Claro que muitos filósofos responderam isso, mas, a resposta
do filósofo Immanuel Kant (1724-1804) é bastante interessante num texto que ele
escreveu em resposta à pergunta “o que é o esclarecimento?”. O filósofo
prussiano foi criado numa família puritana – uma vertente do protestantismo – e
isso vai ser muito decisivo na sua filosofia que chamamos de criticismo. Graças
a suas três críticas – Crítica da Razão Pura, Crítica da razão prática e
Crítica do juízo – Kant ficou conhecido com sua teoria crítica sobre quase
todos os assuntos da época. Chamaram sua filosofia de revolução copernicana das
ideias, mas, ele foi muito além que possamos imaginar.
Quando ele começa o texto, ele diz assim: “Esclarecimento
[Aufklärung] é a saída do homem de sua menoridade,”. Mas o que ele quis dizer
com minoridade? Para Kant, minoridade seria seguir algo sem a menor reflexão,
ou seja, achar que aquele vídeo da tia do WhatsApp é verdade sem questionar sua
veracidade. Ou alguém montar toda uma narrativa sem prova nenhuma que aquilo é
verdade. Será que essas pessoas saberiam o que seria a verdade? Pois, filósofos
– desde Tales 500 anos antes de cristo – vem perguntando o que é a verdade. Que
aliás, Pôncio Pilatos pergunta para Jesus o que é a verdade e o mesmo se cala,
porque a verdade precede algo além do que mera linguagem ou mera questão de
opinião. Não se chega a verdade achando algo sobre coisas que se deixam
manipular. Mas, o esclarecimento, sempre vai mostrar um caminho a seguir que
Kant, como filho do seu tempo, vai dizer que para isso temos que tomar decisões
e ir contra a grande maioria. Por que eu tenho essa opinião? Por que não posso
pensar diferente do outro?
A resposta é bem clara: “preguiça e a covardia”. Enquanto
todos escolhem um lado para ficarem, eu fico no lado daquilo que eu acredito e
não abro mão. Não adianta chamar os bolsonaristas de “gado” e votar num sujeito
que roubou uma empresa que nunca deu nenhum prejuízo, seu partido comprou voto
no parlamento e seus apoiadores acreditam no ódio do bem. A meu ver, ódio é
ódio, não se analisa nada no calor das emoções. Eu sou contra o estado por
causa que o estado nunca aliviou minha deficiência, sempre burocratizou ela e
sempre achou que era um favor tudo que fazia, mesmo o meu pai e a sociedade –
alguns membros também têm filho com deficiência – paguem seus impostos em dia. e
outro, nunca gostei de seguir o que todo mundo segue, assisti o que todo mundo
assisti e por aí vai.
A elite brasileira sempre forjou muitas coisas – inclusive o
lulopetismo e o bolsopetismo – desde chegaram aqui com as caravelas (ou naus). Os
“senhores feudais” brasileiros sempre construíram narrativas e os reis
portugueses nunca deixaram o Brasil crescer, se educar e se industrializar.
Acham que quem faz parte do centrão? Famílias italianas ou de outros povos, ou
as mesmas famílias que mandam no Brasil a quinhentos anos? A resposta é óbvia,
a questão do poder no Brasil sempre foi uma questão política das catacumbas de
Brasília, nunca nos discursos políticos bonitos, nas idas na padaria ou assinar
um decreto bonito para todo mundo gostar. O Brasil e a América Latina sempre
foram colonizados pelo pensamento medieval da pobreza, a filosofia cristã
aristotélica-tomista, sempre fomos reféns de um atraso cultural e escolarizado,
onde primeiras escolas só foram construídas muito mais tarde. E o grande
problema é: o comunismo. O grande problema da América Latina são governos
corruptos – até mesmo as ditaduras militares tiveram – não ideologias, pois
ideologias políticas só são uma capa.
O esclarecimento me deu uma visão muito mais ampla e como
não apoio nenhum dos lados, eu posso fazer um questionamento muito mais amplo
do que quem apoia alguém. E não tive nem preguiça e tem covardia para estudar
tudo isso. Porque não tenho nenhuma necessidade de ficar em “turminha”, ora de cá,
ora de lá. Um filósofo não deveria se encantar nem com filosofias baratas, nem
com ideologias que ele sabe que foram tentadas e não deram certo. Por outro
lado, sempre tive esse problema na minha cabeça: qual a necessidade de se
seguir o outro? Qual essa necessidade da sociedade ou mídias, ditarem o que se
deve ou não acreditar ou seguir? Até mesmo no rock ou no heavy metal, se você é
contra o sistema e seus seguidores, por que se constrói sistemas de fanáticos fãs,
que muitas vezes, enchem o saco?
Ai tem um problema: por que as pessoas não querem pensar por
elas mesmas? Mas, veja, não estou dizendo, como muitos dizem nos grupos de Facebook,
que pensar por si mesmo é não repetir o que outros disseram. Não repetir é ter preguiça
de pensar, ter preguiça de sair das amarras estruturais de uma estratégia que a
mídia faz a anos: o condicionamento de massa. Não acredito nem no sucesso e nem
no progresso. Aliás, a frase positivista da nossa bandeira sempre me remete a
duas dúvidas: que ordem? Que progresso? O progresso é o sucesso de um povo como
nação, o Brasil nunca se sentiu uma nação, porque não existe progresso sem evolução
sociocultural. Se não for pela escolarização e uma cultura da valorização, nada
feito e podem abrir qualquer empresa aqui.
Posso gostar do Guns N´ Roses, mas acho o Axl Rose um chato
ou um FDP. Posso gostar do filme 300 spartans, mas eu sei que aquilo é
liberdade poética por inúmeros erros históricos. Isso que Kant disse em não ter
medo e nem preguiça de ir além, não achar que “tem que” seguir uma turma que não
está nem aí com você.
Amauri Nolasco Sanches Júnior
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