sexta-feira, 25 de fevereiro de 2022

Putin e a velha política

  


Nesta quinta-feira (24), o perfil oficial da Ucrânia no Twitter publicou uma caricatura de Putin recebendo a aprovação de Adolf Hitler.



A suprema arte da guerra é derrotar o inimigo sem lutar.
Sun Tzu

 

 

Uma vez, estava assistindo um filme – baseado em um jogo de videogame – onde em dois mil e setecentos e bolinha, o mundo é dominado por corporações e essas corporações guerreavam entre si mesma para dominar recursos. Governos não eram mais importantes. Assim como podemos ver no Jornada nas Estrelas, que há uma federação galáctica que comanda a frota estrelar que vasculha o universo para achar a fronteira final – depois houve várias versões. Por outro lado, os filmes que o mundo não tem nenhum governo e não esta dominado, ele é caótico e sem regras nenhuma onde acontecem várias atrocidades. Um deles é a saga Mad Max, onde Max tem sua família morta – por ser policial – e ter matado uns dos bandidos, no segundo filme, podemos ver cidades isoladas ou pessoas isoladas tentando sobreviver. Por que a indústria hollywoodiana tem essa visão contratualista – que acredita, como Hobbes, que sem nenhum governo não há regras e assim, o homem é o lobo do homem – e não uma visão em que o melhor é não ter um governo?

Mesmo os filmes de ficção, o Estado sempre atrapalha o Batman, o Superman ou outro herói, porque a natureza do Estado é cuidar do seu povo como crianças e não como pessoas autônomas com sua própria opinião. A visão rasa de geopolítica que temos – a maior parte, nem aprendemos na nossa escola – vem do fato que aprendemos nos filmes hollywoodianos que sem regras impostas dos governos, não haverá saída e que sem essas regras o mundo ficara um caos. Max vive bem os quatro filmes da saga – está certo de que se arrebenta todo – sem regras e ainda escolhe as lutas que quer entrar. Poderíamos chamar de anti-herói. Por outro lado, John Rambo é um veterano de guerra que quer que a América (leia-se, Estados Unidos), reconheça os veteranos como heróis e isso nenhum governo faz. Alias, burocrata nenhum vai para a guerra e ficam com suas bundas gordas sentadas em uma cadeira, sem saber o que realmente a guerra faz num psicológico e nas famílias. Mesmo assim, Rambo tem uma submissão quase idolatra por seu comandante e o obedece cegamente, mesmo quando é deixado por sua própria sorte.

O filósofo Jean-Jacques Rousseau dizia que, o ser humano nasce bom, mas, a sociedade que o corrompe. Quando vimos filmes como Rambo (onde ele obedece cegamente e atira em pessoas que ele não conhece e não tem raiva delas), você não dá uma razão para ele? Claro, podemos dizer que Rambo poderia estar se defendendo e achando que todo mundo está contra ele – pois ele foi treinado assim – mas, ele foi transformado em uma máquina, destruíram o psicológico dele e destruíram o lado humano. Do mesmo modo podemos dizer dos cowboys que mataram indígenas e viraram filmes e tornaram eles como heróis. Como ouvi num filme um estrangeiro dizer – acho que era filme europeu – entrou atirando é filme norte-americano. Mas, são dois exemplos que a questão rousseauniana toma corpo e dará ares de educação por valores que não são nossos, um racismo que não é nosso, problemas artificias.

no mais, o ocidente ficou sem nenhum inimigo quando a “cortina de ferro” caiu. Vladimir Putin é da velha guarda soviete, foi treinado na antiga KGB (Polícia Secreta da URSS) e cresceu no meio soviético e no mundo onde se odiava capitalistas ocidentais. Aprendeu que os ocidentais não tinham nada para acreditar e sim, só lutavam por seus interesses (como se os soviéticos não tivessem nenhum). Putin não está errado – nem o treinamento que ele recebeu – em acreditar que o ocidente não acredita em mais nada, porque não acredita mesmo. O que o ocidente tem de mais caro onde acreditar? Depois de poluir o planeta, poluir o mar, depois de milhões de testes nucleares e depois de acabar com alguns valores humanos, o que resta? Fora as guerras que se envolveram, milhares de vidas perdidas, milhares de vidas por interesse, por fome e sempre fazer a África como cliente de armas e laboratório de testes, nada nos resta. Talvez, ninguém possa apontar dedo para o Putin e chamar ele de assassino, porque o ocidente também é. Ingleses matam fetos com síndrome de down, americanos tem preconceitos por décadas ou séculos contra negros e minorias, portugueses ensinam os filhos a odiarem brasileiros. E não deveríamos chamar o presidente ucraniano de nazista, porque ele é judeu.

O grande problema não foi os soviéticos ensinarem isso para Putin, mas o ocidente demonstrar que eles estavam certos. Na verdade, Nietzsche daria razão aos soviéticos e ao Putin. Por ser socialista? Não. ele tinha duras críticas ao socialismo, mas, que o século vinte demonstrou que o filósofo estava certo. Os ocidentais entraram num niilismo enorme em nome de uma liberdade que nem existe. Nós cadeirantes, podemos transitar numa rua sem impedimento? As mulheres podem transitar com qualquer roupa na rua sem ser assediada ou até mesmo, estuprada? Ou pessoas LGBTI+ podem ir onde quiserem com seus parceiros? O ocidente demonstrou que a liberdade que tanto os iluministas sonharam tem certas restrições, só que não existe uma meia gravida, ou um meio gato, cachorro ou etc. Liberdade é liberdade. Eu teria a liberdade de quebrar um degrau (porque, na essência, falta de acessibilidade seria uma agressão), que estivesse me atrapalhando. Assim, outras pessoas deveriam ter a liberdade de se defender.

Governos (Estado) atrapalham muito mais, do que ajudam. Tecnocratas e burocratas nunca vão sair das mesas para ver o mundo de verdade, porque estão em suas salas com os ar-condicionado ligado. E no fim, o ferrado sempre vai ser o povo.

 

Amauri Nolasco Sanches Júnior


 

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terça-feira, 22 de fevereiro de 2022

Ed Motta tem razão?

 



O cantor e sobrinho do Tim Maia – mais sobrinho do que cantor – Ed Motta, fez uma live onde falou em 6 horas vários assuntos, um deles falou que Raul Seixas era “mal caráter” e muito ruim, musicalmente. Quando se fala em música – em arte, no geral – se fala em estética e como elas são tecnicamente. Ed não fez isso, ele como uma pessoa estudada no assunto – se não me engano, ele é maestro – deveria ter analisado tecnicamente Raul e feito uma análise muito mais apurada. Não fez. Preferiu causar polemicas vazias sem sentido nenhum, só no intuito, de querer ser “cult”. Que, aliás, ele sempre fez. Ele é um sujeito estudado, mas tem uma coisa ressentida de não ser um cantor popular e, talvez, essas polemicas são uma tentativa de ficar popular.

Mas além de Raul, Ed Motta detonou Jonny Cash e Elvis Presley. Tecnicamente, as músicas de Raul Seixas são músicas fáceis e de bordões, que muitas pessoas, não entenderam. Vamos pegar exemplos de músicas mais conhecidas e ouvidas – pois, eu ouço outro tipo de música do Raulzito – como Gita (escrita por Paulo Coelho), quem percebeu que aquilo que ele fala é Deus na visão de Krishna? Do mesmo modo – isso é verdade – a música Pais e Filhos da banda Legião Urbana (escrita por Renato Russo), é sobre suicídio e ninguém sabe ou finge não saber. Ora, Raul, como um pensador musicado, não seria uma música que você poderá entender na primeira ouvida. Tem pessoas que ate hoje não entendeu. Críticas vorazes dentro de uma sociedade complexa – pois, Raul entendeu isso muito cedo – que só o rock poderia criticar numa forma acida. Não era só músicas de duplo sentido, ou músicas para dançar – como a Anitta disse que o rock era chato por não poder dançar – e sim, uma crítica acida para chocar. Rock não faz carinho, ele chacoalha, mexe com a ferida social e sua moral.

O grande problema de Ed Motta é o problema da nossa cultura, a mesquinharia de achar que só porque não faz sucesso, o outro não pode ganhar. Vimos isso em muitos casos, como na internet, como nas redes sociais que vimos que as pessoas querem ferrar as outras. Nunca se fica feliz com o sucesso do outro. Fui educado em sempre querer que a firma que você trabalhe prospere para empregar mais gente, para continuar te pagando e prosperando onde você mora ou mora os vizinhos daquela firma. Isso se dá na padaria, se dará em todas as empresas que estão no seu bairro. No caso do Ed Motta, ele não fez sucesso porque não tem sucessos populares e nem a gravadoras lhe viram como uma música comercial.  

Exemplo mais ressente é a Luiza Sonsa – que conheci tocando violão como a Mariana Nolasco – ela cantava de uma maneira e num outro momento, evidentemente, sucumbiu a modinha e começou a catar músicas fáceis e rebolativas. Por quê? Porque, como toda América Latina, fracassa culturalmente por serem colonizados por republiquetas – reinados vassalos ingleses e franceses – que viam o catolicismo uma força espiritual e transformou nossa nação em um grande feudo. Claro, mesmo Portugal tendo todas as riquezas que pegava daqui, não conseguiu prosperar porque deixaram tudo para os ingleses. Depois, não deixaram nem construir escolas e nem construir indústrias, que atrasou o progresso brasileiro. O que mais exportamos de propaganda vinda daqui? Carnaval, samba, florestas e comunidades dos morros cariocas. Não é uma questão de direita ou esquerda, é uma questão de gostar de onde você nasceu e viveu a sua vida inteira. As meninas latino-americanas aprenderam desde cedo a serem famosas pelo corpo, a serem pessoas que não gostam de estudar ou de ler nada.

Raul criticava isso, criticava um Brasil que não ia e não acordava. Qual crítica musical Ed Motta fez? O tio dele passaria vergonha.

 

Amauri Nolasco Sanches Júnior 

segunda-feira, 21 de fevereiro de 2022

Terraplanismo antivac e Kant

  




Claro que muitos filósofos responderam isso, mas, a resposta do filósofo Immanuel Kant (1724-1804) é bastante interessante num texto que ele escreveu em resposta à pergunta “o que é o esclarecimento?”. O filósofo prussiano foi criado numa família puritana – uma vertente do protestantismo – e isso vai ser muito decisivo na sua filosofia que chamamos de criticismo. Graças a suas três críticas – Crítica da Razão Pura, Crítica da razão prática e Crítica do juízo – Kant ficou conhecido com sua teoria crítica sobre quase todos os assuntos da época. Chamaram sua filosofia de revolução copernicana das ideias, mas, ele foi muito além que possamos imaginar.

Quando ele começa o texto, ele diz assim: “Esclarecimento [Aufklärung] é a saída do homem de sua menoridade,”. Mas o que ele quis dizer com minoridade? Para Kant, minoridade seria seguir algo sem a menor reflexão, ou seja, achar que aquele vídeo da tia do WhatsApp é verdade sem questionar sua veracidade. Ou alguém montar toda uma narrativa sem prova nenhuma que aquilo é verdade. Será que essas pessoas saberiam o que seria a verdade? Pois, filósofos – desde Tales 500 anos antes de cristo – vem perguntando o que é a verdade. Que aliás, Pôncio Pilatos pergunta para Jesus o que é a verdade e o mesmo se cala, porque a verdade precede algo além do que mera linguagem ou mera questão de opinião. Não se chega a verdade achando algo sobre coisas que se deixam manipular. Mas, o esclarecimento, sempre vai mostrar um caminho a seguir que Kant, como filho do seu tempo, vai dizer que para isso temos que tomar decisões e ir contra a grande maioria. Por que eu tenho essa opinião? Por que não posso pensar diferente do outro?

A resposta é bem clara: “preguiça e a covardia”. Enquanto todos escolhem um lado para ficarem, eu fico no lado daquilo que eu acredito e não abro mão. Não adianta chamar os bolsonaristas de “gado” e votar num sujeito que roubou uma empresa que nunca deu nenhum prejuízo, seu partido comprou voto no parlamento e seus apoiadores acreditam no ódio do bem. A meu ver, ódio é ódio, não se analisa nada no calor das emoções. Eu sou contra o estado por causa que o estado nunca aliviou minha deficiência, sempre burocratizou ela e sempre achou que era um favor tudo que fazia, mesmo o meu pai e a sociedade – alguns membros também têm filho com deficiência – paguem seus impostos em dia. e outro, nunca gostei de seguir o que todo mundo segue, assisti o que todo mundo assisti e por aí vai.

A elite brasileira sempre forjou muitas coisas – inclusive o lulopetismo e o bolsopetismo – desde chegaram aqui com as caravelas (ou naus). Os “senhores feudais” brasileiros sempre construíram narrativas e os reis portugueses nunca deixaram o Brasil crescer, se educar e se industrializar. Acham que quem faz parte do centrão? Famílias italianas ou de outros povos, ou as mesmas famílias que mandam no Brasil a quinhentos anos? A resposta é óbvia, a questão do poder no Brasil sempre foi uma questão política das catacumbas de Brasília, nunca nos discursos políticos bonitos, nas idas na padaria ou assinar um decreto bonito para todo mundo gostar. O Brasil e a América Latina sempre foram colonizados pelo pensamento medieval da pobreza, a filosofia cristã aristotélica-tomista, sempre fomos reféns de um atraso cultural e escolarizado, onde primeiras escolas só foram construídas muito mais tarde. E o grande problema é: o comunismo. O grande problema da América Latina são governos corruptos – até mesmo as ditaduras militares tiveram – não ideologias, pois ideologias políticas só são uma capa.

O esclarecimento me deu uma visão muito mais ampla e como não apoio nenhum dos lados, eu posso fazer um questionamento muito mais amplo do que quem apoia alguém. E não tive nem preguiça e tem covardia para estudar tudo isso. Porque não tenho nenhuma necessidade de ficar em “turminha”, ora de cá, ora de lá. Um filósofo não deveria se encantar nem com filosofias baratas, nem com ideologias que ele sabe que foram tentadas e não deram certo. Por outro lado, sempre tive esse problema na minha cabeça: qual a necessidade de se seguir o outro? Qual essa necessidade da sociedade ou mídias, ditarem o que se deve ou não acreditar ou seguir? Até mesmo no rock ou no heavy metal, se você é contra o sistema e seus seguidores, por que se constrói sistemas de fanáticos fãs, que muitas vezes, enchem o saco?

Ai tem um problema: por que as pessoas não querem pensar por elas mesmas? Mas, veja, não estou dizendo, como muitos dizem nos grupos de Facebook, que pensar por si mesmo é não repetir o que outros disseram. Não repetir é ter preguiça de pensar, ter preguiça de sair das amarras estruturais de uma estratégia que a mídia faz a anos: o condicionamento de massa. Não acredito nem no sucesso e nem no progresso. Aliás, a frase positivista da nossa bandeira sempre me remete a duas dúvidas: que ordem? Que progresso? O progresso é o sucesso de um povo como nação, o Brasil nunca se sentiu uma nação, porque não existe progresso sem evolução sociocultural. Se não for pela escolarização e uma cultura da valorização, nada feito e podem abrir qualquer empresa aqui.

Posso gostar do Guns N´ Roses, mas acho o Axl Rose um chato ou um FDP. Posso gostar do filme 300 spartans, mas eu sei que aquilo é liberdade poética por inúmeros erros históricos. Isso que Kant disse em não ter medo e nem preguiça de ir além, não achar que “tem que” seguir uma turma que não está nem aí com você.

 

Amauri Nolasco Sanches Júnior

 

quinta-feira, 17 de fevereiro de 2022

Bunda metafisica e os filósofos críticos do Instagram

  




 

As pessoas lhe pedem críticas, mas elas somente querem elogios.
W. Somerset Maugham

 

Existem milhares de perfis no Instagram de filosofia – embora, a meu ver, não existe um filosofar em memes – que fazem o que, na maioria dos casos, todo mundo faz: criticar a mídia social nela mesmo. Quem não criticou o Facebook fazendo críticas no Facebook? Mas, como um bom estudante de filosofia, deveria saber que uma crítica não é como a maioria acha que é, mas, o que a filosofia coloca como uma análise profunda sobre aquilo. Daí – isso me fez refletir bastante – vi uma imagem de uma desses perfis e que mostrava um robô com a face com a logomarca do Instagram, distribuindo corações, e jovens sedentos desses corações. Duas coisas me motivaram esse texto: primeiro, não acredito em uma crítica por meme, já que as coisas não são bem assim tão rasas. E em segundo, todo mundo quer like, mesmo aqueles que criticam.

O meu ponto é, você pode deixar aquela rede social com conteúdo se você quiser, mesmo o porquê, as pessoas – na medida do possível – livres para postarem. Podemos postar, por exemplo, a biografia de filósofos brasileiros ou outros filósofos que ninguém conhece, transformando o algoritmo a mostrar essas coisas. O grande problema é que esses perfis querem o mesmo like das bundas do Instagram, eles não querem só criticar, e no mais, sabemos que nem tudo é apto a crítica. Como eu disse, eles deveriam saber que critica dentro da filosofia é muito mais do que falar mal, mas, fazer críticas dentro de situações. Por que o Instagram não presta? Por que as mídias sociais não fazem as pessoas pensarem? Por causa de carimbo de pensamento? Ora, isso eles também fazem.

As pessoas sempre preferiram coisas fáceis e sempre vão preferir, porque refletir e achar meios de reflexão sempre vão ser difíceis. Quem crítica a Wikipédia foi lá e arrumou o artigo que disse estar errado? Quem fez vídeos mais de conteúdo no Tik Tok para mudar a mentalidade das pessoas? Mesmo aqueles que leem, acham que criticando você vai mudar a mentalidade do outro e só vai, muitas vezes, engajar seu vídeo. Ora, você critica e quer o mesmo do que o outro? Então não é sobre mudança, é sobre o gosto das pessoas e querer ficar filosofando com carimbos de pensamento que nada tem de filosofia. Reflexão? Nenhuma. Acho que o pior que esses perfis fazem é propagar esse tipo de imagem, porque as pessoas não vão ler o texto. As pessoas têm o péssimo hábito de acharem mais fácil se informarem com memes, do que abrirem um texto e lerem. Sei disso, porque escrevo notícia. As pessoas comentam o nome da notícia.

Como aqueles caras que lerem uma frase de Nietzsche – o filósofo alemão do século dezenove – e se acham catedráticos dele, mas, Nietzsche é muito mais do que meras frases. Do mesmo modo, os caras que ficam olhando as fotos das moças mostrando a bunda e acham que elas querem alguma coisa ou podem ter com eles. Pedem WhatsApp, ou outros aplicativos de mensagens para se comunicarem, mas, aquela bunda não existe. aquela bunda não está na sua frente e tem um outro problema, a moça pode não querer que você toque na bunda dela. Daí o “ganhão da Matrix” pode perguntar: mas, por que ela mostra se não quer nada? Elas querem “biscoito”. Elas querem ser bajuladas e sabem como conseguir isso de você. Então, aquilo só é uma sombra, uma ilusão que você alimenta com esse tipo de consumo. Por que será a indústria do pornô ganha tantos bilhões?

Isso é uma crítica de conteúdo e não um meme vagabundo que só alimenta carimbos de pensamentos.

Amauri Nolasco Sanches Júnior 

terça-feira, 15 de fevereiro de 2022

Chomsky e a liberdade de expressão

 




Noam Chomsky – filósofo da linguagem – disse em uma das suas obras:


"Goebbels era a favor da liberdade de expressão para os pontos de vista que ele aprovava. Assim como Stalin. Se você é realmente a favor da liberdade de expressão, então você é a favor da liberdade de expressão precisamente para as opiniões que você despreza. Caso contrário, você não é a favor da liberdade de expressão."

 

Esse é um conhecido paragrafo de Chomsky para os defensores da liberdade de expressão – e se eu não me engano, até mesmo, o Monark citou Chomsky em um podcast – e os argumentos que eles usam para interpretar esse parágrafo, é bastante problemático. Nitidamente, Chomsky esta dizendo como a liberdade de expressão passa por valores que se acredita e o que não se concorda, achamos que aquilo não se pode ser dito. Por isso mesmo – podemos usar esse parágrafo do filósofo – tem a questão da notícia falsa, porque qual iria ser o critério disso dentro daquilo que se chama de mentira ou verdade? Porque tudo que passa na sua linguagem, são os valores que você acredita e Chomsky mostra isso muito bem quando ele usa o exemplo do Goebbels e do Stálin.

Goebbels era nazista e como nazista, não podia achar bacana, uma pessoa virar e dizer que era contra a matança de judeus ou outras minorias. Como chegar num Stálin, e dizer que não concordava com o jeito que ele governava a URSS – que aliás, aconteceu com Trotsky e outros do partido dele – você acabaria num gulag. E não pense que nas democracias não tinham esse tipo de coisa, tinham e tem muito disso. Só porque eu fui contra uma determinação do serviço de vans adaptadas aqui de São Paulo – na gestão Fernando Haddad (PT) – e eu e minha noiva fomos perseguidos políticos até acabar a gestão dele. Vans quebradas, motoristas que não esperavam, minha noiva teve pneumonia porque ficou na garoa e outras coisas que aconteceu. Será que concordam com a política de Stálin? Não sei. Mas, minha noiva teve consequências até hoje onde as pessoas ainda acham que os extremos são importantes, porque há um interesse naquilo e a agenda segue, independente, daquilo que podemos ou não falar.

Daí cairmos em Popper e seu Paradoxo da Tolerâncias, porque sendo tolerantes com os intolerantes, eles vão usar essa tolerância para caça meu direito de me expressar. Por que eu não poderia concordar com a gestão petista? Por que eu não posso ser contra o governo Bolsonaro? O próprio povo acaba sendo o próprio carrasco, cancelando ou até mesmo, escrevendo comentários que no fundo não sabem o que estão dizendo. O nazismo matou pessoas como eu em câmaras de gás, sem acharem que iriam morrer. Assim como o socialismo dos sovietes, pessoas como eu eram mortas ou viviam na pobreza extrema e morriam. Claro, quando você estuda, você faz algumas distinções importantes. O nazismo era um projeto de extermínio genocida, o socialismo são consequências daquele governo.

 Ora, e o tolerante que tolerou o intolerante, devemos tolerar ele? Alguns chamaram o Monark de nazista, outros disseram que ele era só um moleque burro. Vendo a educação como eu vejo – a esquerda não pode dizer nada porque foi governo e não fez nada – não me surpreende falas como do Monark ou essas falas que povoam a internet, porque temos uma escolarização vagabunda e que é tecnocrata que pensa em “ser alguma coisa”. Daí não temos ética, não temos pessoas que conhecem nossa cultura ou a cultura humana, não conhece nada histórico. Porque não formamos cidadãos, formamos técnicos e a escola fica chata. Todas as nossas figuras históricas ficam desnudas, toda a nossa cultura prezou tanto a verdade, que entramos num niilismo completo. Ai Nietzsche alertou como seria o povo alemão e deu no que deu, porque tiraram a religião, tiraram os valores milenares e não restou nada. E assim, o nazismo preencheu esse buraco.

Como diz no filme Matrix – se eu não me engano, é uma fala de Morpheus – nem todo mundo está preparado para ver a verdade. Nem todo mundo está pronto para sair da caverna. Jesus mesmo disse, muitos serão chamados, mas poucos serão os escolhidos. Esses escolhidos eram os preparados para sair desse mundo ilusório sem entrar nesse niilismo, foi essa mesma coisa, que Nietzsche chamou de “além do homem”. Aquele que ama a vida e passa por ela sem maiores problemas.

 

Amauri Nolasco Sanches Júnior 

segunda-feira, 14 de fevereiro de 2022

Jovens liberais e ancaps só falam merda por não terem leitura

 





 

Sempre considerei as ações dos homens como as melhores intérpretes dos seus pensamentos.
John Locke

 

 

Sem dúvida nenhuma, o filósofo Luiz Felipe Pondé acertou na análise dele sobre o caso Monark e a análise o que seria uma juventude liberal nos dias de hoje. Disse – o Pondé – que há um grande equívoco entre os jovens liberais no Brasil bastante grave, fruto de uma péssima formação liberal aqui, recusado pelas universidades e dominado por empresários e afins que ainda limitam o repertorio liberal no mercado (porque, não daria lucro o liberalismo).  Isso traria as enxurradas de polemicas vazias que estão todos os dias nas redes sociais. quem quiser ler, está aqui.

A minha análise é analisar o aspecto além do que ele analisou sobre liberdade que ficou meio restrito a uma análise pouco profunda, que não poderia ser diferente por ser um artigo de jornal, e pouco explora o que seria a liberdade de verdade. Uma frase no artigo ele escreve: “A liberdade não é um valor absoluto, talvez nenhum seja.”, diante dela eu vou fazer uma análise mais profunda. Primeiro, que os jovens não só liberais, mas Ancaps também, confundem realidade com ter um ideal para chamar de seu e isso, como apontou muito bem Pondé, tem a ver com a formação. Eu penso que formação vai muito além do que fazer uma universidade, mas, se você decidiu seguir uma ideologia ou uma religião, tem que se ler sobre o assunto. O que vejo aqui no Brasil, são distorções que aquilo que eles descobriram como algo que deve caber dentro daquilo que eles já acreditavam. Sem sombras de dúvidas, que a maioria dos moleques liberais e ancaps, na verdade, são mais antipetista do que acreditam nessas ideologias.

Depois, é uma frase nietzschiana no sentido de provocar uma visão não absolutista pelas coisas. Se eu sou antipetista, tenho que argumentar de forma honesta sem se apegar em algo, como bolsonaristas e petistas se apegam. E no mais, os valores são muito mais políticos (no sentido de domesticar o cidadão) do que cultural. Na verdade, hoje em dia – numa visão mais na geopolítica – fica difícil você determinar essa fronteira ideológica porque a guerra fria terminou (mesmo que alguns achem que não). Lá fora isso está mais determinado do que aqui no Brasil, que de modo atrasado e polarizado, vários veículos de informação têm aproveitado essa coisa de liberal e comunista. O comunismo nunca existiu, só existiu governos socialistas.

Liberdade na filosofia como uma independência do ser humano, autonomia, auto-determinação, espontaneidade e intencionalidade. Ou seja, a liberdade da filosofia – no sentido mais metafisico – tem a ver com a ideia grega de autonomia, mas, na fala tem um problema. Esse problema é muito parecido com o problema da mentira de Kant, no qual, o filósofo alemão dizia que não podíamos mentir. Mas, e se for para salvar uma pessoa? Vale mentir? Da mesma forma, a liberdade não se pode ser um valor absoluto sem ela atingir todos os demais. Eu posso defecar na rua? Até posso, mas vou ser repreendido por pessoas e pela lei (atentado ao pudor). Além de agredir os demais na sociedade. Biologicamente, somos animais gregários – como primatas – e temos a tendencia em não sermos solitários. Por isso mesmo a depressão e a ansiedade aumentaram na nossa cultura, porque somos levados a achar que não temos que ter convívio.

Como pessoa com deficiência, essa discussão de liberdade de expressão é muito cara no nosso segmento. Mesmo o porquê, as pessoas se acham com liberdade de expressão para nos agredir a todo o momento e chamar pessoas como nós, como feios ou defeituosos. Além disso, a liberdade como autonomia, sem nenhuma acessibilidade não tem nenhuma validade de pessoas como eu, sem nenhuma. Fora outras maneiras de liberdade – que em tese teríamos – que não temos. Quem passou a vida inteira em instituição de reabilitação e hospital, sabemos que não temos liberdade. Então, há uma liberdade irrestrita que pode haver?

Há uma verdade que ninguém fala, o grande problema que o estado – como a grande Matrix – não deixa a liberdade acontecer porque tem interesses financeiros. A liberdade permitida é a liberdade lucrativa das empresas e essa é a ideia de liberdade. Mas, a essência da liberdade não é essa e talvez, eu escreva sobre.

Amauri Nolasco Sanches Júnior 




domingo, 13 de fevereiro de 2022

CAPACITISMO NO BRASIL

 



A DEFORMIDADE DO CORPO NÃO AFEIA UMA BELA ALMA, MAS A FORMOSURA DA ALMA REFLETE-SE NO CORPO.

SÊNECA

 

Desde muito cedo – cedo mesmo – nunca entendi essa coisa das pessoas rejeitarem as outras por causa de corpos. Muito mais tarde, uns disseram que era um mecanismo biológico para afastar possíveis estranhos do seu clã ou possíveis predadores, ou até mesmo, era um mecanismo social para renegar aqueles que não eram aptos a cooperarem com o clã. Seja como for, a questão sempre foi envolvida da percepção que temos – quero dizer como humano – de ter a consciência da realidade onde vivemos. Se percebo que aquilo é um celular – percebo, até mesmo, suas funções – eu tenho consciência que aquilo é um objeto percebido universalmente. Mas, é um fenômeno dentro da consciência de uma realidade, de uma verdade de um objeto que tem certo objetivo dentro dessa realidade (como telefonar, mexer na internet ou mandar mensagem). Por outro lado, existem conceitos que são subjetivos dentro de um valor seu, pois, o conceito de feio ou bonito – como imagem do perfeito e do imperfeito – são valores que se carregam dentro da ótica particular da percepção.

Depois de ver uma reportagem que vi sobre discriminação – discriminação e preconceito são coisas diferentes – eu vi, na maioria das vezes, pessoas dizendo se a pessoa (ou o garotinho com síndrome de down), ser feio ou “defeituoso”. Podemos perguntar: o que é “defeito” num corpo biológico que pode sofrer mutações? Podemos, através da tecnologia, aumentar nossos olhos e fazer eles muito mais resistentes ao raio game, ou, podemos evoluir para corpos serem mais resistentes a radiação, por exemplo. Esse “defeito”, talvez, é a ideia grega antiga que corpos perfeitos eram corpos em harmonia ou, a ideia moderna do corpo mecânico. O corpo não é mecânico. O corpo são um amontoado de células que, talvez, começaram a produzir corpos mais complexos e ter consciência como nós. Não sabemos o porquê temos essa consciência, mas, temos e temos que usar essa consciência. Não faz sentido pensar um ser humano só racional, como não faz sentido ser sentimental e ai que, vamos ver uma sociedade como a nossa, sentimental. Daí vem o cordial que vem de “corde”, coração em latim. Mas, não temos que nos entregar só ao sentimento, mas, temos que buscar o equilíbrio entre os dois.

A questão do capacitismo tem um outro, porém. As deficiências sempre foram tratadas como uma doença, algo a ser escondido ou tolerado e numa sociedade como a nossa, ainda tem o pensamento que o mundo é um mecanismo, mas não é. Mecanismos são uma coisa, sistemas biológicos são outra. Ai chegamos numa coisa interessante, porque no século 20, descobrimos que os corpos não são perfeitos, a Terra só é mais um planeta, o Sol só é mais uma estrela e não existe uma moral universal. O nazismo alemão mostrou a falta de uma ética humana e como ainda, os preconceitos são vivos e podem exterminar pessoas por serem diferente. Então, não há nenhuma moral universal. Os reacionários são a reação da evolução de conceitos que não se aplicam mais, mas, ainda são muito caros para eles.

Existe um outro conceito, o que deve ser humano? Um ser humano é de uma etnia, um modelo corporal, um gênero ou uma aparência ou uma sexualidade? Voltaire, no seu livro “O preço da justiça”, traz vários casos de pessoas diferentes que foram condenadas a morte por serem acusadas de demônio ou de feiticeira. Fora o “hermafrodita” que morreu porque descobriram. E por outro lado, existem ainda, dentro do Brasil, um reacionarismo que quer resgatar as escolas filosóficas medievais, pois, mesmo que a nossa filosofia conservadora – e temos – tenha adotado a ética kantiana, não é de esperar, que ache que temos que ter uma volta ao modo escolástico. E isso é problemático, porque os jovens, num modo geral, têm mais facilidade de ser levado por religiões ou conceitos político. Então, essa coisa de ficar xingando os outros na internet sem um motivo aparente, mostra como nossa sociedade é um pouco infantilizada. Só ler os comentários da reportagem do Fantástico. São coisas como “feio”, “não é filho de Deus” etc.

 Essa é a domesticação do corpo de Foucault, onde o outro tem que ter o padrão que eu acho que a sociedade tem que ter e isso é um problema, pois, biologicamente não se tem um padrão. Temos o ser humano como protótipo de um conceito de animal consciente, mas, ninguém é igual nessa consciência. Aliás, a muito tempo, a filosofia denuncia que não tem nada padrão, nem aquilo que pensamos ser padrão. Então, a padronização acaba sendo uma crença. Uma certeza que não existe, e por não existir, não tem lógica. Mas o que seria logica com o corpo do outro? Temos capacidade de julgar o que o outro é?

 

 

Amauri Nolasco Sanches Júnior  

quinta-feira, 10 de fevereiro de 2022

Nazismo, não!

  



 

"A liberdade de cada um termina onde começa a liberdade do outro."

Herbert Spencer

 

Nessa altura, todo mundo sabe que um apresentador de um dos maiores podcast do Brasil, Flow podcast, disse que se deveria existir um partido nazista no nosso país. Já é muito problemático nosso povo acreditar que exista uma suposta raça humana – suposta porque biologicamente somos uma espécie única – superior de outras, tanto mais achar que não se é fruto de várias etnias. desde os negros – que de lá começou a humanidade – até os índios ou indígenas, passando por europeus e asiático, somos uma etnia ainda em construção. Mas, não dá para tolerar pessoas que pensam que pessoas sejam mortas porque você não concorda ou com as ideias, ou com a maneira que ela se comporta, apenas eliminando elas. Seja num regime nazista, seja num socialismo. Mas, ainda sim tem uma certa diferença, pois, o socialismo é uma ideologia social – que, talvez, só fosse uma ideia – o nazismo foi um projeto de extermínio e é perigoso que tenha adesão. Pois, não matou só judeus, mas outras etnias e pessoas como eu, com alguma deficiência. Quantas vezes no Orkut, tínhamos que bloquear essa gente dizendo que deveríamos ser trancados nas Apaes da vida?

Por muito tempo – um tempão mesmo – eu acreditava que as pessoas deveriam ter liberdade e eu vi um problema: as pessoas não sabem ter liberdade, pois querem ser comandadas. Ainda mais a nossa cultura – que não tem nenhuma escolarização de qualidade – acreditar que as coisas se resolvem imediatamente. As coisas não são tão simples assim. Na verdade, ninguém tem a menor ideia como o socialismo e nem o nazismo começaram, porque são ideias coletivistas e esquecem o indivíduo. Só que tem uma pequena diferença: primeira coisa, que o socialismo é uma ideologia e o nazismo é um projeto de extermínio. O extermínio e as fomes que tiveram nos regimes socialistas – que aconteceu – são uma consequência de um regime que errou e criou ditaduras que não virou um comunismo. Não se teve sociedade comunista. E existem vários tipos de comunismo, o nazismo é uma ideia só.

Nossa cultura já foi construída em cima de racismo e formas de supremacia – mesmo que os portugueses tinham certa tolerância, até aquilo que interessavam a eles – como tratar negros e indígenas como inferiores, que ainda acontece, a questão sempre é delicada. Mesmo o porquê, o Brasil sempre foi uma nação contraditória que, de um lado pode acontecer um pancadão (funk carioca), de outro pode ter um pastor pregando e isso faz da sociedade brasileiro algo peculiar e ao mesmo tempo, cria intolerância de grupos que acham que a sua moral tem que prevalecer. A meu ver, essa adaptação não é espontânea no sentido de aceitação voluntária, mas, uma imposição de grupos que tomaram poder onde o estado deixou brechas. E essas brechas – como poder comunitário – se tornam imposições.

Ora, em várias vezes, vi que essas imposições não são diferentes do que ditaduras e essas ditaduras se impõem. Como a algum tempo, temos notícias que traficantes evangélicos não toleravam outras matrizes de religiosidade na comunidade, como uma ditadura. Como em outras ocasiões, pessoas impunham religiosidade, ideologias (seja de esquerda ou direita) – como uma pessoa entra numa livraria e joga no chão uma prateleira de livros da biografia do ex-presidente Lula ou petistas invadindo uma igreja católica em menção a morte do congolês do Rio de Janeiro – ou até mesmo, o fenômeno de impor um conceito científico. Porque o Brasil é carente de alguma coisa – que ainda não identifiquei – que fazem o brasileiro querer sempre seguir um grupo ou um líder. E isso é muito notório. Só vê nas redes sociais.

E nessa gama de seguir ideologias e algo, as pessoas escolhem – principalmente, os mais jovens – em escolher ideologias que seguem um padrão de liberdade total. Os ANCAPs (anarcocapitalistas) pregam – quase como uma seita – que a liberdade tem que ser total, que, a meu ver, não existe hoje e esse é o ponto. Se os libertários têm como base a ética e pode diferenciar daquilo que é ideal e aquilo que é real, um ANCAP não diferenciam daquilo que é ideal e aquilo que é o real. Acontece o que aconteceu com o Monark, ele troca aquilo que ele como ideal aquilo que é real. Mesmo libertário, eu sei que não estou num mundo libertário e sei que não devemos incentivar nenhuma ditadura, nenhuma ideologia nociva e nada que possa ameaçar comunidades inteiras, que como disse, já são ameaçadas.

Para terminar o Paradoxo do Tolerante de Karl Popper:

"A tolerância ilimitada leva ao desaparecimento da tolerância. Se estendermos a tolerância ilimitada mesmo aos intolerantes, e se não estivermos preparados para defender a sociedade tolerante do assalto da intolerância, então, os tolerantes serão destruídos e a tolerância com eles.—Nessa formulação, não insinuo, por exemplo, que devamos sempre suprimir a expressão de filosofias intolerantes; desde que possamos combatê-las com argumentos racionais e mantê-las em xeque frente à opinião pública, suprimi-las seria, certamente, imprudente. Mas devemos-nos reservar o direito de suprimi-las, se necessário, mesmo que pela força; pode ser que eles não estejam preparados para nos encontrar nos níveis dos argumentos racionais, ao começar por criticar todos os argumentos e proibindo seus seguidores de ouvir argumentos racionais, porque são enganadores, e ensiná-los a responder aos argumentos com punhos ou pistolas. Devemos-nos, então, reservar, em nome da tolerância, o direito de não tolerar o intolerante. Devemos exigir que qualquer movimento que pregue a intolerância fique fora da lei e que qualquer incitação à intolerância e perseguição seja considerada criminosa, da mesma forma que no caso de incitação ao homicídio, sequestro ou tráfico de escravos".

 

Amauri Nolasco Sanches Júnior



 

segunda-feira, 7 de fevereiro de 2022

Escritor empreendedor - Somos uma nação tecnocrata?

 




Em seus Pensamentos, o filósofo Blaise Pascal disse a seguinte frase: “zombar da filosofia é, na verdade, filosofar”. Ou seja, zombar da realidade é ter senso crítico, o bastante, para entender que aquilo não é verdade. Afinal, nós filósofos sempre buscamos essa verdade, pois, não sabemos o que é a verdade de fato. Aliás, fatos e verdades são objetos de estudos filosóficos a uns dois milênios e não se concluiu esse estudo, ou seja, a verdade e o fato não pode ser unicamente uma métrica para dizer se aquilo é ou não uma realidade. E, como somos uma nação tecnocrata – o poder da técnica, ou melhor, que é comandada pela prática – somos levados a textos peculiares que servem como dicas de algo que só existe uma prática. Não e gosta daquilo que é intelectual.

No blog “A Estranhamente” que é da escritora Maria Vitoria – onde cai por pesquisar como ganhar dinheiro escrevendo, porque aqui nem notícia abem o link – me dei conta do texto “4 formas de ganhar dinheiro como escritora” onde ela dará dicas de temas. Ela diz:

“Para ganhar dinheiro escrevendo você precisa antes de mais nada mudar sua mentalidade de escritora “amadora”, “iniciante”, “independente”, “não escritora” para… Escritora empreendedora.”

 

Na minha cabeça – e talvez, na cabeça dos escritores de um modo geral – um escritor já é um empreendedor em potência. Essa coisa de filósofo e escritor que não pode ganhar dinheiro com isso veio de Sócrates e Platão – como crítica aos sofistas – mas Sócrates recebia ajuda dos seus seguidores, que eram os filhos da aristocracia grega da época, e Platão era da antiga família real de Atenas. Claro, seria muito fácil criticar pessoas que ganham para isso, tendo recursos para não cobrar. Não invalidando suas obras – Platão foi um grande filósofo – mas isso já não deveria ser uma regra em ser um “escritor empreendedor”. No modo geral, escritores querem ser lidos e isso passa por um momento estranho da nossa história. Pois, como temos uma cultura tecnocrata, ao mesmo tempo, se despreza o sucesso. Por que um Paulo Coelho poderia ser um escritor ruim? Ou são críticas que não passa por uma análise apurada e só é repetida exaustivamente?

Num outro texto, “Como ganhar dinheiro escrevendo?”, que Maria Vitoria escreve os “4 nichos que você deve se atentar para ganhar dinheiro”, diz assim:

1. Área da saúde

2. Área da tecnologia

3. Área do empreendedorismo

4. Área da educação

 

Não desprezando o trabalho de ninguém, mas, se você escrever esses temas, você corre o risco de não ser lido. Na área da saúde, por mais que você tenha uma boa intenção, se você não conhecer o que esteja escrevendo vai acabar fazendo notícias falsas. Daí entra o “ctrl + c”, pois a maioria fica replicando textos alheios e se você copia, você passa a ser uma replicadora e um plagiador e isso, normalmente, é crime. Na área de tecnologia, o mesmo acontece. Empreendedorismo tem muito na internet – arrisco em dizer que esta, até mesmo, saturado. A área da educação é uma área que ainda – por acharem isso eu não sei nem o porquê – confunde educação com escolaridade, pois, educação os pais devem dar e a escola, devem dar a escolarização.

Ai a escolarização além de ser de especialistas, também tem a ver com filósofos. Também nascem questões como: por que não filosofia? Por que não falar de política? Pois, fica parecendo que escritores iniciantes só vão ganhar dinheiro com coisas práticas, reforçando ainda mais, nossa cultura tecnocrata positivista. Será mesmo que portais querem mesmo contratar pessoas que escrevem esse tipo de texto? Ainda, ela destaca – no mesmo texto – que existe subnichos que se pode usar:

Alimentação saudável

Programação

Desenvolvimento pessoal

Administração empresarial

Relacionamento e técnicas de sedução

Revisão e estruturação de artigos acadêmicos

 

Mais uma vez, são nichos de especialização que existem públicos específicos. Quem se interessa em programação? Programadores. Alimentação saudável tem também nichos específicos que podem ser explorados, mas são temas para quem gosta mesmo. No mais, parece aquele tipo de livro que você compra numa banca de jornal como “4 dicas para um relacionamento saudável”, “meta um foda-se na sua vida” e por ai vai. Não tenho nada contra – li muito livros desse tipo e gostei – o problema é você achar que a vida só vai valer a pena se você ler esse tipo de livro.

O problema disso tudo é os temas dessas dicas, nos remetem no marxismo indireto, o positivismo de Comte onde a ciência iria salvar a humanidade da barbárie. As duas grandes guerras do século 20 nos mostrou que a ciência, como outros estudos, não é salvadora de nada e é apenas uma técnica para se estudar a natureza das coisas, das doenças e das mazelas que todo dia descobrimos no universo.  Só isso. Junto com a filosofia – alguns cientistas negam isso – fazem a razão um instrumento saudável e eficaz para dar uma melhor vida ao ser humano.

Primeiro, para ser um escritor você tem que ter dom. Não se aprende a ser escritor – mesmo que insistam em cursos sobre – escritores são pessoas que sabem passar o que sentem ou o que pensam num papel. De Platão até Mia Souto, são escritores que sabiam o que estão escrevendo e são lidos ate hoje nos livros. A questão é: por que eu tenho, necessariamente, agradar nichos e escrever de um modo geral?

Segundo, não se tem uma cultura de leitores (por isso o sucesso do Twitter), o que temos – por se ter uma escolarização vagabunda – é um povo acostumado em leituras fáceis. Não se aprende programação em uma tuitada, não se aprende relacionamentos em um texto, se aprende com aprendizados de erros e acertos. Livros são necessários na programação. Práticas são necessárias para relacionamentos. E outra coisa, aprender programação não vai nos tirar de uma Matrix ou ganhar muito dinheiro, só se vai aprender uma técnica de construir sites e programas. Nada em especial.

 

Amauri Nolasco Sanches Júnior 

domingo, 6 de fevereiro de 2022

O que é isto – fascismo liberal?






 O liberalismo tem muitas falhas, mas ele não é um autoritarismo nos moldes fascista. O fascismo – liderados por Mussolini – foi um movimento reacionário que visava colocar os países que implantassem esse regime, ter uma estética antiga e rejeitar a modernidade. Como aconteceu no nazismo alemão de Hitler, Portugal de Salazar e a Espanha de Franco. Mas, como todo regime autoritário reacionário – de algum modo, o socialismo de Stálin também era – rejeita coisas que usa num segundo momento, usa aquilo. Rejeitaram tanto a tecnologia, mas a guerra foi feita dentro da tecnologia. Como rejeitar o capitalismo, mas ter empresas estatais (em tese são do povo, mas não é bem assim). Até mesmo os revolucionários, sentem uma certa nostalgia que as suas ideias são, realmente, revolucionarias e não a geração seguinte.

O liberalismo é fruto de uma discussão da filosofia do filósofo suíço Rousseau, onde dizia entre outras coisas, que todo mundo nasce livre, mas, em toda parte se encontra acorrentado. Talvez, no tempo de Rousseau com sua moral “engessada”, ele queria dizer que existia uma certa moral que acorrentavam os seres humanos. Filósofos como Adam Smith, John Locke e etc, interpretaram que Rousseau estava falando da liberdade, que a solução, deveria ser a diminuição do estado e tudo aquilo que podasse o ser humano da sua liberdade. Com o passar do tempo – isso é bastante notório – o capitalismo absorveu o liberalismo e conduziu a sociedade a democracia junto com as religiões protestantes (por causa da ruptura do pecado em ganhar dinheiro e ser rico).

 Claro, no século 20 com a guerra ideológica entre o mundo capitalista, liberal e democrático contra os países socialistas, nos deram um gostinho como seria as duas doutrinas que vieram dessa discussão de Rousseau. Essas correntes foram amarradas dentro de ideologias, que na sua essência, eram ideologias que mais prendiam o ser humano, do que libertavam ele. Pois, o liberalismo democrático norte-americano sempre quis impor a democracia e a dita “liberdade”, sendo até mesmo, vencidos no caso do Vietnã. A arrogância norte-americana não é diferente da arrogância da antiguidade dos romanos e gregos, de achar que uma cultura é superior. A revolução russa levou a um outro patamar uma nação medieval – que o czarismo não quis largar – industrializando a Rússia e colocando eles na modernidade, porque era uma nação, inteiramente, agrícola.

Por outro lado, a psicopatia de Stálin – do mesmo modo a psicopatia de Robespierre na França – levaram os ideais da revolução no lixo. Mesmo o porquê, Karl Marx já tinha previsto essa “ditadura do proletariado” quando foi indagado por Pierre Proudhon que o socialismo iria dar nisso. Se por um lado o socialismo bolchevique tirou a Rússia da medievalidade onde ainda existia uma ordem feudal, por outro, não cumpriu a promessa de um mundo mais igualitário pondo na miséria. Por quê? Inevitavelmente, se criou uma elite proletariado militar, ou seja, todos os recursos – que eram escassos naquele tempo – para uma guerra que nunca ocorreu. Guerras são caras e pouco eficientes no mundo contemporâneo. Mas, como disse lá em cima, ditaduras e ideologias antigas – no sentido de terem séculos – são, na sua natureza, reacionárias por partirem de um princípio da sua doutrina.

O termo “fascismo liberal” foi criado pela filosofa e artista plástica, Marcia Tiburi e que me fez fazer a pergunta: o que é fascismo liberal? Porque, como vimos, o fascismo é uma reação a liberalismo capitalista – que deixou tanto a Itália pobre como a Alemanha também (se foi isso mesmo, é uma outra conversa) – por causa da queda da bolsa de 29 e a promessa socialista de socializar os modos de produção. Hitler potencializa a ideia da eugenia – que veio dos Estados Unidos onde seria o polo principal do capitalismo liberal protestante – e cria uma raça superior que era a maior do mundo e aqueles perfeitos e as outras, principalmente os judeus, são inferiores. Mesmo negando a ciência – somente o que interessa – o fascismo a usou como modo de justificar sua doutrina.

Tiburi sabe que, quanto mais usamos um termo, mais ele se banaliza como termos sem o significado, no qual, foi construído. Aí mora o perigo, pois, quando o terno se torna corriqueiro, ele tende a não avisar daquilo que, realmente, o termo se trata. Se a professora está dizendo que o liberalismo se impõe como solução, pode até ser um argumento razoável, mas se ela está dizendo que ele obriga, aí é exagero. Ninguém é obrigado a nada. A questão – como Sartre disse que Tiburi deveria saber – que somos condenados a sermos livres, ou seja, somos condenados com nossas escolhas que fazemos, mesmo nesse sistema. Justificar suas crenças a partir de conceitos antagônicos só para satisfazer um modo com que abraçou uma ideologia política (e até religiosa) é malcaratismo intelectual.

Como eu disse, há milhares de defeitos dentro do liberalismo, não podemos negar, e não estou defendendo nada. Mas, as pessoas mudam muito depressa quando seus interesses levam a isso, como algo desperta da sua alma. Conheci a Tiburi das palestras do Café Filosóficos (CPF) na TV Cultura, onde explanava muito bem as teorias de Nietzsche e davam uma aula de verdade. Deveria ter ficado com o “bigodudo”.

 

Amauri Nolasco Sanches Júnior

Fev. 2022

sexta-feira, 4 de fevereiro de 2022

O efeito Bot e o nazismo do bananal

 




 

A idiotice está distribuída de forma muito democrática no mundo.

Leandro Karnal

 

***

Depois que virou notícia que um congolês foi morto por causade R$ 200 reais teríamos de repensar o Brasil como sociedade. Porque se não temos uma solidez como uma sociedade – culturalmente, formada – repensando alguns valores passado por ancestrais de muitos milênios, não vamos perceber que não temos essa unidade social. A meu ver, quando entramos numa espiral ideológica, esquecemos quem somos e o porquê acreditamos naquilo, porque resolvemos imitar o outro sem perceber que aquilo não somos nós. A nação brasileira só vai ser uma nação, graças a essa unidade social que chamamos de sociedade. Sim, não há como falarmos de uma nação se nem sabemos o que somos.

Aí vale uma crítica das críticas, principalmente, da internet. Outro dia eu vi duas situações de perfis de Instagram – se dizem de filosofia – uma que criticavam das mulheres que mostram a bunda por likes e outra, que criticavam o Instagram. Se existem mulheres que gostam de mostrar seus corpos por likes, esse perfil gosta de fazer essas críticas, também, por likes. Cada um se posiciona dentro até onde vai seu interesse. A questão é: qual a relação que se tem da realidade? Porque os estudantes de filosofia de hoje, acham que a essência filosófica, só pode ficar na questão crítica. Pois, não é bem assim. Se uma mulher acha por bem só mostrar seu corpo e ganhar likes, qual o problema disso? a futilidade da discussão entre o que é cultura e o que não é, não é o objeto criticado – que no caso, é a bunda das mulheres – mas as atitudes por trás daquelas fotos. Um filósofo não se preocupa com questões de ordem moralizante, mas, perguntaria: o que é a moral? Será que isso contribui para nossa imagem mundial de uma nação, sexualmente, explorável? Filosofar com memes sempre vai simplificar e os jovens vão sempre se viciar em coisas fáceis – como vídeos e coisas pequenas – e não vão aprender a serem leitores de livros de verdade.

Além disso, questões moralizantes sempre remetem em atitudes machistas de acharem que mulheres que se mostram de biquini são mulheres fúteis. Ou, até mesmo, mulheres que não contêm cultura nenhuma. Essa questão que deveria ser considerada por uma atitude do estudante de filosofia. Mas, duas características não deixam esse estudante raciocinar: primeiro se acha que ser pessimista é sinal de inteligência e está vendo a realidade, só que não; segundo, filósofos não estão com a verdade, eles procuram a verdade. Como podemos saber se essa é mesmo a realidade? Por causa da filosofia marxista que seres humanos são explorados? Mas, governos socialistas também exploraram e enganaram o ser humano.

E aqueles que usam o Instagram e criticam o Instagram? Na verdade, a grande culpada da alienação perpetua humana – que não deixam o ser humano transcender a realidade – é a nossa própria realidade. Porque, qual seria a definição de realidade? A realidade – que tem origem no latim “realitas” que quer dizer “coisa” – significa em um uso comum “tudo que existe”. Mas, num sentido muito mais livre, o termo inclui tudo que é, seja ou não notado, acessível ou entendido pela filosofia, ciência ou qualquer outra coisa (vindo no Wikipédia). Se realidade é aquilo que é, o porquê tenho que aceitar aquilo que é? Na essência, não sabemos o que é a realidade.

Aí chegamos no cerne do problema – a maioria não enxerga isso – que não estamos separando aquilo que é de verdade, aquilo que não é de verdade. Não é que se você enxerga um sintoma de uma ideologia, que essa ideologia vai se concretizar. Mesmo o porquê, muitas delas nem existem mais e nem são relevantes, mesmo que você não concorde. O nazismo é uma delas. Primeiro, quando você chama um punhado de pessoas de nazistas só porque fazem parte do exército, ou é mal caratismo ou não leu sobre. Pois, o nazismo foi muito além de ser reacionário ou um movimento do exército alemão. Racismo se tem até no país capitalista e liberal como os Estados Unidos. Há elementos muito mais profundos do que mera rejeição de negros ou de outras etnias. A realidade se mescla com o a procura dessa identidade social que o brasileiro sempre buscou e nunca encontrou porque não foi educado para isso.

Os romanos tratavam a educação (educare) como mostrar a realidade para os garotos. Ou seja, a realidade não é mais mostrada porque não podemos nos sentir cidadãos brasileiros, não gostamos de pertencer ao país que gostamos porque não há ordem. Por mais que goste e pregue a liberdade por ser libertário – isso para mim é primordial – a questão da ordem é importante como ser humano e não adianta, o ser humano é um ser gregário. A única dúvida é: que ordem? Em que mundo pertencemos?

 

Amauri Nolasco