sexta-feira, 4 de fevereiro de 2022

O efeito Bot e o nazismo do bananal

 




 

A idiotice está distribuída de forma muito democrática no mundo.

Leandro Karnal

 

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Depois que virou notícia que um congolês foi morto por causade R$ 200 reais teríamos de repensar o Brasil como sociedade. Porque se não temos uma solidez como uma sociedade – culturalmente, formada – repensando alguns valores passado por ancestrais de muitos milênios, não vamos perceber que não temos essa unidade social. A meu ver, quando entramos numa espiral ideológica, esquecemos quem somos e o porquê acreditamos naquilo, porque resolvemos imitar o outro sem perceber que aquilo não somos nós. A nação brasileira só vai ser uma nação, graças a essa unidade social que chamamos de sociedade. Sim, não há como falarmos de uma nação se nem sabemos o que somos.

Aí vale uma crítica das críticas, principalmente, da internet. Outro dia eu vi duas situações de perfis de Instagram – se dizem de filosofia – uma que criticavam das mulheres que mostram a bunda por likes e outra, que criticavam o Instagram. Se existem mulheres que gostam de mostrar seus corpos por likes, esse perfil gosta de fazer essas críticas, também, por likes. Cada um se posiciona dentro até onde vai seu interesse. A questão é: qual a relação que se tem da realidade? Porque os estudantes de filosofia de hoje, acham que a essência filosófica, só pode ficar na questão crítica. Pois, não é bem assim. Se uma mulher acha por bem só mostrar seu corpo e ganhar likes, qual o problema disso? a futilidade da discussão entre o que é cultura e o que não é, não é o objeto criticado – que no caso, é a bunda das mulheres – mas as atitudes por trás daquelas fotos. Um filósofo não se preocupa com questões de ordem moralizante, mas, perguntaria: o que é a moral? Será que isso contribui para nossa imagem mundial de uma nação, sexualmente, explorável? Filosofar com memes sempre vai simplificar e os jovens vão sempre se viciar em coisas fáceis – como vídeos e coisas pequenas – e não vão aprender a serem leitores de livros de verdade.

Além disso, questões moralizantes sempre remetem em atitudes machistas de acharem que mulheres que se mostram de biquini são mulheres fúteis. Ou, até mesmo, mulheres que não contêm cultura nenhuma. Essa questão que deveria ser considerada por uma atitude do estudante de filosofia. Mas, duas características não deixam esse estudante raciocinar: primeiro se acha que ser pessimista é sinal de inteligência e está vendo a realidade, só que não; segundo, filósofos não estão com a verdade, eles procuram a verdade. Como podemos saber se essa é mesmo a realidade? Por causa da filosofia marxista que seres humanos são explorados? Mas, governos socialistas também exploraram e enganaram o ser humano.

E aqueles que usam o Instagram e criticam o Instagram? Na verdade, a grande culpada da alienação perpetua humana – que não deixam o ser humano transcender a realidade – é a nossa própria realidade. Porque, qual seria a definição de realidade? A realidade – que tem origem no latim “realitas” que quer dizer “coisa” – significa em um uso comum “tudo que existe”. Mas, num sentido muito mais livre, o termo inclui tudo que é, seja ou não notado, acessível ou entendido pela filosofia, ciência ou qualquer outra coisa (vindo no Wikipédia). Se realidade é aquilo que é, o porquê tenho que aceitar aquilo que é? Na essência, não sabemos o que é a realidade.

Aí chegamos no cerne do problema – a maioria não enxerga isso – que não estamos separando aquilo que é de verdade, aquilo que não é de verdade. Não é que se você enxerga um sintoma de uma ideologia, que essa ideologia vai se concretizar. Mesmo o porquê, muitas delas nem existem mais e nem são relevantes, mesmo que você não concorde. O nazismo é uma delas. Primeiro, quando você chama um punhado de pessoas de nazistas só porque fazem parte do exército, ou é mal caratismo ou não leu sobre. Pois, o nazismo foi muito além de ser reacionário ou um movimento do exército alemão. Racismo se tem até no país capitalista e liberal como os Estados Unidos. Há elementos muito mais profundos do que mera rejeição de negros ou de outras etnias. A realidade se mescla com o a procura dessa identidade social que o brasileiro sempre buscou e nunca encontrou porque não foi educado para isso.

Os romanos tratavam a educação (educare) como mostrar a realidade para os garotos. Ou seja, a realidade não é mais mostrada porque não podemos nos sentir cidadãos brasileiros, não gostamos de pertencer ao país que gostamos porque não há ordem. Por mais que goste e pregue a liberdade por ser libertário – isso para mim é primordial – a questão da ordem é importante como ser humano e não adianta, o ser humano é um ser gregário. A única dúvida é: que ordem? Em que mundo pertencemos?

 

Amauri Nolasco


 

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