas e saem repetindo sem estudar o entender isso tudo e só analisando a coisa como título do texto.

Daí dou uma certa razão para a professora Gabriela Prioli quando, em entrevista ao canal Flow Podcast, indagou o Monark sobre dados daquilo que ele estava dizendo sobre a educação. Primeiro, eu não acho que números são confiáveis, mesmo o porquê, números podem ser manipuláveis conforme interesses. Mas, alguma base sobre o que é a educação (escolarização) tem que ser mostrada. O que eu vejo pode ser uma realidade, o que o outro vê pode ser outra realidade. A realidade não existe como um ponto único porque ela é percebida por muitas mentes, que podem enxergar essa realidade a partir das crenças ideológicas ou religiosas, regem sua consciência. A prova disso é a recusa do meu texto “eu vou de Lula?” de um grupo sobre Libertarianismo que não viu que era uma pergunta e não uma afirmação, porque as pessoas enxergam a realidade que querem enxergar e não a realidade como ela é. Claro, que nessa resposta da Prioli, existem valores que ela acredita como: a educação nos governos anteriores não estavam tão ruim assim, existem valores acadêmicos de probabilidade e comparação de dados e a questão de que o senso comum não sabe o que esta dizendo. Muitas vezes, não é verdade.

Do mesmo modo que o moderador do grupo enxergou uma afirmação e não uma interrogação, a Prioli enxergou a resposta do Monark como uma isenção do governo Bolsonaro. Que não é verdade. A educação decai quando o regime militar censura e tira filosofia e sociologia dentro da grade e coloca moral e cívica – e colocaram a moral que interessava e a cívica que entrasse nos moldes que quisessem – onde aluno tinham que ser empregados servis e sem indagar nada. Tanto é que, num dado momento, aparece o carimbo de pensamento “política e religião não se discute”. Será mesmo? Será que as questões políticas e religiosas não podem ser discutidas? E a educação não melhora, porque temos uma cultura tecnicista e o que importa e formar mão de obra para o capitalismo atrasado do Brasil. Aliás, o que não é atrasado aqui no Brasil? Mas o atraso do Brasil – assim como da América latina inteira – somos o feudo do mundo e a nossa vassalagem é necessária. Onde o mundo vai plantar ou criar gado? As américas serviram para isso desde a tomada delas pelos europeus.

A realidade não é feita de dados e sim de fatos, fatos históricos e que nos remetem até além daquilo que nos querem condicionar. Além disso, a Prioli deveria saber que existe vida além da academia. E no mais, podemos dizer que Platão ficaria enfurecido do que fizeram da sua ideia de academia.



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