Amauri Nolasco Sanches
Júnior
Imagine uma raça de
aranhas que começam a se juntar e um pesquisador descobre sua linguagem e começa
a organizar uma sociedade aracnídea e essa sociedade, começa a ter os mesmos
problemas que a sociedade humana. Problemas que já eram vistos no passado –
principalmente, no Brasil – onde as eleições tinham fraudes, faziam de tudo
para ganhar a aranha que comandava uma turma e a urna. Quem seria a aranha
tecedeira que seria a Penélope – em alusão a mulher e rainha de Ulisses que
teceu um tapete até a volta do marido – à espera de um Ulisses que pudesse ser
digno de vencer? Machado de Assis (1839-1908), foi o gênio da escrita e foi um
cara que sintetizou a alma humana como ninguém (deu para perceber que Machado
tem minha admiração) e no conto “A sereníssima República”, ele faz uma crítica
severa a sociedade e uma crítica as ideologias políticas.
Cheguei a esse conto graças a uma palestra da Nova Acrópoles
– com a professora Lucia Helena Galvão – que usou viários contos como referência
filosófica e um desses contos machadianos, estava esse. Talvez, como mostrou a
professora Lúcia Helena, Machado tenha feito uma critica as ideologias e formas
de governo dizendo que não importa qual forma de governo ou ideologias
seguimos, se não mudarmos a si mesmo não haverá governo nenhum que possa
resolver o problema da humanidade. Pois, se prestarmos mais atenção no conto,
podemos ver que o conto mostra que as aranhas se esqueceram da sua natureza e
ficaram deslumbradas com o poder de comandar a comunidade aracnídea. E esse é o
problema, pois, nenhum ser humano vai arrumar um problema que é só seu.
Mas uma coisa é interessante no conto, o pesquisador
aprendeu a linguagem das aranhas e implantou a ideologias para elas e elas aprenderam,
como um teórico que ensina numa comunidade e depois observa como aquela teoria
se comporta. Como se as coisas fossem externas e não, elas são internas e tem a
ver com o patrono da filosofia: Sócrates. A filosofia socrática é uma teoria onde
a preocupação não é a origem de tudo e sim, a origem de si mesmo para se
conhecer para conhecer a verdadeira realidade. Por isso mesmo, Sócrates vai
dizer que uma vida que não é examinada não vale a pena ser vivida. O que seria
uma vida examinada? Talvez, usando o conto, se a aranhas fossem conhecer a si
mesmas e perceber que elas não eram humanas e não tivessem nenhum compromisso
social – e não precisariam ter – elas indagariam o pesquisador o porquê ele
queria implantar uma coisa humana, numa comunidade de aranhas. Ou acharia estranha
essa coisa de democracia que um voto valeria como um e a maioria colocaria um individuo
mandando nas outras aranhas, porque o mundo é muito maior para um individuo pode
arrumar e comandar outros.
A questão que se levanta – que está até no livro Origem do
Totalitarismo de Hannah Arendt – foi a implantação da igualdade como direito
universal e insolúvel sendo que cada um tem sua natureza. Todas as tentativas
de socialismo (seja de direita ou esquerda) governos totalitários, ditaduras e
as democracias liberais (ditas liberais), foram idealizadas em cima da
igualdade francesa dos tempos da revolução. Mas, se fomos parar para pensar, o
individuo como soberano das suas decisões e da sua própria autonomia não existe
mais. Por quê? Porque aconteceu o que aconteceu com as aranhas, sua natureza
foi esquecida e o estado ficou o grande provedor daquilo que a si próprio deveria
ser o foco da questão. Será que somos livres? Será que podemos escolher mesmo? Será
que não somos enganados para trabalhar por uma coisa maior?
Como é demonstrado no conto, a igualdade não existe quando você
começa a enxergar cada consciência, cada ser como único que pode mudar a si e a
realidade. Pois, não precisamos pregar a igualdade, precisamos ter consciência que
não somos aquilo que nos tentam impor.
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