Em seus Pensamentos, o filósofo Blaise Pascal disse a seguinte frase: “zombar da filosofia é, na verdade, filosofar”. Ou seja, zombar da realidade é ter senso crítico, o bastante, para entender que aquilo não é verdade. Afinal, nós filósofos sempre buscamos essa verdade, pois, não sabemos o que é a verdade de fato. Aliás, fatos e verdades são objetos de estudos filosóficos a uns dois milênios e não se concluiu esse estudo, ou seja, a verdade e o fato não pode ser unicamente uma métrica para dizer se aquilo é ou não uma realidade. E, como somos uma nação tecnocrata – o poder da técnica, ou melhor, que é comandada pela prática – somos levados a textos peculiares que servem como dicas de algo que só existe uma prática. Não e gosta daquilo que é intelectual.
No blog “A Estranhamente” que é da escritora Maria Vitoria –
onde cai por pesquisar como ganhar dinheiro escrevendo, porque aqui nem notícia
abem o link – me dei conta do texto “4 formas de ganhar dinheiro como escritora”
onde ela dará dicas de temas. Ela diz:
“Para ganhar dinheiro escrevendo você precisa antes de mais nada mudar sua mentalidade de escritora “amadora”, “iniciante”, “independente”, “não escritora” para… Escritora empreendedora.”
Na minha cabeça – e talvez, na cabeça dos escritores de um
modo geral – um escritor já é um empreendedor em potência. Essa coisa de filósofo
e escritor que não pode ganhar dinheiro com isso veio de Sócrates e Platão –
como crítica aos sofistas – mas Sócrates recebia ajuda dos seus seguidores, que
eram os filhos da aristocracia grega da época, e Platão era da antiga família real
de Atenas. Claro, seria muito fácil criticar pessoas que ganham para isso,
tendo recursos para não cobrar. Não invalidando suas obras – Platão foi um
grande filósofo – mas isso já não deveria ser uma regra em ser um “escritor
empreendedor”. No modo geral, escritores querem ser lidos e isso passa por um
momento estranho da nossa história. Pois, como temos uma cultura tecnocrata, ao
mesmo tempo, se despreza o sucesso. Por que um Paulo Coelho poderia ser um
escritor ruim? Ou são críticas que não passa por uma análise apurada e só é
repetida exaustivamente?
Num outro texto, “Como ganhar dinheiro escrevendo?”, que Maria
Vitoria escreve os “4 nichos que você deve se atentar para ganhar dinheiro”,
diz assim:
1. Área da saúde
2. Área da tecnologia
3. Área do empreendedorismo
4. Área da educação
Não desprezando o trabalho de ninguém, mas, se você escrever
esses temas, você corre o risco de não ser lido. Na área da saúde, por mais que
você tenha uma boa intenção, se você não conhecer o que esteja escrevendo vai
acabar fazendo notícias falsas. Daí entra o “ctrl + c”, pois a maioria fica replicando
textos alheios e se você copia, você passa a ser uma replicadora e um plagiador
e isso, normalmente, é crime. Na área de tecnologia, o mesmo acontece. Empreendedorismo
tem muito na internet – arrisco em dizer que esta, até mesmo, saturado. A área da
educação é uma área que ainda – por acharem isso eu não sei nem o porquê – confunde
educação com escolaridade, pois, educação os pais devem dar e a escola, devem
dar a escolarização.
Ai a escolarização além de ser de especialistas, também tem
a ver com filósofos. Também nascem questões como: por que não filosofia? Por que
não falar de política? Pois, fica parecendo que escritores iniciantes só vão ganhar
dinheiro com coisas práticas, reforçando ainda mais, nossa cultura tecnocrata positivista.
Será mesmo que portais querem mesmo contratar pessoas que escrevem esse tipo de
texto? Ainda, ela destaca – no mesmo texto – que existe subnichos que se pode
usar:
Alimentação saudável
Programação
Desenvolvimento pessoal
Administração empresarial
Relacionamento e técnicas de sedução
Revisão e estruturação de artigos acadêmicos
Mais uma vez, são nichos de especialização que existem públicos
específicos. Quem se interessa em programação? Programadores. Alimentação saudável
tem também nichos específicos que podem ser explorados, mas são temas para quem
gosta mesmo. No mais, parece aquele tipo de livro que você compra numa banca de
jornal como “4 dicas para um relacionamento saudável”, “meta um foda-se na sua
vida” e por ai vai. Não tenho nada contra – li muito livros desse tipo e gostei
– o problema é você achar que a vida só vai valer a pena se você ler esse tipo
de livro.
O problema disso tudo é os temas dessas dicas, nos remetem
no marxismo indireto, o positivismo de Comte onde a ciência iria salvar a
humanidade da barbárie. As duas grandes guerras do século 20 nos mostrou que a ciência,
como outros estudos, não é salvadora de nada e é apenas uma técnica para se
estudar a natureza das coisas, das doenças e das mazelas que todo dia
descobrimos no universo. Só isso. Junto com
a filosofia – alguns cientistas negam isso – fazem a razão um instrumento saudável
e eficaz para dar uma melhor vida ao ser humano.
Primeiro, para ser um escritor você tem que ter dom. Não se
aprende a ser escritor – mesmo que insistam em cursos sobre – escritores são pessoas
que sabem passar o que sentem ou o que pensam num papel. De Platão até Mia
Souto, são escritores que sabiam o que estão escrevendo e são lidos ate hoje nos
livros. A questão é: por que eu tenho, necessariamente, agradar nichos e
escrever de um modo geral?
Segundo, não se tem uma cultura de leitores (por isso o sucesso
do Twitter), o que temos – por se ter uma escolarização vagabunda – é um povo
acostumado em leituras fáceis. Não se aprende programação em uma tuitada, não se
aprende relacionamentos em um texto, se aprende com aprendizados de erros e acertos.
Livros são necessários na programação. Práticas são necessárias para
relacionamentos. E outra coisa, aprender programação não vai nos tirar de uma
Matrix ou ganhar muito dinheiro, só se vai aprender uma técnica de construir sites
e programas. Nada em especial.
Amauri Nolasco Sanches Júnior
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