O liberalismo tem muitas falhas, mas ele não é um autoritarismo nos moldes fascista. O fascismo – liderados por Mussolini – foi um movimento reacionário que visava colocar os países que implantassem esse regime, ter uma estética antiga e rejeitar a modernidade. Como aconteceu no nazismo alemão de Hitler, Portugal de Salazar e a Espanha de Franco. Mas, como todo regime autoritário reacionário – de algum modo, o socialismo de Stálin também era – rejeita coisas que usa num segundo momento, usa aquilo. Rejeitaram tanto a tecnologia, mas a guerra foi feita dentro da tecnologia. Como rejeitar o capitalismo, mas ter empresas estatais (em tese são do povo, mas não é bem assim). Até mesmo os revolucionários, sentem uma certa nostalgia que as suas ideias são, realmente, revolucionarias e não a geração seguinte.
O liberalismo é fruto de uma discussão da filosofia do filósofo
suíço Rousseau, onde dizia entre outras coisas, que todo mundo nasce livre, mas,
em toda parte se encontra acorrentado. Talvez, no tempo de Rousseau com sua
moral “engessada”, ele queria dizer que existia uma certa moral que
acorrentavam os seres humanos. Filósofos como Adam Smith, John Locke e etc,
interpretaram que Rousseau estava falando da liberdade, que a solução, deveria
ser a diminuição do estado e tudo aquilo que podasse o ser humano da sua
liberdade. Com o passar do tempo – isso é bastante notório – o capitalismo
absorveu o liberalismo e conduziu a sociedade a democracia junto com as religiões
protestantes (por causa da ruptura do pecado em ganhar dinheiro e ser rico).
Claro, no século 20
com a guerra ideológica entre o mundo capitalista, liberal e democrático contra
os países socialistas, nos deram um gostinho como seria as duas doutrinas que
vieram dessa discussão de Rousseau. Essas correntes foram amarradas dentro de
ideologias, que na sua essência, eram ideologias que mais prendiam o ser humano,
do que libertavam ele. Pois, o liberalismo democrático norte-americano sempre quis
impor a democracia e a dita “liberdade”, sendo até mesmo, vencidos no caso do Vietnã.
A arrogância norte-americana não é diferente da arrogância da antiguidade dos
romanos e gregos, de achar que uma cultura é superior. A revolução russa levou
a um outro patamar uma nação medieval – que o czarismo não quis largar – industrializando
a Rússia e colocando eles na modernidade, porque era uma nação, inteiramente, agrícola.
Por outro lado, a psicopatia de Stálin – do mesmo modo a
psicopatia de Robespierre na França – levaram os ideais da revolução no lixo. Mesmo
o porquê, Karl Marx já tinha previsto essa “ditadura do proletariado” quando
foi indagado por Pierre Proudhon que o socialismo iria dar nisso. Se por um
lado o socialismo bolchevique tirou a Rússia da medievalidade onde ainda
existia uma ordem feudal, por outro, não cumpriu a promessa de um mundo mais igualitário
pondo na miséria. Por quê? Inevitavelmente, se criou uma elite proletariado
militar, ou seja, todos os recursos – que eram escassos naquele tempo – para uma
guerra que nunca ocorreu. Guerras são caras e pouco eficientes no mundo contemporâneo.
Mas, como disse lá em cima, ditaduras e ideologias antigas – no sentido de
terem séculos – são, na sua natureza, reacionárias por partirem de um princípio da sua doutrina.
O termo “fascismo liberal” foi criado pela filosofa e artista
plástica, Marcia Tiburi e que me fez fazer a pergunta: o que é fascismo
liberal? Porque, como vimos, o fascismo é uma reação a liberalismo capitalista –
que deixou tanto a Itália pobre como a Alemanha também (se foi isso mesmo, é
uma outra conversa) – por causa da queda da bolsa de 29 e a promessa
socialista de socializar os modos de produção. Hitler potencializa a ideia da
eugenia – que veio dos Estados Unidos onde seria o polo principal do
capitalismo liberal protestante – e cria uma raça superior que era a maior do mundo
e aqueles perfeitos e as outras, principalmente os judeus, são inferiores. Mesmo
negando a ciência – somente o que interessa – o fascismo a usou como modo de justificar
sua doutrina.
Tiburi sabe que, quanto mais usamos um termo, mais ele se
banaliza como termos sem o significado, no qual, foi construído. Aí mora o
perigo, pois, quando o terno se torna corriqueiro, ele tende a não avisar
daquilo que, realmente, o termo se trata. Se a professora está dizendo que o
liberalismo se impõe como solução, pode até ser um argumento razoável, mas se
ela está dizendo que ele obriga, aí é exagero. Ninguém é obrigado a nada. A questão
– como Sartre disse que Tiburi deveria saber – que somos condenados a sermos
livres, ou seja, somos condenados com nossas escolhas que fazemos, mesmo nesse
sistema. Justificar suas crenças a partir de conceitos antagônicos só para
satisfazer um modo com que abraçou uma ideologia política (e até religiosa) é
malcaratismo intelectual.
Como eu disse, há milhares de defeitos dentro do liberalismo,
não podemos negar, e não estou defendendo nada. Mas, as pessoas mudam muito
depressa quando seus interesses levam a isso, como algo desperta da sua alma. Conheci
a Tiburi das palestras do Café Filosóficos (CPF) na TV Cultura, onde explanava
muito bem as teorias de Nietzsche e davam uma aula de verdade. Deveria ter
ficado com o “bigodudo”.
Amauri Nolasco Sanches Júnior
Fev. 2022
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